OS BESTIALIZADOS
(José Murilo de Carvalho)
A massa chamada proletariada na metade do XIX era alimenta pela imigração que crescia com proporção nos anos iniciais da República. De lado os galegos do outro a multidão dos diversos profissionais que formava um leque de ocupações variadas.
João do Rio descreve como ninguém a divisão da cidade do Rio de Janeiro em rio subterrâneo e rio oficial, através de sua curiosidade podemos perceber que ele contribuirá para uma análise que parte das acusações de Raul Pompéia e as campanhas Jacobinas contra os portugueses; tornando possível notar a composição demográfica do Rio de Janeiro, que propriamente dito compunha-se por sua maioria de estrangeiros.
O censo de 1890 mostrará que a cidade do Rio de Janeiro era composta de estrangeiros que tinham participação ativa em muitos setores da população. Segundo Assis Brasil os estrangeiros, ou seja, os portugueses eram donos de quase toda a cidade.
O antilusitanismos ocorre no inicio da República porque os populares queixam do controle dos portugueses sobre o comércio, os prédios e até mesmos dos cortiços.
Podemos notar a participação dos portugueses até mesmo nas greves operarias uma participação que tinha conotação política até 1904.
No entanto o novo regime resolveu solucionar o problema, criando a lei da grande naturalização de 1890 onde declarava cidadão brasileiro todos os estrangeiros que em seis meses não se manifesta expresso desejo de manter sua cidadania de origem. Não há dados a respeito dos efeitos provocados pela lei, porém tiveram parcelas que se revoltaram como as pequenas colônias inglesas, francesa e alemã.
Na aurora da análise notamos que 20% dos estrangeiros optaram pela cidadania brasileira. Tal ideia não evolui entre os estrangeiros porque os seus interesses eram mais bem defendidos do que dos nacionais, além do mais os custos da cidadania brasileira era maiores do que suas vantagens.
Devemos notar que Portugal não estava em condições de proteger a sua nacionalidade, no entanto o maior receio dos portugueses com relação à cidadania brasileira era a obrigação de servir a guarda nacional.
Fica visível que a cidadania política no Rio de Janeiro no inicio da República não seria favorável, pois de um lado havia uma grande parcela da população que se colocava fora do mundo organizado do trabalho, numa situação em que era difícil a percepção dos mecanismos que regia a sociedade e a política; do outro lado os portugueses os detentores de todo o poder sobre a vida política da cidade.
A participação dos portugueses nas greves constituía um caráter de irresponsabilidade, pois muitos não estavam aptos pela cidadania brasileira. Mas outro fator importante que não podemos deixar de falar é do analfabetismo que crescente colocava o povo em desvantagem política, pois os analfabetos e as mulheres eram excluídos dos votos, além de vários outros equívocos que ocorria dentro da Respública.
Portanto pelo critério de participação eleitoral podemos afirmar que não havia povo político no Rio de Janeiro. O exercício da cidadania política torna-se assim algo caricultural. O cidadão republicado era o marginal mancomunado com os políticos, os verdadeiros cidadãos matinha-se afastados. Ficando claro que os representantes do povo não representavam ninguém.
Couty e Raul Pompéia tinham razão em afirmar que no Rio de Janeiro não tinha povo, pois quando o povo participava politicamente o fazia no mundo subterrâneo, fora dos canais oficiais através de greves, arruaças e quebra-quebra; movimento de natureza quase revolucionaria com a revolta da vacina.
Portanto notamos que o povo não participava do processo formal de constituição da República e a obra de José Murilo de Carvalho nos permite compreender e refletir sobre os desdobramentos do tipo de formação da sociedade na atualidade que até hoje não consegue transformar sua capacidade de participação comunitária em capacidade de participação cívica. Pois se formos analisar o Brasil notaremos que as cidades, a nossa República e a nossa cidadania continuam dissociadas ao direito de participação ativa de todos os cidadãos; uma atitude que se classifica como voto obrigatório. Deve ocorrer uma ruptura com esta ideia, pois só assim poderia ser possível ver o surgimento de uma cidadania coletiva.
Autor: Dhiogo José Caetano
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