JORNADA NA ESCURIDÃO



Porto Alegre, RS, 1847.André estava para partir para o Rio de janeiro, estudar na Faculdade de Medicina, antes porém, precisava oficializar o noivado com Rita, para quando voltasse, casar-se com ela. Naquela noite ele foi jantar com os pais dela e fazer o pedido. Mas, ao passar po um rua escura, foi atacado por um malfeitor. O homem desferiu-lhe uma pancada na cabeça com um pedaço de pau. O assaltante tirou tudo que tinha nos bolsos de sua vítima e crendo que André estava morto, jogou-o num buraco.Quando recuperou os sentidos, André viu apenas escuridão ao seu redor. Erguendo-se e estendendo as mãos, encontrou uma parede de tijolos úmidos e viscosos. O solo era lamacento, o lugar abafado e mal-cheiroso. Sempre tateando ele seguiu rente à parede, uma parede ou muro que parecia não ter fim. Resolvendo esticar o braço para o lado oposto, André encontrou outra parede, uma parede arqueada que se ligava à primeira. Ele então, chegou a conclusão que estava num tunel. O rapaz procurou controlar a ângustia, concentrando-se na parede e no solo, caminhando devagar, sempre para um só lado, mesmo sem saber para onde ia. Algum tempo depois chegou a uma bifurcação, o túnel terminava num outro, transversal.----------------------------------------------------------------Ja passavam das dez horas da noite. Otaviano e a esposa concordaram que André não chegaria mais para jantar. Rita ficou decepcionada, crendo que ele havia desistido do noivado e partido para o Rio de Janeiro. Maguada, a moça chorou o resto da noite nos braços da mãe.----------------------------------------------------------------André sentou-se no chão molhado, encostando-se à parede. A cabeça doia, não conseguia raciocinar com clareza. Depois de descansar um pouco, ergueu-se e rumando pelo tunel da esquerda, continuou aquela penosa e angustiante jornada na escuridão, em busca de luz e ar puro. Finalmente, depois de muito tempo que ele não sabia se eram horas ou dias, avistou uma claridade distante. Aquela luz lhe da ânimo e ele apressa o passo. Logo depois, finalmente, alcança a saida. Avança para ar fresco, para o sol e a liberdade. A claridade do dia ofusca seus olhos, os pés afundam na lama. Sentindo uma vertigem, ele pára, segurando-se num galho de árvore morta. Adiante há um riacho, uma fileira de casas cinzentas na margem. Ele não sabe onde está, não se lembra onde mora, não sabe quem é. Vê a sua imagem na água estagnada e não reconhece aquele homem de rosto macilento, sujo, desgrenhado. André respira fundo, ergue o rosto. O riacho é um obstáculo e ele segue para o lado oposto. Atravessa um campo, encontra uma estrada e logo depois chega à cidade. Perambula pelas ruas, sentindo fome e sede. Vê uma porta aberta e se aproxima. Lá dentro, encostado num balcão há sacas de feijão, arroz, milho e açucar e em cima do balcão, fumo em corda,velas, banha, rapadura. Nas paredes pendurado em ganchos, tinha martelo, foice, pá e enxada, arame farpado num canto. Nas prateleira havia potes de mel. doce de abóbora, de batata, e goiabada. Havia ainda, azeite de baleia para candeeiros, aguardente, café e charque.Não há ninguem à vista e André entra, procurando alguma coisa para comer. De repente ele tropeça em algo no chão, se inclina e pega um pedaço de pau sujo de sangue. O sangue é do homem caido de bruços mais adiante, quase atrás do balcão. Uma mulher entra, vê a cena e começa a gritar. O instinto leva André a fugir, ele corre, mas logo depois é detido e preso. Na delegacia inicia-se o interrogatório. O suspeito não tem documentos, não fala coisa com coisa, suas palavras são desconexas.---------------------------xxxxxxxxx----------------------------Dois meses depois....Rita estava no jardim regando as flores quando um dos criados chegou dizendo que viu um homem sendo conduzido para a fôrca e que o condenado era André. A moça custa a acreditar no que está ouvindo. Angustiada, ela avisa os pais e os três dirigem-se para a rua da Praia. O Largo do Arsenal estava cheio de gente. Ali estavam tropas militares, oficiais de justiça, padres e curiosos. No centro da praça estava o patíbulo, sobre ele André e o carrasco com a cabeça encoberta por um capuz preto. Rita ficou horrorizada ao ver aquele farrapo humano, estático, com o olhar perdido sob o laço fatídico. André não pensava em nada e tampouco entendia o que estava acontecendo. Via aquelas pessoas olhando para ele sem saber a causa. Foi então, que ele viu Rita à frente da multidão e naquele momento houve como que um relâmpago em seu inconsciente, uma esplosão de luz quendo finalmente, a razão rompeu as trevas em sua mente. Ele tentou falar, mas o que saiu de sua garganta foi apenas um som cavo.O Oficial de Justiça leu o termo de acusação e o carrasco preparou-se para colocar o laço no pescoço do condenado. Rita e os pais ficaram decepcionados, ao saber que André havia matado um homem, mesmo assim, sentiram piedade por ele.André começou a perceber o que estava contecendo quando o laço foi colocado em seu pescoço, mas não conseguiu reagir. Naquele instante um soldado surgiu correndo e parou ao lado do delegado, sussurando algo em seu ouvido. O carrasco desceu e postou-se ao lado da alavanca, esperando a ordem para abrir o alçapão. O chefe de polícia conversou com  o Oficial de Justiça e este, mandou suspender a execução. Subindo ao patíbulo ele anunciou que André era inocente, o verdadeiro assassino foi denunciado e preso. Rita junto com seus pais, respiraram aliviados. Com a aprovação de Otaviano, a moça correu para abraçar André, prometendo que cuidaria dele.Depois que recuperou-se do trauma que sofreu, André completou os estudos, formando-se em medicina. Voltando a Porto Alegre, casou-se com Rita. André foi um dos melhores médicos do estado e faleceu de causas naturais com 89 anos de idade.FIMantonio setegues batista
Autor: Antonio Stegues Batista


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