Para quê estamos educando?



PARA QUÊ ESTAMOS EDUCANDO?

José Iderley Marinho Lima*

RESUMO

O objetivo deste trabalho é chamar a atenção, tanto de professores quanto dos demais envolvidos com a prática docente, para a problemática a cerca da finalidade do processo educacional, visto que, em tempos de pós-modernidade os rumos a serem tomados se distanciam cada vez mais da idéia de homem como ser dotado de potencialidades humanas, e se aproximam do ideal de homem potencialmente programado para o mercado. Para a melhor compreensão desta abordagem, iniciaremos a reflexão a partir de Platão e sua imensa contribuição e influência para os conceitos e práticas educacionais, perpassando por Rousseau e finalizando a reflexão com duas das principais teorias pedagógicas que se divergem a respeito do tema, as teorias das pedagogias: tecnicista, e humanística libertadora.

Palavras-chave:Educação, memorização, racionalismo, humanidade, transformação, pedagogia tecnicista, pedagogia libertadora.

*José Iderley Marinho Lima, Licenciado em filosofia , Pós-Graduando em Filosofia da Educação.

Para quê estamos educando?

Atualmente muito se discute sobre práticas de ensino, teorias da aprendizagem, métodos pedagógicos, etc. tudo com a intenção de fazer do homem um ser cada vez mais apto a enfrentar a dinâmica social contemporânea, com informações suficientes para ser um profissional altamente qualificado e respeitado no exigente mercado de trabalho. Isto seria o retrato perfeito de nossa atual finalidade educacional; porém, incorreríamos em um grande erro se generalizarmos de tal forma este objetivo, visto que, há uma variedade infinita de tipos de pessoas e organizações sociais em todo o globo, portanto, seria ingenuidade estipular com precisão um único modelo final a educação.

Entretanto, de modo geral, nota-se visivelmente uma grande tendência a fragmentação da educação, no sentido de subdividi-la ao extremo para que possa ser compreendida do ponto de vista técnico. O grande problema consiste no fato de que subdividiu-se tanto o conceito que já não se sabe ao certo qual o verdadeiro objetivo da mesma, ou melhor, hoje sabe-se menos ainda, haja vista que, o problema do objetivo da educação é tão antigo quanto a mesma. Em outros tempos enxergava-se claramente quais eram seus fundamentos e a que serviam, sendo que hoje a mesma parece estar navegando inerte e a mercê das contradições e conflitos sócio- econômico-ideológicos. Todo esse complexo emaranhado que envolve o objetivo da educação, nos remete à indagações do tipo: Para quê estamos educando? Porque precisamos ser educados formalmente? Seria possível uma educação sem cunho ideológico ? Estamos educando para o conhecimento ou simplesmente para a informação? Essas e outras perguntas são de fundamental importância nas discussões acerca da finalidade da educação.

É obvio que refletir sobre tais questionamentos não é tarefa fácil, pois a profundeza com que se apresentam a nosso conhecimento parece ser de uma explicação inatingível, nos levando a supor que se trata de questões metafísicas. Mas nós educadores, se quisermos compreender os porquês da educação, precisamos mergulhar nessas discussões ou então viveremos uma vida dedicada a algo que nem mesmo sabemos a que serve, correndo o risco de estar contribuindo, involuntariamente, de forma negativa para um processo injusto e tenebroso para a sociedade no qual nós mesmos estamos inseridos como sujeitos, sujeitados ou não a tudo quanto ocorre em seu âmbito.

Vale ressaltar que quando nos referimos a educação, estamos falando de algo bem mais amplodo quea idéia de escola ou sala de aula, pois esses ambientes são apenas nuances de um processo bem mais genérico, que engloba e considera fatores culturais, sociais, econômicos, políticos, religiosos e ontológicos, como primordiais para a compreensão do todo. Melhor dizendo, existem basicamente duas facetas educacionais a serem tratadas com relevância, a formal e a informal. É comum quando se pensa em educação, firmar a reflexão somente nos fatores formais, isto é, escola sala de aula, processo ensino-aprendizagem, etc, isso de certa forma, provoca a idéia de que o processo educacional é algo restrito, que tem hora pra começar (infância) e hora para ser concluído. Como se o indivíduo após ter perpassado os anos necessários a sua formação escolar-profissional, estivesse pronto e preparado para a vida social. Constitui-se um grande erro em volta desse pensamento, acreditando-se que as formações, tanto familiar quanto escolar, são por si só, garantias de uma vida bem sucedida em todos os aspectos. Vendo a educação como um processo contínuo, teremos que refutar a possibilidade acima citada, haja vista que, a necessidade da continuidade do processo exige que continuemos nos educando durante toda a vida, e isso se dá por meio das relações interpessoais, das instituições sociais, dos lugares que freqüentamos e onde vivemos dos contatos que temos com culturas e costumes diferenciados, ou seja, temos que continuar nos educando ao longo de nossa existência.

