Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade



Resumo: Atualmente muito se tem discutido sobre a conduta dos alunos no dia-a-dia escolar. Isso nos remete à um conflito vivido constantemente entre, pais, professores e alunos. O presente artigo visa estudar o caso de um garoto de 12 anos, que em meio a reclamações e notas baixas apresentou o transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. A definição deste transtorno e também suas características serão relatadas aqui para que o estudo faça jus. As possíveis causas e também as indicações de tratamentos e resultados serão expostas no longo desta pesquisa. Palavra Chave: TDAH, Transtorno.

1.INTRODUÇÃO:

O objetivo desta pesquisa foi estudar de forma cientifica o adolescente Milton César, que apresentava um bom desempenho escolar, boas notas, comportamento exemplar, mas que durante certo momento de sua vida, ao atingir o segundo ciclo do Ensino Fundamental, reverteu esse quadro e apresentou o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade.

Entendemos que o TDAH é caracterizado pela junção de três fatores: desatenção, hiperatividade e impulsividade. A desatenção se caracteriza pela dificuldade para sustentar a atenção por períodos prolongados, atender instruções, realizar as lições e tarefas.A hiperatividade se manifesta na agitação motora e comunicação "excessiva". Já a impulsividade é a dificuldade para aguardar a sua vez e intromissão em assuntos alheios.

  1. O DEFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE NAS ESCOLAS

As dificuldades de aprendizagem e comportamento desregrado dos alunos já são causas que estão em estudo há muito tempo de acordo com Moysés (1992), mas a partir do final do século XIX, pesquisadores concentram a busca das causas das dificuldades no funcionamento orgânico dos indivíduos, biologizando as questões educativas.

Sabemos que este transtorno na vida de uma criança associa-se a dificuldade no âmbito escolar, na interação e integração com demais crianças, professores, pais e outros. Essas crianças são consideradas como: "desatentas", "bagunceiras" e até mesmo rotuladas com a expressão: "formigas no bumbum" (ou seja, não param quietas por muito tempo).

O TDAH se manifesta de forma diferente com relação ao sexo da criança, ou seja, as meninas que têm o TDAH tendem a serem "dispersas" ou "vivendo no mundo da lua", fato que dificulta o encaminhamento e diagnótico prévio do transtorno, pois estas são como referência dentro de sala de aula pelo seu bom comportamento. Os meninos apresentam com mais intensidade os sintomas de hiperatividade e impulsividade, mas tanto um quanto outro são "desatentos". Essas crianças apresentam mais problemas com as regras e limites do que, comparadas às que não apresentam este transtorno. Vale ressaltar que, apresentar o déficit de atenção e hiperatividade não significa não ter ou não obedecer regras e limites.

É uma pena que muitos profissionais atualmente negam a existência do TDAH, fazem "vista grossa" e rotulam esses alunos sem ao menos observar que por de traz de certos comportamentos podem obter um diagnóstico não desejável, mas que justifique a conduta de tais alunos.

O professor e a família, ambos, diante da confirmação do TDAH, tem de repensar as estratégias metodológicas, os limites impostos, as responsabilidades à serem assumidas e cumpridas para que este transtorno não venha a se transformar em uma vida transtornada. Essas crianças precisam ser entendidas, precisam se fazer entender, elas precisam ser atendidas de acordo com suas competências e habilidades sem, entretanto depreciá-las ou tratá-las como "sem limites" ou "rotulá-las como doentes".

Citando Melanie Klein:

"Quando um homem e uma mulher casados transformam-se em pais, desenvolve-se uma nova situação psicológica real entre ambos, porque praticamente cada um dos esposos leva para o matrimônio concepções e esperanças anteriores relacionadas com a paternidade. Uma mudança na atitude dos componentes de uma casal pode, inclusive, remontar ao momento em que se tem à segurança da concepção, seja acidental ou não."(KLEIN, 1970, P.35)

Respaldado nisso, quando um filho nasce, várias são as expectativas que giram em torno da criança. Os pais almejam uma criança educada, saudável, desprovida de qualquer desapontamento social.

