Leitura e os Parâmetros Curriculares Nacionais
Práticas de leitura:
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a leitura possui uma
função de extrema importância no ensino-aprendizagem dos alunos, uma
vez que a partir do desenvolvimento da sua competência leitora esse
aluno poderá tornar-se proficiente em todas as disciplinas.
Essa competência, por sua vez, será construída pelas práticas de
leitura presentes dentro da sala de aula, com a finalidade de formar
leitores e produtores de textos aptos para o manejo claro e definido de
diversos gêneros textuais.
Segundo as orientações dos PCNs:
Um leitor competente é alguém que, por iniciativa própria, é capaz de
selecionar, dentre os trechos que circulam socialmente, aqueles que
podem atender a uma necessidade sua. Que consegue utilizar estratégias
de leitura adequada para abordá-los de formas a atender a essa
necessidade.(PCN de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª Série, 1998; p. 15).
As atividades de leitura espontânea e de contar aos colegas o livro lido são sugeridas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais:
O professor deve permitir que também os alunos escolham suas leituras.
Fora da escola, os leitores escolhem o que lêem. É preciso trabalhar o
componente livre da leitura, caso contrário, ao sair da escola, os
livros ficarão para trás. (PCNs, 1998; p. 17)
Outro aspecto destacado pelos PCNs é que a escola deve organizar-se em
torno de uma política de formação de leitores. Todo professor, não
apenas o de Língua Portuguesa, é também professor de leitura.
É importante destacar que as duas atividades mais comuns relacionadas à
leitura em sala de aula, ler em voz alta e fazer perguntas de
compreensão do texto, não ensinam de fato a ler. Para tanto, algumas
tarefas específicas podem ajudar e cabe ao professor planejar suas
aulas, de acordo com a realidade e a necessidade dos seus alunos para
maior aproveitamento no processo de ensino-aprendizagem.
Sendo assim, para formar um leitor competente faz-se necessário
compreender o que lê e que saiba posicionar-se na busca de informações
implícitas, que se ancoram nos dados não fornecidos pelo autor. Para
isso, esse leitor precisa de práticas constantes de leitura de textos
diversos que circulam socialmente.
Tratamento didático:
O tratamento didático que a leitura precisa dentro da sala de aula,
segundo os PCNs, refere-se à maneira como a leitura foi e está sendo
exercitada, isto é, se for usada como objeto de aprendizagem, é
necessário que ela faça sentido para o aluno, afastando-se, assim,
daquele ensino em que o aluno/leitor não vê referência e nem sentido
naquilo que lê.
Os PCNs fazem uma ressalva em relação à formação do leitor:
Se o objetivo é formar cidadãos capazes de compreender os diferentes
textos com os quais se defrontam, é preciso organizar o trabalho
educativo para que experimentem e aprendam isso na escola (...).(PCN
de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª Série, 1998; p. 15).
No entanto, ao perceber que esses leitores não possuem referências de
leitores em casa, esse foco deve ser muito mais explorado. Assim, o
trabalho com a diversidade textual permitirá formar leitores
competentes.
Aprendizado Inicial da Leitura:
Pelas recomendações dos PCNs (1998), no aprendizado inicial da leitura
a primeira abordagem a ser excluída é aquela que vê a leitura
simplesmente como decodificação de códigos. Por causa dessa formação
deficitária, temos milhares de leitores que apenas sabem decodificar
qualquer tipo de texto, porém não atribuem nenhum sentido a eles.
O leitor deve ter noção de que ao se ler é possível refutar ou
confirmar as informações que ficaram claras ou não. Para isso, ele deve
possuir condições ao iniciar sua leitura de construir hipóteses em
relação ao título do texto, além de saber fazer uso de inferências, a
partir do contexto ou do conhecimento prévio que possua do assunto
tematizado.
Somente uma prática ampla de leitura promoverá um resultado eficiente,
pelo contato constante com os mais diversos textos que facilitarão esse
ensino-aprendizagem, e para que o leitor não se trave na leitura de
materiais didáticos que não o levam à interação com o texto. No
contexto escolar, a interação com outros leitores criará a oportunidade
de vivenciar outros pontos de vista em relação ao mesmo tema lido.
