VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS PARA A VIDA ESCOLAR DOS ALUNOS
RESUMO: Este estudo pretende investigar as possíveis causas e consequências que a violência doméstica pode trazer para a vida escolar dos alunos da Instituição Católica, Promovida. Foram conceituados os vários tipos de violência e de que maneira se manifestam. Teve como objetivo de identificar os diferentes casos de violência cometida contra crianças e jovens da instituição, bem como as possíveis consequências que a agressão trás para as crianças em fase de aprendizagem. Tal pesquisa procurou identificar também os vários tipos de comportamentos e as possíveis consequências para a educação que trás a violência doméstica. Com uma pesquisa bibliográfica, qualitativa e quantitativa (campo e entrevista). A entrevista foi realizada no Distrito Federal em uma Instituição Social de São Sebastião. O resultado do estudo mostra o quanto á violência doméstica pode influenciar no comportamento da criança e do jovem, podendo trazer consequências negativas a vida escolar do aluno. Palavras-chave: Violência Doméstica, Educação e Degradação
1-INTRODUÇÃO:
Este artigo tem por objetivo investigar as causas e possíveis consequências que a violência domestica traz para a vida escolar de alunos da instituição Católica Promovida. Também tem por objetivo conceituar os vários tipos de violência segundo visão de alguns autores. A violência pode se manifestar de várias maneiras ela acontece segundo alguns autores através da fome, da pobreza, da guerra, através de agressões psicológicas, do abandono, do abuso de poder, na violação dos direitos dos cidadãos e muitas outras formas. Foi constatado neste artigo o quanto a violência doméstica traz prejuízos à formação da criança e adolescente seja na questão da aprendizagem ou da própria vida na interação com o outro. Na maioria dos casos os alunos que apresentaram comportamento mais agressivo vinham de famílias com históricos de violência doméstica, alcoolismo, doença e pobreza. A pesquisa constatou que tais alunos apresentavam baixo rendimento e repetências constantes.
O tema foi escolhido com o objetivo de investigar as causas dos diferentes tipos de comportamentos de alunos da Instituição Católica Promovida, que mostra o quanto violência doméstica pode interferir no processo de ensino-apredizagem do aluno.
2-ENTENDENDO A VIOLÊNCIA....A DEGRADAÇÃO HUMANA:
Conceituar violência não é algo fácil, sabendo-se que alguns autores entendem de formas diferentes esse conceito. Para a Organização mundial de saúde (OMS), a violência é a imposição de um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis. Para Oliveira (1999) no livro 50 anos depois, conceituar violência é muito complexo, já que ela pode se manifestar de várias maneiras como, fome, tortura, guerras, preconceito e todas as formas de violação dos direitos dos cidadãos. Ambos os conceitos apresentam formas diferentes para o termo violência, onde para a OMS, está ligada diretamente a dor física, já para Oliveira (1999) o conceito de violência vai além da agressão física, da dor, ela se manifesta em todos os aspectos, seja em torturas guerras, e até mesmo na fome, e ressalta também que uma das maiores manifestações de violência é a violação dos direitos dos cidadãos.
Segundo Oliveira (1999) em um estudo em parceria com o Movimento dos Direitos Humanosem 50 anos depois, a violência se manifesta quando há uma violação dos direitos do cidadão, que são: Violação dos Direitos Civis (que protege a vida, de propriedade, a direito à liberdade, o direito de ir e vir, de consciência e cultura.); Políticos (direitos de votar a ser votado); Direitos Sociais (habitação, saúde, educação, segurança); econômicos (emprego, salário); e culturais (direitos de manifestar sua própria cultura).
Kupstas (1997) em Violência em Debate, citando o psicanalista Sigmund Freud, "trazemos dentro de nós sentimentos bons e ruins, onde ambos podem se manifestar através de atos". Já para Aranha (2006), quando o ser humano tem seus direitos violados passa a ser visto pela sociedade como uma coisa e não como um sujeito, dono de si.E com isso se dá à destruição do outro, essa violação se manifesta através de vários tipos de violência, que para Aranha, podem se classificar em: ferir, matar, prender, roubar, ameaçar, e humilhar. Todas essas formas de violência quando atingem a integridade do corpo e da vida, causam no ser humano um sentimento de inferioridade e desanimo atingindo a sua dignidade.
