Literatura Infantil: Autoritarismo e Emancipação



MAGALHÃES, Lígia C. História infantil e pegagogia. In:ZILBERMAN, Regina & MAGALHÃES, Lígia C. Literatura infantil: autoritarismo e emancipação. 2ªed. São Paulo: ática, 1984.

A autora no texto "história infantil e pedagogia" traz à tona discussões sobre literatura infantil e a pedagogia na formação do sujeito. Além de levantar questões como o lugar que a criança ocupa enquanto leitor, sujeito e os pressupostos teóricos que embasam o texto para a criança e a concepção de língua abordado nestes textos.

Para Magalhães, a literatura infantil surgiu vinculada aos objetivos pedagógicos em que o didatismo e a utilidade educativa legitimaram a difusão dos livros infantis. Nesse sentido, a preocupação pedagógica dessa literatura é definida pelo seu destinatário que é a criança.

Por essa razão, o vínculo da história infantil com a pedagogia se faz, muitas vezes, sob viés moralizante como meio de transmitir valores sociais, validar suas instituições e garantir a permanência da organização social. Então, o sujeito que se pretende formar é um sujeito ideal, centrado no seu cogito, na sua consciência e, também, o que ignora o sujeito inconsciente.

A negação do sujeito inconsciente resulta no não reconhecimento da criança no modelo oferecido, além de ignorar os processos ideológicos de produção e reprodução da sociedade.

Ao idealizar uma situação para uma dada realidade, a pedagogia dificulta a relação teoria e prática, já que preciso que essa relação seja construída dialeticamente numa contínua elaboração e re-elaboração.

A autora levanta questões acerca do interesse pedagógico na história infantil e de que forma a preocupação com o destinatário o aliena, considerando importante no âmbito da literaturaa concepção de língua presentes nos textos literários.

Com isso, entende-se que a concepção de língua como expressão e comunicação presentes nas histórias infantis não permite que o leitor dialogue com a obra, pois essa visão restringe o sentido do texto ao privilegiar a estrutura em detrimento da multiplicidade de sentidos.

A língua é um lugar onde se trabalha o inconsciente e por isso é preciso atentar para que o aspecto pedagógico não predomine no texto e a enunciação não ceda lugar aos estereótipos.

Para explicar melhor isso, Magalhães analisa os contos "As fadas", de Charles Perraut, e"O patinho feio", de Andersen, mediante a submissão dessas narrativas ao ditames de uma pedagogia que fixa os lugares que o sujeito deve ocupar.

A autora considera que na linguagem é manifestada a concepção de mundo, de cunho ideológico, em que a informação está a serviço dos interesses ideológicos na formação do sujeito. Assim, a formação e a informação são indissociáveis, pois o que determina a composição de personagens e a própria narrativa é a concepção de conhecimento.

É necessária uma atitude crítica em relação às histórias infantis, na escolha dos textos para que o literário sobreponha aos aspectos pedagógicos.Além disso, é preciso conceber a língua sob aspecto sociointeracionista, pois o sujeito ao interagir com texto, faz inferências, predições, antecipações num processo em que ambos se transformam, já que o significado é sempre uma relação do texto com o contexto sócio-histórico-cultural.


Autor: Roviane Oliveira


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