ESCOLA, CONHECIMENTO, PROFESSOR ? UMA ESTRUTURA QUE CONVENCE



Professor e trabalho

(&) "o trabalho define a essência humana. Portanto, o homem, para continuar existindo, precisa estar continuamente produzindo sua própria existência através do trabalho. Isto faz com que a vida do homem seja determinada pelo modo como ele produz sua existência" (ANDERY, 1988:12).

A atividade do homem sobre a natureza é diferente daquela realizada por outros seres animais. O trabalho, atividade exclusividade humana, é ato de construção, de produção material e intelectual. Neste sentido o homem interage com o outro da mesma espécie, com outro homem e nele se reconhece, construindo continuadamente a sua história.

ANDERY escreve que:

" A ação humana não é apenas biologicamente determinada, mas se dá principalmente pela incorporação das experiências e conhecimentos produzidos e transmitidos de geração a geração; a transmissão dessas experiências e conhecimentos  através da educação e da cultura  permite que, no homem a nova geração não volte ao ponto de partida da que a precedeu" (ANDERY, 1988:12).

O homem, ao alterar a natureza, para atender às suas necessidades, torna-a humanizada, " ou em outras palavras, a natureza adquire a marca da atividade humana" (ANDERY, 1988: 12), o homem modifica a si mesmo, numa relação dialética com o seu fazer permanente. " O homem é um seu natural, isto é, ele é um ser faz parte da natureza; não se pode conceber o conjunto da natureza sem nela inserir a espécie humana" (idem:11). Na interação do homem com a natureza, onde esta é continuamente modificada, o homem, que nela está, e está em movimento, também de se modifica, no processo de produção da existência humana.

Maravilhosopensar no transmitir para que outros possam ter saciado sua necessidade de " saber, experiências e conhecimentos", seja intencional para a caminhada da humanidade em sua permanente, e, numa colocação mais ousada, voluptuosa modificação.

" É nesse processo que o homem adquire consciência de que está transformado a natureza para adaptá-la a suas necessidades, características que vai diferenciá-lo: a ação humana, ao contrário da de outros animais, é intencional e planejada; em outras palavras, o homem sabe que sabe" (ANDERY, 1988:13).

A produção do homem está relacionada às suas necessidades. O trabalho, a ação que o homem exerce intencionalmente na natureza, modificando-a e alterando a si mesmo, é ponto convergente e abrangente de todas as relações humanas. É a partir dele, do trabalho, que se produz o que é necessário para a vida do homem, necessidade, esta, que varia no que diz respeito ao tempo e/ou ao espaço, como nos mostra ANDERY (1988: 15):

(&) " o desenvolvimento do homem e de sua história não depende de um único fator. Seu desenvolvimento ocorre das necessidades materiais; estas, bem como a forma desatisfazê-las, a forma de se relacionar para tal, as próprias idéias, o próprio homem e a natureza que o circunda são interdependente, formando uma rede de interferências recíprocas. Daí decorre ser este processo de transformação infinito, em que o próprio homem se produz".

O homem, em seu trabalho, ao longo do tempo e em diferentes espaços, produz bens materiais, mas também produz conhecimento. As idéias e os bens materiais são fruto do trabalho humano e nesse sentido, esclarece ANDERY que:

" Ao analisar, em cada momento histórico, os produtos da existência humana, as idéias  sendo um desses produtos  não são exceções. As idéias são a expressão das relações e atividades reais do homem, estabelecidas no processo de produção de sua existência. Elas são a representação daquilo que o homem faz, da sua maneira de viver, da forma como se relaciona com os outros homens, do mundo que o circunda e das suas próprias necessidades" (1988:14).

A convicção de que a ação humana e a produção humana estão condicionadas à organização social de um dado momento histórico é fato. O que se pretende neste estudo é buscar uma aproximação  e por que não?  um entrelaçamento que poderá unir a ação e o pensar. O trabalho do professor, profissional que é uma força de trabalho qualificada, que é, como todos os demais trabalhadores em nossa sociedade, " livre para dispor de sua força de trabalho" (SAVIANI, 1994: 156), está diretamente ligado com a idéia de mudança. O Lendo com carinho o que foi falado com igual carinho, lembro-me das expressões que se modificaram ao falarem sobre o trabalho como professor junto aos alunos, deixando ver uma grande indefinição da função do trabalho como professor. Como já foi dito anteriormente, este estudo ocupa-se do conhecimento definido para as séries iniciais do Ensino Fundamental, momento delicado na vida escolar do aluno que ingressa na escola com uma expectativa que nem sempre é linear ou semelhante. O próprio professor, trabalhador que é força de trabalho qualificada, refinada pelo conhecimento, em geral, sente dificuldade para se ver com clareza diante das atribuições que a sociedade atual aponta como dominante na educação, a educação escolar. SAVIANI (1994:158) esclarece que:

" A função educativa que antes se acreditava ser própria da família agora passa a assumir forma escolar. (&) A exigência da escola se alarga tanto na vertical como horizontalmente, isto é o que se chama hipertrofia da escola".

