CHUVA ÁCIDA



Chuva ácida

Israel Nogueira[1]

Chuva ácida e suas conseqüências

A chuva ácida é um dos graves problemas ambientais, decorrente da poluição atmosférica, composta basicamente por dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, que devido a reações químicas na atmosfera com o vapor d'água, se transforma em ácido sulfúrico e nítrico, causando chuva com o ph abaixo de 5,6, ácido que na sua grande porcentagem é emitido para a atmosfera através de ações antrópicas, apenas uma pequena parcela desses gases que causam a acidificação da chuva é derivada de fenônemos naturais, por exemplo, prejudiciais de forma direta e indireta a todos os seres, tanto vegetais, como animais, não se esquecendo de suas conseqüências sobre a saúde humana, efeitos econômicos, principalmente em monumentos públicos e históricos, atinge um amplo campo de devastação por onde passa.

Desde 1661, cientistas ingleses observaram que as plantas não cresciam da mesma forma e na mesma velocidade de antes, isso foi comprovado com o surgimento dos pólos industriais e o surgimento da Revolução Industrial, que emitiam grandes quantidades de poluentes na atmosfera, nesses pólos industriais geralmente se notava, que a vegetação do entorno começou a sofrer alterações em sua estrutura, principalmente nas folhas das árvores e vegetação rasteira, não só essa vegetação era danificada, mas também foi observado que essa poluição estava sendo dissipada na troposfera através dos ventos de oeste, característico de regiões temperadas, devido ao dióxido de enxofre lançado pela Grã Bretanha, países que foram os primeiros a relacionar chuva ácida com a diminuição do ph da água e a queima de combustíveis fósseis, através de estudos desenvolvidos por H. Rodhe (Universidade de Estocolmo) e Darmerig (Humeres,1992). Somente nos anos 60, a chuva ácida foi reconhecida como prejudicial às florestas, devido à morte de vários pinheiros de montanhas conhecidas como Sudetos, localizada na Polônia e na Tchecoslováquia, e só observou por causa da afinação dos troncos que era utilizado para fins madeireiros e conseqüentemente a morte dos pinheiros, região que recebe em quantidade excessiva dióxido de enxofre.

A água que evapora dos rios, lagos, oceanos, do solo, possui um ph neutro (ph 7), porém na própria essência do ciclo da chuva, na atmosfera devido a reações do vapor d'água com gases atmosféricos, como por exemplo, o dióxido de carbono, ela se torna ácida, mesmo ainda isenta de poluentes gerados pelos homens, enfatiza ainda que a chuva natural com valores de pH de 5,4 a 5,2 são comuns, sendo extremo os casos de pH menores que 5, contudo podemos observar que mesmo sem o dióxido de enxofre e ácido nítrico a chuva por natureza já possui uma ligeira acidez que vem se agravar com a emissão de gases poluentes, originados principalmente por produtos químicos. No limite de pH entre 5,4 e 5,2 as florestas não sofrem qualquer alteração em sua dinâmica, pois esses valores estão agregados no padrão global de equilíbrio ambiental, tanto da fauna, como na flora, pois é um fenômeno que ocorre naturalmente, originando impacto em algumas estruturas rochosas, principalmente nas rochas calcárias, que possui dureza relativamente baixa.

Na formação da chuva ácida, eventualmente fenômenos naturais, podem contribuir para a poluição atmosférica, por exemplo, os vulcões contribuem quando estão em erupção, lançando na atmosfera uma grande quantidade de dióxido de enxofre, mesmo assim de toda a poluição atmosférica existente no planeta, apenas 10% tem sua origem na natureza, o restante é decorrente da atividade humana sobre o meio em que vivemos. O carvão mineral muito utilizado nas locomotivas a vapor antigamente, hoje se utiliza em atividades metalúrgicas e produção de energia, é uma das principais fontes produtoras de dióxido de enxofre. Em contrapartida, os motores dos veículos ao lado de outras combustões industriais são os maiores emissores de óxidos de nitrogênio, que é um subproduto da queima de combustíveis fósseis, como a gasolina, o óleo e o gás natural (Simon e DeFries, 1992). Baines,1993, relata que são geradas por ano, 22 milhões de toneladas de óxidos de nitrogênio na América do Norte, e 15 milhões na Europa Ocidental. Cerca de 90% das emissões antropogênicas de dióxido de enxofre e óxido de nitrogênio é emitido no Hemisfério Norte, Hemisfério que concentra as economias mais desenvolvidas do mundo, grandes pólos industriais, com grande emissão de gases poluentes na atmosfera.