O contato com outros leitores experientes promoverá o contato, de fato,
com momentos válidos de leitura, propiciando a interação com a
diversidade textual. Cabe ao professor mediar essa interação entre os
leitores, podendo também constituir-se como modelo. Um professor
apaixonado pela leitura é capaz de tornar seu aluno um leitor que sabe
construir ativamente o significado de um texto, de acordo com o
objetivo da sua leitura. Para isso, o material selecionado deve ser
adequado ao leitor, tornando a aula de leitura um momento de contato
prazeroso com a linguagem.
Segundo os PCNs, é necessário mostrar ao leitor que a leitura não é
simplesmente uma disciplina da sua grade curricular escolar. Em outras
palavras, o leitor deverá perceber que a leitura está presente em todas
as esferas sociais e que a leitura como prática social corresponde a um
objetivo delimitado. Portanto, a leitura não deve e nem pode ficar
restrita a uma atividade presa à esfera escolar, mas sim como
catalisador de suas relações sociais.
Então, uma prática constante de leitura na escola deve admitir diversas
leituras, contrariando a antiga idéia de leitura única. Cabe ao
professor permitir e incentivar diferentes leituras do mesmo texto, ou
seja, realizar um trabalho que faça seu aluno consolidar as estratégias
de leitura, confirmando ou refutando suas hipóteses. A verificação
dessas estratégias possibilitará ao professor avaliar o sentido
constituído pelo aluno.
Assim, o desafio a ser driblado é:
Para tornar os alunos bons leitores para desenvolver, muito mais do
que a capacidade de ler, o gosto e o compromisso com a leitura , a
escola terá de mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também
ler para aprender) requer esforço. Precisará fazê-los achar que a
leitura é algo interessante e desafiador, algo que, conquistado
plenamente, dará autonomia e independência. Precisará torná-los
confiantes, condição para poderem se desafiar a "aprender fazendo". Uma
prática de leitura que não desperte e cultive o desejo de ler não é uma
prática pedagógica eficiente. (PCN de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª
Série, 1998; p. 17).
Entendemos que para tornar o aluno um bom leitor, cabe ao professor
mobilizá-lo para ler, construindo significados para a leitura de seus
textos, de acordo com o objetivo da leitura, o repertório do aluno e a
mediação que é efetuada.
Essas aulas de leitura deverão deixar de ser parte de um método
tradicional, em que o aluno apenas decodifica as palavras presentes no
texto, ou seja, as aulas de leitura não deverão ser simples aulas de
alfabetização (ensinar a ler e escrever) para se tornarem aulas de
leitura (construção de sentidos). Portanto, o aluno precisa perceber a
necessidade diária da leitura nas suas relações sociais.
Enfim, formar leitores é uma tarefa árdua, mas necessária para que o
leitor competente possa construir sentidos e estabelecer relações com
os mais diversos gêneros textuais. Somente práticas de leitura
favoráveis consolidarão essa tarefa. Assim, não se deve restringir a
leitura somente aos recursos disponíveis dentro da sala de aula.
Condições de leitura precisam ser adequadas ao público e à necessidade
requerida.
Os PCNs sugerem algumas condições necessárias para o aprendizado inicial da leitura. São elas:
" Dispor de uma boa biblioteca na escola;
" Dispor, nos ciclos iniciais, de um acervo de classe com livros e outros materiais de leitura;
" Organizar momentos de leitura livre em que o professor também leia.
