Relacionamentos descartáveis



Relacionamentos descartáveis Por Assis Rodrigues Meu caro amigo, Demorei para dar-lhe um sinal de vida, mas aqui estou. E vivo, óbvio, já que é um sinal de vida, ora. Não escrevo em computador de um lugar que se existisse seria muito chato: o céu (o paraíso). Este local, como doutrina o cristianismo, é muito monótono. Local ideal para aumentar a depressão de qualquer pessoa. Também não escrevo do lugar que descrevem como seu oposto, portanto mais atraente: o inferno. Este, sim, se existisse seria um local do tipo um país tropical: muito carnaval, mulatas, cerveja, orgias etc. Ufa! Deixa pra lá. Uma coisa eu acho certa: o céu e o inferno são inerentes a qualquer ser humano. São estados de vida. Algumas correntes budistas dizem que vivemos oscilando entre 10 estados de vida. Do inferno ao estado de buda (iluminado). Até vejo lógica no que falam. Ao falar em carnaval, diga-me como foi o seu. Esteve no Rio e foi a todos os blocos? Beijou pra caramba sem saber quem? Qualquer baranga de saia ?(Ops! o que tinha de baranga de saias, pois muitos seres do sexo masculino passam o ano inteiro com uma ansiedade doentia para usar e abusar do " travestismo"). Só para colecionar um número enorme de beijos? Beijos sem sentimentos. Beijos sem sabores. Beijar por beijar numa disputa maluca com os amigos. Brincadeiras, eu sei que você é um cara que está acima dessa mediocridade, desse "falso machismo", dessa mente infantilizada de muitos adolescentes e jovens. E, para ser honesto, as mulheres seguem o mesmo caminho: beijam qualquer um. Ninguém quer saber do mau hálito do outro, dos "sapinhos"... Meu amigo, o mundo contemporâneo é muito curioso. Houve uma grande revolução e evolução em vários setores da sociedade. No entanto, a relação humana retrocedeu. O ser humano não evolui. ( E já ouvi dizer que a sociedade em determinadas épocas sofre mesmo uma retrocessão. O nosso amigo famoso, o grande Maquiavel, já dizia que a história simplesmente se repete, até porque a natureza humana é inalterável). Os laços entre as pessoas não são mais atados. Inexistem "nós". Pura fragilidade. Seja no sentido amoroso seja no sentido de amizade. Todos dizem não ter tempo para mais ninguém. Mas têm, a ansiedade é que não permite. Preferem o meio virtual. O contato direto, o olhar, o bate-papo ao vivo parecem ser coisas supérfluas. Caquéticas, diria mais. Isso me parece ser ato de covardia, além de puro egoísmo e de uma solidão mórbida. Termina-se namoros por e-mails, por telefone, por mensagens instantâneas (mensenger, sms do próprio celular), sem falar no mundo virtual público: orkut e facebook. É o medo do outro. É o medo de olhar "a alma do outro". Apesar disso tudo, desse "desvalor" aos relacionamentos", não há dúvida que todo mundo mantém-se com o desejo inalterável de encontrar a chamada alma gêmea. Todos têm tal ideal. Sabemos que o ideal não existe. Mas estamos sempre em busca dele. Às vezes conhecemos uma garota e, devido a busca incessante pela pessoa ideal, de repente a gente se apaixona por ela acreditando que nela está a pessoa ideal. Não era. Parte-se (observe que há momentos que o texto está na primeira pessoa, outros não, desculpa pela inversão) para outros "amores" e assim é a vida moderna. Amores instantâneos, descartáveis. Só não podemos ficar traumatizados, para podermos partir para outros, pois dentro de nós continuamos ansiosos pela pessoa ideal, apesar de encararmos constantemente relacionamentos, como já disse, descartáveis, que muitas vezes nem podem ser reciclados. Opa! Está parecendo filosofia "barata", filosofia de "botequim. Continuemos. Eu sei que existem exceções. Ainda existem "Romeus e Julietas". Porém eu não sei se alguém ainda morre de e por amor. Ainda deve haver exceções. A dor da paixão, acredito, é imutável. Os personagens do Romantismo existiam também na vida real e continuam existindo. Com certeza ainda existem pessoas iguais ao Jovem Werther ( cf. "Os sofrimentos do Jovem Werther", de Goethe). Mas raríssimos, pois, como já disse, atualmente nosso tempo é pouco, estamos mais frios, interesseiros e calculistas. A solidão persiste, é claro. Tenta-se amenizá-la com o mundo virtual (eu não uso orkut, mensenger...apenas e-mail, este é o único meio "internético" que me é útil). Estamos cada vez mais "sós". Impera o egocentrismo. Ninguém quer dividir, compartilhar mais nada. Quase ninguém quer mais uma "solidão a dois". Há, sim, "exagerados que adoram um amor inventado" (Cazuza era um grande poeta), que decorre, nesse caso (mais uma vez repito), da busca obsessiva pelo amor ideal. Ao assistir ao filme "500 dias com ela" passei a ficar mais atento. O filme, aparentemene banal, tem uma boa mensagem. Nos ensina e não criar expectativas em relação à outra pessoa. O cara ficou encantado, a mulher curtiu um pouco, mas não estava no mesmo barco que o dele. Expectativas frustradas machucam. A dor de uma paixão é uma das piores dores, ela causa uma ferida enorme, que fica sagrando, sagrando, sagrando...nao tem um remédio sequer para curá-la. Pode-se tomar morfina à vontade que não passa tal dor. Com o tempo, aos poucos, a ferida vai sarando. Ficam algumas cicatrizes, é claro. Mas quem nem crianças, em brincadeiras perigosas, a gente acaba se ferindo de novo. Eu sei que faz falta uma companhia para "a solidão a dois", de alguém para ir ao cinema, comer pipoca, falar dos sonhos, e também, é óbvio, para fazer o "chamado amor", ou melhor, praticar sexo. Este até se compra por aí, o que não falta é oferta, porém quem compra está em apuros, desiludido mesmo. Há quem diga que compra só para se divertir. Melhor se divertir com alguém que seja especial. Só que muitos relacionamentos, que pensamos sérios, desinteressados, sejam amorosos ou de amizades, não passam de relacionamentos prostituídos. Somos enganados. É uma prostituição subliminar, digamos. Sabemos que o amor não é para sempre, que seja, portanto, como disse o Vinicius de Moraes " (...) Que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure". Já Nelson Rodrigues disse que "todo amor é eterno, se acaba não era amor". Lembremos também dos versos da música do parceiro do Cazuza, o Senhor Frejat: "desejo, que você tenha a quem amar, e quando estiver bem cansado, ainda, exista amor prá recomeçar". Ah, mergulhe nas paixões, o chato que você nunca vai saber se são descartáveis, que sejam. Descartam-se. Recomeçam outras. Melhor não recomeçar, e sim, começar mesmo. Eu tenho medo, pois eu sei que sou exagerado e também adoro um amor inventado. Enquanto vivos, só nos resta viver. Ops! quase verso de outra música: "A vida é bela, só nos resta viver", da inesquecível Ângela Ro Ro. Assis Rodrigues
Autor: Assis Rodrigues


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