COMPORTAMENTO DA FREQÜÊNCIA CARDÍACA E DISPÊNDIO ENERGÉTICO DE UM ATLETA PARAOLÍMPICO



Manoel da Silva Imperial Junior, aluno de graduação de Educação Física, UNP

RESUMO:

Estudos buscando um maior aprofundamento em esportes paraolímpicos ainda são muito raros em relação a outros estudos em meio à ciência do esporte na atualidade, porém o intuito deste estudo foi descrever a intensidade de treino de um nadador de altíssimo nível tendo como base a sua freqüência cárdica e mostrar o seu gasto energético durante o tempo de treino, que foi de 62 minutos. O atleta avaliado é um destaque internacional, medalhista paraolímpico e um dos melhores do mundo em sua categoria, lesado medular (paraplégico) sem movimentos nos membros inferiores. Foi obtido a parti de avaliação o IMC (índice de massa corporal), consumo de oxigênio predito, freqüência cardíaca máxima, freqüência cardíaca de repouso, taxa metabólica basal (TMB) e as horas de sono que precederam o treino. A seção de treino do atleta foi monitorada por meio de um frequêncimetro, onde a cada 5 minutos de treino a sua freqüência era aferida. O dispêndio energético foi calculado com base no sexo, idade, peso e tipo de atividade que praticava (natação). Com um bom condicionamento físico o atleta suportou mais de 60% da seção de treino com sua freqüência cardíaca máxima entre 85% e 95%, com isso podemos comprovar que a intensidade do treino foi bastante alta em relação aos dados mostrados, e que a freqüência cardíaca e o gasto energético podem ser parâmetros para determinação da intensidade em esportes aquáticos paraolímpicos, por fim obtivemos dados importantes e claros para uma pesquisa com um atleta de nível paraolímpico que estaria a vésperas de uma importante competição.

Palavras-chaves: Freqüência cardíaca, Intensidade, Paraolímpico.

INTRODUÇÂO:

A freqüência cardíaca é um dos parâmetros mais simples e que mais fornece informações cardiovasculares. A freqüência cardíaca reflete a quantidade de trabalho que o coração deve realizar para satisfazer as demandas aumentadas de uma atividade (WILMORE E COSTILL, 2001). Antes do inicio do exercício, a sua freqüência cárdica pré-exercicio geralmente aumenta bem acima do valor de repouso normal. Isso é denominada resposta antecipatória. Essa resposta é mediada através da liberação do neurotransmissor noradrenalina pelo seu sistema nervoso simpático e pelo hormônio adrenalina pelas glândulas adrenais. A freqüência cardíaca máxima pode ser estimada tomando-se como base a idade, pois a freqüência cardíaca máxima apresenta uma diminuição discreta, porem constante, de aproximadamente um batimento por ano, e que começa entre 10 e 15 anos de idade (WILMORE E COSTILL, 2001).

O gasto energético medido pelo consumo de oxigênio aumenta linearmente em relação à velocidade, apesar do fato da resistência ao movimento através da água aumentar com o quadrado da velocidade. Há grandes diferenças no custo energético dependendo do estilo do nado e do nível de habilidade do nadador (HOLMER, 1972; PENDERGAST et al, 1977).

Os esportes para portadores de necessidades especiais, ainda estão procurando seu lugar em meio à ciência desportiva, poucas pesquisas ainda são feitas com vista para esse tipo de estudo, porem sabemos que esse ramo do esporte estar e pleno desenvolvimento tanto a cunho cientifico quanto social.

MATERIAIS E METODOS:

Para desenvolvimento do estudo foi monitorada a freqüência cardíaca de um atleta de alto nível do cenário internacional da natação para portadores de necessidade especiais, do sexo masculino com 16 anos de experiências nos mais diversos tipos de competições na natação e sendo varias vezes medalhista nas paraolimpíadas. O atleta concordou em participar do estudo voluntariamente e submeteu-se a todos os protocolos e teste realizados. Os dados obtidos do atleta foram: idade, altura, índice de massa corporal (IMC), freqüência cárdica de repouso, que se deu pela media da aferição durante três dias consecutivos logo ao acordar pela manhã, freqüência cardíaca máxima segundo, (KARVONEN, 1957), massa corporal, horas de sono que antecederam ao treino, consumo de oxigênio predito (em função da idade e sexo) e cálculos da taxa metabólica basal e gasto energético durante a seção de treino de 62 minutos, utilizando como parâmetro a tabela de(AINWORTH B.E, et al, 2000). Os equipamentos usados foram: para a aferição da freqüência cardíaca de repouso, máxima e de treino um Polar S6 (Polar Electro, Oy, Finlândia). Para mensuração da massa corporal foi usada uma balança de variação de 100 gramas da marca Maxilise. Os testes têm um bom nível de autenticidade e foram aplicados de acordo com a literatura. As mensurações da freqüência cárdica foi feita a cada cinco minutos de treino, tendo como descrições do treino completo foram realizados 10 minutos de aquecimento que se deu por meio de 400 metros de nado livre a uma intensidade baixa a moderada, após o aquecimento foi feito uma parte intervalada de treino que durou em media 35 a 40 minutos e por ultimo foi realizada uma parte de volta a calma mais conhecida entre os nadadores como (soltura) que serve de relaxamento pós treino. A maior parte o treino teve uma alta intensidade muito bem suportada pelo atleta com bom nível de condicionamento físico.

