Saudades dela



Hoje me peguei indagando, qual o cheiro do corpo dela. e para minha surpresa Notei que já não sabia mais qual era; mais ainda, deparei-me com um amontoado de besunto empapuçando a pele dela. A começar pelos cabelos, que leva dia após dia uma enxurrada de produtos com diferentes teores e odores. Aos domingos,aplica-se uma gosma feita da folha de babosa,acrescida de mel ;misturadas no liquidificador e prepara-se uma gororoba engenhosa que em seguida é aplicada no couro cabeludo,enquanto escorre pelo rosto um pouco dessa lambuseira gosmenta e milagreira,pois realmente deixa os cabelos sedosos,viçosos  mas sem cheiro.e nessa alquimia caseira,um dia os cabelos estão belos (mesmo sem cheiro ) outro dia estão sem vida;perpassados na chapa quente,besuntado de outra cor. No rosto, a magia se repete:é um não sei que para olhos, lábios,face (com bochechas,olheiras e trincas );cremes de vários tons ;um para cada ruga ou nesga da idade (que maldade que os cremes fazem ).um é só para desmanchar as rugas ou simplesmente evita-las;outro,é para dar sustentação ao papo (que não há creme que desfaça),às rugas sulcadas do tempo.há ainda em torno de tudo,os adornos;os rimeis,batons,blanches e uma serie de artefatos,que com maus tratos costumam tirar um pelinho aqui,outro ali,até que a mascara tome acento na forma do contorno,entorno dos olhos dela. Mais em baixo, um belo esteio da cabeça, que por suportar já tanto peso de culpas e pensamentos, tende a se retesar; chega a criar raiz profunda, para poder apoiar tanto barro. e até as veias dessa arte são lapidadas,oleadas,meladas e porque não dizer : calafetadas.Nos braços;uma outra série se repete;assim como as mãos,coxas e pernas,que passam a perderem a textura na pura descompostura do azeite besuntoso,meloso e mau cheiro entupindo os poros dela.na virilha,a arte se repete como cardápio de quarta ,de quinta e de todo dia. Aí, o capricho é redobrado; couro cabeludo de um lado, (o resto todo é raspado ) até ficar sossegado,um bigodinho chinês. E a arte fica bela; e tem também creme pra ela (já não é mais besunto, é o melado próprio dela);sem cheiro e o gosto que era Até parece intriga ou coisa de ocasião. mas,tenho me perguntado por vezes,quem é ela ? por trás da mascara toda;por trás de tanto brilho alisado,esticado...drásticado. Já não sei mais quem é ela ;pois a vista me engana e o olfato me nega. Nem mais cheiro de mulher é; nem mais o cheiro do hormônio existe nela;.apenas um artefato ficou (mais fato que arte): em troca das bonecas de pano e louça,tirando a máscara,o que sobra é só o remendo. Não tem mais mulher; é só uma loja de cosméticos de varias marcas,marcando o fim dela; nem o cheiro ficou...nem o cheiro. Saudade da inhaca dela..
Autor: Benedito Cavalcante


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