Além do carnaval



Além do carnavalMais uma vez é carnaval.Mais uma vez o Brasil , de Norte a Sul, interrompe sua rotina e se rende à folia ou, para ser mais exata, o país submete-se às imposições de Momo.Porque a gente sabe que nem todo mundo gosta de carnaval, que nem todos são adeptos desse frenesi e de todo esse caos colorido e esfuziante que compõem o reinado momesco.Sempre que esse período do ano se aproxima, me vêm ao pensamento algumas indagações.E todas elas referem-se a uma constatação: Temos tudo para sermos uma grande nação.Um povo lindamente colorido pela miscigenação,uma convivência harmônica entre etnias e credos.Uma natureza exuberante.Um litoral vasto e rico.Uma geografia singular e majestosa.E um povo solidário, acolhedor e criativo.Talvez muitos não concordem com essa minha visão quase ufanista do Brasil, pois sempre leio ou ouço palavras depreciativas e preconceituosas em relação à nossa brasilidade.Muitos pensam exatamente o contrário de mim.Mas, apesar de tudo, ainda sou uma nacionalista crédula.Ainda vejo o Brasil com possibilidades infinitas e vejo no povo a nossa maior riqueza.Definitivamente não faço coro às vozes que reduzem a nossa história a um equívoco , a um erro estratégico, ou a qualquer outra coisa.Para mim, é dessa mistura étnica que surgiu uma nação única no mundo chamada Brasil.É da resistência silenciosa do negro, da índole naturalista do índio e da vocação para o trabalho do branco que surgiu esse gigante chamado Brasil.E acho estranho quando vejo pessoas viajadas, cultas, conhecedoras de tantas outras realidades, achincalharem tanto a nossa formação enquanto povo, enquanto nação.Mas voltando ao carnaval, as indagações que me vêm à cabeça nessa época do ano são: Se somos um povo alegre e brincalhão, com uma vocação genuína para a folia, para a descontração, por que não conseguimos nos organizar socialmente com competência? Por que ainda convivemos com absurdos índices de violência? Como é que as grandes cidades como Rio, Salvador, São Paulo e outras que vivem do carnaval não conseguem resolver suas questões humanitárias? A equação: povo feliz e satisfeito é igual a vida tranquila não corresponde ao que vemos todos os dias.É claro que as questões sociais são complexas e devem ser resolvidas mediante aplicação de políticas públicas corretas e abrangentes.Mas, ao mesmo tempo, é desafiador entender por que um país que vive também de samba, suor e cerveja, além da liberalidade de costumes, não consegue avançar, estender a folia e aquilo que de bom ela pode proporcionar aos outros dias do ano, servindo como catapulta para um crescimento saudável e sustentável do país.Até porque, se não for para tirar proveito de um feriado tão prolongado e talvez único no mundo, acho que estamos na contramão da história.Não sei se me fiz entender.Apesar de não ser carnavalesca, de preferir sempre o sossego, o campo, o interior, acho que a indústria do carnaval deve repensar o seu trabalho, a sua organização.Algo deve ser feito ao longo do ano no sentido de associar alegria e liberdade com senso de responsabilidade e cidadania.Quem sabe assim, depois do carnaval as estatísticas em relação à folia sejam dignas de serem divulgadas aos quatro cantos do mundo?
Autor: Amarília Couto


Artigos Relacionados


Carnaval: Festa Ou Ilusão?

Quando O Carnaval Chegar...

Clima De Carnaval

O Carnaval Alienado

Carnaval Sem Cinzas

O Carnaval Brasileiro

Viva O Circo!!!