Enzimologia Clínica



Apesar dos conhecimentos científicos sobre as enzimas já contarem com quase um século de existência, somente a partir de 1954 Karmem demonstrou a associação entre a ocorrência de uma doença aguda, o infarto do miocárdio e a elevação plasmática de uma determinada enzima, a transaminase. Naquela época apenas meia dúzia de enzimas era utilizada em clinica medica, sendo que nenhuma delas estava envolvida com o metabolismo intracelular. Todas se relacionavam com fenômenos digestivos ou hidrolíticos extracelulares. A lípase e a amilase, por exemplo, já eram ligadas, desde 1930, aos casos de pancreatites agudas quando apresentavam atividades plasmáticas elevadas. Nesta mesma década, Bodansky, Gutman, King e outros investigadores estudaram as fosfatases no soro e demonstraram que a alcalina elevava sua atividade sérica em varias doenças hepáticas e ósseas e a acida, no carcinoma prostático.

Enquanto quatro ou cinco enzimas eram dosadas no passado, hoje em torno de uma trintena é rotineiramente dosada e quase uma centena delas encontra-se disponível para ser utilizada no diagnostico clínico de diversas situações nosológicas.

A enzimologia clínica é uma das especialidades da química clínica que mais têm se desenvolvido ultimamente, sobretudo, devido aos progressos teóricos da bioquímica e do enorme desenvolvimento das técnicas laboratoriais. No entanto, este rápido crescimento levou a um estágio atual de reflexão entre os especialistas, não por causa da utilidade que a enzimologia clínica desempenha como coadjuvante importante ao prognostico e acompanhamento da evolução de inúmeras doenças, mas por falta de otimização, padronização e controle de qualidade das variadas técnicas usadas para a determinação das atividades enzimáticas. A otimização de uma técnica de medida enzimática deve permitir a expressão de sua atividade máxima sob uma temperatura determinada e deve estar suficientemente adaptada para fornecer resultados livres de interferências, já a padronização trata da escolha de uma única modalidade metodológica para a determinação da atividade enzimática, assim como da expressão dos resultados achados. Ela deve especificar não somente a temperatura, na qual a velocidade da reação deve ser medida, como a natureza, o pH, a concentração do tampão, a concentração do substrato, cofatores e efetores, etc. O controle de qualidade mede a eficácia das determinações enzimáticas assim como as variações interlaboratoriais.

As diversas técnicas usadas para avaliações das atividades enzimáticas dependem muito das condições do laboratório e do tipo de uso clínico. Portanto, não podem ser classificadas em grupos estanques. Contudo, é possível destacar alguns métodos mais frequentemente empregados na determinação das enzimas como o método espectrofotométrico, método colorimétrico, método potenciométrico, método manométrico, método fluorimétrico e método imunoquímicos.

As enzimas representam mais de 90% das proteínas celulares. Elas estão dissolvidas no citosol ou ligadas às estruturas celulares como a membrana plasmática, núcleo, mitocôndrias, diversos componentes do compartimento lisossômico, ribossomos, reticulo endoplasmático, aparelho de Golgi, microssomos, etc. Elas são classificadas em 6 grandes grupos, são eles: oxidorredutases, transferases, hidrolases, liases, isomerases, ligases e sintetases O foco desse trabalho é superficialmente descrever algumas das enzimas mais conhecidas e expor onde elas atuam no nosso organismo.

OXIDORREDUTASES

b-Hidroxibutirato Desidrogenase

A D-3-hidroxibutirato: NAD oxidorredutase, também chamada b-hidroxibutirato desidrogenase, HBDH, áciso b-hidroxibutírico desidrogenase, acha-se eletroforeticamente relacionada com a isoenzima cardíaca LDH. É bastante ativa na musculatura esquelética, coração e fígado. Apesar de ser uma enzima de localização mitocondrial, responde pronta e sensivelmente a pequena necroses, aumentando o seu teor sérico até mesmo nas anginas.

Sorbitol Desidrogenase

A L-iditol: NAD-2-oxidorredutase e a D-iditol: NAD oxidorredutase, sorbita desidrogenase, sorbitol desidrogenase, poliol desidrogenase e SoDH catalisam a oxidação do sorbitol para D-frutose, assim como de certos poliálcoois . A sorbitol e a D-frutose formam um complexo órgano-especifico do fígado e, com exceção de pequena quantidade nos rins e órgãos genitais, todos os outros órgãos são carentes deste complexo enzimático. Esta particularidade torna-se de grande valor em química clínica porque permite afastar os músculos esqueléticos e o coração como fontes das referidas enzimas, possibilitando, o diagnostico de suas afecções, por exclusão.