O que é educação?

A palavra educação tem sua origem, segundo Garcia (1977) nos verbos latinos educãre (alimentar, criar), significando "algo que se dá a alguém, com o sentido de algo externo que se acrescenta ao indivíduo, procurando dar-lhe condições para o seu desenvolvimento, e educere, com a idéia de conduzir para fora, fazer sair, tirar de, que sugere a liberação de forças que estão latentes e que dependem de estimulação para virem à tona.

Diante desses dois aspectos conceituais a respeito do que seria a educação em si, tomando como ponto de partida a genealogia da palavra, percebemos um questionamento fundamental, ou seja, educar: é um processo que se dá de forma externa ao indivíduo, podendo o mesmo, ser moldado e direcionado a ser e agir de acordo com o que lhe foi acrescentado durante sua formação, ou educar consistiria em apenas fazer fluir do próprio sujeito as potencialidades que ali já se encontravam?

Em torno dessa discussão muito se produziu desde os tempos da Grécia clássica. Um dos primeiros a tratar sobre a questão educacional de forma sistemática,foi Platão (428-348 aC.), para o qual:

 

A educação é compreendida como faculdade inata à alma, já que o conhecimento contém algo divino. A educação seria formadora do espírito racional do indivíduo, tendo a função e a intencionalidade de aprimorar a natureza filosófica do mesmo e guiar o ser humano para o bem, o belo e a perfeição. (OLIVEIRA, 2006. P.64)

Nota-se que a educação em Platão, tem o propósito de fazer com que o indivíduo alcance o auge de sua natureza, isto é, a perfeição em todos os aspectos, e para isso é imprescindível que sebusque as potencialidades latentes em seu ser,que precisam ser despertadas através da reminiscência das idéias. Ou seja, o processo educacional pode ser comparado com a esforço para "sair da caverna"(mundo inferior) e ascender ao mundo das idéias (mundo inteligível, das formas perfeitas e do bem supremo). Resumindo, a educação para Platão parece ter um teor vislumbrador e de promoção humana por meio da razão, se contrapondo ao senso comum, ao mundo dos sentidos e das idéias imperfeitas, que corresponderia a uma forma de conhecimento retrogrado.

Por outro lado, o sistema político idealizado por Platão consiste em fazer com que o estado seja o grande responsável pela educação da sociedade e esta educação seria oferecida de modo igualitário a todas as pessoas desde a primeira infância. No decorrer do tempo haveria cortes ou seleções nas quais os mais aptos prosseguiriam no processo, enquanto que os menos aptos, por terem uma alma com predominância do princípio ativo concupiscente, se enquadrariam nos setores de produção da subsistência da cidade. O mesmo ocorreria com a formação do exército, até que restariam apenas os de alma excelente com capacidade para governar os demais, ou seja, os filósofos conhecedores da justiça e do bem supremo, dotados de conhecimento para ditar os rumos que a cidade deve seguir. Veja que o ideal platônico baseia-se em uma aristocracia do conhecimento, visto que somente o rei filósofo deve governar.

Se não tivermos a devida atenção a respeito dos dois temas aludidos, educação e política, em Platão, corremos o risco de pensar existir uma grande contradição entre ambos, sendo que, a educação tendo como pressuposto o vislumbrar das idéias e a saída do indivíduo da caverna, não estaria em concordância com a predeterminação imposta pelo Estado a cada indivíduo, para que se cumpra a ordem da cidade, isto é:

 

Cada um deve ocupar-se de uma só coisa de quantas concernem ao Estado, aquela que por natureza se encontre melhor habilitado. ( PLATÃO, 2006)

Diante de tal afirmação, como supor uma educação voltada para a emancipação humana através da reminiscência se o sistema político da cidade é quem direciona e predetermina o status e a classe social quecada indivíduofará parte? Este questionamento parece encontrar um ponto contraditório na teoria platônica, porém, não o encontra. Observemos que o próprio Estado, através de todo o processo educacional,faz o papel de instrumento catalizador no processo da reminiscência dos indivíduos, não havendo a possibilidade de um indivíduo fazer parte injustamente de uma classe da qual sua alma não esteja compatível, e alcançado toda sua potencialidade.