RESULTADOS:

Através da pesquisa foi possível mensura a intensidade do treino com base na freqüência cardíaca e o gasto energético do atleta, esse ultimo varia muito dependendo do condicionamento físico, habilidade do nado, nesse caso nado CRAWL, e outras variáveis como idade, sexo e nível da intensidade da atividade.

A tabela I mostra as medidas descritivas do atleta avaliado contendo todas as variáveis usadas no presente estudo.

TABELA I: Medidas descritivas das variáveis do atleta avaliado.

IDADE

36 anos

MASSA CORPORAL

64, 200 kg

ALTURA

1,71 m

IMC

22 Kg/m2

TMB

67,65 Kcal

H.S

08h

F.C DE REPOUSO

60 BPM

F.C MAXIMA

184 BPM

C. DE O2 PREDIO

40,2 MlO2/kg/min-1

IMC= índice de massa corporal, TMB=taxa metabólica basal, H.S= horas de sono, F.C repouso= freqüência cardíaca de repouso, F.C máxima= freqüência cardíaca máxima, C.O2 Predito= consumo de oxigênio predito.

Na tabela acima se mostra as variáveis e suas respectivas medidas que foram obtidas através avaliações. Pode-se observar que o atleta apesar de uma idade mais avançada do que o normal para nadadores, porém tem uma freqüência cárdica de repouso dentro dos padrões para atletas, sua TMB mostrasse dentro de um patamar esperado e suas horas de sonos são precisas para uma boa recuperação pós-treino já que o individuo avaliado treina cinco vezes por semana entre duas e quatro horas diárias.

GRAFICO I: Relação entre o Percentual da freqüência cardíaca máxima e o tempo em minutos.

% F.C. M = percentual da freqüência cardíaca máxima.

(-) = relação entre a F.C. M e o tempo.

O gráfico acima mostra a relação entre a porcentagem da freqüência cardíaca máxima e o tempo em minutos do treino do atleta. Podemos observar que o comportamento de sua freqüência é bastante baixo no inicio do exercício, nesse caso no momento do seu aquecimento feito em 400m nado crawl numa intensidade de leve a moderada que obteve um percentual de 40% da freqüência cardíaca máxima, em torno de 109 batimentos por minuto. Após o aquecimento tivemos a parte principal do treino onde foi feito um treinamento intervalado de seis tiros de 100m em piscina curta (25m) com descanso de 10 segundos a cada 25m, e quando completado os 100m o atleta descansava entre três e cinco minutos ou ate sua freqüência cardíaca retornar a 100 batimentos por minuto, essa parte principal teve um período de 30 a 45 minutos de duração onde a intensidade do treino foi avaliada entre 85% e 95% de sua freqüência cardíaca máxima, tendo como menor freqüência cardíaca em números de batimentos 161 batimentos por minuto (80% - 85% F.C.M) que foi obtida no primeiro tiro de 100m, e como maior freqüência cardíaca foi aferido 176 batimentos por minuto (90% da F.C.M). Com isso podemos constatar que a intensidade do treino Foi muito alta e que o atleta estar bastante condicionado partindo do principio de suas características e suas necessidades especiais.

Em relação ao dispêndio energético do atleta temos a taxa metabólica basal, que é uma taxa mínima de calorias ou de energia que um individuo precisa pra manter o seu corpo em pleno funcionamento se ficasse 24 horas por dia na posição horizontal sem fazer esforço, que nesse caso seria de 67,65 Kcal (Quilocalorias) para o atleta avaliado. E o gasto total de calorias durante apenas o treino foi de 516,85 Kcal, então podemos inferir que o atleta gás 516,85 Kcal por seção de treino em condições máximas de 85% a 95% de sua freqüência cardíaca máxima.

