MANEJO PARA CONSERVAÇÃO DO JACARÉ-DE-PAPO-AMARELO (Caiman latirostris-Daudin, 1802) NAS BACIAS DA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ



Este trabalho tem o objetivo de promover e estimular a conservação do jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris  Daudin, 1802) nas lagoas , rios e brejos das bacias da Baixada de Jacarepaguá, habitat natural destes animais que vem sendo alterado pela ação antrópica, ameaçando a existência da vida silvestre. O Parque Natural Municipal Chico Mendes, onde o trabalho foi realizado abriga uma lagoa de água doce chamada Lagoinha das Taxas e com ela uma significativa população de jacarés. O Parque tem se demonstrado uma referência para órgãos de defesa ambiental como a Patrulha Ambiental e o Corpo de Bombeiros, através dos quais o Parque recebe muitos jacarés encontrados em situação de risco em ambiente antrópico. Preferencialmente ao chegarem, estes animais são sexados, medidos e marcados, após estes procedimentos os mesmos são encaminhados para um recinto individual de quarentena e após um período de observação os mesmos são transferidos para o recinto de exposição onde se juntarão ao grupo já existente. Os recintos são abertos e ao ar livre. O manejo alimentar é feito três vezes por semana, em dias alternados. São oferecidos como ração, pescoço de frango, coração de boi e peixes (sardinhas). Esta alimentação é complementada com presas vivas (codornas ou ratos) e visa estimular o instinto de caça dos jacarés. É objetivo deste trabalho preparar grupos de jacarés para posterior relocação, há ocorrer em áreas da Baixada de Jacarepaguá onde as populações estejam reduzidas ou localmente extintas. E assim estar contribuindo para a conservação da espécie na Baixada. Bem como aumentar o banco de dados sobe a espécie através do manejo em cativeiro.

INTRODUÇÃO

Os crocodilianos são répteis pertencentes à Sub-classe Archosauria, a mesma dos dinossauros e pterosauros, tendo-se diferenciado como grupo a cerca de 205 milhões de anos no Triássico Superior.

Atualmente os crocodilianos encontram-se divididos em três sub-famílias, oito gêneros e vinte e duas espécies. Cinco delas, todas pertencentes à sub-família Alligatorinae encontram-se no Brasil, sendo chamadas indistintamente de jacarés ou distinguidas umas das outras por sufixos de origem tupi-guarani ou termos em língua portuguesa. São elas:

"             Jacaré-açu (Melanosuchus niger);

"             Jacaré-paguá (Paleosuchus palpebrosus);

"             Jacaré-curuá ou em sua forma aportuguesada jacaré-coroa(P. trigonatus);

"             Jacaré-tinga e jacaré-do-Pantanal (Caiman crocodilus crocodilus e C. crocodilus yacare), respectivamente e;

"             Jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris).                                                                                                                              

De acordo com a União Internacional para a Conservação de Natureza (IUCN, 1982), a distribuição geográfica do jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris  Daudin, 1802) compreende a região sudeste da América do Sul, incluindo Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai. Estende-se pela região costeira do Brasil do Rio Grande do Norte e Recife até a Lagoa dos Patos e Lagoa Mirim, no Rio Grande do Sul, estando presente também nas Bacias do São Francisco e Paraná até o Rio Paraguai no extremo oeste de sua distribuição.

O jacaré-de-papo-amarelo encontra-se ameaçado de extinção. A principal causa deste processo vem sendo a contínua destruição dos habitats de ocorrência da espécie, que são várzeas de rios , lagoas, pântanos, mangues e restingas brejosas. A caça predatória também contribuiu para o declínio da espécie.

A planície ou Baixada de Jacarepaguá apresenta-se com a forma geral aproximada de um semi-círculo penetrado a noroeste pelo Maciço da Pedra Branca.

 Os limites naturais que a constituem são em sentido dextrógiro, a Serra Geral de Guaratiba, o Maciço da Pedra Branca, a Serra do Engenho Velho e o Maciço da Carioca, representado pela Serra dos Pretos Forros e Serra da Tijuca, inclusive as Pedras, Bonita e da Gávea. Ao sul resta, naturalmente, o Oceano Atlântico.

Trata-se de uma área aproximada de 140 Km2 ou seja 10% da área do Distrito Federal e, a título de comparação 90 vezes a superfície do Principado de Mônaco.

Deste total, cerca de 111Km2 são áreas verdes, dos quais 13 Km2 cobertos pelas Lagoas do Marapendi, Lagoinha, Jacarepaguá, Camorim e Tijuca. Sua maior dimensão se estende por 23 Km na direção este-oeste, enquanto que a maior medida norte-sul é de 8 Km. O litoral Atlântico é representado por 18 Km de praia entre a Barra da Tijuca e o Pontal de Sernambetiba.  

