Poder, Ação E Linguagem



A importância do uso eficiente do poder e linguagem para que sejam atingidos os objetivos gerados pela ação

Autora

Isabela Navarro*

RESUMO

Durante muitos séculos tivemos um tipo de concepção do que era linguagem. Era uma concepção contábil. Pensávamos que a linguagem servia basicamente para dar conta do existente, que era totalmente passiva, descritiva e relatava somente aquilo que percebíamos, sentíamos e/ou pensávamos. Esta compreensão durou muitos séculos e foi profundamente modificada a partir de meados do século XX quando surge um outro conceito que modificou totalmente a forma como concebíamos a linguagem. Passamos a compreender que linguagem é AÇÃO. Que com a linguagem não somente eu relato o que já está presente mas também posso fazer com que certas coisas aconteçam. Passamos a entender que a linguagem tem um poder particular de TRANFORMAÇÃO e que gera realidades. Foi um descobrimento importantíssimo e é muito recente pois ainda estamos compreendendo o quanto longe isto pode nos levar. O que exatamente gera a linguagem? Se linguagem é AÇÃO, TRANSFORMAÇÃO e tem PODER, o que exatamente produz este poder? Produz IDENTIDADES pois cada um de nós possui uma identidade particular. Não somente as pessoas mas também empresas, organizações, nações tem sua IDENTIDADE. Essa identidade depende do modo como falamos. Toda empresa é um sistema dinâmico de conversações, de diálogos entre seus diretores, gerentes, funcionários, parceiros, etc. Se entendo como conversam, consigo vislumbrar o que é possível ou impossível obter delas. Como alcançam os níveis de produtividade estabelecidos? Os motivos pelos quais sua meta fica abaixo das projeções e, sobretudo, qual a razão para não alcançar índices de produtividade mais elevados. Concluímos, portanto, que em suas conversas a empresa pode definir seu destino.

PALAVRAS-CHAVE

Ação, Poder, Transformação e Linguagem.



INTRODUÇÃO

Nosso mundo, impregnado de ciência e tecnologia, desperta, em nós, a necessidade de conquistar, manifestar e disputar poder. O que faríamos, sem as criações tecnológicas humanas, pelas quais nos deixamos "engolir", e que nos dão a sensação de ter poder? Essa ilusão sempre exerceu atração sobre as pessoas, influenciou ações, determinou ou mudou comportamentos. O homem sempre buscou o poder, institucionalizando-o, para melhor exercê-lo. Da reflexão sobre o poder e o seu papel resultaram teorias, doutrinas políticas, que traduzem as formas de luta pelo poder, e, até mesmo, o nível de consciência alcançado pela humanidade.

A ilusão permaneceu. A idéia do poder está na sociedade, nas empresas, na mídia. Mesmo a violência é manifestação de poder. Respiramos poder, temos sede de poder, como se ele fosse o modelo ideal a perseguir. Como pessoas, queremos conquistar padrão de vida elevado, estabilidade. Como profissionais, buscamos melhores posições, influência, disputando e impondo poder, através de grandes ou pequenas realizações, até mesmo, pela imposição da palavra, já que temos a curiosa tendência a impor o que pensamos, através do que dizemos. Isto porque precisamos estar no controle das coisas, sentindo o poder que vem da aceitação das pessoas à nossa imagem, à nossa vontade.

Tudo, no entanto, é mero jogo de aparências. O resultado é o confronto entre poder e comunicação, que dificulta a comunicação individual com o próprio potencial, e com as pessoas na sociedade e nas empresas.Então, é inevitável a pergunta: afinal, somos produtos do poder ou da palavra que originou o conceito de comunicação?

Esse confronto vem cedendo lugar às mudanças, que já atingem, inclusive, a forma de expressão e atuação do poder empresarial e político. A vulnerabilidade do poder é evidente, talvez pelo fato de ele ter sido moldado à imagem e à semelhança de seres, que insistem em manifestar imperfeição, via palavras e atos, no processo de comunicação estabelecido pela vida. Independente de raça, cultura, crença ou status. E, como o momento exige reflexão e respostas, questionamos a nossa própria dependência do poder: que tipo de falha ou negligência estamos cometendo? De que lado devemos estar nesse confronto?

