''Colcha de retalhos'': Histórias contadas através de símbolos



"Colcha de retalhos": Histórias contadas através de símbolos.

Grazielle Almeida de Jesus ²

RESUMO:

O presente trabalho discute a Psicologia Analítica, elucidando princípios básicos da Psicologia Junguiana bem como: complexos, arquétipos, símbolos self, individuação na análise das contribuições de um dos maiores psiquiatras do mundo Carl Gustav Jung, fundador da escola analítica de Psicologia.. Jung ampliou as visões psicanalíticas de Freud, interpretando distúrbios mentais e emocionais como uma tentativa do individuo de buscar a perfeição pessoal e espiritual. Tal abordagem caracteriza-se por considerar a partir do seu fundador Jung que na vida cada individuo tem como tarefa uma realização pessoal, o que torna uma pessoa inteira e sólida. Essa tarefa é o alcance da harmonia entre o consciente e o inconsciente. E analisaremos a teoria de Jung em conjunto com o filme a "Colcha de Retalhos" que nos mostra um drama romântico sobre o universo feminino, nos envolve com a vida das mulheres costureiras e seus mundos interiores. Conhecemos a vida de cada uma a partir de seus relatos, nos levando a imaginações, símbolos e arquétipo. Uma grande parcela da teoria junguiana, é um conjunto de idéias que torneia o sentimento humano.

PALAVRAS CHAVES: Jung, Colcha de Retalhos,

INTRODUÇÃO

Percebemos a necessidade de trazer a compreensão da teoria da psicologia Analítica em conjunto com o filme "Colcha de Retalhos". Para que assim possamos entender o universo humano.

  Carl Gustav Jung nasceu em 26 de julho de 1875, em Kresswil, Basiléia, na Suíça, no seio de uma família voltada para a religião, o que explica, em parte, o interesse do jovem Carl por filosofia e questões espirituais e o pelo papel da religião no processo de maturação psíquica das pessoas, povos e civilizações. Jung foi fundador da psicologia analitica os assuntos com que ocupou-se surgiram em parte do seu fundo pessoal. Ao longo de sua vida Jung experimentou sonhos periódicos e visões com notáveis características mitológicas e religiosas, os quais despertaram o seu interesse por mitos, sonhos e a psicologia da religião. Ao lado destas experiências, certos fenômenos parapsicológicos emergiam, sempre para lhe redobrar o espanto e o questionamento.

Jung começou a desenvolver uma sistema teórico que chamou, originalmente, de "Psicologia dos Complexos", mais tarde chamando-a de "Psicologia Analítica", como resultado direto de seu contato prático com seus pacientes. Utilizando-se do conceito de "complexos" e do estudo dos sonhos e de desenhos, Jung passou a se dedicar profundamente aos meios pelos quais se expressa o inconsciente.

O filme conta a história de uma jovem universitária que decide passar o verão na companhia da avó e da tia, pois se encontra confusa em relação seus sentimentos pelo noivo, e precisa terminar sua tese de mestrado, que gira em torno da história de mulheres, de diferentes culturas, que ao realizar trabalhos manuais, participam de um ritual. Um grupo de amigas preparam uma colcha de retalhos como presente de casamento a Finn. Enquanto a colcha é elaborada, Finn, a protagonista ouve o relato de paixões e envolvimentos, nem sempre moralmente aprováveis, mas repletos de sentimentos, que estas mulheres viveram. Essa colcha de retalho é carregada de simbologia, de histórias, cada uma representando uma lembrança, uma vivência, um momento, vidas. E cada retalho que compõe a colcha traz uma simbologia. O jardim de rosas amarelas, simbolizando o cenário de um grande amor. O retalho de Sophia Darling é o mesmo do seu vestido que usara no seu primeiro encontro de amor, representando ondas. A esposa traída confecciona em seu retalho objetos de pintura representando o seu amor.

Por meio desse filme pretende-se destacar alguns conceitos pertinentes a psicologia Junguiana. Sabe-se que Jung ampliou as visões psicanalíticas de Freud, interpretando distúrbios mentais e emocionais como uma tentativa do indivíduo de buscar a perfeição pessoal e espiritual. Ele foi o fundador da Escola Analítica de Psicologia, ele introduziu termos como arquétipo, extroversão, introversão e o inconsciente coletivo.

COLCHA DE RETALHOS": NUMA PERSPECTIVA JUNGUIANA.

Ao assistimos o filme temos uma sensação de que a enorme colcha de retalhos é um pedaço vivido por cada personagem, ele nos leva a refletirmos sobre a vida e o papel de cada um de nós em nosso entorno. Em um momento do filme uma das costureiras borda um jardim amarelo, que para ela é o cenário de seu grande amor.

Para Jung, o inconsciente pessoal consiste fundamentalmente de material reprimido e de complexos, o inconsciente coletivo é composto fundamentalmente de uma tendência para sensibilizar-se com certas imagens, ou melhor, símbolos que constelam sentimentos profundos de apelo universal, os arquétipos. Jung percebeu que a compreensão da criação de símbolos era crucial para o entendimento da natureza humana. Ele então explorou as correspondências entre os símbolos que surgem nas lutas da vida dos indivíduos e as imagens simbólicas religiosas subjacentes, sistemas mitológicos, e mágicos de muitas culturas e eras.