Conforme Pennington (2004) a criança com TDAH apresenta os seguintes tipos de comportamentos: falta de persistência em atividades que requeiram envolvimento cognitivo; mudança de uma atividade para outra sem completar nenhuma delas; abandono das atividades; cometimento de erros por falta de cuidado; dificuldade em manter atenção em tarefas ou atividades; desorganização de hábitos de trabalho; manuseio de objetos com descuido; dificuldades de pensar antes de agir, necessidade de agir rapidamente que sobrepuja sua reduzida capacidade de autocontrole; realização de infrações não premeditadas; impaciência; dificuldade de protelar respostas; necessidade de responder precipitadamente: dificuldade de aguardar a sua vez.

Araújo (2003) defende que:

" O sistema família, escola, fatores sociais, econômicos, culturais, afetivos e psicológicos podem desordenar os processos de aprendizagem, reduzindo a complexidade da questão num rótulo, potencializado pela conduta imperativa, agitada e hiperativa." (Araujo et all p. 15)

Essa questão do rótulo muito bem colocada por Araújo Et Al, relata a questão de taxarmos os nossos alunos não só dentro da própria escola, mas como também para a própria família. A escola deve caminhar paralelamente com a família, ou seja, lado a lado, buscando soluções, respondendo a indagações, tirando dúvidas e sem dúvidas sendo cúmplices uma da outra, tendo em vista um mesmo objetivo: SUCESSO.

De acordo com Topczerwski (2002), para firmar o diagnóstico, deve-se solicitar avaliação interdisciplinar, incluindo a neurológica infantil, psicológica e psicopedagoga.

Para Topczerwski (2002) o TDAH não tem uma definição aceita hunanimente. O ponto em que todos os estudiosos deste assunto concordam é que ela compromete de maneira significativa o comportamento do indivíduo. O mesmo define a hiperatividade da seguinte maneira: A hiperatividade é um desvio comportamental caracterizado pela excessiva mudança de atitudes e de atividades, ocorre tando pouco consistida em cada tarefa a ser realizada.

Para GUARDIOLA (2005) o TDAH são alterações dos sistemas motores, perceptivos, cognitivos, de comportamento, comprometendo o aprendizado de crianças com potencial intelectual adequado. Por esta definição podemos entender que o TDAH leva crianças a fazerem de tudo, menos aprender adequadamente, pois para a aprendizagem é exigido concentração, memorização e atenção.

Vale ressaltar, que o TDAH não se origina de um problema ambiental ou da relação familiar, senão que suas bases são neurológicas que provavelmente são transmitidos geneticamente e se dá através de um desequilíbrio de substâncias químicas do cérebro ou de neurotransmissores que regulam a conduta.Araújo Et Al (2003) afirma que a busca do diagnóstico de TDAH é um processo complexo, em que há muitas manifestações conscientes e inconscientes, e também que envolvem a parte pessoal, familiar atual e passado, a parte sociocultural a parte educacional.

Araújo Et Al (2003) "A acumulação de frustrações, de ansiedade, de agressões, de depressões e de insucessos é atividade por um sistemas escolar que insiste na maturação precoce." (P. 15)

As narrativas demonstram que lidar com uma pessoa que apresenta características de TDAH sua família mobiliza sentimentos intensos, como irritação, impaciência, receio e cansaço. Sentimentos de perplexidade e perturbação indicam estranhamento e desconforto ante um comportamento não esperado.

A contribuição genética para o TDAH parece ser muito relevante conforme sugerido pelas diferentes pesquisas.

De qualquer forma, estes supostos genes parecem ser responsáveis não pelo transtorno em sí, mas por uma suscetibilidade ao TDAH, e o seu desenvolvimento parece depender da interação destes genes com diversos outros fatores ambientais.