O ser humano tema racionalidade como essência, cabendo a educação desenvolver essa característica essencial humana. (OLIVEIRA, 2006. P. 14)

Outro fator importante, considerado por Platão, e que até os dias de hoje ainda se preserva como sinônimo de conhecimento é a memória. Para Platão o conhecimento é algo inato que existe em um plano supra-sensível e superior ao mundo físico, um mundo das idéias perfeitas, no qualnossa alma já teve a oportunidade de contemplar anteriormente, assim sendo,conhecimentoé lembrança, é reminiscência, o que só é possível através da essencial relação entre memória e racionalidade.

O ideal de educação platônico serviu como base fundamentadora do pensamento educacional ocidental durante muito tempo. Calcada em princípios racionais, visando a preservação do conhecimento, da cultura e da ordem estabelecida pelo estado, esta idéia só encontrou um êmulo no século XVIII, Jean-Jacques Rousseau.

O pensamento educacional de Rousseau procura expor os princípios de uma educação em conformidade com a natureza, com o objetivo de recriar o "homem natural". Parte do pressuposto de que o homem é um ser naturalmente bom e que a sociedade sim, é quem o corrompe.

Tecendo uma contundente critica ao modelo educacional que tinha, até então, como ponto central a natureza racional humana e a memorização (heranças do platonismo e do modelo de ensino patrístico- escolástico do período medieval) Rousseau inverte o prisma da educação, enfatizando os sentidos, os sentimentos e a experiência de vida como sendo os principais fatores a serem considerados no processo educativo, emergindo um novo conceito educacional que passaria a ter como ponto de partida o próprio homem e sua natureza.

 

A educação do homem começa com o seu nascimento; antes de falar , antes de compreender, já ele se instrui. A experiência adianta-se às lições. ( ...). Quereis cultivar a inteligência de vosso aluno, então cultivai as forças que ele deve governar; tornai-o robusto e são para torná-lo bem comportado e razoável; que trabalhe , que aja, que corra e grite, que esteja sempre em movimento; que seja homem pelo vigor e em breve ele o será pela razão.( ....).Se o andásseis sempre dirigindo, sempre lhe dizendo : vai, vem, fica aqui, faz isto, não faças aquilo. Se vossa cabeça dirigir sempre seus braços, a dele se tornará inútil. (ROUSSEAU, 2006)

Nota-se que Rousseau não se limita somente a questão da aprendizagem por parte do discente, mas expressivamente à sua formação como ser humano. E para que isso seja possível, todo o processo necessita perpassar por um conceito fundamental, ou seja, o conceito de liberdade bem regrada; que consiste em fazer a criança experienciar situações da vida, exercitando seu corpo e seus sentidos, para que através de sua própria experiência, receba as primeiras noções de conduta moral, ou seja:

A liberdade seria um fator de fundamental importância no processo de formação do caráter do indivíduo, porém, a mesma precisa ser dosada em acordo com as circunstâncias e com o estágio em que se encontra a criança, para que possa proporcionar, juntamente com os demais fatores, uma verdadeira formação humanística do homem.

Diante de cruéis acontecimentos, a impressão que se tem é de que o conceito de humanidade é simplesmente algo especificamente criado pelo próprio homem para significar o ápice de seu estado de consciência e equilíbrio. A humanidade parece ser algo que precisamos estar em constante vigília racional para que não a percamos, ou lutando contra os desejos e paixões, para alcançá-la. De certa forma trata-se de algo puramente abstrato, entretanto o que se entende, comumente por humanidade, está relacionado à bondade, à eticidade, à tolerância, etc. Assim sendo, qual o papel da escola nesta formação humanística?.

EDUCAÇÃO : AÇÃO E TRASFORMAÇÃO

Nem sempre este modelo formal de educação existiu, isto é, esta maneira de ensinar conteúdos, transmitir conceitos, orientar um só ou uma turma, para qualquer que seja o fim. Esta prática parece ter iniciado com o respeito e a valorização dos conhecimentos que eram repassados informalmente, aos mais jovens, pelos anciãos, em torno da tradição cultural de um grupo. Em um dado momento percebeu-se que o conhecimento aprofundado de certos saberes é capaz de proporcionar muito mais respeito e temor do que a própria força física. Daí em diante, conhecimento vira sinônimo de poder. Isso se justifica com a própria história, pois não era por acaso que os reis deixavam seus sucessores aos cuidados pedagógicos dos grandes sábios, para que fossem instruídos ao conhecimento e consequentemente ao poder.