A conclusão? Precisamos nos libertar da necessidade de obter ou impor o poder, para ver as situações sob novas perspectivas. Precisamos também: Promover e manter qualidade de vida; Retomar a comunicação com as capacidades de percepção e decisão, reorganizando pensamentos, palavras e ações, planejando com critério, atraindo resultados positivos; Resgatar o sentido original dos conceitos de conveniência, liberdade, justiça, e comunicação eficaz, conscientes de que o que é tido como conveniente, hoje, deveria estar vinculado ao que é mais justo para a sociedade e as empresas, para os países e sua gente. Essa medida, fundamental, envolve valores, acima de interesses meramente pessoais, ainda que pessoas detentoras de poder possam permanecer obtendo pacotes de negociações que atendam às suas conveniências apenas.

DESENVOLVIMENTO:

"Não perder a noção do bem e do mal, e nem perder de vista as necessidades do Estado e as contingências da condição humana". A afirmação é de Maquiavel, em O Príncipe, que utiliza o mito de Aquiles e do centauro Quirão, seu preceptor. "É próprio do homem agir, de acordo com a razão e a lei. É próprio da fera, lutar com a astúcia e a força". Ou seja, o príncipe deve agir ora como homem, ora como fera. A raposa e o leão também servem de modelos na obra. Segundo Maquiavel, se o príncipe agisse apenas como leão, não perceberia as armadilhas. Se agisse apenas como raposa, não saberia se defender dos lobos.

Dependendo das situações, agimos como raposas ou leões e também como seres racionais ou feras. O êxito do nosso desempenho fica por conta do nosso nível de consciência, isto é, se superamos ou não a dependência do poder, que, de um instante para outro, enfraquecido, nos deixa a mercê de nossas próprias defesas.

A verdadeira liberdade significa fazer o que deve ser feito. Isso pode ser entendido como fazer uso apropriado do poder adquirido. Já o ato de competir está além de "disputas compulsivas de poder, para satisfazer o orgulho ou a vaidade". Ele encerra uma troca saudável de capacidades naturais, conhecimento e experiência, na qual todos, conscientes de seus papéis, devem estar à vontade para:Expressar habilidades;Pensar e falar, de modo ponderado, objetivo, atentos à intenção e ao conteúdo de mensagens emitidas e recebidas;Equilibrar razão e emoção, intelecto e sabedoria; retrocedendo, quando preciso, para retomar, depois, à ação; Usar a autodisciplina, essencial ao êxito individual e coletivo; Ter altos propósitos, que dão novo sentido à vida.

O verdadeiro poder? Ele está disponível em cada potencial, e se manifesta na própria palavra individual, livre de força ou imposição, de negligências, arrogâncias e autoritarismos. Apenas isso concede a vitória à comunicação ideal, sem "ruídos" ou interferências. Significa dar chance à paz.

O crescimento, a evolução das organizações só sairá do "quadrado", quando abrirmos espaço para o elemento chamado PODER ,AÇÃO E LINGUAGEM. É ela que alavanca as soluções superando medos e preconceitos, trazendo assim uma mudança qualitativa no ambiente organizacional.

O uso eficiente do poder, linguagem e ação oxigenam o cotidiano das pessoas trazendo um hábito saudável para o ambiente organizacional e sendo gradativamente transferido para outros contextos e outros ambientes. Ter ação não é negar o pensamento racional, mas sim, partir dele para construir novas equações para os problemas e suas soluções.

É a ação que potencializa a inteligência inaugurando novas maneiras de pensar o mesmo e às vezes, velho problema. Ação é estar mais à vontade no mundo, mais rico de recursos pessoais. É estar mais vivo e motivado. É resgatar a auto-estima. É surpreender-se consigo próprio. É humanizar-se.

O mais interessante é que a ação dá permissão as pessoas para que se percebam criativas!É possível desenvolver as habilidades da ação elinguageme aprender a aprimorá-la havendo para isto algumas condições facilitadoras e desencadeadoras do processo:

-Rever nossas crenças sobre o que é poder;

-Olhar as situações mais como desafios e sentir-se motivado para enfrentá-los.

-Perder o medo de ser ridículo e do julgamento dos outros

-Estimular a criatividade nos colegas de trabalho

-Quebrar padrões de comportamento disfuncionais com assertividade

-Sentir-se orgulhoso(a) e encontrar formas de reconhecer e gratificar os momentos criativos do dia-a-dia.

A ação revitaliza a empresa estimulando a ousadia das pessoas o que dá um salto qualitativo nos produtos e serviços, facilmente percebidos pelos clientes intenos e externos.