DISCURSSÃO:

O objetivo deste estudo foi mostrar o comportamento da freqüência cardíaca em relação ao nível de intensidade do treino e achar o gasto energético do atleta de natação durante um treino de alta intensidade na piscina. Os resultados demonstram que o atleta de elite avaliado apresentou uma boa capacidade anaeróbia por suportar 70% a 75% do treino com intensidade de 85% a 95% de sua freqüência cardíaca máxima. Para melhor detalhe do treinamento o atleta conseguiu um tempo de 15´´88 (quinze segundos e oitenta e oito centésimos) em 25 metros, um excelente tempo para a sua categoria, marcado durante a primeira serie de 25m do primeiro tiro de 100m, relatado pelo mesmo que não conseguia fazer um tempo como esse a mais de cinco anos de treino.

Durante o inicio do exercício houve uma grande variação da freqüência cárdica pelo motivo do aumento d intensidade do treino, por esse motivo a freqüência cardíaca é um ótimo parâmetro para definir a intensidade de treino de um atleta, seja um treino fora o dentro da água.

Diversos indicadores fisiológicos podem ser usados para quantificar a intensidade do esforço, em atividades realizadas tanto dentro como fora do ambiente aquático. Entre eles pode-se citar a freqüência cardíaca (FC), o consumo de oxigênio (VO2), a percepção subjetiva do esforço (PSE) e os limiares ventilatório e de lactato (FABIANE INÊS GRAEF, 2006).

Seguindo as necessidades especiais do atleta constatamos que a falta de movimento dos membros inferiores lhe causam grande perda de estabilidade, equilíbrio e sustentação em relação à execução do nado, já que as pernadas têm cerca de 25% a 30% da força no nado crawl e as braçadas ficam com 70% a 75% dessa força.

Então como esse atleta consegue ser um dos melhores em sua categoria? Talvez esse atleta tenha desenvolvido um estilo no nado Crawl particular e diferente dos demais já visto, não em termos de uma coisa fora do normal, mas de um estilo diferenciado e adaptado para sua necessidade durante o nado, devido essa adaptação em relação ao equilíbrio e sustentação e o seu tempo de treino e competições dos mais variados níveis, com isso o atleta pode ter uma maior diferença dos demais atletas de sua categoria.

O gasto energético também é influenciado pelo motivo do atleta não usar as pernas para a execução do nado, porém os membros superiores têm um maior gasto energético devido à solicitação desses, pois a literatura pouco vem trazendo sobre gasto energético associado ao esporte com deficiência física.

CONCLUSÃO:

Concluímos que o dispêndio energético do atleta esteve dentro dos padrões para indivíduos atletas, pois o gasto energético estar diretamente relacionada com a intensidade do treino, esta ultima por sua vez tem uma relação direta com a freqüência cardíaca já citada antes por vários autores no meio da ciência do esporte, E que este atleta apresenta um ótimo condicionamento físico com base nos parâmetros apresentados.

O bom condicionamento físico do atleta pode estar ligado diretamente ao tempo de treino e aos métodos de treino adotados para sua preparação física.

REFERÊNCIAS:

GRAEF Fabiane Inês, KRUEL L. F. Martins. Freqüência cardíaca e percepção do esforço no meio aquático: diferenças em relação ao meio terrestre e aplicações na prescrição do exercício. Rev. Bra. Med. Esporte. v. 12, n. 4, 2006.

CAROMANO Fátima, ROBERTO F. Mario, MONTEIRO Juliana. Efeitos da imersão e do exercício na água. Rev. Fis. Bra. Ano 4. n. 1,2003.

Wagner Débora, MOTA Carlos, CARPES Felipe. Efeitos do percurso sobre a freqüência cardíaca de um ciclista altamente treinado. Rev. Bra. De Fis. Exer. v. 07, n. 1, 2008.

Edward T. Howley - Scott K. Powers, Fisiologia do Exercício - Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho, Manole, Quinta edição.

Wilmore J.H., Costill D.L. Fisiologia do Esporte e exercício. Manole, 2001.

Ainsworth, B.E. et al. Compendium of Physical Activities: an update of activity

codes and MET intensites. Medicine and Sciences in Sports and Exercise, v.32, n. 9, p. 481-469, 2000.


Autor: Manoel Da Silva Imperial Junior


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