Finalmente Mãe



Bem, nasceu!

Finalmente nasceu e com ele nascem tantas outras descobertas...

Há uma corrente que defende que a gravidez deveria durar seis meses, pois a ansiedade parece nos torturar durante os últimos três meses de gestação...

E, afinal, para que serve um filho?

Filhos...  Filhos? Melhor não tê-los! Mas se não tê-los como sabê-lo?

Minha mãe vivia repetindo esse verso de Vinicius...

 

Pois é! Só quando nasce um filho é que começamos a descobrir algumas coisas que fazem toda a diferença em nossa existência. Primeiro, um filho, nos dias de hoje, é sim uma escolha. Nós escolhemos ter ou não filhos e diversas são as formas (métodos científicos ou naturais) de contribuir para a nossa decisão.

 

Eu te amei desde o primeiro olhar... Escrevi essa frase para o meu filho mais velho, Caio, de 9 anos. E essa é uma realidade... Na verdade, o amor nasce antes desse primeiro olhar. Gerar alguém dentro de si é algo mágico, surreal, um verdadeiro milagre... Mas é no primeiro olhar que esse amor tão grandioso se materializa de uma forma divina. É quando podemos ter a noção do amor incondicional de Deus por nós, mesmo imperfeitos que somos.

 

E na nossa imperfeição, descobrimos que erramos, erramos feio. Não conseguimos ser perfeitos como pais. Mas também descobrimos que pedir perdão é algo necessário e aprendemos com os filhos que as crianças têm uma grande facilidade em perdoar, em esquecer, em amar incondicionalmente. Eles precisam de nós e aceitam isso de forma inevitável. Somos o colete salva-vidas, o alguém em que se pode confiar. Outra coisa: eles são deveras persistentes... É uma teimosia que não tem tamanho. Mas a persistência é uma virtude e saber transmitir valores e orientá-los é o nosso principal papel.

 

E esse amor cresce e se multiplica. Passamos a valorizar as pequenas coisas, os detalhes, alguns momentos, os sorrisos, os beijos, os carinhos... O pequeno passarinho que voa de um ninho construído em pleno semáforo sob um engarrafamento quilométrico. É, eu vi. Talvez seja nessa fase que a vida passe a ter um sentido real: para que ter raiva de um engarrafamento se ele me deu a oportunidade de ver sair de um ninho que estava no semáforo um passarinho me dizendo que há muito mais vida ao meu redor?

 

Quando nasce um filho deixamos de ser apenas filhos e passamos para um outro lado, uma nova etapa, um necessário crescimento que nos obriga a dar muito de nós, mas que, por outro lado, traz grandes recompensas.

 

Quando eu era criança, escrevi uma cartinha para minha mãe, no Dia das Mães. E nessa carta imeeeeeeeeeensa, lembro de ter colocado algo do tipo Deus criou a mãe pela falta que sentiu de uma.... A minha mãe, embora imperfeita, era perfeita aos meus olhos. Vejam que ambas aprendemos a aceitar a imperfeição uma da outra, pois o amor verdadeiro é incondicional. E quando passamos ao papel de pais começamos a entender os nossos próprios pais e todo o julgamento se torna mais ameno. Afinal, somos humanos e errar é um verbo inerente à nossa natureza.

 

Ter um filho é começar a escrever uma história de amor, que tem tudo para dar certo. E essa história começa como um Era uma vez um serzinho muito indefeso que era muito amado e que foi gerado no ventre de sua mãe e através do seu seio foi alimentado. Dar o leite, ou alimentar uma criança de outra maneira, é uma atitude que nos faz muito bem. Estamos nos doando, mas amamos fazer essa doação, pois nos faz sentir uma satisfação, nos faz perceber a gratidão em um olhar. E a história que começamos a escrever é eterna, pois dos nossos filhos serão gerados os nossos netos, bisnetos e assim por diante, e cada uma dessas pessoinhas levará consigo parte do que nós somos, uma parte da nossa alma.