A submissão dos leigos aos que detém o conhecimento é um fato visível na história; e em nossos tempos não é diferente, conhecimento é sinônimo de poder, de força de mando, de soberania. Segundo Hegel, "a história se dá através de um processo dialético no qual a contradição é quem gera a própria história" (ARANHA e MARTINS, 2006). Nesse processo classes antagônicas se enfrentam em torno de uma ambição, o poder de comandar as demais. Tão logo uma classe alcance o topo da pirâmide social,cuida para que seus ideais sejam mantidos e aceitos como ordem natural conveniente a todos. Todo o processo pelo qual se estabelece uma ordem vigente remonta ao âmbito educacional, entretanto, muitos pensadores se ocuparam em elaborar teorias contrapondo-se a esta nuance escura e de cunho dominador da educação, que aqui se apresenta a serviço das classes dominantes.

Observando na história, nota-se que com o iluminismo surgem novos ideais éticos, políticos, artísticos, educacionais, etc. todos se firmam em detrimento do antigo ideal católico- nobre, ou seja, o ideal de uma classe, a burguesia, sobrepujou os princípios dos demais para ter em mãos o poder. O mesmo ocorreu com a tentativa de instauração das sociedades comunistas, porem é claro, diferentemente em vários aspectos, pois uma das máximas comunistas é a elaboração de uma sociedade sem classes, voltada para o bem comum e compromissada com o ser humano, sujeito histórico e sócio-político-cultural.

A grande problemática encontrada diante de uma sociedade mergulhada em um profundo mar capitalista, como a nossa, é a dificuldade que se tem de promover uma educação voltada para os valores humanos, haja vista que, o capitalismo impera ideologicamente, beneficiando alguns e marginalizando e excluindo a maioria. Isto ocorre devido todos os processos sociais pelos quais o homem perpassa durante sua vida educacional, estarem diretamente voltados para um só fim, o mercado de trabalho, ou seja, os objetivos de formação humana do indivíduo, foram deixados de lado, cedendo espaço a formação do novo homem, o homem preparado para o mercado de trabalho, o homem da informação.

(...) tomamos formação como sinônimo de educação e a definimos como processo de constituição do sujeito histórico, formal e politicamente capaz, construtivo e participativo. (LEMO, 2006. P. 82)

Sem dúvidas o acúmulo de informações é de grande importância na sociedade veloz e informatizada em que vivemos, entretanto, o que acontece é que este turbilhão de informações que são despejadas nas cabeças das pessoas parece não provocar nenhuma melhoria em relação a sua capacidade de transformação humana. Este fenômeno também pode ser observado na escola. Nossos alunos estão sendo preparados para o mercado, por isso são desde cedo estimulados a vida informativa, o que pode ser um grande erro, pois informação não é necessariamente conhecimento, muito menos garantia de futura competência profissional. Informação sem conhecimento é apenas conteúdo a serviço das ideologias e do sistema vigente. O conhecimento seria o que daria significância ao conteúdo e compreensão por parte do sujeito, de todo o processo social no qual está inserido. Para que isso ocorra é imprescindível que o processo educacional tenha como objetivo principal a formação humana do sujeito e não apenas sua preparação para o mercado de trabalho.Várias são as teorias pedagógicas que tratam a respeito da finalidade da educação, porém, aqui trataremos apenas duas delas, a teoria da Pedagogia Tecnicista e a humanista libertadora.

PEDAGOGIA TECNICISTA.

A tendência pedagógica tecnicista, não pressupõe explicitamente uma visão de ser humano, mas tem como fundamento filosófico o positivismo e o funcionalismo, sendo influenciada também pela psicologia behaviorista. Centra-se nos métodos e técnicas de ensino, no aspecto objetivo e operacional do trabalho pedagógico, na busca de uma eficiência e de uma produtividade no ensino.

Segundo OLIVEIRA, 2006. "Na pedagogia tecnicista professor e aluno se constituem em executores do processo educativo; o professor treina de forma eficiente o indivíduo para o trabalho eficiente, buscando pela técnica a eficácia da transmissão do conhecimento, com isso o aluno aprende a fazer, isto é, recebe e fixa informações para executar as tarefas educativas". Assim sendo, a instituição escola, nesta visão pedagógica, tem apenas a função de preparar indivíduos para o mercado de trabalho, visando a especialização técnica e a profissionalização do ensino para o trabalho produtivo da sociedade capitalista.

