O incrível mundo de Lara
O incrível mundo de Lara.
Aquela era mais uma briga dos pais de Lara. A garota espiava pela porta e via novamente uma discussão, porém parecia que daquela vez não terminaria como antes:
- Não agüento mais, Henrique!Para mim já chega... Vou embora com a Lara para a chácara dos meus pais.
Disse a mãe da menina.
- Pode ir Carmem! Isso foi o que você quis desde o começo...
Disse o pai da menina.
Carmem então começou a arrumar as suas malas e da filha para partir. Lara sabia que sua família acabava naquele momento. A garota não conseguia dormir, chorou a noite inteira. Não queria ficar longe de seu pai, nem do prédio onde morava. Lá morara desde quando nasceu, e mesmo tendo apenas cinco anos tinha muito carinho por aquele lugar.
No outro dia, Carmem colocava as malas em seu carro enquanto Lara brincava no balanço do pátio. A garota queria pela última vez observar o prédio. Era uma construção antiga em um formato quadrado, que circundava uma área verde em seu interior no qual a menina se encontrava naquele instante. Ela olhava para baixo e as lágrimas corriam sua face quando ouviu uma voz:
- Oi Lara! Minha mãe falou que você vai se mudar.
Disse Juquinha seu melhor amigo.
A garota chorando respondeu:
- Sim...
- Eu trouxe isso para você! É o Pimpo, meu ursinho de pelúcia. Toda vez que ficar triste ele vai te deixar alegre.
Comentou o garoto.
Lara pegou o presente e sorriu. A mãe dela a chamou, pois já era hora de partir. O pai da garota deu lhe um abraço apertado. As lágrimas da menina molharam a camisa dele.
Finalmente mãe e filha haviam chegado a nova moradia. Saíram de Belo Horizonte em direção a região metropolitana Ribeirão das Neves. O novo lar, Chácara Boa Esperança. Os avós da garota estavam a espera de ambas na porteira da residência. O avô Armando carregou a neta no colo e disse:
- A partir de agora este será o seu reino encantado, o incrível mundo de Lara, onde começaremos uma nova história repleta de amor e felicidade.
O coração da garota se encheu de paz.
Passaram-se dois anos e Lara havia se acostumado com a vida na chácara. Ela amava viver ali. Cuidava e conversava com todos os animais. Especialmente com seu inseparável amigo, Nero, o cão. A garota andava a cavalo, pois gostava de sentir a brisa em seu rosto. Subia nas árvores para colher os frutos. Nada no riacho que passava atrás da casa grande. Gostava também de assentar se em baixo da macieira e ficar observando a natureza. Para o café da tarde não existia refeição melhor do que os pães de queijo da avó Vicência.
A casa grande era composta por dois andares. No primeiro andar ficava a sala de estar com seu enorme piano cor de ébano. A mobília de toda a casa era rústica. Na cozinha ainda tinha um fogão a lenha. No segundo andar situavam se os quartos. O de Lara era cor-de-rosa com bonecas de todos os tipos.
Aquela vida parecia perfeita, mas Lara sentia um vazio no coração. Via o pai apenas duas vezes no mês. Ela adorava os finais de semana em que passeava com ele. Iam ao Parque Municipal de Belo Horizonte, a parques de diversão, e também ao seu lugar preferido o Zoo-Botânico. A menina não gostava de ver os animais aprisionados, porém amava o Jardim Botânico. Passava horas admirando a beleza das flores. Na chácara Lara havia plantado uma roseira e sempre que via seu pai dava-lhe uma muda para ele nunca se esquecer dela. Mesmo com esse vazio no coração, a garota era feliz. Amava a vida e fazer o bem.
Finalmente o grande dia havia chegado. Lara iria para a escola. Estudaria no Centro de Educação Infantil Renascer, no bairro Céu Azul. Como era na capital e ela morava na região metropolitana sua mãe a levava de carro. A grande hora chegará. A menina desceu do carro, despediu-se da mãe e entrou confiante no educandário. Andava pelo pátio quando viu uma briga. Dois garotos batiam em outro. Lara não pensou duas vezes e disse:
- Covardes! Por que não batem em duas pessoas?!
