QUESTÕES QUE CONSTROEM O ESPÍRITO NA LÍNGUA PORTUGUESA



QUESTÕES QUE CONSTROEM O ESPÍRITO NA LÍNGUA PORTUGUESA

Os professores de português poderiam evocar, para os exames de concursos públicos ou o ENEM, questões que facilitassem o trâmite entre o espírito da época e o Espírito eterno.

Tenho muito a agradecer a Deus e aos meus pais por terem escolhido ótimas escolas onde educar seus filhos, e só mui recentemente vim descobrir que as maiores contribuições à minha maturidade e espiritualização foram alcançadas justamente porque naquelas escolas, desde o meu curso primário (equivalente ao que é hoje o 1o Grau), havia excelentes professores de língua portuguesa. Lembrando agora, até chego a pensar que os diretores dos inesquecíveis colégios que educaram o "pensador selvagem" tinham uma lúcida consciência do papel crucial que a linguagem organizada exerce no desenvolvimento sadio da mente humana.

Na primeira escola da História que escrevi, chamada "Regina Coeli", foi a professora Zélia Cordeiro, uma sábia de saudosa memória, que nunca deixou o articulista-criança sem um pedido de redação, contando aos pais dele que "esse menino vai longe, pois ninguém na sala escreve como ele". Foi Zélia, cujo sobrenome homônimo de meu avô paterno não guardava com ele nenhuma relação de consangüinidade, quem abriu as portas do Jardim das Hespérides e me mostrou os pomos, as ninfas, o outro lado da porta, onde os espaços ganham muitos nomes, na ortografia e na ortofilia, para soltar das mãos um filhote de águia nascido fora de seu tempo.

Na segunda escola, já no Colégio Batista Santos Dumont, a História registrou 3 (três) nomes de mestres da língua que aluno algum daquela idade, mesmo no Primeiro Mundo, chegou a sonhar ter o privilégio de estudar com personalidades tão generalistas quantoespecialistas, de quem faço questão de recordar "as outras horas de que choras as outroras":

(1) O primeiro mestre foi José Nogueira, daqueles de quem se pode dizer 'nos pequeninos frascos estão os grandes perfumes', num pequeno grande que me fez galgar o cimo das nuvens na literatura e na gramática. Sua profunda seriedade de humor (quase sempre confundida com mau-humor) e seu senso de duplo-sentido, fizeram das aulas de português e das leituras sugeridas uma arte capaz de tirar o moleque briguento dos campos de futebol, conduzindo-o aos campos alísios dos lexicólogos franceses. Encontrar-se com ele no ontem poético foi certificar-se de que a leitura é capaz de rejuvenescer o corpo, a partir da cura d'alma.

(2) O segundo mestre foi Rogério, apelidado Três Quinas, que por ter herdado um crânio tão estranho quanto inteligente, analisou todas as poesias do Augusto dos Anjos, do Fernando Pessoa e do João Ninguém, em sua própria casa, dizendo que um dia o tal João seria "um Pessoa" e no Além "um Além". Foi Rogério quem intuiu que o afeante morfemático de L.G. de Miranda Leão deveria ser "feito e ressurreto verbo", pois nunca o conseguia pronunciar sem o "R" do infinitivo, "quêr" o tornava menos feio...

(3) Depois a História pessoal conheceu o poeta Horácio Dídimo, de quem este articulista herdou toda a sua veia concretista, com seus primeiros livros poemistas endossados por ele, que em sala de aula quase fazia o seu sobrenome rimar com um dínamo de sagacidade elétrica para descobrir, no aquém e no Além, os estranhos "passos que parem poemas". Ele ensinou a alegria das aliterações, o entusiasmo das rimas e a arquitetura das estrofes, que inspiraram o livro "Lago de Cristal" e o "O Alicerce da Razão", todos poéticas figuras de português e arquitetura.

