Redação Inquieta - Liberdade de Escrita



Por Emerson de Oliveira"Comunicação é a troca de emoção"

Milton Santos  Geógrafo Baiano.

Resenha temática dos capítulos: (5) Estilo, (6) Dialética e (7) Ética, do livro Redação Inquieta, BERNARDO, Gustavo. 5º edição, Editora Formato, ano 2000. Capítulos propostos pela professora Rosana Sorbille, à turma do 5º semestre de jornalismo, na disciplina de Produção de Texto Científico, da faculdade Anhanguera.

Redação Inquieta parece ser mais um daqueles livros de teóricos metidos a escritores. Indicado por professores catedráticos e gramáticos na linha reta das notas e sob o chicote das ementas. Eis que, no primeiro capítulo (Ato) já somos desafiados para uma luta medieval, onde autor cita o caricaturista, poeta e escritor Antonio Carlos Ferreira de Brito (Cacaso) dizendo o seguinte: 'Pra se combinar comigo tem que ter opinião'.

O autor, gladiador implacável, lutador preparado, dotado da arma do pensamento insano dos seus mestres, e suas reflexões acerca da escrita nova, autodidata, de pergunta que é resposta, que gera outra pergunta que leva a discussão, a raiva e a indignação, de não entender o que se lê, e de não aceitar o que se vê. Três Rounds ou capítulos como queiram, [eu prefiro rounds] tal qual, a final de cada um, surgia pensamentos, dúvidas, silencio, sangue... [não se assustem. Foi o espírito de Nietzsche que passou por aqui.] E porquês. Por que estou dizendo isto? Quem é esse cara para querer que eu mude o jeito de escrever, de ler, de viver a vida?

Cinco. O estilo. Cada um tem o seu. A linguagem cada um tem a sua. Mas, criaram à gramática, escreveram e reescreveram [agora mesmo, está em discussão à língua portuguesa falada em países espalhados pelo mundo] e o autor desconstruiu em duas palavras "estudo enrijecido", ensinado até hoje nas 'academias'. Ele escreve ainda que, as respostas são coletivas e por isso servem ao gramático. As dúvidas são únicas e daí servem ao estilo.

[1]De tudo que está escrito, eu amo somente aquilo que o homem escreveu com o seu próprio sangue. Escreve com sangue e experimentarás que sangue é espírito.

Agora entendem a parte  Drácula  desse texto. Afinal de contas estou travando uma luta de vale-tudo com o autor. Esse é meu estilo, encarar, de frente, buscar novas soluções e novas formas de escrever, mas, não aceitar a opinião alheia, colocar a sua no "Octagon" (rinha de vale-tudo) e partir pro pau. No final, apertar as mãos e sair com um pensamento partilhado e novo.

Seis. Dialética. Quê filho da puta! Calma, não estou xingando [palavra sublinhada pelo programa Word, que ainda não despertou a parte escura do seu co-processador] o autor e nem ninguém. É o nosso sistema límbico. O fundo do nosso cérebro, a parte que controla nossas emoções, que me deixou em êxtase neste round, e fez surgir essa linguagem esquecida na parte escura do nosso cérebro.

Discutindo a dialética, o autor nos levou ao passado e futuro. Da terra ao mar, do fogo a água e do inferno ao céu. Viajamos juntos a Marte [Prestes a ser habitada pela NASA... Eu penso que eles vão conseguir] e outras galáxias. Tudo isso para por em prática a arte do diálogo. Para simplificar ele diz: num debate entre dois amigos, nenhum dos dois precisa ganhar; os dois podem ganhar, quando ambos modificam sua opinião na direção da verdade que se descobre pela conversa, verdade que faz a provisória síntese do processo da discussão. A verdade, momentânea, é o fruto da combinação e da oposição.Perguntou-nos sobre algumas questões que lhe pareciam fundamentais: unidade, natureza, espaçotempo, [o Word não reconhece, mas, é assim mesmo que está no livro] deus, entre outras.

Unidade. Dentre as inúmeras idéias expostas por Gustavo Bernardo, podemos observar a viagem bibliografia, que autor fez ao longo dos anos quando escreve que: a busca do permanente persiste e insiste, colecionando frustrações. Num universo cheio de movimento, cheio de contradições e oposições, o homem tenta achar um pouso, uma terra estável. Entre os extremos, cria como Aristóteles, a doutrina do justo meio-termo. Aristóteles falou dela lá pelos anos 350 antes de Cristo, e ainda hoje encontramos as pessoas "comuns" afirmando que a virtude sempre se encontra no meio de dois extremos (cada um dos quais seria um vício). A democracia, entre o fascismo e o comunismo.