A participação de genes foi suspeitada, inicialmente, a partir de observações de que nas famílias de portadores de TDAH a presenças de parentes também afetados com TDAH era mais frequentemente do que nas famílias que não tinham criança com TDAH. A prevalência da doença entre parentes das crianças afetadas é de 2 a 10 vezes mais do que na população geral.

  1. UM ESTUDO DE CASO: Milton César

Milton César veio de uma família de classe média, sua gravidezfoi planejada e tranquila, nasceu de parto Cesário por opção da mãe. Enquanto bebê ele sempre se apresentou esperto, andou com nove meses, com um ano e três meses já tinha um vocabulário capaz de impressionar qualquer ouvinte, subia em muretas, descia com agilidade do berço, não se adaptou ao "anda já" e nem conseguia ficar dentro daquele famoso "cercado". Enquanto criança e já na fase escolar era adorado pelas professoras apesar de sua inquietude e energia. As reuniões de pais eram regadas de elogios proferidos ao garoto.

Em casa, nunca foi de obedecer a comandos com prontidão a não ser que fosse "ameaçado" ou até castigado. Não se comportava adequadamente em locais particulares e muito menos em locais públicos sempre tinha alguém que lhe chamava a atenção, ou proibindo de fazer algo. Nas reuniões ou festas de família não se socializava bem com os primos fazendo intrigas e procurando confusões. Durante anos Milton César apresentou comportamentos intrigantes como: erros por falta de cuidado, mudanças de uma atividade para outra sem concluir nenhuma, desorganização, necessidade de agir rapidamente, tentativas de chamar atenção, enfim, apresentou todas as características citadas por Pennington.

No decorrer do crescimento da criança, ela vai se relacionado com outros grupos, entra para a escola, vai muito bem nos primeiros anos, mas eis que começam a surgir os obstáculos.

A sequência dos anos escolares foi realizada na mesma escola até o segundo bimestre da 4ª série, notas boas, um recado de vez em quando na agenda, coisa de criança. No meio da 4ª série o garoto vai para uma escola pública, pois a mãe não estava satisfeita com a atual professora e conseguiu uma vaga em uma escola na qual tinha boas referências na questão de ensino. No final do ano letivo a criança reprova, mas não por causa de nota, pois os pontos que ele obteve na escola particular somadas aos míseros pontos que ele alcançou na escola pública já eram suficientes. A professora orientou a mãe desse aluno, no sentido que a criança não tinha maturidade ainda para enfrentar uma 5ª série, descomprometida, e com potencial baixo. Sendo assim a criança repetiu a 4ª série e no ano seguinte, fez uma excelente 4ª série, elogios, notas boas e alto estima elevada.

No ano em que vai cursar a 5ª série a criança regressa para a mesma escola particular onde já havia estudado os outros anos. Promessas de ótimos professores, metodologias diversificadas dentre outras propostas. Durante o período de readaptação na escola, surge o primeiro conflito: a diretora convoca a mãe à escola e pergunta se o seu filho tem problema urinário, pois pede para sair da sala de instante em instante.A escola encenava que o garoto era mal educado e não tinha limites em casa. A família afirmava que faltava "jogo de cintura" por parte da equipe escolar para manter o interesse do aluno no foco desejado. Todos sabem que família e escola são aliadas, cúmplices e não inimigas.

Passado algum tempo a escola sugere aos pais do aluno que o mesmo passe a realizar algumas sessões com a psicóloga da escola, após três encontros com Milton César e um encontro com a mãe dele, a psicóloga faz um diagnóstico da família toda. A família do garoto protestou o laudo da psicóloga, da escola, que afirmou que a mãe da criança é uma pessoa estressada e além de estar casada há 21 anos tem aversão ao pai do menino que possui, na maioria das vezes, a mesma atitude do garoto, e como a mãe "não pode" corrigir o esposo, ela manifesta suas indignações na criança. É fato que Milton César possui as mesmas características de seu pai, tais como: comer em pé, não realizar uma atividade de cada vez, se queixar constantemente das coisas, tem dificuldade de se organizar e facilidade em cometer infrações.