Observando o que pensam os professores sobre o que é o seu trabalho e diante da possibilidade de modificações e alterações reais dos alunos a partir da apropriação do conhecimento, é significativa a engrenagem que possibilita a hipertrofia da escola, como esclarece SAVIANI quando mostra uma tendência de se dilatar o tempo de permanência dos alunos na escola e a ampliar as suas funções para outras que anteriormente eram de responsabilidade das famílias. A confusão parece estabelecida quando o próprio professor não consegue definir o seu trabalho com tranqüilidade. Todos, sem exceção, mostraram surpresa e resultaram para responder sobre o que era o seu trabalho, relutância, não demonstradas quando falaram sobre o seu trabalho de uma maneira geral, sobre a sua formação profissional e sobre a sua caminhada como professor. Se os homens visualizam e planejam o que é necessário para um determinado grupo, os professores, por trabalharem diretamente com seres humanos, devem estabelecer, em sua formação, prioridades que verifiquem ser o homem um ser integral, logo intenso e real agente fazedor de si mesmo. Cabe à ação do professor, em seu trabalho diário, ajudar a abrir caminhos, enredar os conhecimentos em malhas largas e amplas que propiciem um refazer permanente e contínuo de que o homem necessita para estar no mundo.

As relações humanas que ocorrem no nosso sistema econômico fundam-se em interesses conflitantes. "Em qualquer sociedade onde existam relações que envolvam interesses antagônicos, as idéias refletem essas diferenças" (ANDERY, 1988: 15). O trabalho do professor  trabalho que utiliza idéias produzidas como conhecimento  revela, na sua ação pedagógica, junto aos alunos, a concepção antológica de trabalho, como a formulou MARX. Estudando e armazenando conhecimento, o professor modifica-se. Ao se aprofundar ou ler mais sobre determinado conhecimento, este passa a fazer parte do professor-que-estuda, quer modifica em si o conhecimento assimilado modificando-se num transformar contínuo e dialético. A força que este movimento exerce no homem professor, a ação de estudar, de se preparar para dar suas aulas, é tão marcante que é sem muito pensar que os professores respondem sobre o tempo que gastam se preparando para o trabalho:

" Bom, eu gasto muito trabalhando com texto, criando. Eu vejo a Veja, Ah, mas este assunto está ótimo pra eu fazer um texto. Então eu pego. No princípio, ainda era melhor porque [os alunos] não tinham livros, todos os textos eram feitos por mm, tanto em Português, como História, em Geografia, Ciências" (&) (Ana, professora  3a série )

Nota-se na fala da professora um compromisso com o conhecimento que ultrapassa o limite do seu trabalho na escola e na sala de aula. O professor se percebe como elemento atuante do seu próprio refazer através do trabalho, mas uma dúvida surge quando se pensa nas idéias que mobilizam o movimento que o professor realiza no seu contínuo avanço para se equipar e refinar o conhecimento que detém.

O conteúdo pode ser modelado para que atendam um determinado fim. Quando o professor ensina determinado conhecimento, interfere diretamente neste conhecimento. Seres humanos devem estar atentos para que as suas relações globais não abafem as possibilidades de subverter as conquistas operadas do trabalho. Importante que o conhecimento assimilado possa ser utilizado e vivenciado em uma ótica de transformação que garanta uma formação do homem integral. Na estrutura de nossa sociedade, cabe ao professor trabalhar de forma que a sua ação deixe ver possibilidades de percepção da grandiosidade humana.

Mas o que significa de fato conhecer  formas de conhecimento

Conhecemos sem questionar o que de fato, significa conhecer. Longe de ser apenas um trocadilho, esta frase contém a real posição em que nós, professores, nos encontramos frente ao saber legitimado pela sociedade e transmitido pelas instituições escolares. Raras vezes pensamos que a sociedade se serve do conhecimento transmitido pela escola para modelar as novas ferramentas funcionais de nosso sistema, que se regula sobre a égide do capital.