Para os alunos não acostumados com a participação em atos de leitura,
que não conhecem o valor que possui, é fundamental ver seu professor
envolvido com a leitura e com o que conquista através dela. Ver alguém
seduzido pelo que faz pode despertar o desejo de fazer também;
" Planejar as atividades diárias garantindo que as de leitura tenham a mesma importância que as demais;
" Possibilitar aos alunos a escolha de suas leituras. Fora da escola, o
autor, a obra ou o gênero são decisões do leitor. Tanto quanto for
possível, é necessário que isso se preserve na escola;
" Garantir que os alunos não sejam importunados durante os momentos de
leitura com perguntas sobre o que estão achando, se estão entendendo e
outras questões;
" Possibilitar aos alunos o empréstimo de livros na escola. Bons textos
podem ter o poder de provocar momentos de leitura junto com outras
pessoas da casa principalmente quando se tratam de histórias
tradicionais já conhecidas;
" Quando houver oportunidade de sugerir títulos para serem adquiridos
pelos alunos, optar sempre pela variedade: é infinitamente mais
interessante que haja na classe, por exemplo, 35 diferentes livros o
que já compõe uma biblioteca de classe do que 35 livros iguais. No
primeiro caso, o aluno tem oportunidade de ler 35 títulos, no segundo
apenas um;
" Construir na escola uma política de formação de leitores na qual
todos possam contribuir com sugestões para desenvolver uma prática
constante de leitura que envolva o conjunto da unidade escolar. (PCN de
Língua Portuguesa de 5ª a 8ª Série, 1998; p. 17)
Ainda segundo as condições descritas pelos PCNs, para a formação de
leitores são necessárias propostas didáticas orientadas especificamente
para torná-los leitores. Portanto, veremos algumas dessas sugestões de
trabalho com o aluno que podem servir de referência para a geração de
outras propostas.
1.1.4 Leitura Diária:
Os PCNs (1998) sugerem que o trabalho com a leitura seja diário.
Conforme descrito nele, há inúmeras possibilidades para que isso
ocorra, tais como:
" De forma silenciosa, individualmente;
" Em voz alta (individualmente ou em grupo), quando fizer sentido dentro da atividade; através da escuta de alguém que lê.
No entanto, alguns cuidados são necessários:
" Toda proposta de leitura em voz alta precisa fazer sentido dentro da
atividade na qual se insere e o aluno deve sempre poder ler o texto
silenciosamente, com antecedência uma ou várias vezes;
" Nos casos em que há diferentes interpretações para um mesmo texto e
faz-se necessário negociar o significado (validar interpretações); essa
negociação precisa ser fruto da compreensão do grupo e produzir-se pela
argumentação dos alunos. Ao professor cabe orientar a discussão,
posicionando-se apenas quando necessário;
" Ao propor atividades de leitura convém sempre explicitar os objetivos
e preparar os alunos. É interessante, por exemplo, dar conhecimento do
assunto previamente, fazer com que os alunos levantem hipóteses sobre o
tema a partir do título, oferecer informações que situem a leitura,
criar certo suspense quando for o caso, etc.;
" É necessário refletir com os alunos sobre as diferentes modalidades
de leitura e os procedimentos que elas requerem do leitor. São coisas
muito diferentes ler para se divertir, ler para escrever, ler para
estudar, ler para descobrir o que deve ser feito, ler buscando
identificar a intenção do escritor, ler para revisar. É completamente
diferente ler em busca de significado a leitura, de um modo geral e
ler em busca de inadequações e erros a leitura para revisar. Esse é
um procedimento especializado que precisa ser ensinado em todas as
séries, variando apenas o grau de aprofundamento em função da
capacidade dos alunos. (PCN de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª, 1998; p.
18)
Leitura Colaborativa:
A segunda sugestão apresentada pelos PCNs (1998) é o trabalho de
leitura colaborativa, uma vez que esse tipo de leitura proporciona e
favorece a aplicação das estratégias de leitura já discutidas nos itens
acima:
(...) o professor lê um texto com a classe e, durante a leitura,
questiona os alunos sobre as pistas lingüísticas que possibilitam a
atribuição de determinados sentidos. (...) os procedimentos que
utilizam para atribuir sentido ao texto: como e por quais pistas
lingüísticas lhes foi possível realizar tais ou quais inferências,
antecipar determinados acontecimentos, validar antecipações feitas,
etc. (PCN de Língua Portuguesa de 5ª a 8ª Série, 1998; p. 18).
