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"Onde está o outro ? onde está o diferente ? onde está o comum a toda gente? Onde estão as provas, onde estão os fatos ?
As boas novas eram só boatos ?" H. Gessinger.

Período das chuvas, verão na nossa capital piauiense. Dentre outras consequências, pra mim, o que mais caracteriza essa época são as chamadas viroses oportunistas. Graças a algumas complicações respiratórias com as quais convivo desde menos jovem ainda, essas se aproveitam destes problemas. Ou seria azar? Não sei, os médicos são filósofos e nunca chegam a um consenso. Pois bem, recentemente estive fazendo tour por algumas clínicas, e - só agora - não pude deixar de perceber uma coisa. Digo "só agora" por que existe uma diferença entre ver, e tomar consciência do que tem por trás do visto: enxergar, notar, saber, conhecer, pensar.

Bom, mas vamos à coisa: as crianças, têm diversos tipos de passatempo nesses lugares. Ou melhor, não só em clínicas, mas na maioria dos locais. Lugares pra brincar, televisões transmitindo desenhos animados. Então eu fui pensar, por que? Por que, é claro, os pestinhas fazem barulho se ficarem ociosos, incomodam os pais, proliferam a desordem ambiental. Então aí transferi meus pensamentos a um certo espelho. Eu, aos 15 anos, "adolescente." Um dia chamados "aborrecentes". Um dia mortos por serem ameaça.

Agora não incomodamos mais nas clínicas. Não incomodamos nos hospitais. Não incomodamos nas escolas. Não incomodamos, logo não somos dignos do esforço público da distração. Não sabem dizer quando começamos, quando terminamos. Até que ponto somos adolescentes?

Quando a nossa maior parte não é mais aquela seiva corrosiva do incoveniente. Falo em partes, pois esta seiva, mesmo na vida adulta ainda está lá. Só não é mais tão insuportável contê-la. Não ataca mais tanto os nervos. Como antes, deveria, atacar.

Devemos irritar, torrar paciências, abusar de conjunções adversativas. Colocar em pauta polêmicas, e falar o que genuinamente pensamos. Se quando crianças, a condição é a desculpa para os comentários incômodos, os anos farão tanta diferença assim? Se é através deles que construímos a imagem adulta. E quando o somos, na maioria das vezes somos pegos pelas garras da contenção verbal exacerbada. Então vamos exagerar enquanto esse direito é nosso. Se não devemos literalmente nada a ninguém. "Dever" é um direito que se conquista com o tempo. Mas é uma via de mão dupla - ou faca de dois gumes, a metáfora que quiser - vem com o preço da dependência.

Não a dependência aos nossos pais, mas outro tipo de dependência. Menos afetiva, mais financeira. A mudança é boa, pois é mudança, e vem ao tempo que tem que vir. E pra estarmos preparados pra ela, só aproveitando o que veio antes. Então repito, aproveitemos. Aproveitemos que temos voz diferenciada. Aproveitemos que temos o luxo de ser criticados e discordados, apenas por criticar e discordar. E que a outra opinião não vai mudar quase nada na nossa sobrevivência. Não na sobrevivência, sim na existência. E é isso que nos engrandece.

Pois quando me perguntam o que eu quero ser quando crescer... Pra quê mais do que "crescer"? Quero ser GRANDE. Mas não agora. Agora eu só quero gritar. E colocar aqui, dentre outras utilidades, os meus gritos. Não garanto que serão dignos "de gritos", mas serão gritos. Meus e da minha notável e digna companheira Zefinha (ou Josefa Petit, quando a formalidade nos dilacerar). Nossos olhos... nossos gritos.

E quero nada mais do que outros gritos como resposta. Quero ver discordância, discussão. Quero ver tom elevado. Quero fazer jus à vez e Vooz desse criativo slogan. E quero ser só quem vai iniciar com a provocação. Quero ver defesa e ataque. Como eu costumo dizer, que posso até estar errada, mas se você não souber me mostrar isso, meu erro ficará sendo a verdade (alguma corrente filosófica disse isso, só não lembro qual. Fica pro meu curso...) E isso deve lhes causar revolta, inquietude. Quero ver o jogo virar, diversas e diversas vezes.

"Enlou...cresça." Enlou...cresçamos. Juntos, até onde pudermos.
Autor: Cinthia Lages


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