Em tempos de Gestão do Conhecimento e do Capital Intelectual, tão importante quanto transmitir informações é incentivar o seu compartilhamento. Nesse contexto, a comunicação se reveste de um papel cada vez mais crítico que é o de tornar mais claro e rápido o processo de mudança, pela imediata compreensão dessa mudança por parte de todos "atores" envolvidos.

O livro Comunicação Eficaz na Empresa possui méritos indiscutíveis, entre os quais vale citar: Não é um livro de um autor só, por isso possui até colocações algo conflitantes; mas é nas situações de conflito que aparecem as maiores oportunidades de aprendizado. O livro aborda o processo de comunicação a partir de 6 diferentes ângulos: Dinâmica da Comunicação, Aprendendo a Ouvir, Gerenciando Reuniões, Redigindo com Segurança, Mensagens reveladas em Canais Ocultos e Articulando as Metas e a Cultura da empresa.

Para nós uma das partes mais interessantes é "Analisando a Comunicação Disfuncional". O capítulo escrito por FERNANDO BARTOLOMÉ (uma visão européia) aborda as relações superior/subordinado, colocando alternativas para superação dos obstáculos decorrentes de posturas autocráticas/hierárquicas e da falta de confiança entre as partes.Na mesma parte I, CHRYS ARGYRIS, em "Incompetência Hábil", analisa os "jogos" que as pessoas utilizam para evitar conflitos e manter comportamentos confortáveis/rotineiros, propondo soluções para um processo de comunicação mais franco, aberto e ganha-ganha.

Os modelos integrados de gestão, caracterizados pela autonomia e pela cobrança institucionalizada apresentam um conjunto de sinais significativos. Estes sinais permitem identificar uma instituição onde a sua própria estrutura é o diferencial competitivo.

A existência de uma visão, complementada com ações capazes de consolidar planos de ação eficazes associados à formulação de estratégias positivas, permitindo a geração de resultados expressivos leva a indicar pontos de observação crítica necessários: O conjunto de ações implantadas para solução dos principais problemas é tomado visando principalmente o cumprimento dos objetivos institucionais; A produtividade e a eficácia no trabalho são buscadas de forma constante. Os colaboradores cuja atuação revele desempenho aquém do esperado têm dificuldades de permanecer no contexto da empresa.

O planejamento tem um perfil de análise racional de problemas e de situações – existentes e previstas. Há flexibilidade na determinação de metas e de programas de trabalho. Permite-se a incorporação de sugestões e propostas advindas do corpo interno de colaboradores, desde que sua adoção se justifique e sejam compatíveis com o pensamento estratégico institucional; Há efetivo controle das ações e resultados institucionais; os "porquês", "como" e "para quê" são clarificados para cada projeto ou trabalho e deve haver processos de comunicação interna geradores de relações produtivas sadias e realistas.

O entendimento e o comprometimento em torno dos objetivos e metas prioritárias da organização são consideradas de importância máxima para o negócio e extremamente impactantes para as operações internas; Há avaliações formais constantes dos trabalhos realizados; procuram-se as causas de eventuais problemas e não culpados por erros (visão estratégica na gestão de pessoas); Há informação sobre planos e decisões da empresa aos colaboradores, com espaço para manifestações livres de seus pontos de vista, desde que coerentes com a visão estratégica institucional.

Conflitos são administrados, agindo-se no sentido de que não comprometam os resultados e o funcionamento da estrutura organizacional. Nas instituições onde vigorem políticas ou práticas compatíveis com o modelo proposto, há uma saudável percepção de sua construção interna: Áreas produtivas internas gerenciadas como unidades de negócio interdependentes de forma a serem consideradas como negócios dentro do negócio da organização; A negociação utilizada como instrumento básico de ação, na busca de resultados, na ação das lideranças e no reforço do comprometimento; A existência de sistemas e mecanismos formais de gestão de desempenho, permitindo a auto-avaliação e o gerenciamento de contribuições que agreguem valor ao resultado final.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Administrar o poder significa criar condições para potencializar cada membro da organização através da abertura de espaço par que as pessoas possam maximizar a utilização das suas capacidades e o desenvolvimento das suas potencialidades para atingir os seus objetivos e os da organização. Administrar o poder de maneira eficaz é abrir espaço para maximizar o uso do poder pessoal e minimizar a utilização do poder organizacional.