- Que ridículo ele precisa de uma menina para defendê-lo. Vamos embora, esse idiota já apanhou bastante.
Respondeu Alfredo.
Lara viu que o garoto que havia apanhado era conhecido.
- Juquinha?! Você está bem?
Perguntou Lara ajudando o garoto a levantar se.
- Obrigado Lara por me ajudar.
Respondeu Juquinha.
Fazia muito tempo que os dois não se viam. Ele havia crescido e passou a usar óculos. Ela estava mais corajosa e agora usava duas tranças no cabelo. Os dois amigos estudariam juntos. A amizade aumentou. Onde você via um encontrava o outro.
Lara agora percebia que o mundo não se limitava apenas a chácara. Existiam pessoas com o coração ruim e era preciso lhe dar com isso.
Alfredo sempre foi a pedra no sapato de Lara. Mas a garota agora estava feliz, porque esse era seu último ano na escola de ciclo básico. Então não veria novamente aquele garoto.
- Que casalzinho bonito. A caipira e o gênio!
Debochou Alfredo quando Lara e Juquinha passavam pelo pátio.
- Alfredo, você tem sorte que esse é o último ano que tenho que ver a sua cara mal feita. Se não eu a partiria no meio.
Respondeu Lara.
- Calma violência não resolve nenhum problema. Um dia ele aprende por si só que somente a bondade compensa.
Aconselhou Juquinha.
A garota chegou a casa e foi correndo almoçar. Naquele dia a avó havia feito feijão tropeiro.
- Como foi na escola hoje, Lara?
Perguntou o avô Armando.
- Como sempre vovô. O Alfredo me chateando, mas o Juquinha me ajudando.
Respondeu a menina.
A avó se assentando a mesa disse:
- Lara, você já está grandinha, tem dez anos. Hoje será um dia especial sua mãe trará o namorado dela e o filho dele para te conhecerem. Se comporte bem no jantar, combinado?
- Combinado, vovó!
Mesmo Lara não aprovando o namoro, sabia que sua mãe estava feliz. Depois do almoço a menina tirou um cochilo e quando acordou foi ver os animais da chácara. Ela cuidava de cada um. Dava a comida, trocava a água e conversava com eles. Estava correndo com o Nero, quando o avô Armando chamou:
- Lara, está na hora de fazer a lição de casa.
Muito estudiosa e obediente foi depressa fazer a lição. Após o término tomou banho e se arrumou para o grande jantar. Já eram sete horas, quando a sua mãe entrou com o namorado e o filho dele. Lara olhou espantada. Via em sua frente Alfredo e o pai dele.
- Caipira?
- Cara mal feita?
- Esperávamos que já se conhecessem. Mas preferimos fazer essa surpresa.
Disse Carmem.
- Boa noite, Lara! Como você está? Meu nome é Cláudio. Eu sou o namorado da sua mãe.
A garota ficou abalada com a notícia, pois o garoto que ela mais odiava faria parte da sua família. O pai de Alfredo era viúvo, logo a menina não queria dividir a atenção de sua mãe com ninguém.
O tempo passou. A menina já tinha 12 anos. Lara e Juquinha foram estudar na mesma escola. Alfredo foi estudar em outra, apesar disso a convivência com a garota era inevitável. Os dois viviam brigando. A garota não entendia porque ele implicava tanto com ela. Porém, no dia das mães o garoto e o pai dele foram à chácara e ela notou algo diferente. Quando Alfredo foi entregar o presente a Carmem, ele lhe abraçou forte e as lágrimas correram a face. Agora Lara entendia, ele era daquele jeito porque não tinha um amor materno. Ela passou a se preocupar com ele. Não aceitava as provocações dele, o garoto precisava de ajuda. Naquele momento ela entendia como era importante aquele sentimento, por isso passou a dividir a atenção da sua mãe.
