Resenha sobre Memorial do Convento,de José Saramago



Emanuela Mendes Kruschewsky**

O livro "Memorial do Convento", do autor português José Saramago relata o período em que foi construído o convento, em Mafra, para cumprimento de uma promessa feita por D.João V. Memorial do Convento é um exemplo de romance histórico cuja influência ficcional consolida e enfatiza mais ainda fatos históricos em que este tipo de romance atua diretamente entre a história criada por Saramago se confunde com a história real de Portugal, segundo Hutcheon: "A interação do historiográfico com o metaficccional coloca igualmente evidência a rejeição das pretensões de representação "autêntica" e cópia "inautêntica",e o próprio sentido da originalidade artística é contestado com tanto vigor quanto a transparência da referencialidade histórica."

A construção do convento de Mafra marca o ato principal e à volta deste fato envolvem a parte física, humana e penosa do processo e a pertinácia petulante e ingênua do rei: "Prometo, pela minha palavra real, que farei construir um convento de franciscanos na vila de Mafra se a rainha me der um filho no prazo de um ano, a contar deste dia em que estamos...". Num momento paralelo, à principal ação pode ressaltar duas personagens que se convergem com os seus sortilégios e ternura desinteressada contra a humanidade trágica do real: Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas. É Blimunda, em sua simplicidade, que acusa a miséria a que são submetidos os seus iguales, mas também, o valor e a pureza sentimentais, sendo ela, de tal forma possuidora de capacidades especiais. A deficiência física de Baltasar, que perdeu uma das mãos na Guerra da Sucessão, o traz de volta a Lisboa como mendigo, aos 26 anos e durante um violento auto-de-fé conhece Blimunda, uma mulher com dotes adivinhatórios e realçada pelo inexplicável, capaz de, ver "por dentro" das pessoas e das coisas, e o próprio padre Bartolomeu de Gusmão, criador da passarola voadora, os batizam novamente: "... o padre virou-se para ela, sorriu, olhou um e outro e declarou, Tu és Sete-Sóis porque vês às claras, tu serás Sete-Luas porque vês às escuras...".

O povo, enquanto personagem coletiva é tratado e retratado durante todo o romance como componente e massa, instituição humana válida e fraca, humilhada em sua essência, derrubada em seus valores e sentidos, mas com uma força interior que permite vencer os infortúnios, contrapor o poder e resistir à indiferença e obscuridade de serem meros coadjuvantes da história. Em Memorial do Convento, Saramago põe em evidência justamente este aspecto e presta uma homenagem aos ilustres esquecidos, que afinal construíram não só o símbolo de Mafra, mas toda a História de Portugal.


Autor: Emanuela Kruschewsky


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