A maior parte das pessoas passa todo o seu período escolar sem levantar qualquer questão, sem se perguntar de onde vem o conhecimento e o que será feito com e por ele.

Entretanto, o conhecimento é colocado como essencial capítulo para nossa caminhada virtual no mundo real. Sem ele será mais penosa a aproximação das fontes de renda de nosso sistema. Assim, cada vez maior é a busca d formas de titulação que capacitam para as funções gratificadas pelos "canudos" apresentados.

Na obra "Metodologia Científica: cadernos de textos e técnicas", há um real ponto para observação das questões levantadas, pois, como aponta o prefácio, as idéias contidas na obra "pretendiam ajudar o aluno a realizar a passagem de uma atitude passiva para uma atitude ativa frente ao conhecimento, e de uma atitude ingênua para uma atitude crítica" (HÜHNE, 1999:10). Os textos dessa obra nortearão as reflexões deste mundo sobre a relação do professor com o conhecimento.

Os dicionários apresentam o conhecimento "com definições aparentemente definitivas" (HÜHNE, 1999:29). Mas o que é que, na realidade, pensamos ser o conhecimento? É preciso atentar que não é privilégio de poucos, que buscar, entender, compreender cada objeto a nossa frente deveria ser uma atividade corriqueira de caminhar rumo à verdade; não devemos querer encontrar algo pronto e finalizado na prateleira. Importante a dor da busca, osmomentos solitários de encontro com o saber. A idéia de um conhecimento pronto, padronizado, deve ser diluída pois, não mais faz sentido o pacote do saber.

Escreve GARCIA (in: HÜHNE, 1999:34), que (&) "o conhecimento é uma forma de estar no mundo". E que mundo é esse? Claro que é o mundo que se movimenta, o mundo que se modifica, roda e dá voltas, exigindo a cada momento novos conhecimentos. Devemos buscar o conhecimento, procurar nos aproximar da "verdade" que " não se deixa aprisionar por nenhuma construção intelectual" (HÜHNE, 1999::32), mas estar preparados para o movimento espiralante que todo conhecimento encerra  um conhecimento leva a outro e este não deve ser visto como algo imutável, mas como objeto de desejo a ser dissecado, compreendido e, por que não? Reformulado. O conhecimento não poderá fechar portas, mas sim, abri-las, escancará-las.

O homem constrói o seu mundo de acordo com a sua necessidade imediata, atendendo ao momento histórico. Assim, no curso do tempo, veremos a sociedade se modificando e valorizando diferentes saberes. O ser humano, vivente do seu próprio tempo, caminha na passarela traçada, sem, muitas vezes, olhar para o que há ao seu redor. O que FREIRE (1965) chamou, há tempos, de educação libertadora parece atualizar o pensar conhecimento hoje, que amplia olhares, liberta pensares

Não há como prever o que será importante nas próximas décadas, como serão projetados os interesses para, na perspectiva política crítica, modificar currículos e conteúdos. Importa persistir com coragem no movimento rumo ao que se deseja construir e estar pronto para seguir para onde quer que seja. Afinal, nós é que escolhemos o caminho.

Etimologicamente, a palavra conhecimento está estruturada a partir da palavra francesa connaissance. Naissance significa nascer, com significa com. Logo, conhecimento, nascer com. O fazer conhecimento está no homem desde ao primórdios.

(&) "conhecimento como construção é um processo. Não podemos confundir a apreensão e uso do conhecimento com a construção, elaboração, processo do conhecimento. Todo conhecimento é construído, inventado, dentro das possibilidades de seu determinante espaço-histórico-estrutural" (HÜHNE, 1999:36).

É preciso que exista a recusa de um conhecimento a serviço da preparação de futuros profissionais no Ensino Fundamental. O futuro, pensando na estrutura social posta neste momento, cercado do que é incerto, não garante os conhecimentos que serão legítimos e necessários daquia alguns anos. A angústia que fragmenta, cobra e expõe a chaga de que isso é bom para o seu futuro, sem isso você não chega a lugar algum nesta vida deve ser levada em conta. Assim pensando, devemos lembrar de que o que ocorre na escola, é o uso do conhecimento posto, do conhecimento que já existe e que foi há muito produzido. O que deveria ocorrer, é uma convivência de conhecimentos consagrados e de outros recentes, "populares". A construção pretendida, na realidade, é a que aponta a origem desta palavra, da palavra conhecimento, ou seja, um re-construir o saber que ocorre em cada um diante desua cognição frente ao conhecimento apresentado. Vê-se com clareza, que o conhecimento produzido, é, na verdade, processado em cada um de acordo com as suas vivências e a situação em que se depara com este conhecimento.