Dimenstein (1999) faz uma alerta a questão da banalização da violência, pois as pessoas estão começando a achar que a violência é uma coisa normal, segundo oautor isso acontece devido aos noticiários que falam muito em crimes e eles acontecem a toda hora. Com isso as pessoas se esquecem dos verdadeiros princípios básicos da cidadania e da democracia.
Portanto, há violência não só quando se mata ou fere fisicamente alguém, ela se manifesta quando, por exemplo, através de calunias, quando há preconceito de qualquer espécie, seja ele de cor, raça, religião, classe social, a violência do abandono, da negligência, e tantas outras formas de violência que vão contra os direitos do ser humano. Tais direitos são previstos pela constituição, mas, nem sempre são cumpridos, o estado tem o dever de assegurar a criança e o adolescente contra qualquer tipo de maus tratos, como prever no estatuto Lei 8.069, de 13/07/1990 que assegura a criança e ao adolescente contra qualquer tipo de maus-tratos, podendo levar a penalidade, nãosó para os que praticam o ato, mas também para aqueles que se omitem. Já no artigo, 227 da Constituição Federal, prever que: "A família, a sociedade e o estado tem o dever de assegurar á criança e ao adolescente, o direito á vida, á saúde, á alimentação, á educação, ao lazer, á cultura, á profissionalização, á dignidade, ao respeito, a liberdade e á convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão". Apesar dos direitos dos cidadãos serem previstos por lei, nem sempre são cumpridos.
No tópico seguinte iremos discorrer sobre os tipos de violência, suas causas e supostas consequências, visto que a violência pode se manifestar de várias maneiras em todas as classes sociais independente da cor, raça e religião.
3- TIPOS DE VIOLÊNCIA:
Há várias formas de manifestação da violência como, por exemplo a violência física, a simbólica, a sexual, a estrutural, a psicologia, a sistêmica e a doméstica, entre outras. Para Aranha (2006), a violência também vária em graus diversos, podendo ser julgada de maneira diferente de acordo com o prejuízo provocado. Allport (1958) fala que uma vez existindo preconceito, a violência também se manifesta. Segundo ele, a violência vai desde agressões verbais até extermínios de populações inteiras.
A Violência Simbólica segundo Bourdieu (2008) se manifesta através de símbolos e signos culturais[i], onde um grupo de pessoas passam a enxergar o mundo segundo critérios estabelecidos pelas forças sociais. Para Bourdieu e Passeron, o domínio simbólico é adquirido pela classe dominante através da imposição e a ocultação, com a união de ambas se define a cultura dominante como arbitraria, a única de valor. Para eles a escola também exclui, pois seu currículo se baseia no saber dominante onde as crianças favorecidas pelo meio em que vivem, com hábitos de leitura e incentivos, saem na frente daquelas que não são incentivadas pelo meio em que vivem, gerando assim um tipo de violência. Na violência Simbólica não há atos violentos por palavras ou constrangimentos, mas sob forma simbólica que podem ser, o modo de ver, a maneira de valorizar, essas concepções são as do grupo dominante, que impõe seu ponto de vista é os dominados ingenuamente tomam para si esses valores como sendo seus.A violência simbólica é um tipo sutil de mecanismo de exclusão social, utilizados por indivíduos ou grupos, e também por instituições, como a igreja, a escola, afamília, e muitas vezes aparece no nosso cotidiano de forma sutil (Bourdieu-Passeron) (2008).
