Uma classe lutadora voltando a ser proletária



Ruy Braga e Marco Aurélio Santana, no artigo "De volta à condição proletária"  publicado na revista Cult, nº 139 , discutem a questão do enfraquecimento (e até mesmo desaparecimento) dos sindicatos trabalhistas, e do surgimento de um novo proletariado, este, simbolicamente representado pelo operador de telemarketing.

Curioso o movimento de retroação da classe trabalhadora, uma classe que, unida através dos sindicatos, um dia lutou pelos seus direitos; agora, vê-se tímida perante a realidade econômica, e volta à sua antiga condição: a de proletariado. Mas isso não aconteceu por acaso; segundo os autores, a mundialização capitalista responde por boa parte desse fenômeno. Vale mencionar, também, que os novos modelos de produção são avessos à organização sindical, buscam se afastarem de áreas onde a cultura sindical é mais forte; também preferem trabalhadores com pouca ou sem nenhuma experiência com sindicatos.

Um fato extremamente interessante demonstrado pelos autores são as mudanças de termos, de denominações. Quando se ouve o termo "colaborador", ou "parceiro" numa empresa, isso soa como que a empresa tem um grande apreço pelo seu trabalhador. É um embuste, mesmo que pareça leve. A mudança do termo de "trabalhador" ou "operário" para "colaborador" ou "parceiro", acaba por destruir uma identidade mais conflitiva e politizada, ou seja: o trabalhador não é mais um trabalhador, mas um parceiro ou colaborador e, sendo parceiro ou colaborador, não precisa lutar pelos ideais preconizados um dia pelos quase apagados sindicatos. Assim, o trabalhador volta a ser proletário sem perceber que está perdendo o poder que tinha quando pertencia a uma classe unida e lutadora. O termo colaboração incita também a concorrência entre os trabalhadores, visto que ela é individualizada; incita uma competição entre todos, e a empresa é quem ganha  mas o proletário despolitizado não percebe isso.

Surge um novo proletariado: o infoproletariado. O infoproletariado, segundo os autores, simbolicamente pode ser representado pelos operadores de telemarketing. Estes são a face oposta da classe trabalhista das greves de 1.978. São marcados pela despolitização, baixa aparição coletiva; além disso, são objetos utilizados pela privatização, rotatividade, informatização e financeirização das empresas.

Por fim, os autores apontam que, o cenário brasileiro, mesmo com suas peculiaridades, tem certa semelhança com os estudos dos autores franceses Beaud e Pialoux, que tentam entender o processo que fez com que a classe operária passasse de uma condição de sujeito ativo no campo organizacional e mobilizatório, para uma condição de objeto, fraca e esquálida.

Braga e Santana demonstram no artigo que, de fato, existe algo acontecendo no mundo do trabalho; e não é uma mudança para melhor. Demonstram que a atual configuração da economia mundial pode ser a responsável pelo esfacelamento dos sindicatos e da união da classe trabalhadora. Um retrocesso, de fato; uma vitória escapando por entre os dedos, como algo líquido que se esvai lentamente. Jogo perigoso, onde perderá toda a sociedade, pois o ser humano não deve ser sobrepujado pelo capital  seja ele financeiro ou oriundo da produção.

Referência

BRAGA, Ruy; SANTANA, Marco A. De volta à condição proletária. CULT, São Paulo, n. 139, p. 57-59, set. 2009.

Anderson Cristiano da Costa

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Autor: Anderson Cristiano Da Costa


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