Uma parte dessa poluição atmosférica lançada por fontes emissoras não vão contribuir para a formação de uma precipitação ácida, mas ocasionará uma precipitação seca, o poluente não irá interagir com o vapor d'água no ar, geralmente essa precipitação seca acontece nos arredores de onde foi lançada, e os poluentes será lançado no solo, diretamente os resíduos ficará armazenado ali, pois não há contato com a água, no momento em que houver uma precipitação esses poluentes entrará em contato com a chuva e de acordo com sua composição poderão se converter em ácidos da mesma forma que se tivessem entrado em contato com o vapor d'água anteriormente, com isso surgirá vários problemas decorrentes da acidificação da água. Geralmente as chaminés de indústrias são construídas numa altura que os ventos possuem maior velocidade, justamente para os resíduos sólidos se dissiparem o mais longe possível da fonte emissora.

Odum, 1998, relata que tão grave quanto isso é a formação de um coquetel de gases na atmosfera, que pode permanecer durante semanas em suspensão no ar, o que facilitará novas reações e o surgimento de novas substâncias químicas, cada vez mais ácidas, aumentando o ph da água a ser precipitada. Por isso as grandes chaminés são as grandes responsáveis pelas chuvas ácidas. A chuva ácida causa grandes prejuízos e efeitos sobre as florestas e sobre o meio urbano, dentre os quais podemos destacar:

Efeitos da chuva ácida nas florestas:

As precipitações ácidas podem atingir as florestas de duas maneiras, diretamente, atuando sobre as próprias plantas e árvores e indiretamente, através da ação das chuvas sobre o solo, promovendo assim à acidificação do solo.

De maneira direta, danifica as folhas das árvores e plantas, porque a folha é a sede de toda a produção de energia de todos os vegetais, ocasionando um dano foliar na estrutura da folha onde se realiza o processo de fotossíntese, pois essa energia produzida servirá de manutenção de todas as etapas vitais de árvores e plantas, uma das maneiras que ocorre o dano foliar se dá pela ação dos ácidos que dissolvem e remove a camada de cera cuticular que protege a folha, quando as folhas (Nilson, 2002), quando as folhas perdem essa cobertura ficam expostas aos raios solares e surgem manchas de cor acastanhada, com isso concluímos que se as folhas forem infectadas conseqüentemente comprometerá a vida do vegetal e de todos os seus dependentes. Estudos mostraram também que em níveis de pH de 2,6, as coníferas e madeiras de lei perderam essa biomassa constituinte de toda a planta acima da terra, ou seja, no tronco e no ramo (Napap, 1987). As raízes também sofrem com esses processos, à acidificação do solo torna indisponível para a planta nutriente como potássio e cálcio, então não podendo absorver potássio, as raízes não tem força para abrir caminho no solo para seu desenvolvimento, e a falta de cálcio ocasiona um desenvolvimento inadequado para a raiz.

Já as precipitações ácidas indiretas são aquelas que não agem diretamente sobre as florestas, não atuam no vegetal em si, mas sim no meio em que elas vivem e trocam energia entre si. Esses efeitos ocorrem no solo que, uma vez acidificado altera-se todas as suas características físico-químicas, dificultando o crescimento, devido ao fato da raiz não se expandir, diminuindo a quantidade de nutriente no solo e nos vegetais e aumentando a disponibilidade de elementos tóxicos que podem ser absorvidos pelas plantas.

A formação do húmus fica comprometida, pois as bactérias fixadoras de nitrogênio também são eliminadas pela chuva ácida, e com isso o importante componente na formação do húmus é prejudicado. O húmus é um agregado de microorganismos vivendo intimamente com minerais, fixando nutrientes e disponibilizando continuamente para utilização dos vegetais, ele é um componente universal dos ecossistemas que pode sofrer grande alteração quando impactado com a acidez da chuva, pois as transformações físico-químicas alterarão toda a estrutura dos microorganismos e conseqüentemente neutralizando a produção de nutrientes para disponibilização dos vegetais.

O solo também pode ser acidificado pela chuva, porém alguns tipos de solo são capazes de neutralizar pelo menos parcialmente a acidez da chuva por causa da presença de calcário e cal natural. Os solos que não têm calcário são mais suscetíveis à acidificação. A neutralização natural da água de chuva pelo solo minimiza o impacto da água que atingem os lagos pelas suas encostas (lixiviação). Uma chuva ácida provoca um maior arreste de metais pesados do solo para lagos e rios, podendo intoxicar a vida aquática

Diminuição dos nutrientes disponíveis aos vegetais:

Uma das conseqüências da deposição de ácidos nos solos é a de que elementos nutrientes para as plantas, como potássio, cálcio, magnésio, presentes nos solos, são deslocados pelo excesso de íons hidrogênio, tornando-se então indisponíveis para as plantas. Assim não podendo mais absorver estes minerais nutritivos, os vegetais apresentam então atraso no seu crescimento.

