A conta do telefone



 

Minha tia Tânia estava se sentindo muito sozinha,queria um companheiro para sair,conversar,ir ao cinema,sexo casual,essas coisas,coisas de casal.Então teve a brilhante idéia:

-Vou procurar um homem no jornal!-disse pra si mesma,convicta,enquanto lavava a louça.Rapidamente secou as mãos,fechou as torneira,e foi procurar,porque não lembrava aonde estava,o jornal que ganhara do vizinho João.Enquanto a mulher do João comprava o jornal no mercado,sem saber,João também comprou jornal no bar,então,para não ficar com dois exemplares,resolveu dar um deles a sua vizinha,minha tia Tânia.

-Aonde será que eu coloquei o jornal?-perguntou a si mesma,em pé na sala,com a mão direita na testa,olhando em sua volta.Olhou para o armário.Não deveria estar ali.Olhou então para o sofá,pensou por um instante,perscrutou-o,viu uma pontinha cinza embaixo da almofada.Foi até o sofá,sentou-se de lado,retirou a almofada e quando viu o jornal sentiu uma fisgada de esperança.Abriu-o.Foi até a página 14,aonde estava a coluna Corações Solitários.Um dos textos chamou a sua atenção.

Desejo conhecer uma mulher entre 18 e 28 anos,sincera,amiga,carinhosa,que esteja bem com a vida,para possível relacionamento sério.Sou moreno claro,tenho 28 anos,1,68,78kg.Meu telefone é nove,sete,dois,três,seis,um,dois...Meu nome é Clóvis.

Gostou do que leu,sentiu uma confiança que vinha não sabia de onde.Resolveu ligar,por que não?,pensou.

-Alô?É o Clóvis?

-Sim.É ele.Quem é?

-Meu nome é Tânia,eu gostei do seu anuncio no jornal e queria...conversar.

-Hum...Muito bom...

E assim foram por horas.A partir daquele momento emanou um sentimento de interesse dos dois.Combinaram de se falar todos os fins de semana.Não satisfeitos também as quartas-feiras.Ainda não satisfeitos e com o desejo no ápice,agora,se falavam todos os dias.

Certo dia,minha tia Tânia se cansou de só conversar,queria mais,queria ver,queria cheirar,queria tocar,então,decidiu:

-Vou marcar um encontro!-sussurrou para si mesma enquanto voltava do trabalho.Seria a primeira coisa que ia fazer ao chegar em casa.Chegou.Abriu a porta.Largou a bolsa preta no sofá.Pegou a correspondência em cima da mesa e foi em direção ao telefone,estava ansiosa.Colocou o telefone no ombro,discou o número e começou a ver as correspondências.

-O telefone discado não aceita este tipo de chamada.-disse a voz ao telefone.Ao mesmo tempo viu a conta de telefone em suas mãos,abriu e leu a triste notícia.A conta do telefone não tinha sido paga.

-Eu não acredito!-falou estagnada.A frustração pairava no ar.Realmente minha tia Tânia não acreditava que perdera a chance de talvez ter um relacionamento estável por esquecer algo tão banal como a conta de telefone.Desde então minha tia Tânia nunca mais esqueceu de pagar qualquer conta.

Ninguém pode julgar minha tia Tânia,porque o ser humano é assim,esquece das coisas.Quem nunca esqueceu uma coisa tão simples como pagar a conta de telefone?

Marlon Pires Ramos


Autor: Marlon Ramos


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