Aquela era noite de São João. Avó Vicência, avô Armando, Lara e Juquinha foram à festa junina que estava acontecendo perto da chácara. Os garotos se divertiam muito.
- Olhe Juquinha! Uma barraquinha de jogos...
Disse Lara
- Vou tentar acertar o alvo para conseguir um presente para você.
Comentou o garoto.
O rosto da garota ficou corado. O menino tentava jogar as argolas para acertar o pino. A primeira e segunda tentativa ele errou, mas na terceira foi certeira. Ganhou uma corrente com um pingente pesado em formato de lobo guará. Pegou a mão da garota e disse:
- É seu. Para sempre ficar perto do seu coração.
Lara ficou imóvel. Juquinha sempre lhe dava presentes tão especiais. Ela não sabia como retribuir. Apenas lhe deu um abraço.
Naquela tarde de domingo, todos estavam reunidos na varanda da casa grande. Foi então que se ouviu um grande barulho. Dois homens a cavalo invadiram a chácara. Eles estavam armados foram em direção a Alfredo e Claudio. Mas um valente ser pulou na frente dos homens. Começou a atacá-los e feriu os cavalos. Apesar disso levou um tiro no coração. Os mal feitores fugiram, porém Nero estava a sangrar, caído no chão. Lara saiu correndo para acudi-lo, mas o pobre animal morreu em seus braços.
Sobre o luar, o avô de Lara enterrou o pobre animal que morreu para salvar alguém especial para Carmem. A garota quis ficar sozinha perto da cova. Ela depositou uma flor de sua roseira e como últimas palavras disse:
- Nero, você sempre esteve aqui ao meu lado. Eu nunca disse o quanto era importante para mim. Morreu como um herói. Agora eu entendo o verdadeiro significado da palavra amor.
Quando a menina terminou de dizer isso uma chuva fria e fina começou a cair.
Alguns dias depois Carmem chegou do serviço assentou se no sofá e disse:
- Claudio ficou preocupado com o acontecido. Ele acha que pode ser uma tentativa de seqüestro.
- Alguém pode estar de olho no dinheiro dele. Ele é um empresário bem sucedido.Devia aumentar o número de seguranças.
Comentou avô Armando.
Lara disse:
- E como está Alfredo?
- Está bem. Apesar de estar tirando notas ruins na escola. O pai dele tentou colocá-lo em uma aula de reforço escolar, mas ele não quis ir se sentiu envergonhado.
Nesse momento a garota teve uma idéia. Cochichou o que pensava para a mãe e piscou o olho.
Segunda-feira havia chegado. Alfredo começaria contra a própria vontade as aulas de reforço. Ele entrou na sala quando teve uma surpresa, Lara também estava lá.
- O que você está fazendo aqui? Tira notas tão boas na escola?
Perguntou o menino.
- É verdade. Mas sempre é bom rever a matéria depois da aula.
Respondeu a garota.
Aquilo fez com que Alfredo se sentisse melhor. Apesar dos dois não se tornarem amigos.
Era uma sexta-feira antes do dia dos pais e também aniversário de Juquinha. Lara chegou à escola e o viu sentado em um banco do pátio. Correndo o abraçou e disse:
- Feliz aniversário!
- Obrigado.
Respondeu o garoto.
- Hoje é seu aniversário, por que está triste?
Perguntou a garota.
Ele sem responder olhou para baixo. Lara lembrou que o pai de Juquinha havia morrido quando ele nasceu. Então, ela disse:
- Darei seu presente de aniversário no domingo. Espere-me em frente ao parque de diversões.
Na data e hora marcadas, Juquinha estava no local combinado. Ele esperava a garota, quando a avistou vindo de longe com o pai dela.
- Juquinha, você sempre me ajudou quando eu mais precisei. Por isso, quero que você tenha pelo menos um dia de felicidade sentindo o verdadeiro amor paterno.