Os procedimentos dessa leitura colaborativa permitirão que o professor
perceba o grau de conhecimento lingüístico que os alunos possuem para
construção de sentido junto ao texto.
Projetos de Leitura:
Pelos PCNs (1998), projetos de leitura são situações didáticas para o
contato direto com os diversos tipos de atividades em que a linguagem
oral, linguagem escrita, leitura e produção de textos se
inter-relacionam de forma contextualizada, pois quase sempre envolvem
tarefas que articulam esses diferentes conteúdos.
O texto na sala de aula deve propiciar ao leitor o contato com os meios
de comunicação que circulam na sociedade. Um projeto de leitura
propicia aos alunos a identificação de diferentes tipos de textos
veiculados pelo jornal. Sendo assim, com a prática de leitura desse
texto o leitor passará a interpretá-lo de acordo com o objetivo da
leitura.
Cria-se uma situação de leitura por diversão e informação, além de
promover a participação coletiva e a interpretação de outros leitores
sobre o assunto tematizado.
Atividades Seqüenciadas de Leitura:
O trabalho de leitura seqüenciado, sugerido pelos PCNs (1998),
refere-se ao desenvolvimento de uma prática de leitura constante. Essa
atividade não tem uma proposta única, daí a oportunidade de discutir
com os alunos qual tipo de leitura poderá ser aplicada. A proposta
favorece a consolidação de estratégias de leitura que foram mediadas
pelo professor na leitura. A partir dessas atividades seqüenciadas o
professor também poderá acompanhar o desenvolvimento de leitura e
adaptá-la aos interesses dos leitores, uma vez que não há um tema
escolhido ou autor. Além de ser possível integrá-los aos projetos de
leitura comentados acima.
Atividades Permanentes de Leitura:
De acordo com os PCNs, atividades permanentes de leitura são situações
didáticas propostas com regularidade e voltadas para a formação de uma
atitude favorável à leitura. Nesse momento de leitura, é considerado
essencial o trabalho com outras formas de leitura. Uma leitura
dramatizada, por exemplo, favorece a concentração e o interesse de uma
sala que tem altos índices de indisciplina. O professor propõe
determinados dias para que os alunos produzam algum material que remeta
à leitura feita em sala de aula, comentem algum ponto de interesse e
discutam dúvidas não esclarecidas. Por fim, sugere que os alunos de
alguma forma incentivem outros colegas a lerem a mesma história que os
entusiasmou tanto.
Leitura feita pelo Professor:
Os PCNs de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental vêem a leitura feita
pelo professor como a maior oportunidade de contato com leitores
proficientes e apaixonados pela leitura. O professor propicia o contato
com leituras mais densas e que necessitam de um apuramento lingüístico
mais desenvolvido.
Conforme os PCNs:
A leitura em voz alta feita pelo professor não é uma prática muito
comum na escola. E, quanto mais avançam as séries, mais incomum se
torna, o que não deveria acontecer, pois, muitas vezes, são os alunos
maiores que mais precisam de bons modelos de leitores.(PCN de Língua
Portuguesa de 5ª a 8ª Série, 1998; p. 19).
Sendo assim, uma prática de leitura em que o professor é modelo de
leitor permitirá que seus futuros leitores vejam o poder da leitura em
suas vidas e nas suas relações sociais. Uma prática intensa de leitura
na escola é, sobretudo, necessária, porque ler ensina a ler e a
escrever. O objetivo da escola, exatamente, é deixar de ser um espaço
de interpretação nulo, para se tornar um movimento ativo de construção
de sentidos.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA
CANUTO, Maurício. Leitura: um contraponto entre a fala do professor e o
silenciamento da voz do aluno. 2008 Monografia (Especialização)
Centro de Pós-Graduação, Universidade Nove de Julho, São Paulo, 2008.
Parâmetros Curriculares nacionais: Língua Portuguesa: primeiro e
segundo ciclos / Ministério da Educação. Secretaria da Educação
Fundamental. 3. ed. Brasília : A Secretaria, 1998.
Autor: Maurício Canuto
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