Alguns outros aspectos são fundamentais no processo de efetivação desta forma de gestão e com eles, as organizações complementam seu universo interno: a linguagem praticada pela organização deve ser construída com base no mecanismo da linguagem de gerência - objetivo, resultado e lucro (é sempre assim que as organizações ditas produtivas, no modelo neoliberal se manifestam); a linguagem entendida pelos colaboradores deve ser arquitetada pelas lideranças internas com base no mecanismo da linguagem de estimulação - reconhecimento, oportunidade e participação (contrapartida social ao neoliberalismo organizacional); esta linguagem de estimulação leva ao envolvimento e ao comprometimento.

O mecanismo de comunicação interna deve ser desenvolvido por um processo de comunicação não ameaçadora, caracterizado por: abordagens espontâneas; mensagens com sentido (entendidas e internalizadas); perfis de linguagem questionadoras e não julgadoras; posturas assertivas e não agressivas, francas e não rudes.

A organização deve ser construída e desenvolver seus processos de evolução e liderança em torno de dois componentes básicos: clientes e produtos. Processos participativos de gestão são bem vindos. Mas devem ser entendidos como processos onde mecanismos de proteção, paternalistas, autocráticos ou liberais são vistos com desconfiança.

Para que, nesta nova lógica, esses paradigmas resultem em contribuições efetivas para o negócio, deve-se entender que: gerenciar a atenção é uma necessidade fundamental, na medida em que a percepção (estar atento a tudo o que se desenvolve no cenário) é o primeiro passo para consolidar mudanças comportamentais; gerenciar o significado, de forma a que a todo o instante as mensagens trocadas na organização façam sentido, não só para quem emita, como para quem receba; gerenciar a confiança, de maneira a que seja praticado o autogerenciamento,criando formas de comprometimento do indivíduo com seu próprio crescimento, é uma das chaves fundamentais da nova lógica.

A proposta da administração do poder é repensar a relação empresa/indivíduo, implementar uma nova visão do mundo do trabalho e das repercussões que o clima aí existente tem sobre o comportamento das pessoas e da empresa. Através da adequada administração do poder será possível operacionalizar o investimento mais rentável a médio, curto e longo prazo, isto é, o investimento no homem em benefício do próprio homem.

A necessidade de se construir, na organização unidades de negócio interdependentes, onde seus membros estão conscientes de processos de gestão por resultados formais, acompanhados de gestão do desempenho (negociados internamente) levam a real efetividade = eficiência + eficácia, instrumentaliza a organização para enfrentar o cenário atual.

As organizações adeptas da nova lógica têm a necessidade de entender que profissionais cuja retribuição ao trabalho é compatível com o nível de exigência, em relação a resultados, padrões de qualidade e comprometimento esperam que se concretize a máxima que abriu este artigo: a organização tem o desempenho que paga.

Há que se considerar, portanto, que o uso do poder, ação e linguagem de forma eficiente dentro das organizações, transformam-se em componentes permanentes de um processo no qual a busca de resultados é a grande conseqüência. Investir nestes recursos é prioridade de qualquer organização competitiva.

REFERÊNCIAS

KRAUSZ, Rosa. O Poder nas Organizações. São Paulo: Nobel S.A, 1998.

LACOMBE, Francisco. Recursos humanos: princípios e tendências. São Paulo: Saraiva, 2005.

MAXIMIANO. Antonio César Amaru. Fundamentos de administração: manual compacto para cursos de formação tecnológica e seqüenciais. São Paulo: Atlas, 2004.

FRANÇOIS,Jean. Indivíduo na Organização. São Paulo: Atlas,1996.

WATZLAWICK, Paul et alli. Pragmática da comunicação humana: um estudo dos padrões, patologias e paradoxos da interação. São Paulo: Cultrix, 1973.

BARTOLOMÉ, Fernando. Comunicação eficaz na Empresa. São Paulo, 2002




* Administradora de Empresa (CRA/BA 11070); Pós Graduada em Metodologia do Ensino Superior, Gestão de Recursos Humanos e Psicologia Organizacional; Consultora Organizacional do SEBRAE e SENAC; Professora Universitáriaem diversos cursos de graduação e Pós Graduação; Coordenadorados Cursos de Pós Graduação em Gestão/ADM da FSBA-Faculdade Social da Bahia.


Autor: Pós Graduação FSBA


Artigos Relacionados


Resumo Histórico Sobre Os Médicos Sem Fronteiras

A Importância Dos Estudos Da Comunicação Organizacional

Segurança Nos Sistemas Reforça Os Planeamentos!

A Função Da Escola E Da Educação

O Discurso / Mídia / Governo

MÉtodos E AplicaÇÕes Do Planejamento EstratÉgico De Marketing

A Perspectiva Construtivista De Ensino