As superfícies cobertas pelos lençóis dágua das lagoas são as seguintes:

"             Lagoinha -----------------------------------------176.000 m2

"             Marapendi ------------------------- -------------4.576.000 m2

"             Jacarepaguá, Camorim  e Tijuca ------------- 8.884.000 m2

Totalizando ------------------------------------- 13.636.000 m2

A Lagoinha das Taxas é formada por água doce. Recebe águas do Canal de Sernambetiba via Rio das taxas e despeja na Lagoa de Marapendi através do Canal das Taxas. Esta última, originalmente, era também formada por água doce. Agora apresenta alguma salinidade, o que foi conseguido por meio de uma ligação aberta com a Barra da Tijuca, a fim de evitar a propagação do anofelino

 A Lagoinha encontra-se inserida em uma Unidade de Conservação que é o Parque Natural Municipal Chico Mendes. Protegido, o jacaré-de-papo-amarelo, tem se multiplicado e não são raros os avistamentos, sobretudo de indivíduos jovens e filhotes.

No entanto, muitas áreas de brejo da Baixada de Jacarepaguá, por não estarem protegidas por lei, estão sendo aterradas para dar lugar a condomínios de luxo, Centros Comerciais ou ocupações irregulares. E por isso as poucas populações remanescentes estão fragmentadas, em declínio ou localmente extintas.

Associada às lagoas encontramos a vegetação paludícola, a qual se desenvolve no ambiente quente e  úmido da baixada, onde o solo permanentemente encharcado da região favorece a coexistência de matas paludícola de porte elevado com várias palmeiras, como o tucum (Bactris setosa), afeitas ao meio e com árvores como a caxeta ou pau-de-tamanco (Tabebuia cassinoides). As grandes árvores da mata paludícola são freqüentemente cobertas por barba-de-velho (Tillandsia usneoides), bem como diversas plantas epífitas.

Ao lado da mata paludícola estendem-se campos paludícola, onde domina a taboa (Typha dominguensis), ao lado do piri (Cyperus giganteus), lírio-do-brejo (Hedychium coronarium), bem como musgos, gramíneas, ciperáces e grande variedade de aráceas dos gêneros Anthurium e Phillodendron, ao lado de muitas bromélias dendrícolas ( gravatás ) e plantas aquáticas como o aguapé (Eichornia crassipes), esta devido à grande oferta de matéria orgânica proveniente do despejo  de esgoto doméstico, se multiplica desordenadamente causando danos ao ecossistema, tais como obstrução de canais e assoreamento das lagoas. Na Lagoinha ela chega a cobrir todo o espelho d`água sendo necessária a intervenção humana para removê-las.

 A vegetação paludícola tem existência condicionada a locais de pequena  altitude (até 3 m), solo orgânico tipo turfa ou solos arenosos mas permanentemente encharcados.

Associado a esta vegetação temos um grande número de animais, que vão desde aves como o frango-d`água-comum (Gallinula chloropus) e o jaçanã (Jacana jacana) a mamíferos tais como a preá-do-mato (Cavia aperea) sem mencionar a diversidade de anfíbios e a infinidade de insetos.

 

  2 - MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia do trabalho constou, por um lado, de coleta de dados através de pesquisas na internet e visitas a bibliotecas e órgãos de conservação ambiental como o Parque Chico Mendes e o Parque do Marapendi. Os dados recolhidos serviram de base teórica para a realização do trabalho prático que foi o manejo do jacaré-de-papo-amarelo    (Caiman latirostris).

O trabalho de manejo do Caiman latirostris, foi realizado no Parque Natural Municipal Chico Mendes sob a orientação do biólogo Geraldo Espínola, que administra o referido Parque.

Os animais que chegavam ao Parque eram preferencialmente contidos, sexados, medidos e marcados. Cada item será detalhado abaixo:

Para realizarmos um trabalho seguro tanto para as pessoas envolvidas no manejo, quanto para o animal é indispensável que o animal seja manejado da forma adequada. Indivíduos de 100 a 120 centímetros de comprimento total podem ser capturados diretamente com as mãos (BDT- JACARÉ-DE-PAPO-AMARELO, 1990), esta captura era feita com o auxílio de luvas de raspa-de-couro. Animais maiores devem ser capturados com o auxílio de um laço de cabo-de-aço ou diretamente com um cambão. Este trata-se de um laço de couro, borracha ou corda preso a um cabo de madeira ou cano de ferro.

