MARK TANSEY: O PÓS-MODERNO E A NOVA FORMA DE INTERPRETAR A ARTE



Não há um consenso entre os especialistas sobre o momento de origem da era pós-moderna. Alguns afirmam que o pós-modernismo, movimento social e cultural que sucedeu a era industrial teve seu início na década de cinquenta, com a demolição de uma série de edifícios residenciais populares de arquitetura moderna, as chamadas máquinas de morar, que se revelaram ambientes hostis à qualidade de vida urbana. Outros consideram o fim da Segunda Guerra Mundial o marco zero da era pós-moderna, por representar o colapso do modelo industrial fordista e o estabelecimento mundial de novas ordens políticas e culturais antagônicas. Para outro grupo, o pós-moderno surgiu no campo das artes, antes mesmo da virada da década de 40 do último século na Espanha, uma geração antes de seu aparecimento na Inglaterra ou nos EUA.

Tanta controvérsia se explica pelo fato de ser um fenômeno recente e inacabado, sendo muito difícil analisá-lo com o distanciamento adequado para uma definição satisfatória. Devido a isso, a própria existência da chamada pós-modernidade e do pós-modernismo são questionados. O que não se pode negar são as mudanças bruscas ocorridas a partir da década de 70 na sociedade capitalista. A Revolução Técnico-Científica, as grandes guerras, a revisão dos valores sociais e políticos provocaram uma ebulição no mundo ocidental de forma que se chegou a dizer, após a vitória capitalista no fim da Guerra Fria, que a própria História havia chegado ao fim, num futuro que seria marcado pelo caminho único que todas as sociedades deveriam seguir. Os conflitos que vieram a partir da década de 90 e se estendem até os dias de hoje, e a recente crise econômica, cujos desdobramentos ainda não podem ser descobertos provam que a teoria do fim da História estava mais do que equivocada, mas também reflete o painel de dúvida e indefinição que a pós-modernidade proporcionou.

O Modernismo, movimento cujo auge aconteceu no início do século XX, buscava uma nova maneira de interpretar a arte e a vida, criando diretrizes e manifestos para superar a ultrapassada e tradicional ordem estabelecida até então. Assim como aconteceria anos mais tarde, foi uma grande renovação tecnológica e econômica o propulsor do novo movimento. A crescente industrialização e a urbanização dos países desenvolvidos ajudaram a criar uma sociedade marcada pela proximidade com a tecnologia, a máquina, o automóvel, o futuro. A existência das classes sociais, cujos principais exemplos são os massivamente falados burguesia e proletariado, foi também uma geradora de conflitos, que buscaram ser retratados, analisados e resolvidos pelos pensadores modernistas. Com isso, tanto a política, quanto as artes, a arquitetura, o design, a filosofia modernista atingiram uma aura mais séria, amarrada e um tanto pretensiosa, fazendo-se crer como a grande solução para os problemas da humanidade, a maioria provocados pelo próprio pensamento moderno. Foi a era das renovações artísticas, da existência do minimalismo, do funcionalismo, da rejeição ao supérfluo, da frieza, da busca pela pureza formal e conceitual.

O Pós-Modernismo surgiu para romper as correntes da Modernidade. A economia globalizou-se, a sociedade tornou-se menos politizada, menos nacionalista, a arte perdeu sua gravidade elitista, deixando de tentar interpretar a vida para apresentá-la, utilizando objetos cotidianos para compor suas obras. A arte sai dos museus e galerias e toma as ruas, as performances ganham força e a arte e a arquitetura pré-modernista volta a ser valorizada, não como uma ode ao passado, mas como uma espécie de afronta à assepsia modernista. É importante salientar, porém, que o pós-modernismo não significou um retorno ao passado. Pelo contrário, a forma com que os pós-modernos se apropriaram de elementos contrários à cultura modernista foi representou mais a tentativa de aproximar a arte das pessoas através de peças pertencentes à memória coletiva transformadas de maneira irônica e brincalhona do que um retorno propriamente dito das artes mais tradicionais.

