COMPLICA-SE DUPLAMENTE O CARDEAL WALTER KASPER



COMPLICA-SE DUPLAMENTE O CARDEAL WALTER KASPER

A resposta do Cardeal Walter Casper e por extensão a do Vaticano, não apenas não responde à questão da pedofilia, como deixa a Igreja ainda em piores lençóis que antes.

O mundo está às voltas com a injustiça e a degeneração moral, que toma, literalmente, todos os quatro cantos do mundo, sem escolher idade, classe social, profissão, cor, raça ou mesmo credo. Em toda parte estão os pedófilos e tarados por crianças, e isto é um sintoma não apenas apocalíptico e desesperador, mas estranho até o mais profundo da expressão. É um fenômeno vergonhoso e sem dúvida antigo, a ponto de ser citado várias vezes no Velho Testamento. A gravidade do que está ocorrendo hoje em dia se relaciona à infinidade de casos, à quantidade de casos filmados e à falta de pudor e de piedade dos seus "agentes". Este é o quadro.

A pedofilia e o adultério, como qualquer outro pecado, sempre será mais visível e chamativo quando cometidos por elementos do clero, e isto constitui uma das facetas mais vis e assombrosas do quadro atual. O fato de os pecados da Igreja serem mais vistosos não pode levar os demais pedófilos a esquecerem as suas próprias crueldades contra menores, e muito menos as pessoas de bem a esquecerem que tais taras são universais, e podem estar muitas vezes dentro dos lares ou em seu próprio lar, como infelizmente é o que aponta a maioria das estatísticas. Assim, portanto, não se pode negar que o fenômeno é, diabolicamente, muito mais nefasto do que pode supor a nossa vã filosofia e a nossa vã sociedade, que adquiriu o terrível hábito de silenciar com o aumento da casuística. Por descrença na punição ou por maquiavélica conivência, o fato é que a sociedade se calou "cedo demais", ou silenciou irresponsavelmente, aquilo que jamais poderia passar sem uma dor profunda e uma entusiástica reação coletiva.

A própria Igreja Católica (as outras também) se aproveitou dos ambientes aveludados ou permissivos em que o assunto geralmente é levado a morrer, para esconder culpados ou prorrogar mandatos, confiando no esquecimento e até na depravação da época. Recentemente até um cardeal ligado ao Papa chegou a fazer uma declaração no mínimo influenciada pelo medo clerical de perder o controle financeiro da Igreja, preferindo manter este a todo custo, o que causa séria estranheza, uma vez que, no fundo, é uma troca da santidade pelo dinheiro. Ele errou duplamente ao dizer que "o celibato não tem relação com os abusos sexuais de menores cometidos por padres". Será?

Errou duplamente porque a Igreja se diz baseada na Bíblia, e esta aponta o matrimônio (aliado à fidelidade) como uma das formas de se evitar a depravação/promiscuidade do mundo. O Novo Testamento chega a dizer que "honrado seja o matrimônio e bendito de todos seja o leito sem mácula" (Hb 13,4), significando a cama onde os cônjuges fazem amor e procriam. O apóstolo faz duas declarações neste sentido que falam por si. Uma vez ele disse que "o bispo [todo homem] seja marido de uma só mulher" (I Tm 3,2) para dar bom testemunho à comunidade pela qual vela espiritualmente. Se isto vale para os leigos, o que não dizer para o clero? Depois Paulo chega a dizer que é fundamental que o casal casado não se desgrude um só tempo um do outro, para (vejam bem) não sofrerem tentações de sexo extra-conjugal (I Co 7,5). Isto basta.

Portanto, se homens comuns sofrem tentações diárias, mesmo em ambientes "puros" como os de antigamente, o que não dizer dos ambientes erotizados da Pós-modernidade? E se eu ou você somos tentados, sem sermos clero, por que diabos o tentador não lançaria tentações ainda maiores para o clero? É o próprio clero quem reconhece que, assim como Jesus foi muito mais alvo das seduções do inferno, os padres obviamente o serão muito mais que os leigos (a maioria já entregues de corpo e alma "às delícias da carne").

Com efeito, as declarações do Cardeal Walter Casper (e do Vaticano, por extensão) são completamente infundadas e levianas, e põem a própria Igreja em risco, se é que para a Santa Sé os riscos espirituais são menos perigosos do que os financeiros! Um mundo de padres depravados tem que ser e será sempre muito pior do que um mundo SEM igreja! (aliás, sem uma igreja papal): isto deveria ser consenso clerical.

Finalmente, os argumentos a favor do celibato OBRIGATÓRIO se derretem como manteiga ao fogo quando nos lembramos das demais igrejas cristãs, incluindo a Anglicana e outras até de confissão católica, em que os padres podem casar normalmente. E ainda fica no ar a terrível estranheza que se traduziria assim: se Roma sabe que o celibato obrigatório põe um fardo muito pesado nas costas dos padres (alguns deles na flor da idade e formosos, como o padre Fábio de Melo) e deixa uma brecha diabólica para a tentação da promiscuidade, o que afinal estaria por trás desta norma caduca e até biblicamente questionável? Esqueceu-se Roma que o primeiro papa (São Pedro, segundo ela) era casado? Por que logo Pedro pode e os outros não?

Prof. João Valente de Miranda.

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Autor: João Valente


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