Após a captura o animal deverá ter sua boca imobilizada, preferencialmente com tiras circulares de borracha (que podem ser obtidas de câmeras de pneus). Deve-se usar duas ou três tiras por animal adulto,dando-se duas ou três voltas em torno da porção mediana de seu focinho. Pode-se vedar os olhos do animal, se necessário. Com um pano preso a uma ou duas tiras de borracha, para diminuir o estresse de captura. O transporte de animais de até 100 a 120 centímetros pode ser feito com sacos de algodão ou aniagem e o de animais maiores em caixas de madeira com medidas aproximadas de 140 a 190 x 50 x 40 centímetros.

O sistema utilizado para a determinação do sexo nos animais foi do toque com o dedo no interior da cloaca, evidenciando o pênis no caso de indivíduos machos e o clitóris quando em fêmeas.

A coleta de dados biométricos obedeceu a seguinte fórmula:

LT --  comprimento total

É a medida da ponta do focinho ao extremo da cauda. Medida tomada pela região ventral..

LCC  comprimento cabeça corpo

É a distância compreendida entre a ponta do focinho e o início da abertura cloacal (extremo anterior).

LC        comprimento cauda

É a distância compreendida desde o ponto posterior da cloaca ao extremo da cauda.

AB  circunferência do abdome

Tomada com uma fita métrica posta ao redor do abdome.

Os métodos de marcação foram descritos nos resultados.

 Os recintos eram abertos a temperatura ambiente e apresentavam uma  área seca composta de areia, correspondendo a 50% da área total do recinto. A outra metade do viveiro abrigava um tanque de concreto quadrado de aproximadamente 1metro de profundidade, no limite entre o tanque e a parte composta de areia havia uma rampa de acessodosjacarés.

 

2.1 - Área de estudo

  Inaugurado em 1989 e administrado pela Fundação RIOZOO, o Parque Ecológico Municipal Chico Mendes oferece a seus visitantes uma oportunidade rara, 400.000 m2 de fauna e flora do ecossistema de restinga, típico da região e tão pouco conhecido do carioca. Uma paisagem única que reúne a beleza da Lagoinha das Tachas com seus 120.000 m2 e, ao redor, a incomum vegetação de restinga, que brota da areia mostrando a belas flores dos cactos, das bromélias, das orquídeas e de muitas árvores, algumas ameaçadas como o pau-de-tamanco e o pau-brasil.  

Refúgio da natureza que a cidade preservou, o Parque Chico Mendes representa o abrigo seguro de várias espécies da fauna, algumas ameaçadas de extinção, como a preguiça-de-três-dedos e o jacaré-de-papo-amarelo. Símbolo do parque, o jacaré que já foi abundante em toda a região, deu o nome da Baixada de Jacarepaguá, que significa em tupiguarani Lagoa dos jacarés ou Vale dos jacarés.

Pesquisas, atividades de lazer, qualidade de vida e educação ambiental combinam-se no Parque Chico Mendes para lembrar que preservar o meio ambiente é tarefa de todos nós.

Um ponto importante a ser analisado é o estudo da viabilidade do cercamento do Canal das Tachas de forma a procurar-se unir o Parque Ecológico Municipal Chico Mendes ao Parque Ecológico Municipal de Marapendi formando, então, um CORREDOR ECOLÓGICO entre os dois parques. Somente desta forma estaremos contribuindo para a preservação efetiva das espécies terrestres residentes nestes parques, evitando a longo prazo, as conseqüências maléficas do degeneramento genético causado pela contínuo cruzamento entre os espécimes aí residentes. 

 

2.3 - Clima

O Clima é do tipo tropical quente e úmido, registrando no inverno, variações de 100C a 260C, e no verão, temperaturas superiores a 380 C.

A precipitação local chega a 1.000 mm (mil milímetros) anuais, apresentando seus picos máximos no final da primavera e início do verão.

Os ventos do quadrante Sul  Leste e Norte são predominantes e atingem velocidades relativamente baixa. Podem ocorrer anti-ciclones, tropicais típicos dos tempos instáveis de inverno, que podem trazer chuvas e fazer cair bruscamente a temperatura, o que pode ocorrer também no verão.     

 

2.4 - Histórico da área

Grande parte da região conhecida como Baixada de Jacarepaguá, e onde está o Parque Chico Mendes, integrava a Fazenda do Camorim, Vargem Grande e Vargem Pequena, e que pertencia (durante o século XVII) a Gonçalo Correia de Sá e a Da. Vitória de Sá e Benevides, que eram, respectivamente o filho e a neta do antigo governador da cidade, Salvador Correia de Sá.