A Violência Estrutural segundo Lima (2006) caracteriza-se pela condição de vida das crianças e adolescentes. Um ponto marcante desse tipo de violência é o fato de milhares de pessoas estarem vivendo em extrema pobreza. Esse tipo de violência destaca a parcela menos favorecida da sociedade, famílias inteira vivendo em situações precárias e injustas, vivendo a mercê a classe dominante. A violência estrutural é caracterizada principalmente pela miséria com que vive grande parte da população. Outros agravantes são a má distribuição de renda, exploração dos trabalhadores, crianças nas ruas mendigando, roubando, trabalhando indevidamente, prostituindo-se), onde nem as condições mínimas para uma vida digna (moradia, alimentação, saneamento básico, etc.), são encontradas. Há também a falta de assistência em educação e saúde o que agride ainda mais a população carente, sem expectativa de vida cresce cada vez mais o numero de violência no país. No Estatuto da Criança e do Adolescente, vigente desde a constituição de 1988, o artigo sétimo diz: "toda criança e adolescente têm direito à proteção á vida e a saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência".Portanto, a violência estrutural está ligada áscondições adversas de vida que causam uma imensa parcela da população vivendo na miséria, com fome, habitação precária quando se tem, educação deficiente, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, passando por todo tipo de privação e sentindo na pele os efeitos da violação dos seus direitos.
A Violência Sistêmica segundo Maldonado (1997) nasce da prática do autoritarismo, onde, apesar das garantias democráticas estarem expressas na constituição de 1988 nem sempre são cumpridas e mais uma vez quem sofre com essa violação é a camada menos favorecida da sociedade. A característica mais marcante desse tipo de violência é o poder abusivo, gerando práticas ilegais do poder, um exemplo dessa prática é a violência policial, que muitas vezes chegam a torturar, espancar, é há casos até de homicídios por parte dos policiais. Um dos fatores que aumenta os casos desse tipo de violência é a impunidade, há causas também na má formação de policiais e na marginalização da população carente.
A Violência Doméstica é um problema que atinge milhares de criança e adolescentes em todo o país ela acontece dentro dos próprios lares, entre os membros da família, o que levam aos hospitais milhares de mulheres e crianças espancadas, feridas e traumatizadas devido a estupros, incestos e maus tratos. Segundo Maldonado (1997) emOs Construtores da Paz, a violência doméstica é o abuso do poder exercido pelos pais ou responsáveis pela criança ou adolescente. Esse tipo de violência causa danos muitas vezes irreversíveis, a vítima não consegue encontrar dentro do seu próprio lar segurança e dignidade. Essas agressões, em geral descontroladas, são consideradas por muitos agressores como medidas de se educar e disciplinar. Muitas vezes esses atos vêm desde a criação dos próprios pais que na infância sofreram violência e passam a mesma forma de se "educar" para seus filhos, afirmando que assim estarão os educando. Na maioria das vezes essas "medidas educativas" são exageradas, levando a atos de extrema violência. Isso ocorre pelo de abuso de poder que os pais exercem sobre seus filhos.
Segundo Dimenstein (1999), a pobreza provoca uma infecção chamada desintegração familiar. E com ela a violência, que muitas vezes está ligada ao alcoolismo. Para ele, famílias de baixa renda estão mais vulneráveis a violência, uma vez que sem expectativa de vida e informação o homem se torna agressivo e violento colocando a culpa na pobreza pelos seus atos.
O silêncio é um dos agravantes da questão da violência doméstica, muitas vezes imposta pela família, são diversos os motivos para esse silêncio como: medo, vergonha, falta de conhecimento dos direitos. O principal motivo pelo qual o agredido se mantém em silêncio é o medo do agressor se tornar ainda mais violento ao saber que seu crime foi descoberto, em decorrência desse medo os agredidos passam a viver assustados, toda a sua estrutura é afetada. Outro fator é a falta de informação sobre como agir, que providencias tomar, a quem recorrer. Outro agravante é a dependência financeira, muitas vezes a mulher aguenta os maus tratos por não ter condições se sustentar e aos filhos, em decorrência dessa dependência aguentam todo tipo de violência.
