A Dureza e a Ternura



Dentro da floresta tudo encanta, principalmente a um garotinho de oito anos, caminhando com segurança, levado pela mão de seu pai. Foi assim que cresci, envolvido profundamente com a natureza, por isso meu amor incondicional por ela.

Estendendo-se, a partir deste sentimento, um imenso amor por todas as formas de vida, mesmo porque, quase tudo que foge do natural, tende ao desequilíbrio das patologias, as mais diversas.

Não sei se a frase foi dita por ele mesmo, mas Ernesto Che Guevara, teria toda razão: "Hay que endurecer, pero sin perder la ternura jamás". Coloco desta forma, porque o fato dele ter sido médico e ter, depois, abandonado o regime "furado" de Fidel, aponta-me um ser humano comprometido com seu semelhante. Devo, no entanto, confessar que não descarto a hipótese de que a frase possa ter sido cunhada pelo regime e utilizada como chamariz para atrair jovens idealistas incautos.

Mas como política é algo que entendo patavina, prefiro prestar atenção em ambas: a dureza e ternura. A primeira eventualmente se torna necessária, desde a educação dos filhos, até nos relacionamentos profissionais, mas sem deixar de levar junto a segunda, da forma mais clara possível. Pois alguém só acata uma correção verbal, se sentir que seu interlocutor  realmente  se preocupa com a evolução e a vida do admoestado.

E como se faz isso?

Particularmente, creio, por primeiro, que se deva manter sempre o coração desarmado e com uma legítima intenção em ajudar e, em segundo lugar, amparar as palavras com gestos concretos, que apontem direções seguras e ajuda disponível. A dureza no trato, sem tais ingredientes e forma, nada mais será que arrogância objetiva e estará mais propícia a criar inimigos e monstros, do que socorrer alguém cujo caminho levará ao desastre.

Voltando ao início, afirmo com todas as letras: poucas pessoas que conheço foram criadas com a dureza com que fui educado. Meus pais não pouparam na dureza, para endireitar meu encapetado espírito de terrível menino do mato.

Engraçado, mas creio que amo mais meus pais por isso, do que por todos os presentes e agrados que me deram, enquanto estiveram comigo. Mas claro que, apesar das reprimendas e surras que mereci e levei, permanecia o amor dolorido em seus olhos, pela contrariedade do momento, pela ternura refreada, temporariamente, enquanto a dureza corrigia os rumos.

Hoje olho para o mundo à volta e sinto o arrepio causado pela imaginação que brota e me mostra, com antecedência, o resultado de tudo isso. Filhos criados pela TV ou pelas ruas, completamente abandonados por pais que, infelizmente não nasceram estéreis.

Leio o Estatuto da Criança e do adolescente e lamento que as páginas que contém grandes idéias, boas soluções, sejam arrancadas para calçar os pés das mesas de, tão modernos quanto inúteis, escritórios jurídicos e repartições públicas do mesmo jaez, deixando só as idéias temerárias como grandes coisas conquistadas por nossa "civilização", intactas.

Então, enquanto humanidade, perdemos a ternura. Ficamos apenas com a dureza a petrificar nossos corações, a ponto de encarar as notícias mais monstruosas, como coisas corriqueiras, banais!

A aterradora verdade, é que vida não vale mais nada!

Como resultado do divórcio entre a razão (o mundo das idéias) e a ternura, temos a veloz perda dos valores que amparam a vida.

Entre eles, o amor pela natureza, que teimamos em matar para morrermos juntos. Esse suicídio coletivo estúpido que todos, os ainda lúcidos, pretendem parar. Um Greenpeace obscurecido na mídia, pela quantidade de desgraças, artesanais ou naturais que abundam, segue como uma gota de água no oceano. E eles sabem, como todos os seres ainda com ternura sabem, que matar uma árvore, pouco difere de matar um animal, seja ele humano ou não.

Porque é vida e toda ela é sagrada e só deveria ir embora no seu tempo, mudar de plano ao atingir sua hora. Sempre que há amor, ela cumpre seu destino pacificamente. E vida com ternura contém amor, pois ela é a parte visível deste nobre sentimento.

É pena que os caminhos estejam sendo escolhidos apenas por meros interesses e que a ética seja apenas tapetes envelhecidos, pisados displicentemente seres indiferentes a tudo no entorno. Uma minoria que, por receber uma fatia de poder, acredita que a distância entre seu umbigo e o centro do Universo é o mais absoluto zero!

Enfim, de todos os animais no planeta, os mais irracionais são os homens!


Autor: Joaquim Saturnino Da Silva


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