Cheiro de bolo



Ah, o cheirinho do bolo saindo do forno... Não há despertador melhor nas manhãs de sábado, quando Gorete, nossa secretária, aproveita a flor da semana para preparar um bolo bem gostoso e fofinho, depois de já termos experimentado o maravilhoso cheiro de café e de banana assada.Quanta coisa lembramos quando sentimos o cheirinho de bolo, de café ou de banana assada... De algum perfume, de rosas, de um sabonete... Quantos amores que ficaram lá atrás voltam e nos dizem olá. Viajamos no tempo e no espaço, facilmente, através dos aromas. Nenhum registro sobre esse despertar de lembranças por meio do olfato é mais notável do que o narrado pelo escritor francês Marcel Proust no primeiro volume de Em Busca do Tempo Perdido. Ele descreve um episódio que ilustra bem o que hoje se conhece como memória involuntária, aquela que surge por mero acaso: o aroma do bolinho Madeleine embebido no chá evoca no protagonista a sua infância, que lhe traz prazer delicioso e poderosa alegria. A obra inspirou pesquisadores ingleses a investigar a relação olfato-memória, que foi batizada de "Proustian Phenomena.Inevitavelmente associamos um aroma a uma experiência vivida. Os aromas trazem lembranças, despertam sensações, transmitem desejos, aumentam o apetite, inclusive, o sexual, já que algumas de nossas memórias podem ser bem excitantes. Essas memórias, que estão vinculadas aos cheiros, costumam se associar a situações vividas, á infância ou a pessoas conhecidas, assim como viagens, cidades visitadas, amigos e amores.Sobre isso, precisamos saber que a maioria das pessoas considera o olfato um dos sentidos mais importantes. O aroma preferido de mais da metade da população é o cheiro dos entes queridos. O odor é motivo maior de rejeição que a aparência. Isso quer dizer que a beleza de Brad Pitt ou dos similares não valeria nada (ou quase nada) se os mesmos tivessem mau  hálito, chulé, CC etc. Além disso, boa parte das pessoas considera o aroma como uma das principais armas de sedução, e que a perda de olfato, devido a uma congestão nasal, por exemplo, afeta seu estado de espírito, gerando frustração, raiva, irritação ou depressão.Pesquisas indicam que o ser humano lembra 35% dos cheiros, 5% daquilo que vê e 2% do que toca. Segundo Richard Axel y Linda Buck, prêmio Nobel de Medicina, em 2004, a memória pode reter até 10.000 aromas distintos, enquanto reconhece apenas 200 cores.Enfim, um cheiro é tudo de bom. E cheiro bom pode ser de bolo, de café, de banana assada, de chuva na terra, de grama, de pão, de coentro, de sapato e carro novos, de sabonete ou de um perfume que marcou. Em nossa casa sempre há um cheiro que caracteriza cada cômodo. O cheiro dos filhos, do jardim, da nossa caminha gostosa, do banheiro limpinho... O cheiro, quando é bom, nos faz seduzir, nos faz salivar, nos faz rememorar daqueles bons tempos que passaram, e que voltam para sorrir. Lembramos da infância, dos pais, do vovô e da vovó, talvez daquela tia, primos... Lembramos dos tempos em que podíamos sentir os cheiros e pensar neles com carinho, guardados no cantinho do coração. Cheiro bom é aquele que resgata esses momentos mágicos. É algo muito particular. Quando sinto o cheiro do pescoço da minha mãe, lembro do tempo em que eu, pequenina, ficava sentadinha no seu colo, na cadeira de balanço, sentindo o seu cheiro, o seu carinho, até que adormecia. Também lembro com saudades do cheiro da boquinha dos meus filhos quando eles eram bebezinhos. Parece que foi ontem... Passou tudo tão rápido. Cheiro de boca de bebê é tão gostoso, que deveriam inventar aromatizantes de ambiente nessa fragrância. Assim eu me lembraria sempre do cheiro gostoso da boca dos meus bebês.Cheiro bom é o que nos leva bem longe... que faz a garganta dar um nó, que aperta o coração de tanta saudade.Perguntei a uns amigos que tipos de cheiros lhes traziam boas memórias. Um amigo respondeu que cheiro de pipoca com qualquer coisa o fazia lembrar-se de cinema. Outro, que o cheiro de alguns perfumes traziam a lembrança de namoradas e de alguns momentos marcantes. Uma amiga disse que o cheiro do sovaco do seu esposo a fazia lembrar o quanto ela o ama. Este é, definitivamente, um cheiro bom. Um desses amigos acabou lembrando o livro O perfume, que conta a história de um homem que possui um olfato extraordinário. Durante a sua vida esse homem, que nasceu e foi abandonado entre os peixes que a sua mãe vendia, trabalhou como aprendiz de perfumista, quando aprendeu várias técnicas para a criação de um perfume. Tal homem, Grenouille, um dia encontra uma jovem, com um perfume totalmente diferente de todos os outros milhares de perfumes que ele guardava na memória, e acabará por matá-la, com as suas próprias mãos, de tanto desejar apoderar-se do seu odor. Mas, esta jovem é apenas uma das 25 outras que o protagonista acaba por matar na busca do perfume perfeito. No final da história, Grenouille volta a Paris e é partido aos bocados e comido por pessoas devido ao efeito do perfume que tinha posto: um final trágico para o protagonista. Ele devia estar com cheiro de bolo pelo corpo...
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