A violência doméstica deixam marcas que vão além dos hematomas, é uma dor silenciosa que não se cura jamais, que deixam marcas de tristeza e revolta, mas sem nunca deixar de acreditar que dias melhores viram, isso para os que ainda podem sonhar, sem contar com os milhares de agredidos que se foram esperando esse dia. A esperança é a única aliada para as milhares de crianças, adolescentes é mulheres que vivem diariamente com brutalidade da violência doméstica.
A Violência Psicológica engloba toda forma de rejeição, depreciação, discriminação, desrespeito, humilhação e cobranças exageradas. É cada vez mais comum crianças e jovens serem submetidos a agressões do tipo verbal. Segundo Lima (2006) o abuso psicológico faz com que o agredido se sinta diminuído e desencorajado. Esse tipo de violência é muito usada pelos pais, para segundo eles "educar''. Estas agressões geralmente são do tipo: humilhar, depreciar, denegrir, rejeitar, isolar, aterrorizar e ignorar. Esses casos de abusos podem acontecer na família, na escola e na sociedade. Quando a criança é constantemente agredida tal ação prejudica na formação da auto-estima. As consequências mais frequentes são no desenvolvimento da alto estima, do autoconceito de estabelecer relações interpessoais. Para Garbarino (2006), a violência psicológica é definida como sendo agressão de um adulto sobre o desenvolvimento do eu e da competência social de uma criança ou adolescente, configurando um comportamento psicologicamente destrutivo.A criança e o jovem vítimas do abuso psicológico não se sentem protegidos, acolhidos, amados e aceitos pelas pessoas da família. Essas crianças muitas, vezes quando chegam á idade adulta, tornam-se abusadores, repetindo com seus filhos o mesmo padrão de rejeição. Em consequência desse tipo de agressão, ter sido xingada, humilhada, depreciada e rejeitada, a criança cresce com marcas profundas em seu ser e com sua auto-estima gravemente afetada.
A Violência Sexual vêm se tornando um fato cada vez mais frequente em nossa sociedade. Segundo Maldonado (1997), alguns fatores indicam os abusos sexuais em nosso meio: a promiscuidade familiar nos locais de baixa renda falta de estímulos ao lazer, uso de tóxicos, bebida alcóolica, entre outros. A violência sexual é definida como abuso de poder onde a vítima (criança, adolescente ou mulher) é usada sem seu consentimento, sendo induzida ou forçada a práticas sexuais. Os casos de abuso dentro da própria família vêm crescendo muito, o mais assustador é que muitas vezes esses casos são mantidos em segredo pela própria família por motivos diversos, ocorrendo em todas as camadas sociais.
A Violência física é o uso da força física com o objetivo de ferir, onde o agredido ficara ou não com hematomas. Segundo Lima (2006), é considerado como abuso físico todo ato violento com intenção de ferir, geralmente é praticada por pais, responsáveis, familiares e pela sociedade em geral, e tem como objetivo, ferir, lesar ou até mesmo destruir o agredido. Essa é a forma de violência mais fácil de ser identificada, pois na grande maioria dos casos os hematomas pelo corpo do agredido são evidentes. O agressor utiliza-se de objetos cortantes, líquidos quentes e até arma de fogo. Em outros casos o agressor utiliza apenas a força física, agredindo com tapas, socos e chutes. Quando a vítima é a criança além da violência física há também a violência da omissão por parte dos pais ou responsáveis e também pela sociedade que muitas vezes se cala diante de tal situação de imprudência. A violência física deixa marcas que vão além dos hematomas, que se não acompanhados por especialistas perduram a vida toda.
4- VIOLÊNCIA DOMÊSTICA CONTRA ALUNOS DA INSTITUIÇÃO CATÓLICA" PROMOVIDA" EM SÃO SEBASTIÃO-DF
A instituição pesquisada do presente estudo está situada em São Sebastião uma região administrativa da cidade de Brasília-DF. As terras que hoje constituem São Sebastião pertenciam antes da mudança da nova capital, as fazendas Taboquinha, Papuda e Cachoeirinha. Essas fazendas foram desapropriadas e nelas se instalaram os primeiros moradores da região que exploravam o comercio de areia, cerâmica e olaria. Em 25 de junho de 1993 a então Agrovila São Sebastião passa a ser a Região Administrativa n XIV de São Sebastião. Está passa a ser então a data comemorativa do aniversario da cidade.