Natureza. Uma crítica as pessoas que esterilizam seus cães e gatos para não sujarem o apartamento. Segundo o autor isso rouba o sexo dos animais. Afirma que bem antes de Galileu, para os gregos, duas séries de fenômenos pareciam importantes: os movimentos dos animais e os movimentos dos corpos celestes. Hoje em dia, um estudante moderno de física começa com a mecânica, a qual, pelo seu próprio nome, sugere máquinas. Está acostumado com automóveis e aeroplanos; não faz nenhuma fantasia de que carro contenha uma espécie de cavalo dentro, ou de que um avião voe porque suas asas são as de um pássaro dotado de poderes mágicos. Dirá que um carro tem tantos "cavalos" de potência, mas sabe disso com uma metáfora antiga, não se permitindo visualizar nenhum eqüino dentro do motor. Os animais perderam sua importância em nossas reproduções imaginativas do mundo. Nesse momento a baixada fluminense no Rio de Janeiro está inundada, devido uma chuva forte. Talvez isso explique essa discussão, derrubada de árvores para o crescimento urbano no país.

Espaçotempo. [A palavra que nem é reconhecida pelo Word], já nos leva ao pensamento perto de Einstein e um pouco distante para o nosso autor - como ele mesmo escreve  e muito distante para nós. Mas, basicamente fala-se do tempo em função do relógio. O tempo criado por Deus (Kairós) ficou perdido com o trabalho e o capital, surgindo assim o tempo do homem (Cronos). Sobre este assunto autor cita George Woodcock, que escreveu falando da ditadura do relógio.

O relógio transformou o tempo, transformando-o de um processo natural em uma mercadoria que pode ser comprada, vendida e medida com um sabonete ou punhado de uvas passas. E, pelo simples fato de que, se não houvesse um meio para marcar as horas com exatidão, o capitalismo industrial nunca poderia ter se desenvolvido nem teria continuado a explorar os trabalhadores, o relógio representa um elemento de ditadura mecânica na vida do homem moderno, mais poderoso do que qualquer outro explorador isolado, ou do que qualquer outra máquina (...).

Deus. Você deve esta perguntando, como eu perguntei. O que Deus tem haver com dialética e redação? Nessa hora tive certeza que a minha luta com o autor estaria longe de acabar. Para Gustavo Bernardo, o conceito do divino nos vem apresentado como eterno e imutável. "Desde o primeiro capítulo, creio, tenho posto o esforço insistente e permanente como condição do novo, e o novo como a definição da vida  e da minha redação. Derivo daí a necessidade do movimento permanente dos homens e das palavras, defendendo a inquietação, a dúvida e a investigação como motores do pensamento e sua expressão".

Sete. Ética. [Último round] O autor começa falando de Moral, algo reto a ser seguido, e imperado no modelo de sociedade construído até hoje. Mas, tratando-se de inquietude... Vamos lá. Para o autor são três as principais explicações ahistóricas da moral. Primeiro Deus como origem ou fonte da moral. No caso, as normas morais derivariam de um poder sobre-humano. Logo, as raízes da moral não se encontrariam no próprio homem, mas fora e acima dele. Segundo, a "natureza" como origem ou fonte da moral. A conduta do homem seria apenas um aspecto da conduta biológica. As qualidades morais teriam a sua origem nos instintos, e poderiam ser encontradas inclusive nos animais. Logo, as raízes da moral ainda não se encontrariam no próprio homem, mas fora e "abaixo" dele. Terceiro, o Homem (com H maiúsculo) como origem e fonte da moral.

Respeito a visão do autor em relação à Ética, mas, só descobriremos a verdadeira ética quando acabarmos com a fome e desigualdade no mundo. Talvez, o acesso à escrita, e a literatura como essa, seja o caminho. Esse caminho é longo demais e poucas pessoas conseguiram achá-lo. A arte de escrever bem, como intitulou Dad Squirisi, não é para qualquer um. Também não existem regras para quem quer mudar o mundo, com as palavras, prova disso é Truman Capote, no seu livro "A Sangue Frio", que transformou uma matéria de jornalismo investigativo em Best-seller.

Sem dúvida, ler este autor é trazer um grande conhecimento para mundo da escrita e da comunicação. Depois de Redação Inquieta, um jeito de escrever, novo, próprio, surgirá. É um livro maravilhoso, complexo na maior parte, mas, questionador e desafiador. Todas as emoções são despertadas, alguns pecados capitais como a Ira, a Inveja, a Gula, a Preguiça irão lhe acometer em algum momento. Na frase: "Quem cala não consente. Quem cala, ou está se guardando ou está se submetendo. A segunda opção é mais comum: quem cala se submeteu." Bernardo, aplica uma injeção no nosso cérebro, pensamento meteórico de mudança na arte de escrever.

Gustavo Bernardo é Doutor Literatura Comparada e leciona Teoria da Literatura no Instituto de Letras da UERJ. Já publicou várias obras literárias. Atualmente joga como: Poeta, Romancista e Ensaísta.

Venceu está luta por nocaute técnico. Vou me preparar para revanche.


[1] Friedrich Wilhelm Nietzsche, filósofo alemão do século XIX.


Autor: Emerson De Oliveira


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