 

E cada conquista, cada gesto de crescimento, nos traz uma emoção. É o que descobrimos. A primeira palavra, os primeiros passos, o primeiro dia de aula, a primeira letrinha escrita, a primeira palavra, a primeira apresentação de Natal, do Dia das Mães, dos Pais, a primeira apresentação de balé ou judô, o primeiro amor, o vestibular... E essa história vira um ciclo cada vez mais interessante, a prender a atenção daqueles que nela atuam.

 

O desenrolar dessa história exige tempo. Descobrimos que vamos envelhecendo, amadurecendo e que isso é necessário para assistirmos ao desabrochar dos nossos filhos. Deixamos de ser os protagonistas e passamos a coadjuvantes da história. Assim, revemos as prioridades, o trabalho, o lazer... Passamos a pesquisar as melhores formas de atuar como mãe, voltamos a brincar, retomamos um pouco do nosso lado criança. Compramos brinquedos maravilhosos para eles e para nós também... Voltamos a ver filmes e ler histórias infantis. Temos que pesquisar para dar respostas às coisas absurdamente inimagináveis que eles perguntam... Relembramos os bons momentos que tivemos e que nos fizeram crescer.

 

Descobrimos, com a maternidade, o que é ter nos braços a pessoa mais linda do mundo, a jóia mais rara, a pedra mais preciosa, quando sabemos que não merecemos e seja lá o que fizermos não será suficiente. Encontra-se aí um verdadeiro golpe no nosso perfeccionismo: as coisas são como são... Temos limitações, devemos aceitá-las e simplesmente amar.

 

Como é bom beijar um filho, sentir o seu hálito, perceber o crescimento de suas mãozinhas... Levar ao médico, ter despesas com colégio, ir à reunião de pais, deixar de ver aquele show que você queria tanto só para ficar com ele... Isso acontece, sempre... Mas por que não deveria acontecer, se alguém já fez isso por nós antes e a história se repete...? Contudo, quase sempre dá para conciliar as coisas e o que antes fazíamos com prazer imenso e solitário perde um pouco do sentido se não temos por perto nosso rebento.

 

Nós mães temos muito que agradecer, pois ser mãe nos engrandece e nos dá mais prazer do que o que exige de nós. E mesmo quando estamos cansadas, quando perdemos a paciência, quando aumentamos o tom da voz (enfim, quando não somos aquilo que imaginamos), ainda estamos lá, firmes como rochas, passando os nossos valores, criando e formando seres humanos, pessoas grandes, que podem contar conosco não só para enxugar as suas lágrimas, como para chorar com eles (mesmo que escondido). Essa é a nossa força, a força de uma mãe, que tira o próprio filho da boca de uma fera selvagem e que facilmente escolhe dar a própria vida para salvar a dele.

 

Ele nasceu... Menino ou menina, saudável ou não, especial... Não importa: amamos o presente que recebemos e a nossa vida se enche de flores, borboletas, joaninhas, beija-flores... E regar as minhas plantinhas é o que eu mais gosto!!!

 

Então, vamos continuar com o Poema Enjoadinjo de Vinicius de Morais:

 

...

Se não os temosQue de consultaQuanto silêncioComo os queremos!Banho de marDiz que é um porrete...Cônjuge voaTranspõe o espaçoEngole águaFica salgadaSe iodificaDepois, que boaQue morenaçoQue a esposa fica!Resultado: filho.E então começaA aporrinhação:Cocô está brancoCocô está pretoBebe amoníacoComeu botão. Filhos?  FilhosMelhor não tê-losNoites de insôniaCãs prematurasPrantos convulsosMeu Deus, salvai-o!Filhos são o demoMelhor não tê-los...Mas se não os temosComo sabê-los?Como saberQue maciezaNos seus cabelosQue cheiro mornoNa sua carneQue gosto doceNa sua boca!Chupam gileteBebem shampooAteiam fogoNo quarteirãoPorém, que coisaQue coisa loucaQue coisa lindaQue os filhos são!

 

Sem mais palavras. Apenas sinto e sinto...

 

Renata

23/03/10

 

 

 

  


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