O movimento pretendia quebrar as barreiras que existiam entre a vida cotidiana e a arte através da subversão das formas, das funções, dos valores, da semântica de cada objeto/obra de arte retratado. Através de colagens, montagens, novas formas de utilizar materiais etc, o pós-modernismo ganhou força e forma, com artistas como Andy Warhol, Roy Lichtenstein e Robert Rauschenberg, que compunham suas obras com fotografias, quadrinhos, objetos banais de uso cotidiano e os convertiam em obras de arte. Outro artista pós-moderno, que seguiu uma linha diferente da exibida nas obras dos três artistas foi Jackson Pollock, mostrando que na salada de estilos da segunda metade do século XX havia espaço para a abstração modernista, bem como para qualquer outra manifestação artística.

Na música, na literatura e no cinema, o pós-moderno também mostrou sua presença através de movimentos como o punk rock, o new wave, que buscavam a experimentação e o uso de equipamentos eletrônicos, tão presentes na nova realidade marcada pela difusão da tecnologia, e o neo-realismo e a nouvelle vague, cujos filmes tinham como características os questionamentos e as contestações da ordem que se impunha no mundo moderno, num formato de narrativa amoral e não-linear.

Merece destaque, no entanto, o fato de que não é possível definir o pós-moderno como melhor que o moderno, ou vice versa. Na verdade, é impossível sequer qualificá-los como bons ou ruins. A questão é que o clima do "tudo pode" gerado pela efervescência do pós-modernismo deu destaque a artistas geniais, mas apresentou ao mundo uma crise de identidade no campo das artes, tendo como protagonistas muitos aproveitadores que, em busca de fama e dinheiro, desvirtuaram as intenções do movimento e ao invés de aproximar a arte das pessoas, ajudaram a erguer barreiras contra a arte contemporânea, calcadas em preconceitos forjados pela charlatanice dos supostos "artistas". Alguns especialistas, inclusive, afirmam que a própria arte já não é mais a mesma. Outros vão mais longe e afirmam que ela chegou ao fim. O fato é que essa nova arte não tem uma característica única. Ela é multifacetada por natureza e pelas condições que a vida pós-moderna, com seus computadores, globalizações, individualismos e liberdades lhe impuseram.

Neste contexto de ebulição artística e social, destacaremos neste artigo a vida e a obra de um artista de obras e métodos instigantes, marcas do pós-modernismo, que não têm, no entanto, muitos estudos em língua portuguesa.

Mark Tansey, artista norte-americano nascido em 1949, na Califórnia, ficou relacionado a um movimento conhecido como neo-realista. O próprio tratou de negar a definição, afirmando que retratar a realidade já cabia à fotografia desde o século XIX. O surgimento da fotografia foi um dos principais responsáveis pela abstração modernista e que a partir do surgimento do pós-modernismo a nova função da representação era ir além de capturar o real.

De fato, Mark Tansey não se limita a pintar obras primorosamente detalhistas. Suas pinturas monocromáticas como a fotografia trazem consigo uma carga enorme de ironia, metáfora e principalmente, a "apropriação" de outras obras de arte, personalidades, elementos históricos, científicos e culturais para recombiná-los e transformar sua realidade. Isto o torna pós-moderno como poucos.

Bibliografia

SANTOS, Jair Ferreira dos. O QUE É PÓS-MODERNO. 1ª Edição. S.Paulo: Brasiliense, 1986.

HARVEY, David. CONDIÇÃO PÓS-MODERNA: UMA PESQUISA SOBRE AS ORIGENS DA MUDANÇA CULTURAL. 4ª Edição. S.Paulo: Loyola, 1989.

FEATHERSTONE, Mike. CULTURA DE CONSUMO E PÓS-MODERNISMO. 1ª Edição.S. Paulo: Nobel,1995

HOW STUFF WORKS - CALIBRADORES. Site sobre curiosidades. Disponível em http://carros.hsw.uol.com.br/calibradores.htm. Acesso em OUT/2008


Autor: Igor Cesar


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