Importante refletir sobre o significado do conhecimento que o professor, a pessoa que, na escola, é o responsável direto por levar este conhecimento aos alunos importa para a sua prática. HÜHNE (1999:27) chama a atenção para

(&) "o modelo de conhecimento imposto pela ideologia do sistema tecnocrata. É o modelo muitas vezes deturpado do real conhecimento científico. Esse modelo tem a sua razão de ser, exprime um modo de conhecer e dominar racionalmente a realidade, mas não deveria ser a única abordagem. E mais ainda, esse modelo se acha comprometido muitas vezes com os interesses do sistema".

Pensarnas formas de conhecimento, nas inter-relações que existem entre elas, é um apoio valioso para a questão do momento, o que significa o conhecimento. Refletir um pouco em como o Senso Comum, o Mito, a Ciência e a Filosofia  formas diferentes  estão entretecidas e perpassam umas pelas outras, ao mesmo tempo em que se constituem nas suas especificadas, clareia a idéia da relação que o professor mantém dentro da escola com o conhecimento.

Essas formas de conhecimento foram construídas pois, como mostra HÜHNE (1999:30), "face à complexidade do real, encontramos modalidades diversas de conhecimento" e compreender o significado e as relações entre eles é uma medida que não pode ser desprezada se quer uma reflexão que envolva o conhecimento de um povo de vista amplo.

O homem, em sua ação na natureza, age intencionalmente, o seu fazer implica em um interesse regido pela reação que provoca ou que deseja provocar. Neste momento, a provocação é pensar nas produzidas pelo homem, mais especificamente naquelas que constituem o

" conhecimento referente ao mundo. O conhecimento humano, em suas diferentes formas (senso comum, científico, teológico, filosófico, estético, etc.), mesmo sendo incorreto ou parcial, ou expressando posições antagônicas, exprime condições materiais de um dado momento histórico" (ANDERY, 1988:15).

 

Na revisão de literatura que realizamos com intenção de formar idéia sobre o conhecimento científico, Galileu Galilei foi sempre citado como que um divisor de águas por seu método de observação e experimentação.

" O conhecimento científico é uma conquista recente da humanidade: tem apenas trezentos anos e surgiu no século XVII com a revolução galileana" (ARANHA, 1993: 129).

" É necessário percorrer o caminho histórico das ciências, repensar a formação e o desenvolvimento dos seus conceitos para compreender o surgimento do método científico com Galileu" (HÜHNE, 1999:121).

" A observação e a experimentação, por exemplo, procedimentos metodológicos que passam a ser considerados, a partir de Galileu (século XVI), como teste para conhecimento científico, não eram procedimentos utilizados para esse fim na Grécia e na Idade Média" (ANDERY, 1988:16).

Desde a leitura que fizemos de A vida de Galileu Galilei, de Bertold Brech, passamos a verificar a importância desse obstinado cientista que questionou a visão geocêntrica, fragilizando a idéia dogmática vigente sobre a Terra e os movimentos dos astros. Encontrar Galileu junto à concepção do conhecimento científico foi uma prazerosa descoberta. A contribuição de Galileu é importante e o método utilizado por ele impulsionou a produção de conhecimentos, o que não quer dizer que não houvesse antes dele uma busca pelo saber científico. O movimento de efervescência, que finda por determinar uma ordem social diferente com a chegada da burguesia ao poder, envolve uma concepção nova de mundo. O homem passa a se ver de uma forma diferente de como se via no auge do período feudal, a se posicionar de forma diferente no mundo onde se constrói e re-constrói constantemente. Junto a tantas inovações, uma nova concepção de trabalho. O poder, o domínio político e econômico muda de mãos, "o trabalho, até agora considerado atividade de escravos e servos começa a ser valorizado" (HÜHNE, 1999:123).

A burguesia chega ao poder e, esta, é uma colocação simples, mas não reducionista, usando a sua força detrabalho e possuindo os meios de produção, cria uma outra dimensão para o trabalho.

" Mas, para o que nos interessa aqui, o que importa é mostrar a valorização do trabalho, o que permitirá uma transformação completa de toda a atitude fundamental do espírito humano vigente até então: a vida ativa, o homo faber, tomando lugar na vida contemplativa, considerada até esse momento como a forma mais elevada do homem se relacionar como o mundo" (HÜHNE, 1999:123).