A população de São Sebastião está estimada em mais de 100 mil habitantes e com uma concentração predominante de jovens, onde 47% (42,000 pessoas) da população tem menos de 20 anos de idade. Destes 25,45% (10.500) são crianças ate 10 anos. Na faixa dos 20 a 30 anos, encontra-se 20 % da população. Apenas 3% das pessoas tem mais de 60 anos de idade, 51 % são mulheres e 49 % são homens. (IBGE,2005)
A crescente onda de violência e brigas de gangues em São Sebastião motivou a Câmara Legislativa do Distrito Federal a convocar representantes de todos os setores da comunidade para um amplo debate sobre a segurança pública na cidade. Dados da imprensa mostram que trinta e uma armas de fogo foram apreendidas em São Sebastião. Os números correspondem aos esforços conjuntos da Polícia Civil e Militar para acabar com a guerra entre gangues que toma conta das ruas da cidade. Os números da PM já correspondem a mais da metade das apreensões realizadas em 2007, quando a cooperação retirou 53 armas das ruas da cidade. Até o final do ano passado, a média era sete apreensões por mês. Dados da Administração Regional sobre a violência na cidade mostram que o numero de homicídios caíram de 16 casos no primeiro semestre de 2007 para 14 no mesmo período desde ano. O registro de roubo também caiu de 321 para 266, mas as tentativas de homicídios aumentaram de 21 para 27.
Foram realizadas neste artigo, entrevistas e observação, no período de 02 a 12/10/09, com professores, a diretora e com funcionários em geral, foi realizada também entrevistas semi-estruturadas com alunos e alguns pais. A instituição foi fundada em 19 de março de 1999 com o objetivo de fornecer um serviço de caráter assistencial e de promoção humana, especialmente dirigida as famílias carentes, crianças e adolescentes, apresentando como modalidade de atendimento um apoio sócio- educativo atendendo crianças e jovens de 06 a 14 anos. A instituição é chamada de Promovida porque segundo seus idealizadores, devido ao fato de que seu objetivo ser o de promover a vida.
As atividades são desenvolvidas na sede da Promovida, com edificação de aproximadamente 250 m, em terreno doado pela Cúria Metropolitana de Brasília (O conjunto de organismos e entidades eclesiásticas. A instituição funciona em dois turnos, manhã e tarde em horário contrário ao da escola regular, os alunos são divididos pó idade e por serie que são separados por equipes que são: Branca com 29 alunos nos 2 turnos com crianças de 06 a 08 anos. Equipe Amarela são 40 alunos ao todo com idade de 09 a 11 anos. Verde, 42 alunos ao todo com idade de 12 a 13 anos. Azul, 39 anos alunos com idade de 09 anos, e Vermelha com 46 alunos de 13 e 14 anos. Por ser uma instituição não governamental é mantida através de doações dos paroquianos da Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Lago Sul). Doações do Colégio La Salle e Doações voluntarias.
Para ingressar na instituição há alguns critérios a se seguir, como por exemplo, a identificação e registro de famílias em condições de pobreza e que tenham crianças na faixa etária exigida. E feito uma pré- avaliação do modo e estilos de vida das famílias ( relacionamento intra familiar, responsabilidade, hábitos, respeito, vícios, violências, estado nutricional, tipos de alimentação diária, higiene pessoal e do ambiente doméstico, etc.). É feito também uma avaliação da condição educacional e de saúde do candidato a ingresso na Promovida. Saber também há uma pré- disposição dos pais em atenderem a convocação para as reuniões da Promovida e de aceitarem e praticarem as recomendações que lhes forem dadas, inclusive aquelas que exijam mudanças de atitudes e comportamento. E também pré- disposição da família em cumprir os horários que forem estabelecidos pela entidade. São desenvolvidos programas direcionados as crianças bem como para os seus pais promovendo assim uma interação entre a instituição e a família.