Os pais da criança suspenderam a psicóloga da escola e procuraram outra para um novo tratamento, que ainda não sabiam ao certo qual seria, mas sabiam que alguma coisa estava transtornada. É por isso que muitos pais se perguntam: "O que fizemos de errado para que isso acontecesse?"

  1. A INICIATIVA E A CONFIRMAÇÃO

Em meio aos transtornos que vinham acontecendo na escola e em casa, a mãe de Milton César decide procurar, sem ser encaminhado, ou seja, por conta própria, um neurologista. Este solicita um exame clínico chamado P-300. Confirma-se então que o garoto apresenta o Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade.

Após esse diagnostico a família procurou profissionais adequados para amenizar o transtorno, hoje a criança é acompanhada por um neuropediatra, psicóloga, fonoaudióloga e recentemente foi encaminhado para um otorrinolaringologista pela fonoaudióloga. Hoje temos um serie de dados para o diagnostico de Milton César como, por exemplo, o fato de ele estar respirando pela boca, fator que pode ser a chave que desencadeará o transtorno de déficit de atenção, pois crianças que inalam pela boca não oxigenam o cérebro, não filtram o ar e isso pode vir a causar problemas mais graves.

De acordo com uma pesquisa desenvolvida pela UniCamp-SP, quando se respira com dificuldade, a respiração alterada leva ao que se chama de desnaturação, ou seja, prejuízo da oxigenação em áreas do cérebro como a área pré-frontal, que é a mais comprometida no TDAH, agravando ainda mais o quadro. Dessa maneira a criança não dorme bem, e isso pode prejudicar a atenção, a conduta e o aprendizado. Os tratamentos feitos com Milton César estão mostrando resultados mais positivos do que o esperado. "M" mudou de escola logo no primeiro bimestre da 6ª série por orientação médica, pois via-se quea maioria dos professores eram despreparados e desprovidos de técnicas e metodologias para lidarem com alunos que apresentam o TDAH e apesar de vários laudos enviados para a antiga escola solicitando o atendimento diferenciado, adaptação curricular, provas orais e outros, não foram atendidos. Milton César se adaptou muito bem a nova escola que garantiu dar todo o apoio necessário com relação ao TDAH, para reverter o quadro de rótulos, frustrações e transtornos que o garoto enfrentou a te o momento atual, mostrando que o transtorno quando compreendido não se torna um transtorno.

  1. CONCLUSÕES

Diante do que foi abordado neste trabalho acadêmico, verificamos que vários são os fatores que podem contribuir para o sucesso ou fracasso na vida de alguém. "É comum ouvir médicos alegando aos pais que o TDAH vai desaparecer com o tempo." Isso não é verdade. As crianças com TDAH apresentarão esses sintomas poderão ou não interferir de modo significativo em suas vidas profissionais, sociais e familiares dependendo do tratamento.

O que já foi apresentado, talvez seja uma forma inusitada de se ouvir falar a respeito do TDAH.

Não se pretendeu fazer exposições pessoais, mas sim relatar brevemente a vida escolar de um garoto, a meta foi mostrar que o transtorno de déficit de atenção com hiperatividade quando não compreendido se torna um transtorno.

  1. BIBLIOGRAFIA

PENNINGTON, B. F. A Hiperatividade na Aprendizagem. São Paulo: Pioneira, 2004.

TOPAZEWSKI, A. Hiperatividade: Como Lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002

PHELAN, T. W. TODA / TDAH. Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. São Paulo.

ANDRADE, E. R. Indisciplinado ou Hiperativo? Nova Escola. São Paulo: Nº 132, maio, 2000, p, 30  32.

DOCUMENTOS ELETRÔNICOS

Araújo, E. F. et AL. Hipertatividade: sucesso de aprendizagem segundo o pensamento de Nadia Bossa. 2003. Disponível em: users.hotlink.com.br/2003/02/hiperatividade-sucesso-de-aprendizagem.html.


Autor: Jose Francisco De Sousa


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