Palavras que assaltam no meio da noite



IVAN HENRIQUE ROBERTO, 31 DE OUTUBRO DE 1987.

                                    

 

                                        Joking with words, Playing with language

 

 

Um grande triunfo e uma saudável diversão,

Se lambuzar e se divertir com palavras.

Existe um fluxo, uma maré, uma porta que deixaram aberta,

Entre o vazio germinal das sílabas soltas e letras dispersas e aflitas,

Similar às moléculas na grande explosão.

 

 

Um som se propaga através do silêncio, o silêncio é o oceano que desafia a comunicação.

Uma palavra veio cambaleando noite adentro, dia afora, caiu,  jazia exausta numa folha pálida, num caderno excessivamente fechado.

Mãos tímidas folhearam o caderno, libertando sonhos, idéias, códigos que planejavam

Atravessar décadas e se despir no futuro.

 

 

Mãos e olhos que, juntos, desvendaram o caderno,

Prantos para serem esquecidos, palavras que não conheceram a ressonância devida,

Pausas entre um delírio, uma exaltação e uma indignação, um íntimo que esperava ser

reconhecido no futuro.

 

 

Muitos desejariam se abster do verbo

Palavras são armadilhas para seres sem destreza, um difícil caminho entre o desejo e a explicação, muitos não entendem, subentendem e o desentendimento é a argila indesejá-

vel num campo que se esperava fértil.

 

 

Muitos temem as palavras por medo de traição, aguardam que entendam seus olhos,

Mas poucos olham atentamente para eles.

 

 

Uma vaga lembrança cresceu em meio ao sono intranquilo, logo uma frase inteira se revelou

Um verso se moldou, o escritor atordoado rápido o anotou, logo nasceram mais e mais.

O pobre escritor atormentado coleciona milhares de palavras, enfileiradas em cadeias,

Encerradas em livros impublicáveis.

Ele se levanta de manhã,  triste por ter sido abençoado

E  abandonado à sorte dos marginais, como o tecelão, o professor, o lavrador e o artesão.

 

 

Ele se prepara para ser bombardeado por idéias controversas, símbolos, sinais, frases truncadas no tráfego de idéias, no trânsito de emoções submersas, o comércio de valores em voga, a vaga de fatos que afogam os dias.

 

 

E a vida é uma guerra, trincheiras em todos os quadrantes do solo onde desejamos andar de pés descalços. Mas, cacos de vidro e campos minados por toda a vizinhança, campos minados em jardins bucólicos, armadilhas para pés ingênuos, gás sufocante, vida sufocante,

Os mais fortes vencem, mas quem são os mais fortes ?

 

 

 

E a vida tem desvios que impedem uma morte inesperada...

 

 

(Ás vezes, no meio da noite, vêm um pesadelo e com ele o alerta do perigo.

 E então jorram palavras como mel e imagens como água fresca no deserto,

 Armas de defesa por mais frágeis que sejam)

 

 

O escritor não quer dormir antes de terminar ou antes de interromper uma inundação de idéias, ele teme talvez esquecer a fonte nestes caminhos obscuros, onde é melhor andar de olhos fechados e mãos vazias, caminhos infestados de silêncios, frases se desfazem e as palavras se propagam solitárias, vozes que se articulam e se mostram ininteligíveis,

A essência de Babel nos desvios tortuosos da Babilônia.

 

 

(Às vezes, no meio da noite, acomete-o o vazio...)

 

 

O escritor acorda do outro lado de seu espelho, escuridão e brumas indissipáveis são seus anfitriões nesta viagem familiar, mas nunca plenamente compreendida.

Escuridão e brumas indissipáveis são seus únicos pontos de referência neste estranho mundo, onde lembranças afetivas se tornam açoites,

O belo é triste.

A tranqüilidade é insanidade,

Dois passos são extremamente cansativos,

Fugir é um exercício estimulante,

Correr para as brumas e tentar dissipá-las é a solução que sempre lhe mostram,

Correr e saltar no vazio e esperar o dia clarear...

 

O dia clareou, o escritor recolhe seus papéis.

Levanta, escova os dentes,  recusa-se a pentear os cabelos.

Um dia alguém gostará de ler suas  fantasias,

Ele estava apenas brincando com as palavras e jogando com a língua,

Fingindo-se de inventor.

São as brincadeiras de adultos, já que as crianças ficaram para trás.

 

Toda a noite anterior ele pensou no isolamento e na falta de comunicação,

Deram-lhe músicas para cantar e ouvir, livros para ler e coisas para comer.

 

 


Autor: Ivan Henrique


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