A ação do homem que movimenta, que transforma e que busca, diverge da lógica de ordenação sustentada pelo pensamento medieval, que tinha na ciência " o papel contemplativo dirigido para fundamentar as verdades da fé"(ANDERY, 1988:17). As possibilidades de intervenção no mundo legitimado pela fé divina, inquestionável, acontecem quando o homem constrói uma nova forma de ver a realidade.

 

"O método científico é historicamente determinado e só pode ser compreendido dessa forma. O método é o reflexo das nossas necessidades e possibilidades materiais, ao mesmo tempo em que nelas interfere. Os métodos científicos transformam-se no decorrer da História. No entanto, num dado momento histórico, podem existir diferente interesses e necessidades; em tais momentos, coexistem também diferentes concepções de homem, de natureza e de conhecimento, portanto diferentes métodos. Assim as diferenças metodológicas ocorrem não apenas temporalmente, mas também num mesmo momento e numa mesma sociedade" (ANDERY, 1988:17).

A ação, a produção humana está vinculada às necessidades e movimentos dos grupos sociais. O conhecimento científico não está isento dos interesses daqueles que o produzem, fazem a ciência ou do porquê o fazem, não é neutro por mais que assim possam pensar, querer ou dizer alguns fazedores da ciência e outros homens, e, mesmo aspirando objetividade, o produto humano, logo também o conhecimento científico, estará sempre impregnado de sua subjetividade, de uma certa concepção de homem, de mundo.

MARX (1986), na Segunda das Teses a Feuerbach, questiona se o pensamento humano atinge a realidade, isto é, se o pensamento transforma-se em ação. É na prática que o homem mostra-se como é na verdade, é na práxis que o seu pensamento é desvelado:

 

" A questão de saber se cabe ao pensamento humano uma verdade objetiva não é uma questão teórica, mas prática. É na práxis que o homem deve demonstrar a verdade, isto é, a realidade e o poder, o caráter terreno de seu pensamento. A disputa sobre a realidade ou não-realidade do pensamento isolado da práxis  é uma questão puramente escolástica" (in: MARX e ENGELS, 1986:12).

O conhecimento posto como ciência está sempre, como todas as outras idéias que produzem conhecimento, sujeito a interferências do homem que empreendeu esforços para aprofundar determinada tese e /ou teoria.

E assim avançando sensatamente e com bom senso, verifica-se que a idéia do senso comum como conhecimento não é um consenso. Enquanto alguns autores defendem ser o senso comum ponto de partida para saber científico, POPPER chega a propor que "toda a ciência e toda a filosofia são senso comum esclarecido" (in: HÜHNE, 1999:58), complementando esta fala com a necessidade da crítica como instrumento.

As buscas por explicações dos fenômenos e da grandiosidade da natureza trazem ainda para o homem de hoje uma atitude de aceitação junto a uma ação que movimenta, constrói e envolve a criação de mitos a partir dos pontos que se pretende atingir.

Ao mesmo tempo em que o homem aceita e é conivente com o que envolve, ele, pensa e reflete para agir. Se a sua ação indica a sua forma de pensar, na filosofia ele pode encontrar uma forma de sustentação para o pensamento crítico e para um posicionamento de mudanças diante do poder ideológico que, muitas vezes, contraria a própria condição humana. Uma caminhada pela história da filosofia e pela história recente de nosso país, pode esclarecer a intenção de fazer calar o pensar. Como se fosse possível impedir o homem de idear o que quer que seja. Oportuno é reforçar a idéia de quea única e real liberdade de pensamento. Mesmo que não se confesse seguidor desta ou daquela posição filosófica, se hegemonicamente um determinado pensamento não deve ser contrariado nas ações humanas, não há como impedir o homem de pensar, de sonhar, de querer.

A filosofia, como forma de conhecimento, deve ser valorizada e, ousamos dizer, priorizada. Neste estudo, realizado dentro do curso de pedagogia, não parece ser exagerado mencionar que qualquer que seja a atividade profissional ou projeto de vida presente e/ou futura, enquanto pessoa e cidadão, o aluno precisa da reflexão filosófica para o alargamento da consciência crítica da capacidade humana de se interrogar e para a participação mais ativa na comunidade em que vive.

O sentido que o conhecimento deve ter em nossas vidas está, intrinsecamente, vinculado ao momento vivente. Seja qual for a idéia produzida e articulada como conhecimento, jamais será um conhecimento neutro, único e isolado, pois que uma produção humana, humana é.

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Autor: Simone Flores Soares De Oliveira Barros


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