Os olhos do garoto se encheram de lágrimas. Aquele dia foi o melhor de toda a sua vida. Eles passearam em todos os brinquedos do parque. Henrique disse antes de partir:
- Juquinha, quer assistir a uma partida de futebol comigo?
O garoto não se continha de tanta felicidade.
Certo tempo havia passado e a festa de aniversário da empresa de Claudio se aproximava. Certo dia ao encontrar Lara na escola, disse Juquinha:
- Como estão os preparativos?
- Bem...
Respondeu a garota.
- o que aconteceu para você estar triste?
Perguntou o garoto.
- O Alfredo vai morrer. Ultimamente, eu tenho o mesmo sonho. Dois homens entram armados na festa. Tudo é muito real. Eles querem seqüestrá-lo, porém ele resiste. Então, é atingido por um tiro.
Respondeu Lara.
- Mas, isso é apenas um sonho.
Disse o garoto
Ela balançou a cabeça negando.
Aquela era uma sexta feira a noite, Lara havia chamado Juquinha até a chácara. No outro dia seria a comemoração. Ela estava olhando a lua quando o garoto chegou:
- Oi Lara, o que você queria me dizer?
- Está carta é para você. Foi o último sonho que tive. Por favor, jure para mim que nunca me esquecerá? Juquinha eu te...
Sem conseguir terminar de falar a garota beijou-lhe a face e disse:
- Você é muito especial para mim. Leia isso somente amanhã a noite.
O garoto não havia entendido o que acontecera ali. Finalmente, o grande dia chegará. Como a garota pediu, ele começava a ler a carta a noite. Seus olhos não queriam acreditar naquilo. Àquela hora todos já estavam na festa. Seu coração batia acelerado. Pegou o celular, era a única coisa que se tinha a fazer. Enquanto isso, no salão de festas todos se divertiam. Lara olhava pela janela, quando o esperado aconteceu. Os dois homens encapuzados entraram e queriam levar Alfredo como refém. Uma arma é sacada. Um tiro disparado, mas a pessoa acerta é inesperada, Lara. A garota pulou na frente e disse:
- Tive a escolha de ser a heroína ou a vilã. Não vou deixar que machuquem uma pessoa querida, o meu irmão.
O garoto ficou paralisado. Nesse momento a polícia invadiu o local e imobilizou os seqüestradores. A menina antes de cair desmaiada viu o rosto de Juquinha. Ela foi levada ao hospital. Os médicos disseram que a bala por pouco não acertou o coração. O pingente do colar da garota havia desviado a trajetória da bala. Ela havia ficado alojada no ombro. Lara perderá muito sangue. A operação demorou cerca de 6 horas. Todos fizeram uma prece pela garota. Os médicos foram dar a notícia do término da operação:
- Conseguimos retirar a bala e estancar a hemorragia.
Todos respiraram aliviados. Alfredo perguntou:
- Quando poderei vê-la?
- Ela ainda está dormindo. Quando acordar poderá vê-la.
O garoto fez questão de ser o primeiro a entrar no quarto. Lara abriu os olhos e viu o rosto dele:
- Lara, por que você fez aquilo? Mesmo eu te mal tratando, me salvastes.
- Na noite anterior, tive um sonho. Eu podia ver a festa e o que os ladrões fariam. Mas chegava a um determinado ponto existiam dois finais. Eu sabia de tudo e deixaria ser atingindo, porém você morreria, ou eu te protegia e sobreviveria. Tive a escolha ser a heroína o a vilã. Mesmo me maltratando eu entendia porque tinhas tanto rancor. Você não era como eu, pois quando estava triste eu recorria à chácara e lá me divertia.
O garoto sorriu e disse:
- Pode ter certeza que a partir de hoje serei o herói. Independente dos problemas que a vida coloca no meu caminho, eu os vencerei, Maninha.
Não perca o próximo capítulo dessa história.
O universo aos olhos de Alfredo.
Autor: Vanessa Rabelo
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