A ESCOLA E O CURRÍCULO ESCOLAR FRENTE AOS NOVOS DESAFIOS SOCIAIS



O século XXI traz consigo uma nova forma de pensar enfrentamos um momento crítico no processo de mudanças das práticas educativas, o impasse da educação hoje é a existência de um profundo abismo entre o mundo fora da escola e o interior.

A sociedade mudou muito nas últimas décadas, mas a educação formal continua essencialmente inalterada, continuando a confundir um amontoado de fatos com conhecimentos; a ignorar os estilos individuais de aprendizagem de cada aluno; a exigir uso apenas de memorização e não de capacidades cognitivas de alta ordem como interpretação, julgamento e decisão.

 Para Assmann, (1998) a educação na pós-modernidade necessita estar disposta à desconstrução de modelos e ao abandono de crenças e continuidades de situações historicamente canceladas. O antigo paradigma educacional tornou-se incapaz de lidar com as constantes mudanças ocorridas na sociedade nos últimos trinta anos.

Na concepção tradicional de Educação, as habilidades mais valorizadas são a lingüística (capacidade de ler, compreender e escrever textos) e a lógica-matemática (capacidade de processar informação quantitativa), porque essas são aquelas necessárias para empregos na indústria e comércio. A memorização de informações é fundamental neste paradigma; respostas corretas às perguntas dos exames, isto é, conformidade a um modelo imposto e esperado de cada aluno.

É com esse currículo que a escola vem garantindo a clonagem social (BAUDRILLARD, 2002), através da qual os seres se tornam cópias fiéis uns dos outros.

Segundo MORAES, ( 1997, p: 27) "A era das relações requer, por sua vez uma nova ecologia cognitiva, traduzida na criação de novos ambientes de aprendizagem que privilegiem a circulação de informações, a construção do conhecimento pelo aprendiz, o desenvolvimento da compreensão e, se possível o alcance da sabedoria objetivada pela evolução da consciência individual e coletiva." 

 A sociedade contemporânea está marcada por um estilo de vida voltado para a técnica, para o individualismo, para o resultado, para o sucesso a qualquer preço, assim, tenta suprimir ou colocar em segundo plano as diferenças, as relações humanas , a importância do outro, a postura crítica, a afetividade.

 O currículo educacional é visto através de uma filosofia de separação: o conhecimento humano é dividido em matemática, português, geografia, história, literatura, língua estrangeira, química, física, etc. sem a mais remota possibilidade de estabelecer possíveis inter-relações entre elas. Até o presente momento a educação foi regrada pela separação, foram separados os conhecimentos em disciplinas o que aprende do que se ensina o que planeja do que executa. E o aluno que consegue terminar esse tipo de estudo é considerado "formado", apto para o mercado de trabalho. O ensino organizado de forma fragmentada, que privilegia a memorização de definições e fatos, bem como soluções padronizadas, não atende mais às exigências do novo paradigma.

De acordo com o relatório Mundial da UNESCO, elaborado pela Comissão Internacional sobre a Educação para o Século XXI (DELORS, 2000) relata a existência de quatro eixos fundamentais que devem nortear a educação: aprender a conhecer aprender a conviver, aprender a fazer e aprender a ser.

O "aprender a conhecer" vem enfatizar a importância do domínio dos próprios instrumentos de conhecimento com a finalidade de compreender o mundo.

É necessário entender o mundo ao redor para poder viver a vida com alguma dignidade, autonomia, habilidade ocupacional e capacidade de se comunicar com os outros (DWYER, 2002, p.01).

O "aprender a fazer" enfoca a formação profissional. A escola deve ajudar o aluno a preparar-se para a empregabilidade, tendo em vista as implicações do processo de globalização e das mudanças rápidas.

A finalidade maior da educação passa a ser a necessidade de formação de um cidadão solidário, humano e com ideais de justiça. A moderna concepção de qualidade em educação é a visão do ser humano em sua totalidade.

O "aprender a conviver" é o que mais desafios trarão à escola e aos educadores. Poderemos conceber uma educação capaz de evitar os conflitos, ou de resolvê-los de maneira pacífica, desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, e da sua espiritualidade? O clima geral de concorrência que caracteriza a atividade econômica de cada país tem a tendência a dar prioridade ao espírito de competição e ao sucesso individual. Em meio ao competitismo globalizado o desafio da educação é a de unir capacitação competente com formação humana solidária, e é através da escola que esta interferência irá se der de maneira lenta, porém profunda e constante nos indivíduos. É sua incumbência proporcionar a descoberta da dinâmica básica da vida.

