ENCONTRO COM YAN



Meu nome é Maicol Stein, sou jornalista. Meu nome era para ser Michael em homenagem ao cantor, do qual minha mãe era fã, mas o escrivão escreveu a pronúncia e não a grafia correta. Meu pai queria que fosse Frank, como o outro cantor, porém minha mãe venceu caso contrário meu nome seria Frank Stein.

Certo dia viajando de carro para a serra enfrentei um forte nevoeiro na rodovia e numa encruzilhada, perdi o rumo. Quando a neblina se dissipou, me vi numa estrada poeirenta que sumia no campo. Estava pensando em voltar quando avistei um homem sentado ao pé de uma laranjeira à margem do caminho. Desci do carro e me dirigi a ele.

- Bom dia! Saudei.

- Bom dia! Respondeu o homem de aparência humilde e cordial. Usava camisa xadrez, calça de linho, branca, remendada nos joelhos e calçava umas botinas sujas de barro. No chão ao seu lado estava um chapéu de palha. Com um canivete niquelado cortava fumo na palma da mão para fazer um cigarro.

- O senhor pode me informar como faço para encontrar a rodovia para Gramado?

O sujeito meneou a cabeça e respondeu:

- Estou de férias e resolvi não ajudar ninguém.

Estranhando a resposta grosseira do homem, não insisti e comecei a voltar para o carro.

- Da próxima vez preste mais atenção nas placas de sinalização, Maicol.

Ao ouvir meu nome, retornei.

- Nós nos conhecemos? Não estou me recordando do senhor...

- Conheço você, conheço todo mundo. Sei de tudo e de todos.

- O senhor é vidente? Lê pensamentos?

- Não exatamente como você pensa.

- Mágico? Profeta?

- Muito mais do que isso. Respondeu o homem com um leve sorriso.

- Como se chama?

- Pode me chamar de Yan.

- Yah?

- Não! Yan é um apelido. Tenho vários nomes, mas prefiro Yan, o Abstrato.

Yan tirou uma palha do bolso da camisa, colocou o fumo e enrolou com cuidado, umedecendo a borda com a ponta da língua. Com o cigarro entre os dedos, perguntou:

-Tem fósforos?

Peguei o isqueiro e acendi-lhe o palheiro. Ele tragou a fumaça como se esperasse algo prazeiroso, mas logo se ergueu e começou a tossir como se fosse botar os pulmões pela boca. Acalmando-se, jogou o cigarro no chão e pisou em cima.

- Merda! Eu nunca me acostumo com isso!

- O senhor sabe mais alguma coisa sobre minha vida? Perguntei.

Ele voltou a sentar-se, suspirando.

- É claro! Teu pai se chama José e tua mãe Josefina. Você não gostava de estudar e teu pai ameaçou te internar num colégio de padres, então, você se esforçou, estudou e resolveu ser médico. Na faculdade se apaixonou por uma moça e como não era correspondido, deixou a faculdade de medicina para ser jornalista com a intenção de ser correspondente de guerra no Oriente Médio, com esperança de lá morrer por uma bala perdida, aliás, não precisava ir tão longe! Por fim, você achou que não valia à pena morrer por amor. Acertei?

Yan, o Adivinho.

Espichei o lábio inferior e sacudi a cabeça, concordando.

- É isso mesmo!

Eu estava admirado. Yan sabia de tudo, mas quem era realmente Yan? Teria ele outros poderes?

- Senhor, posso lhe fazer algumas perguntas?

- Faça.

Havia tantas coisas que eu queria saber, que não sabia por onde começar. Escolhi uma.

- Gostaria de saber algo sobre o meu futuro.

- O seu destino é traçado de acordo com alguns eventos aleatórios normal no sistema em que você vive, alguns deles você pode controlar através de decisões corretas, visando um futuro melhor.

Yan, o Lógico.

- Meu horóscopo diz que...

-Baboseiras! Fico espantado quando me deparo com alguém em pleno século vinte e um que não consegue extirpar de si o temor e a ignorância ancestral!...

Procurei ignorar aquela reprimenda.

- O mundo vai acabar um dia? Quando?

- A catástrofe pode ser provocada pelo próprio Homem. Degradação do meio ambiente, guerra, e o mau uso do conhecimento científico. A tecnologia, o conhecimento científico, avança rápido, mas o sistema social é imperfeito e os valores morais são ignorados. A distância que separa a Igreja da Ciência separa o homem da sua verdadeira natureza. Precisa o apocalipse acontecer para depurar a humanidade?

O tom de voz de Yan foi duro e eu fiquei a pensar se aquela pergunta era hipotética ou uma advertência.  Resolvi mudar de assunto.

- Existe vida fora da Terra?

Yan olhou para cima, espichou o braço pegou uma laranja do galho mais baixo e começou a descascá-la com o canivete.

- Você existe, não existe? Respondeu ele.

- Sim, claro! Mas, não entendi!...

- Conhece a piada da minhoca?

- Não.

- Duas minhocas conversavam, disse uma:- Ouvi dizer que existe vida fora da terra.

A outra respondeu: - Só pode ser vermes com duas cabeças!

Yan começou a rir, ficou vermelho e parecia que ia explodir.

Não achei nada engraçado, mas ri da mesma forma.

Depois ele se acalmou e passou a comer a laranja.

Enquanto ele comia, fiquei a pensar no significado daquela parábola, mas logo desisti. Resolvi fazer outra pergunta.

- Sempre me preocupei com meus atos aqui na Terra e com meu futuro na eternidade. Quando eu morrer irei para o paraíso?

Yan se inclinou e começou a se sacudir, parecia rir, mas fez gestos estranhos até que entendi. Com a mão aberta bati nas costas dele. Ele havia se engasgado. Cuspiu o bagaço da laranja, respirou fundo e relaxou, embora o rosto continuasse avermelhado.

Yan, o Imperfeito.

- Estou te dando à oportunidade de fazer perguntas importantes e você me vem com asneiras! Inferno e Paraíso não são lugares. Disse ele de mau humor. Para não aborrecê-lo mais, procurei mudar de assunto.

- Bem, vejo que o senhor sabe de tudo, gostaria de saber se têm outros poderes. Poderia fazer alguma coisa sobrenatural? Fazer aquela vaca no campo voar, por exemplo.

Ele descalçou uma botina e começou a fazer massagens no pé. Notei que a meia estava furada no dedão.

- Estou de férias, portanto, não farei mágicas nem milagres, e também por questões de extraterritorialidade.

Yan, o Justo.

- Extrater....

- Você já me fez muitas perguntas. Não vou responder a mais nenhuma.

Disse Yan, voltando a calçar a botina.

- Isso não é justo! Eu....

Yan olhou para mim como se fosse me transformar num sapo. Após uma pausa, disse:

- Está certo. Vou lhe dar a chance de responder a sua ultima pergunta se você resolver um enigma. È muito fácil!

- Pode fazer, seja o que Deus quiser!

- O que é que, de manhã anda com quatro pés, meio dia anda com dois e à tarde com três?

Yan, a Esfinge.

- Essa é muito fácil! É o meu vizinho Juvenal, ontem ele saiu de manhã com o carro, meio dia voltou a pé, por que o carro estragou, no caminho machucou o pé e voltou para casa à tarde, de bengala.

Yan me olhou admirado. Ergueu-se, pegou o chapéu, colocou na cabeça e disse:

- Faça a sua pergunta, preciso continuar o meu passeio.

Não levei muito tempo para pensar.

- Está bem. Como faço para chegar à rodovia?

 FIM

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Antonio Stegues Batista


Autor: Antonio Stegues Batista


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