Para as crianças assistida é feita a realização de medidas de apoio sócio- educativas complementares. Há uma assistência pedagógica para acompanhar o desenvolvimentos dos alunos, alimentação saudável e adequada ao estado nutricional do assistido. Para os pais e crianças assistidas há assistência médica e farmacêutica, de acordo com a disponibilidade dos voluntários, é feita a prevenção de doenças crônico-degenerativa e encaminhamento para organizações de maior complexidade.
É importante lembrar que a instituição apesar de ser fundada pela igreja Católica, atende a toda a população independente da religião. Na instituição é trabalhado muito com valores, o amor. Os alunos fazem orações todos os dias pela manha e antes das refeições, são comemoradas todas as datas religiosas Católicas, bem como todas as datas comemorativas. A instituição possui 5 professoras com faixa etária entre 2342 anos todas graduadas ou em formação no curso de Pedagogia, uma diretora ordenada irmã graduada em letras e teologia, 7 funcionários de serviços gerais e voluntários da comunidade que prestam serviços diversos.
RESULTADOS OBTIDOS
A população estudada foi constituída por 5 professoras, funcionários, ea diretora da instituição, a Irmã da congregação...que aos 50 anos de idade e ....a frente da instituição faz um trabalho de promoção a vida, onde tentam na medida do possível dar um pouco mais de dignidade a crianças e adolescentes carentes.
As respostas das professoras foram semelhantes, uma vez que toda a instituição apresenta o mesmo problema, a indisciplina a agressividade diferenciando apenas em números. Em entrevista com a diretora da Instituição ela relatou vários casos de violência doméstica. Em conversa informal com alguns alunos pude perceber o quanto são carentes de afeto, alguns pais também me relataram casos de violência ocorrido na família. De acordo com as entrevistas das cinco professoras todas já sofreram algum tipo de violência cometido por alunos da instituição. Uma foi agredida fisicamente por um aluno de 13 anos, e todas já sofreram agressões verbais.
Quanto à questão de alunos agressivos em todas as equipes, foram detectados casos de agressividades, dos 210 alunos que são o total da instituição 27 apresentaram comportamento agressivo, agredindo fisicamente colegas, desrespeitando professoras, não vazem as atividades que são propostas e com isso são constantemente afastados por um tempo da instituição, as notas são super baixas vindo de constantes repetências, houve caso até de aluno levar uma faca para a instituição. Segundos relatos todos esses alunos mais agressivos possuem na família casos de agressão é de miséria as vezes acompanhada da violência doméstica é também doença. Nos casos de agressão e de pobreza o alcoolismo está presente em 90% dos casos, em geral os pais bebem é agridem tanto a mãe como a criança, onde muitas vezes não se tem nada para comer em casa. Há também casos de doenças que também acompanhados da pobreza apresentam comportamento agressivo, como é um caso de uma criança de 11 anos onde sua mãe esta com câncer bastante avançado, não se levanta mais da cama, esta criança apresenta um comportamento muito agressivo, sem pai vive apenas com a mãe e irmão de 16 anos sem nenhum tipo de renda, o aluno busca almoço na instituição para levar para levar para sua mãe e irmão. Essa criança não consegue acompanhar as crianças da sala, não faz as tarefas e ira segundo dados da escola regular que irar ser reprovado esse ano. Já chegou a agredir fisicamente uma professora da instituição com empurrões, as agressões verbais são constantes, seja com colegas ou professoras. Já foi advertido com suspensões varias vezes, a instituição o encaminhou para um psicólogo. Segundo relatos ele ainda permanece na instituição devido a situação de sua mãe.
Segundo entrevistas, 15 do total dos alunos são mais retraídos, tímidos e apáticosapresentam um comportamento passivo, não se interagem com o grupo não conversão a não ser quando são instigados. Apresentam desenvolvimento cognitivo lento para o conteúdo. Os desinteressados segundo entrevistas somam 33 dos alunos, esses não fazem as tarefas, conversam o tempo todo, respondendo de maneira rude as professoras. O restante os alunos que são a maioria apresentam comportamento de indisciplina e agressividade porem moderados sem grandes consequências.