A ausência de magnésio acarretará na perda de folhas aciculares a partir do tronco, e de base para o topo, o potássio é essencial na vida das árvores, sem ele as raízes não tem força para se expandir e abrir caminho no seu desenvolvimento no solo, isso afetará principalmente as raízes pivotantes, que se fixa no solo em forma de uma cunha e pode atingir até 18m de profundidade para retirar os nutrientes necessários a sua sobrevivência para levar até as copas, que será transportada pelas seivas em forma de nutrientes, sem o cálcio a formação das paredes celulares será comprometida e o crescimento radial e vertical das árvores, a folhagem é perdida da copa para baixo, ao contrário do magnésio, as folhas caem a partir dos galhos.

Efeitos da chuva ácida nas cidades e na saúde humana:

A chuva ácida libera metais tóxicos que estavam no solo. Esses metais podem alcançar rios e serem utilizados pelo homem causando sérios problemas de saúde. Minerais tóxicos como mercúrio, chumbo, cádmo e outros são dissolvidos são disponibilizados no ambiente pela chuva ácida, e então são carregados para reservatórios de água destinados a ingestão humana, bem como são absorvidas pelos vegetais que nos alimentamos, podendo encontrar até nas carnes, pois como o animal se alimenta basicamente de vegetais, pequenas porções desses metais tóxicos nocivos a saúde humana pode estar inseridas nas carnes, principalmente em gado de corte, considerado praticamente o topo de a cadeia alimentar.

Os efeitos dos metais, infelizmente agem de maneira lenta e são cumulativos, mesmo em pequenas quantidades, afetando principalmente o sistema nervoso, especialmente nas crianças por estarem em fase de crescimento e desenvolvimento dos órgãos, por se tratar de um processo lento, milhares de pessoas podem estar sendo afetadas por esses metais, causando uma série de doenças em crianças e adultos que às vezes passam despercebidas por psicólogos e terapeutas, mas que geralmente já está com o estado clínico manifestando agudos sintomas tóxicos, lembrando que o chumbo é um dos principais causadores de doenças provindas de metais tóxicos, é sintoma de uma realidade pós-revolução industrial, muito embora também possam ter diferentes causas, pois as herbicidas, inseticidas, agrotóxicos, no qual não necessariamente são oriundas de ácidos, concomitantemente estão sendo borrifados no meio, seja através da agricultura ou na pecuária, todavia que o gado se alimenta dos vegetais que estão contaminados chegando até rios e oceanos prejudicando a vida aquática.

Nas grandes metrópoles como São Paulo e Rio de Janeiro, já foram registradas chuvas com o pH inferior a 5, acidez que no decorrer do tempo pode estar danificando monumentos públicos, por exemplo, o Cristo Redentor do Rio de Janeiro, instalado a 709m acima do nível do mar, localizado no Parque Nacional da Tijuca foi castigado por vários fenômenos naturais, como chuva, umidade, ventos, temperatura, porém a ação mais devastadora foi das chuvas ácidas. Na Grécia, monumentos históricos como Partenon e outros edifícios de grande poder cultural. A Índia também sofre com os efeitos de dióxido de enxofre e óxidos de nitrogênio, um dos edifícios mais sofisticados do mundo Taj Mahal já tem indícios de chuva ácida nas suas torres.

As áreas urbanas representam as maiores propulsoras dos impactos que o homem causa a natureza. O processo de urbanização possibilitou ao homem produzir novos ambientes nos quais há interações complexas entre os grupos humanos, as marcas de seu trabalho e a natureza. Nos diversos ecossistemas geográficos, há uma interação entre diferentes elementos climáticos, como, temperatura, umidade, chuvas, ventos, massas de ar, entre outros, mas foi no espaço urbano que as ações antropogênicas mudaram drasticamente o funcionamento e o ciclo desses elementos, rompendo assim o equilíbrio que antes existia. Podemos observar a influência da ação do homem no decorrer do tempo, como uma ação devastadora sobre o meio em que vivemos, o poder econômico se sobressai em cada tentativa de amenizar a situação atual na qual nos encontramos, em um ambiente de poluição que afetará principalmente as futuras gerações.

Referências bibliográficas:

ALBUQUERQUE, Paulo. "Poluição Atmosférica e seus Efeitos na Saúde Humana", disponível em www.asmabronquica.com.br, acesso em 01/11/2008.

BRENA, Nilson Antonio. "A chuva ácida e seus efeitos nas sobre as florestas, Apêndice: conseqüências da chuva ácida à saúde humana", Editora Cultural, São Paulo, 2000.

COELHO, Marcos de Amorim  "Geografia Geral", cap. 27 pag. 278/279. Editora Moderna, 1992.

JESUS, Emanuel Fernando Reis."A importância do estudo das chuvas ácida no contexto de uma abordagem climatológica", USP  São Paulo, 1996.


[1] Aluno do 5º Semestre de Geografia do Centro Universitário de Brasília - UniCEUB


Autor: Israel Nogueira


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