O novo paradigma educacional em desenvolvimento sugere uma escola em que a ênfase seja colocada não na memorização de fatos ou na repetição de respostas "corretas", mas na capacidade do aluno pensar e se expressar claramente, solucionar problemas e tomar decisões adequadamente; com um currículo que reconheça o valor de outras formas de inteligência, além da lingüística e da lógico-matemática. Currículo este que ofereça uma visão holística do conhecimento humano e do universo natural que o homem habita e do aumento do uso das novas tecnologias de comunicação, caracterizadas pela interatividade.

De acordo com GOODSON, (1995, p:67) "precisamos abandonar o enfoque único posto no currículo como prescrição. Isto significa que devemos adotar plenamente o conceito de currículo como construção social, primeiramente em nível da própria prescrição, mas depois também em nível de processo e prática."

O currículo nasce de alguém, mas principalmentepara alguém. O ideal é que esse alguém para quem se constrói o currículo não seja um sujeito hipotético, que habite apenas no imaginário daqueles que na escola têm a tarefa de construir um currículo. O importante é que esse alguémparticipe desta construção, da elaboração deste currículo que a ele se destina, através da interação dialógica entre aluno e professor.

Muitas escolas, num desespero de se mostrarem contemporâneas, numa busca para demonstrarem que estão praticando o discurso moderno da educação, se obrigam práticas interdisciplinares sem estarem com os atores preparados e por isto fazem no máximo uma multidisciplinaridade articulada. O desafio é saber articular, no currículo, a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade, capacitando seus professores para isto, já que a formação acadêmica destes não foi capaz de fazê-lo.

Falar em currículo na educação do século XXI é, falar de um currículo de incertezas. E esse é o grande desafio. E, por lidar com incertezas, que o currículo não pode ser pacote, terá que ser dialógico e transformativo.

Como destaca Assmann (1999, p.32), A escola de hoje tem que, em diferentes níveis, acabar com três analfabetismos. O da lecto-escrita, o sociocultural e o tecnológico, a escola tem que permitir que os alunos aprendam a ler escrever e fazer contas, que saibam em que tipo de sociedade vivem e aprendam a interagir com máquinas complexas. Toda escola que se mostrar incompetente para derrotar qualquer um desses analfabetismos é socialmente retrógrada.

Na educação, é o professor que, com sua ação, pode provocar as rupturas e a emergência de um novo fazer, devendo ajudar a dinamizar o processo fazendo o evoluir os conceitos do sujeito que aprende, considerando a não existência de conhecimentos prontos, mas processos de uma dinâmica coletiva de reflexão, negociação e evolução de significados.

Acentua-se a importância do reconhecimento de que "os professores deveriam desempenhar papéis ativos na formulação dos propósitos e finalidades do seu trabalho(...), de liderança na reforma escolar(...) de que a produção de novos conhecimentos sobre o ensino e a aprendizagem não é propriedade exclusiva dos colégios e universidades ou centros de pesquisa e desenvolvimento, (...) de que os professores também possuem teorias, de que podem contribuir com a construção de um conhecimento comum sobre boas práticas de ensino". (ZEICHNER, 2002, p: 34).

A adequação, participação e flexibilização curricular se mostram essenciais para o currículo na escola democratizada.

A melhor forma de ensinar é aquela que propicia aos alunos o desenvolvimento de competências para lidar com as características da sociedade atual, que enfatiza a autonomia do aluno para a busca de novas compreensões, por meio da produção de idéias e de ações criativas e colaborativas.

A luta continua, as reflexões e experiências têm sido intensas e indicam que é preciso romper com as práticas inflexíveis, que utilizam os mesmos recursos independentemente dos alunos, sujeitos da aprendizagem; e o novo currículo que devemos construir é o currículo das redes sociais, da responsabilidade individual e coletiva. Um currículo da inclusão, que enxerga e respeita as diferenças.

Esta é sem dúvida, uma nova e difícil empreitada que exige coragem para enfrentar o desafio posto: buscar novas teorias e abrir mão das verdades há muito estabelecidas na mente de cada um. Significa rupturas, desconfortos, insegurança e receios; requer dos profissionais da educação a disponibilidade para se aventurarem por novos campos do conhecimento e da ciência para darem conta, minimamente, de realizarem as articulações que a temática solicita. Desafio este, salutar para adequar-se às demandas contemporâneas.


Autor: Marli Mendes


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