Em entrevista semi-estruturada com uma mãe que se queixava do filho de apenas 06 anos de idade, que segundo ela o filho apresentava um comportamento agressivo, respondia com arrogância a todos, batia nos colegas apesar da pouca idade. Em casa brigava o tempo todo com seus dois irmãos mais velho, sempre inquieto e nervoso, quando a questionei o que acontecia em casa para que aquela criança apresentasse tal comportamento, foi relatado pela mãe sem nenhuma cerimônia que era pelo fato da criança presenciar cenas de violências causada pelo padrasto da criança, sendo esse dez anos mais jovem que sua mãe, um garoto de apenas 21 anos que não trabalha e abusa do álcool. O mesmo agredia a mãe o tempo todo na presença da criança, segundo a mãe sempre tenta defender a mãe partindo para cima do agressor e acabava apanhando também. Essa criança já não queria mais ir há escola, queria ficar o tempo todo com ela, acredito que seja para defende-la do padrasto. Ao observar seu comportamento pude notar a revolta estampada em seu rosto nunca sorria e não aceitava nenhum tipo de contado afetivo. Sua mãe era diarista trabalhava três vezes por semana para sustentar os filhos e o marido gigolo. Apesar de estar quase terminando o ano essa criança ainda não sabia escrever o nome, tinha somente algumas noções das vogais, pois segundo sua professora não tinha interesse algum em aprender.
Relatos do tipo violência doméstica cometidos contra criança da instituição foram apresentados em entrevistas semi-estruturadas com alguns pais, professores, alunos e a maioria dos casos relatados pela diretora da instituição que é a pessoa em que os alunos mais confiavam para fazer suas confidencias. Agressões do tipo espancamento são ao mais frequentes, em geral o pai é o que mais agride segundo queixas das crianças, seguida de mães, irmãos mais velhos e companheiros dos pais. Os hematomas dessas agressões geralmente estão estampadas pelo corpo, que muitas vezes são negadas pelos membros da família. Há também um caso de violência de abandono onde mãe deixou a filha de 13 anos na instituição argumentando que não queria mais a menina alegando que ficasse com ela acabaria "matando-a'', palavras da mãe. Segundo relatos da instituição o comportamento da menina era normal não apresentava sinais de agressividade, o conselho tutelar foi acionando para decidirem o futuro da menina que até o dia da entrevista estava morando na casa da diretora da instituição.
Há um caso de abuso sexual, onde o pai molestava sua filha de 12 anos que segundo relatos da criança para diretora, o pai esperava quando todos estivessem dormindo para entrar no quarto da menina onde não havia porta para molestá-la, a instituição entrou em contato com a família que negou tudo, a mãe parecia saber do caso, mas apresentava sinais de medo, foi colocado pela instituição uma porta no quarto da menina e os pais advertidos que a policia seria acionada. Essa criança foi encaminhada para o psicólogo, apresentando um comportamento apático é bastante retraída e seu rendimento escolar era baixo.
Casos de violência doméstica são constantes, a instituição faz um trabalho com pais e alunos afim de alertar para o papel da família, a importância que é para criança se sentir amada e respeitada. Há um acompanhamento psicológico para a família e a criança assistida. É feita visitas constantes para um acompanhamento familiar por funcionários e voluntários sempre que possível a instituição faz doações de alimentos para aqueles que estão passando por privações.