Naturalmente na área que contornava a Lagoinha das Tachas havia uma mata paludosa, típica de solo encharcado, onde crescia uma espécie rara de árvore a Pavonia alnifolia da Família Malvaceae. Essa ocorrência mobilizou, desde a década de 30, os naturalistas do Museu Nacional que reivindicavam a criação de uma reserva biológica na área de forma que preserva-se este espécie.

Até o final da década de 50 a região se manteve inalterada, quando, então, foram iniciadas as obras para a drenagem das áreas alagadas da Baixada de Jacarepaguá, que envolviam aterros, retificação de rios, córregos e aberturas de canais. Esta alteração nos sistemas hídricos causaram o assoreamento paulatino da Lagoinha das Tachas.

Devido a essas intervenções e com o intuito de se preservar este ecossistema foi decretada a Reserva Biológica de Jacarepaguá, em 1959, e que compreendia a área do entorno da Lagoinha das Tachas, do Rio das Tachas e do Canal das Tachas. Em 1960, essas áreas foram declaradas como de utilidade pública para fins de desapropriação pelo então Estado da Guanabara.

Somente em 9 de maio de 1989, foi decretada a criação do Parque Ecológico Municipal Chico Mendes. O parque teve seu nome dado em homenagem ao ecologista e líder seringueiro do Acre, Chico Mendes. Este lutou pela preservação da Floresta Amazônica, o que contrariou os interesses de muitos fazendeiros e madereiros da região, o que levou a seu assassinato um ano antes, em 1988. Tal fato mobilizou a opinião pública nacional e internacional. Foi então que foi resolvido prestá-lo esta homenagem.

 

3 - RESULTADOS

Este trabalho foi realizado no período de tempo compreendido entre maio de 2001 e outubro de 2002. Era comum chegarem ao Parque Chico Mendes jacarés-de-papo-amarelo encontrados em situação de risco, os mesmos eram trazidos por soldados do Corpo de Bombeiros Militar ou por agentes da Patrulha Ambiental e da Guarda Municipal, e não poucas vezes os animais chegavam através de moradores locais. Estes animais eram provenientes de diversos pontos da Baixada de Jacarepaguá, sobre tudo do bairro do Recreio dos Bandeirantes.

Ao chegar ao Parque o jacaré era medido, sexado e marcado. Os filhotes e   jovens com menos de um metro não eram sexados e nem marcados para que fosse preservada a integridade física dos mesmos. Em seguida o animal era conduzido ao viveiro de quarentena, no qual ficaria alguns dias em observação. Passado este tempo, o animal estando saudável, era encaminhado a um recinto misto,de exposição e crescimento, juntando-se a um grupo já estabelecido. Os animais ficavam divididos por classes:

Classe I  jovem;

Classe II  pequeno;

Classe III  médio;

Classe IV  grande.

Observou-se nas classes I, II e III uma grande tolerância a maiores densidades populacionais nos viveiros. Percebeu-se também que animais acima de 1, 60 metros demonstravam maior territorialidade e conseqüente agressividade com outros de  mesmo tamanho. Estes mesmos animais em convívio com outros menores, pareciam indiferentes.    

O manejo alimentar era feito três vezes na semana, sempre no final da tarde e em dias alternados. A ração era depositada na rampa de acesso ao tanque, uma parte dela na água e outra na área seca, alguns indivíduos preferiam pegar a ração na água e outros buscavam o alimento na parte seca. Na hora de ingerir o alimento uma parte dos animais submergia e outros deglutiam fora da água. Aos filhotes era oferecido carne moída. Algumas vezes oferecíamos presas vivas, peixinhos (barrigudinhos) capturados no canal das tachas e criados numa caixa d`água. Já os jovens e adultos recebiam uma alimentação mais variada, e podia ser coração de boi (cortado em pedaços), sardinhas (Limnothrissa miodon) ou cortes de frango (cabeça com pescoço) e codornas (Nothura maculosa) vivas.

No dia 27 de fevereiro do corrente ano, foi relocado do plantel do Parque Chico Mendes para uma área brejosa da Unidade de Conservação do Grumari, no bairro do Recreio dos Bandeirantes, um grupo composto de 8 (oito) jacarés-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), dos quais 7 (sete) eram fêmeas e apenas 1 (um) era macho.

Ainda nos viveiros, cada animal foi capturado e contido por meio de um cambão, feito isso cada um teve o focinho amarrado com tiras de borracha e os olhos vendados com tiras de pano pretas. As patas dianteiras e traseiras foram amarradas para trás por meio de uma tira de pano, sem o apoio das patas o animal não podia se mover.