(4) No Terceiro Grau, nas disciplinas de Língua Portuguesa do Curso de Administração de Empresas, nas cadeiras de Semiótica e Teoria Geral da Comunicação, conheci o mestre dos mestres do falar escorreito e do escrever perfeito, que se igualava a um Luiz Carlos Lisboa e um CS Lewis. Refiro-me ao escritor e poeta José Costa Matos, que na ocasião eu já podia tê-lo visto na TV, se gostasse de programas de auditório. Ele me ensinou quase tudo o que aprendi sobre o espírito e a Transcendência, a poesia e a prosa, o amor aos livros, a lealdade, a coragem e a fé, o amor da Mulher, a amizade entre mestre e discípulo, com todas as lições de enriquecimentos recíprocos.

Mas eu nem deveria ter citado esses mestres cuja saudade (algumas in memoriam) pode literalmente "molhar" o papel sobre o qual rascunhei meu passado mais feliz, pois em mim as glândulas lacrimais nunca distinguiram bem o que era rir ou chorar, o que me fez algumas vezes passar vexame ao lado de quem chorava ou ria. Todavia vale a lembrança para registrar, num tempo onde a consciência ortográfica é quase nula, sete questões de português que meus mestres usaram como "curiosidades da língua" para despertar alunos que na época eram conhecidos como "da turma do 'NQO'!" ("Não quer ovo"), nos moldes do "O homem que calculava". Eis as 'argutas argüições' do tempo.

1a) Se alguém quer dizer que um objeto voador pode se manifestar mudando sua forma discóide para uma forma quadrada, deverá usar qual dos verbos abaixo? [] a) O objeto pode se enquadrar.

[] b) O objeto pode se quadricular. [] c) O objeto pode se enquadradar. [] d) O objeto pode se quadrificar. [] e) O objeto pode se quadricularizar.

2a) Sendo todas as construções abaixo válidas, diga qual delas melhor descreve quando as plantas ganham uma tonalidade maior de clorofila: [] a) Elas ficam mais esverdeadas. [] b) Elas ficam mais esverdeantes. [] c) Elas ficam mais verdejantes. [] d) Elas ficam mais esverdejantes.

[] e) Elas ficam mais esverdejadas.

3a) Qual dos fenômenos ocorre tanto na Medicina quanto na Filologia? [] a) Sindérese.

[] b) Síncope. [] c) Apócope. [] d) Sístole. [] e) Diástole.

4a) Se você fosse um professor de português que estivesse num show de humor, qual das opções abaixo você diria ser o diminutivo correto de "galinha": [] a) Galinhazinha. [] b) Galiinha.

[] c) Franguinha. [] d) Pintinha. [] e) Pintazinha.

5a) Analise os substantivos mente, foca, trava, caminho e casa. Qual dos verbos abaixo, com origem em substantivo, tem antônimo denotativo em relação ao sentido do verbo raiz?

[] a) desmente; [] b) desfoca; [] c) destrava; [] d) descaminho; [] e) descasa.

6a) Analise os substantivos mente, foca, trava, caminho e casa. Qual dos verbos abaixo, com origem em substantivo, tem significado conotativo mais profundo em relação ao sentido do verbo raiz?

[] a) desmente; [] b) desfoca; [ ] c) destrava; [] d) descaminho; [] e) descasa.

7a) Então explique o que você entende do verbo escolhido na questão anterior.

Bem. A saudade chegou e paralisou minhas mãos solícitas daqueles tempos idos, antes que fiquem trêmulas dos tempos vindos. Toda a formação herdada daquelas figuras literalmente e literariamente exemplares gestou o João de hoje, que já alcançou a humildade de reconhecer em si um consciente e com ele as falhas inerentes ao contínuo aprendizado, iniciado antes da placenta e prorrogado após o pós-parto cósmico, no eterno aperfeiçoamento planejado para as almas. Agora no agora, In the eye of the storm, quando o espírito ainda caminha pelo único Caminho, é a luz dada àqueles homens que o ilumina, para que meus passos não vacilem.

Prof. João Valente de Miranda.

([email protected]).


Autor: João Valente


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