Dificuldades no processo de desenvolvimento linguístico infantil



Dificuldades no processo de desenvolvimento linguístico infantil

Matéria postada no "Portal de Garça", 05 de março de 2010

A linguagem seja ela oral, escrita ou simbólica é uma das formas mais completas de comunicação que o ser humano pode possuir. A construção e o domínio da linguagem contribuem significativamente para a integração da criança no triângulo família/escola/comunidade. Para tanto a criança deve ser estimulada e observada no decorrer de sua maturação infantil, em particular, no que diz respeito ao processo linguístico da fala. Acredito que seja mais importante no contexto escolar infantil, nos preocuparmos com a pré-disposição biológica natural da criança, embora os estímulos ambientais e suas interações propiciem as condições necessárias de a criança adquirir seu desenvolvimento linguístico. Quando alguns distúrbios ou dificuldades de fala demoram a ser identificados o fato pode ocasionar disfunções linguísticas e comprometer o desenvolvimento normal da criança. O assunto merece nossa atenção e atitude, pois, segundo a fonoaudióloga Maximino (2009) do Departamento de Fonoaudiologia da FOB-USP,grande parte dos pediatras não encaminha no período apropriado os casos de crianças que apresentam modificações no desenvolvimento da linguagem. Somente os casos mais complexos de patologia mais grave são obviamente detectados, enquanto os problemas mais comuns e mais simples como a troca de fonemas que inviabilizam a comunicação passam despercebidos.

Do ponto de vista educacional, baseando-se nas perspectivas do legado de Lev Vygotsky, pioneiro em desenvolvimento intelectual infantil, a estrutura da linguagem possui importante função na produção de pensamento que ao longo de sua maturação tornam-se interdependentes. Portanto, se alguma disfunção não é apercebida prematuramente,antes mesmo do período formal escolar, o aprendizado sistemático e formal da língua, ou seja, a alfabetização torna-se dificultosa podendo provocar danos irreversíveis à organização social e individual da criança.

De acordo com a psicopedagoga Oliveira (1997), a palavra falada tem similar importância à palavra escrita, quando a criança aprende a ler é fundamental que possua domínio do ritmo, uma sucessão de sons no tempo, uma memorização "auditiva", diferenciação de sons, reconhecimento das frequências e das durações dos sons das palavras. Compreende-se então que o despertar da fala e sua aquisição, além da bagagem biológica "pré-estabelecida" e do usufruto das interações sociais, depende significativamente da atenção de pais e educadores e suas colaborações ao estimular corretamente o "falar" nos pequenos e, principalmente perceberem o momento exato de recorrerem a um profissional especializado na área.

Maximino (2009) elucida que quanto mais precoce o diagnóstico, nos casos de dificuldades de fala, melhor será, se for o caso, a adaptação dos aparelhos auditivos e a diminuição de sessões de terapia. O fato é que não existe algo determinante para identificar possíveis disfunções na fala, porém Maximino (2009) acrescenta que se a criança não apresentar nenhum tipo de som ou palavra por volta de um ano ou um ano e meio, os pais devem encaminhar seu filho a um especialista.

É importante ressaltarmos que as dificuldades linguísticas não acarretam apenas comprometimentos na fala ou na leitura em si, as consequências colaboram para que essa criança se dissocie integralmente da realidade social em que vive, uma vez ridicularizada pelo modo de falar, ela desencadeia sentimentos de rejeição, insegurança, medo e, em alguns casos de revolta, frustrando sua vida adulta.

A interação dos pais e do educador a favor do desenvolvimento linguístico da criança é essencial, e deve ser construído com base em um ambiente estimulante, harmônico e espontâneo, que propicie à criança grandes alicerces na estruturação de seu aprendizado formal e informal da língua. Atitudes simples mas que fazem diferença podem ser tomadas por qualquer pessoa que convive com crianças seja ela mãe, pai, educador, avó, avô, tio, etc. Atitudes como não infantilizar ou subestimar o conhecimento linguístico da criança, evitando repetir ou reforçar as palavras minimizadas por elas. Outra dica importante é não completar as frases das crianças, mesmo entendendo o que ela está pedindo, estimule-a para que ela se esforce e expresse o que deseja. As mães precisam incentivar o bebê a mastigar os alimentos evitando preferencialmente comidas pastosas, o incentivo fortalece os músculos da bochecha, da língua e da fala. Chupetas e mamadeiras em demasia acarretam consequências na projeção da língua produzindo sons distorcidos ocasionando assim problemas na fala. O educador por sua vez, tem a missão de informar as demais crianças a respeito do assunto prevenindo a exposicão constrangedora do aluno com dificuldades na fala, a leitura de texto escrito também é uma grande ferramenta incentivadora, pois as crianças gostam de imitar os adultos. Desta forma é possível prevenir e diminuir alguns problemas de ordem fonoaudiológica a fim de que a criança não tenha maiores dificuldades durante a fase escolar infantil e adulta.

Referências:

MAXIMINO, Luciana Paula; FERREIRA, Marina Viotti; OLIVEIRA, Daniele Tavares de; LAMÔNICA, Dionísia Ap Cusin; FENIMAN, Mariza Ribeiro; SPINARDI, Ana Carulina Pereira; LOPES-HERRERA, Simone Aparecida. Conhecimentos, atitudes e práticas dos médicos pediatras quanto ao desenvolvimento da comunicação oral. Revista CEFAC, v. 11, p. 267-273, 2009.

OLIVEIRA, Gislene de Campos. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.


Autor: Karina Helena Da Cruz


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