Neste modelo pedagógico a quantidade de conteúdos, a rigorosidade do planejamento, o cumprimento dos horários, etc , tornam-se fatores fundamentais para o funcionamento da escola, que passa a ter uma instrução programada tecnicamente para alcançar objetivos estritamente práticos.

Na perspectiva das classes dominantes, historicamente, a educação dos diferentes graus sociais de trabalho deve dar-se a fim de habilitar-lo técnica, social e ideologicamente para o trabalho. Trata-se de subordinar a função social da educação de forma controlada para responder as demandas do capital. (FRIGOTO.1995)


PEDAGOGIA HUMANISTA LIBERTADORA.

Esta teoria foi elaborada por Paulo Freire, apresenta-se como uma pedagogia humanista, problematizadora, libertadora, dialógica, da pergunta, da autonomia, da esperança, da indignação, dos sonhos possíveis e da tolerância. Tem suas bases no existencialismo, personalismo e nas teorias de Marx e Gramisc.

Parte do princípio de que homens e mulheres são seres inacabados, inconclusos e incompletos, que por perceberem que não sabem tudo, buscam o saber, o conhecimento e o aprimoramento enquanto ser humano reflexivo. Também leva em consideração a curiosidade, como sendo relevante para ao processo evolutivo do homem, visto que é através dela que se pode chegar a outro fator fundamental a na ação dialógica dos sujeitos, isto é, a pergunta. A pergunta passa a ter uma dimensão existencial e política, ou seja, a pergunta é inerente ao processo de conhecimento humano.

A educação se apresenta como situação gnosiológica, na qual os sujeitos mediatizados pelo mundo, conhecem e comunicam-se sobre a realidade conhecida. O dialogo adquire uma conotação existencial e política, na medida em que possibilita ao professor e ao aluno serem sujeitos, não só do conhecimento, mas da história e da cultura, capazes de compreenderam a realidade, problematizá-la e modificá-la. (OLIVEIRA. 2006).

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Portanto, a função da escola, e conseqüentemente da educação, seria de preparar criticamente o indivíduo, integrando-o a sociedade, contribuindo para a transformação social, por meio de um pratica criativa, participativa, dialógica e conscientizadora.

Nota-se que diferentemente da teoria tecnicista, que tem como preocupação final a formação do homem para a prática do mercado de trabalho, a teoria humanista libertadora tem como ponto a ser alcançado, a transformaçãoda realidade social, o que só é possível com aconscientização dos homens e mulheres transformando-os em sujeitos sociais históricos e libertos de toda alienação, capazes de compreender todo o processo sócio-político no qual estão inseridos objetiva e subjetivamente.

 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As duas teorias acima citadas nos mostram claramente duas facetas de um mesmo processo pelo qual a educação remonta ciclicamente. De um lado o peso da necessidade de progresso tecnológico a serviço da indústria capitalista e do mercado. Do outro a preocupação em não transformar o homem em um mero serprogramado e sujeitado ao domínio, incapaz de compreender e transformar a realidade em que se insere em algo melhor e mais digno a todos. Precisamos rever profundamente nossas atitudes de educadores, para saber se estamos contribuído positivamente ou negativamente nesse processo do qual também somos partes ativas e co-responsáveis pelas conseqüências.

Com toda certeza as duas teorias citadas acima não abrangem todos os aspectos aos quais essa discussão seria capaz de nos levar, mas nos mostram dois eixos centrais das tendências educacionais de nossa época, resta-nos analisá-las e chegar as respostas a pergunta: para que estamos educando?

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANHA, Maria Lucia de Arruda, MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando, Introdução a Filosofia. 3ª Ed. São Paulo, Moderna,2003.

FREIRE, Paulo. Política e educação. São Paulo. Cortez, 1993.

FRIGOTO, Gaudêncio, Educação e a força do trabalho. Crise do capitalismo real. São Paulo, Cortez, 1995.

GARCIA, Walter. Educação. Visão teórica e prática pedagógica.São Paulo: McGraw-Hill, 1997.

LEMO, Pedro . Educação e Finalidade. Campinas, SP. Pepeiras, 10ª Ed.2006.

OLIVEIRA, Ivanilde Apoluceno de. Filosofia da Educação, reflexões e Debates, Petropolis-RJ, Vozes 2006

PLATÃO, A República,São Paulo. Martin Claret, 2006.

ROUSSEAU, Jean-Jacques, Emílio ou da educação. São Paulo: Escala,2008.


Autor: Iderley Lima


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