A colcha de retalhos é uma grande simbologia, as bordadeiras às fazem de acordo com suas histórias de vida, no decorrer do filme temos várias simbologias, tais como: objetos quebrados colados na parede para simbolizar um coração ferido por causa de uma traição amorosa; o poema, o corvo; a ventania.

O nosso desenvolvimento como indivíduos passa pela consciência de quem somos. Segundo Jung trazemos tudo dentro de nós, temos o inconsciente coletivo e o inconsciente pessoal, neste ultimo está todos os fatos vividos por nós, podendo ser acessado basta ter interesse e dedicação, o inconsciente sempre procura comunicar-se com o consciente, através de sonhos e fantasias, precisamos aprender a decodificá-los.

É o que acontece no filme, as mulheres buscam o que está em seu inconsciente, a psicologia junguiana acredita num procedimento de amplificação, existe uma base comum a toda cultura humana.

O filme conta várias histórias de amor e decepções amorosas, para Jung o ato de apaixonar-se e decepcionar-se, nada mais é do que projeção e retirada da projeção do objeto externo.Geralmente o que se ouve é que a pessoa amada deixou de ser aquela por quem ele se apaixonou, quando na verdade ela nunca foi, só serviu como suporte da projeção de seus próprios conteúdos internos.

A grande busca de Jung consistia em conhecer a si mesmo e o significado da vida.Em suas pesquisas, percebeu que a psique trilha um único objetivo, que é o encontro com seu próprio centro, a unicidade, é o retorno do ego às suas origens.Deu então a esse objetivo da vida psíquica o nome de Individuação, que não é repentino, mas sim, se apresenta como um processo. A motivação para a individuação é inata, porém o processo, em si, só se dá no confronto do consciente com o inconsciente, o que resulta num amadurecimento dos componentes da personalidade e na união destes numa síntese, como também na realização de um indivíduo único e inteiro. O processo de individuação é o eixo da psicologia Junguiana.É através dele que a pessoa vai se conhecendo, retirando suas máscaras, retirando as projeções lançadas anteriormente no mundo externo e integrando-as a si mesmo.Num processo doloroso, difícil e ocorre em um movimento circunvolutório direcionado a um novo centro psíquico, o Self. O Self é o centro de toda a personalidade.Dele emana todo o potencial energético de que a psique dispõe. É o ordenador dos processos psíquicos. Conforme Hall observa "O Self é o principal arquétipo do inconsciente coletivo, assim como o sol é o centro do sistema solar. O Self é o arquétipo da ordem, da organização e da unificação; atrai a si e harmoniza os demais arquétipos e suas atuações nos complexos e na consciência, une a personalidade, conferindo-lhe um senso de "unidade" e firmeza." O objetivo de toda personalidade é chegar ao autoconhecimento que é conhecer o próprio Self. Jung conceituou o Self da seguinte forma:"O Self representa o objetivo do homem inteiro, a saber, a realização de sua totalidade e de sua individualidade, com ou contra sua vontade. A dinâmica desse processo é o instinto, que vigia para que tudo o que pertence a uma vida individual figure ali, exatamente, com ou sem a concordância do sujeito, quer tenha consciência do que acontece, quer não."

Para Jung os complexos são os caminhos que nos permite chegar ao inconsciente. Portadores de uma carga energética substancial, os complexos têm como núcleo o arquétipo e, em torno deste núcleo vão se concentrando idéias ou pensamentos cheios de afetividade.Estruturam-se como entidades autônomas quando uma parte da psique for cindida por causa de um trauma, um choque emocional ou um conflito moral. Como é percebido no filme, onde Finn entra em conflito não sabendo ao certo se realmente quer se casar, pois toda sua vida ouviada sua mãe que o casamento era uma bobagem, e que compromissos para vida toda era impossível de se cumprir. Para Jung esses conflitos são naturais, as tensões oriundas dos conflitos entre as instâncias da psique são inevitáveis e imprescindíveis, pois, são elas que constituem a própria essência da vida.

Emuma das partes finais do filme,uma forte ventania toma conta da pequena cidade. Fazendo com que as folhas da tese voem com o vento. Levando-nos de forma simbólica a refletir que os sentimentos não se prendem a nada e que podem mudar de acordo com o movimento natural da vida. Isso nos é mostrado pelas personagens. Sophia, pela primeira vez coloca seus pés no lago construído pelo seu marido. Gladi começa a quebrar a parede imensa de objetos quebrados que foi construído por magoas e cada pedacinho daqueles objetos colados na parede simbolizava toda uma vida carregada de choro de ódio e de tristeza. Em que ao entrar no ateliê do seu marido tem uma surpresa ao ver todas as pinturas dela pintadas por ele. Levando-as assim numa longa série de transformações psicológicas, ingressando no processo de individuação,culminando na realização da totalidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir das contribuições de Jung, e com o auxilio do filme "Colcha de Retalhos" , nos tornou possivel entender que o inconsciente pessoal inclui conteúdos mentais adquiridos durante a vida do indivíduo que foram esquecidos ou reprimidos, enquanto que o inconsciente coletivo é uma estrutura herdada comum a toda a humanidade composta dos arquétipos - predisposições inatas para experimentar e simbolizar situações humanas universais de diferentes maneiras. Há arquétipos que correspondem a várias situações, tais como os anseios vividos por aquelas mulheres da histótia do filme, ou seja, as relações com os pais, o casamento, o nascimento dos filhos, o confronto com a morte.


Autor: Grazielle Almeida De Jesus


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