TRANSFERASES

Creatina Fosfocinase

A ATP: creatina N-fosfotransferase, conhecida também como creatinacinase, CK, creatina fosfocinase, CPK, CPC, desempenha importante papel na contração muscular e catalisa a formação do fosfágeno ou creatina fosfato, a partir de creatina e do ATP. É uma enzima responsável diretamente pela biossíntese da creatina fosfato, reserva energética da contração muscular, ela apresenta extraordinária importância clínica nos diagnósticos das afecções musculares e no infarto do miocárdio.

Galactose-1-Fosfato Uridiltransferase

A UDP-glicose: hexose-1-fosfato uridiltransferase, também conhecida como UDP-glicose: galactose-1-fosfato uridiltransferase ou simplesmente galactose uridiltransferase, catalisa a reação de transferência do UDP da glicose para galactose-1-fosfato. Contribui decisivamente para o metabolismo da galactose em todos os tecidos, principalmente no fígado, intestino e glândula mamária.

HIDROLASES

Arginase

A L-arginina amidino-hidrolase, tambpem conhecida como arginina amidinase ou canavanase, catalisa a reação final da biossíntese da uréia, sito é, a hidrólise da L-arginina em uréia e ornitina. Ela é uma enzima característica do fígado, pois este órgão é o único produtor de uréia do organismo. Portanto, seus valores séricos se elevam nas hepatopatias. É ativada pelos íons Co2+ e Mn2+ e inibida pela Ag+, Zn2+, Hg2+, ornitina, lisina e vários outros aminoácidos, principalmente aqueles de natureza alifática.

Fosfatase Ácida

A hidrolase de ésteres fosfóricos, conhecida internacionalmente como monoester fosfórico fosfo-hidrolase, tem como nomes comuns fosfomonoesterase ácida e glícero fosfatase ácida. Presente, sobretudo na próstata, onde sua concentração chega a cerca de 1.100 unidades por grama de tecido prostático, é encontrada também nos eritrócitos (em torno de 3 unidades por grama de células), rim (2,2 U/g), fígado, pâncreas, baço, supra-renais e tireóides. A maior parte da fosfatase ácida do soro não hemolisado, se não for de origem prostática, é proveniente das plaquetas.

LIASES

Aldolase

A aldolase catalisan a reação de clivagem da D-frutose-1-6-difosfato em D-gliceroaldeído-3-fosfato e di-hidroxiacetona fosfato. Para tanto a enzima froma uma base de Shiff entre a carbonila do substrato e o grupamento e-amínico da lisina, aminoácido em posição 227 na cadeia protídica, e pertencenteao seu centro ativo. O ganho de energia resultante da formação da cetoimina permite a quebra oxidorredutiva entre os carbonos 3 e 4 da D-frutose-1-6-difosfato. Esta reação é de fundamental importância para a via glicolítica de Embden-Meyerhof-Parnas, a qual permite a todas as células, de qualquer espécie, retirar energia para seus metabolismos a partir da glicose.

ISOMERASES

D-glicose-6-fosfato isomerase

A D-glicose-6-fosfato cetol isomerase, (GFI), fosfo-hexose isomerase (FHI), ou D-glicose-6-fosfato isomerase, desempenha papel fundamental no metabolismo energético da glicose. Ela catalisa a transformação reversível da D-glicose-6-fosfato em D-frutose-6-fosfato.

Metilmalonil-CoA Isomerase

Também conhecida como metilmalonil foi identificada em diversos tecidos, destacando-se o cérebro, fígado e rins. Catalisa a reação de isomerização do metilmalonil CoA em succinil CoA. Esta reação, que depende da vitamina B12, é de grande importância para a síntese da hemoglobina. A deficiência desta vitamina, causada principalmente por defeito da sua absorção intestinal, leva ao desenvolvimento de um tipo de anemia megaloblástica, associada a neuropatias, conhecida como "anemia perniciosa".

Anna Cristina Ribeiro Pereira Soares


Autor: Anna Cristina Soares


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