Cada animal estava marcado com brincos de boi, que foram fixados na crista da cauda de cada animal. Os brincos eram individualmente numerados e diferenciados em duas cores, amarelo para as fêmeas e vermelho para o macho. Além desta marcação com brincos de boi foi utilizado um outro sistema de marcação. Este consistia na amputação de parte de uma das cristas da cauda. Cada animal teve uma das cristas da cauda parcialmente removida. A partir da base da cauda contou-se da 1a  à 8a crista e para cada animal uma delas era parcialmente cortada.

Os animais foram acondicionados para o transporte em dois caixotes de madeira, quatro deles em cada caixote.

Durante todo o manejo os jacarés eram molhados, em intervalos de dez a vinte minutos, com a finalidade de evitar que a exposição prolongada ao sol causa-se hiper-termia nos animais.

A soltura dos animais foi feita nas margens do brejo, e a reação mais comum dos jacarés era a de procurar imediatamente água e submergir em um rápido mergulho. Alguns indivíduos porém , ao serem soltos, antes de procurarem a água nos desferiam alguns botes com movimentos laterais característicos das espécies de crocodilianos.

             

4 - DISCUSSÃO

 Espécies territoriais tendem a ser anti-sociais e exibir um comportamento agressivo com outros da mesma espécie. Estas espécies requerem mais espaço em seus recintos de reprodução ou devem ser mantidas isoladas ou em pequenos grupos de um macho para algumas fêmeas. Por outro lado espécies que formam grandes agregados sazonais para reprodução tendem a ser mais sociais e a tolerar uma densidade populacional maior em cativeiro Não há ainda informações seguras para o jacaré-de-papo-amarelo (LANG, 1987). No Parque Chico Mendes notou-se que grupos de indivíduos jovens (até 5 anos), tinham grande tolerância em recintos com maior densidade populacional, de forma que não eram registrados embates, e muitas vezes eles se amontoavam uns sobre os outros como se juntos estivessem mais protegidos. No entanto, não tivemos os mesmos resultados ao tentarmos formar um grupo com indivíduos adultos, pois os mesmos envolviam-se em freqüentes brigas. Ao que nos pareceu havia um macho dominante que não permitia a presença de outros indivíduos tanto  machos quanto fêmeas, o comportamento deste macho levou a óbito dois outros machos e uma fêmea. A causa da morte dos mesmos pode ter sido conseqüência dos ferimentos de brigas, e/ou pelo fato do macho dominante não permitir a permanência de outros indivíduos dentro do tanque. Impedidos de terem acesso à água os jacarés passavam muito tempo expostos ao sol, como sabemos os crocodilianos como os outros répteis regulam sua temperatura corpórea por uma combinação de mecanismos comportamentais e fisiológicos (SMITH, 1979) e a exposição prolongada ao sol causa hiper-termia podendo levar ao óbito.

Tem-se desenvolvido nos últimos anos em vários países do mundo programas de manejo de crocodilianos, propondo desde a exploração de excedentes populacionais através da caça em ambientes naturais até a criação em cativeiro, visando sua conservação e aproveitamento econômico. Os mais avançados podem ser encontrados nos EUA, Zimbabwe, Índia, Papua, Nova Guiné, Venezuela e Austrália (WEBB et alli, 1987). No Parque Chico Mendes e na Fundação RIOZOO, os plantéis de jacaré-de-papo-amarelo são mantidos para fins de preservação e conservação da espécie, como também para exposição e educação ambiental.

A alimentação fornecida aos animais em cativeiro inclui sardinhas (Limnothrissa miodon) e carne de elefante (HUTTON e JAARSVELDT, 1987), carcaças de frango, carne bovina e peixe (BEM-MOSHE, 1987), peixe (Micropogon undulatus), ratão-do-banhado (Myocastor coypus) e suplemento vitamínico-mineral (McNEASE e JOANEN, 1981e JOANEN e McNEASE, 1987), sendo já utilizada por criadores de aligator nos EUA uma ração comercial a base de sub-produtos agropecuários (STATON et alli, 1990). No Parque Chico Mendes e na Fundação RIOZOO são fornecidos aos jacarés; sardinhas (Limnothrissa miodon),pescoço de galinha, coração bovino, carne bovina moída (para filhotes) e codornas (Nothura maculosa) como presa viva.

 

5 - CONCLUSÃO

Ao concluirmos este trabalho, esperamos ter contribuído para aumentar o banco de dados da espécie jacaré-de-papo-amarelo (Caiman latirostris), e sobretudo ter dado um primeiro passo na tentativa da conservação da espécie nas Bacias da Baixada de Jacarepaguá.


Autor: Marcus Pinto Silveira


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