Outro caso observado por nós ao longo dessa pesquisa foi com E.S.S, um garoto que sentiu de perto as consequências da violência domestica, tendo nós acompanhado toda sua trajetória de vida em busca de dias melhores, era agredido fisicamente desde criança, espancamentos eram constantes, seu pai era um alcoolatra que bêbedo ou não o agredia juntamente com seu irmão mais velho e a mãe, quantas vezes tiveram que sair de casa de madrugada correndo pois o pai os ameaçavam com faca, e até chegou a incendiar a casa com o gás de cozinha. Acompanhado seu crescimento pude notar o quanto era triste, calado, muitas vezes não tinham o comer em casa, pois o pai não trabalhava, passavam por situações muito difíceis, várias vezes deixou de ir a escola porque não tinha o que calçar, já chegou a ir descalço mas sentia muita vergonha, era reprovado de ano constantemente, com 14 anos ainda estava na 3 série, passando estudar a noite pois não mais o aceitavam no turno diurno. Já com 16 anos abandonou a escola, pois não via na escola uma maneira de mudar a sua vida, seu irmão também não chegou a concluir a segunda serie, já havia desistido de tudo, não tinha mais esperança, mas ainda lhe restava um sonho, o de servir ao exército quando completasse 18 anos, mas infelizmente foi dispensado. Já sem nenhuma expectativa, entrou no mundo das drogas e a exatamente quatro anos atrás com apenas 18 anos de idade após ter se drogado, se envolveu em um acidente que o tirou pra sempre todos seus sonhos, que eram simples, ser militar, comprar um casa pra sua mãe que morava de aluguel. Uma criança que conviveu por dezoito anos com a brutalidade da violência doméstica, passando por humilhações, necessidades, espancamentos, segundo relatos da mãe "só agora teria encontrado a paz, que não sofreria mais nunca".
O caso acima relatado, apesar de ser único, serve de exemplo para elucidarmos o problema da violência doméstica. E.S.S. é apenas um dos milhares de jovens que trilharam no mundo das drogas e que infelizmente, teve um final dramático, culminando com a sua morte.
DISCUSSÕES
Acreditamos que a violência em São Sebastião tenha múltiplas facetas, contudo, nosso estudo indicou que a questão social e econômica e apenas um dos elementos. Teses como a de que o ser humano é violento por natureza também podem ser questionadas, pois a pesquisa indicou que crianças de boa índole também podem tender a violência, dependendo do ambiente em que vive.
Não e verdade que a violência tem origens sociais ou econômicas, em Brasília, é muito comum ver notícias de jornais nas quais alunos de colégios de classe alta ou média estão constantemente envolvidos em casos de violência, como e o caso recente de alunos do Colégio Galois que marcaram encontro no parque da cidade para brigar. Desajustes familiares são fatores importantes.
5- CONCLUSÕES
Podemos observar que a maioria dos alunos pesquisados tem carência afetiva. Alguns chegam até mesmo a relatar que vão para a escola por causa as comida ou para ficar longe de casa, contudo, a comida e apenas um desculpa.
Conclui-se nessa pesquisa que crianças e jovens que são submetidos a maus-tratos podem vir a ter comportamentos variados, como, agressividade, revolta, crianças apáticas e desinteressadas, em geral tristes e carentes. Podendo trazer atraso cognitivo á essas crianças.
Podemos observar ao longo da pesquisa que a violência está se tornando algo banal nós dias de hoje, vários foram os casos relatados, de abandono, espancamento, negligência, de abuso sexual, e muitos outros. Pode- se observar que em todos os casos de violência na família, tais crianças apresentaram um tipo de comportamento inadequado, dos já citados acima. Foi constatado que em todos os casos de maus-tratos as crianças e jovens apresentaram atraso cognitivo, muitos casos de repetência, de desinteresse e dificuldade de aprendizagem. Contudo vale lembrar que a violência doméstica não tem raízes na pobreza como vimos no tópico anterior e nem todas as crianças que passam por maus tratos apresentam dificuldades de aprendizagem. Esses foram casos específicos da instituição estudada.
6- BIBLIOGRAFIA:
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[i] Chamamos de signos culturais formas de estilos de vida que um grupo a classe dominante estabelece como sendo a única verdadeira. As vezes, signos culturais é confundindo com ideologia, contudo, distingui-se desta ultima por ser uma parte material da sociedade. Também entendemos por signos culturais critérios estabelecidos por um grupo dotados de autonomia que passa para um outro grupo sua cultura e seus valores para serem seguidos. (BURDIER,2008)
Autor: Jose Francisco De Sousa
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