RECIPROCIDADE ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E IGREJA



RECIPROCIDADE ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E IGREJA

NA MISSÃO DE EDUCAR:UM DESAFIO À PASTORAL DA EDUCAÇÃO*

Neurisângela Maurício dos Santos Miranda1

Neurivânia Maurício dos Santos Jurema 2

RESUMO: Ciente de que a missão de educar não é uma simples tarefa, e sim um grande desafio que transcende o campo profissional, atingindo o espiritual, neste desígnio nos propomos a debater algumas questões que pautam-se exatamente no bojo desta assertiva, em que, de maneira teoricamente fundamentada, aborda-se a necessidade de rever as vertentes que tem circundado o campo da construção das relações intercambiáveis de recíproca entre Escola, Família e Igreja  instituições que trazem, em sua essência, a missão de educar. Nesse contexto, pensando em um mecanismo que perpassasse pela três esferas educativas de forma livre e consciente, sem perder de vista a missão educativa concernente a cada uma, é que desvela-se a Pastoral da educação, uma pastoral nova, mas que pode patentear muitas ações evangelizadoras sociais  aludidas na Doutrina Social da Igreja (DSI) que outras pastorais não conseguiram devido a essa falta de contato dialógico das instituições já mencionadas. Assim, à luz de literaturas específicas do campo teológico e pedagógico, engendramos esse propósito que nada mais é que um conclame, enquanto família, escola e igreja, por um porvir mais justo e mais equânime que legitime, a partir de ações concretas, o que reza a linha mestra mor da Doutrina Social da Igreja: Centralidade e dignidade da pessoa humana.

Palavras chave: pastoral da educação, reciprocidade família/escola/igreja, missão, DSI, melhoria social/humana.

ABSTRACT :: Aware that the task of educating is not a simple task, but a challenge that transcends the professional field, reaching the spiritual, this design we propose to discuss some issues that are guided precisely in the midst of this assertion, in which so theoretically founded, addresses the need to review those aspects that have surrounded the field of building relationships of mutual interchangeable between school, family and church - institutions that bring in its essence, the mission of educating. In this context, thinking of a mechanism that encompasses the three educational levels in a free and conscious, without losing sight of the educational mission concerning every one, is unveiling to Pastoral Education, a new ministry, but many can patent evangelizing social actions - alluded to the social teaching of the Church (DSI) - that other pastoral failed due to this lack of dialogical contact the institutions mentioned above. In the light of literature specific field of theology and pedagogy, that engender that respect is nothing more than a calling in as family, school and church, for a future more just and equitable that legitimates, from concrete actions, which says the master line mor of the Social Doctrine of the Church: Centralization and human dignity.

Keywords: ministry of education, reciprocity family / school / church, mission, DSI, improved social / human.

_____________.

* Este artigo é fruto de uma suma do trabalho monográfico realizado pelas autoras na conclusão do curso de Teologia Pastoral para Leigos em Caetité  Bahia  (Parceria UNEB/Cúria Diocesana de Caetité) no período de novembro de 2009;

1. Graduada em Pedagogia (UNEB-BA); Especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior (Faculdade de Guanambi - Ba); Professora da Rede Pública Municipale Particular de Ensino da cidade de Palmas de Monte Alto  Ba, ainda atua como coordenadora pedagógica no município, recentemente concluiu o Curso de Teologia Pastoral para Leigos (UNEB/Cúria Diocesana de Caetité-Ba).

2. Graduada em Pedagogia (UNEB-BA); Especialista em Gestão Escolar (UCB  universidade Castelo Branco - IESD); Professora da Rede Pública Municipal de Ensino da cidade de Palmas de Monte Alto  Ba.) , recentemente concluiu o Curso de Teologia Pastoral para Leigos (UNEB/Cúria Diocesana de Caetité-Ba).

1. INTRODUÇÃO: DO PULSAR AO EFETIVAR DE ATITUDES

Só existe um tema para a educação que é a vida em todas as suas manifestações.

Alfred Noth Whitehead

Imbuídas num contexto assinalado por lutas constantes em prol de um mundo melhor, mais justo e mais equânime, despontou nosso ávido interesse, enquanto membros constituintes da escola, da família de da Igreja, em fazer brotar uma discussão urgente e teoricamente fundamentada de modo que albergasse a relevância da missão de educar, não num sentido prenotado do instruir, e sim, no sentido macro da sábia construção de um caminho espiritual que entrelaça os conhecimentos oriundos das lições da convivência sóciocultural (principiadas no seio da família), da ciência (patenteadas nas instituições escolares) e da fé (apregoadas pela Igreja).

Cumpre ressaltar que esse entrelace só terá validade se balizado pelo confluir recíproco entre essas três instituições  Família/Escola/Igreja que tem em comum a missão de educar e, nesse ínterim, ressalta-se que o conteúdo mor desse dessa missão é a vida em todas as suas dimensões. Se não se educa para vida, não se educa se instrui para algo específico, sendo que essa substituição da educação pela instrução tem sido, em nossa percepção, a principal causa de tamanha fragmentação do ser humano constantemente alvejado por crises existenciais que vem atingindo, principalmente, o jovem e o adolescente, os quais são carentes de pressupostos basilares de autoconhecimento que deveria ser ensinado na família, sistematizado pela escola e desvelado em outras dimensões pela Igreja. Contudo, isso não tem acontecido efetivamente, em especial nas comunidades eclesiais católicas, por essa razão, torna-se nosso foco de discussão na tentativa de, a partir da realização desse desígnio, prontamente refletir possíveis soluções para tal situação, alicerçadas nas potencialidades da Pastoral da Educação.

Qualquer esforço no sentido de implementar uma prática que abrande as problemáticas mencionadas, deve ser endossado em objetivos claros que delineiem meticulosamente aquilo que se pretende alcançar. Nesse esboço, conjeturou-se como propósito geral de nosso empreendimento perscrutar e apontar formas concrescíveis de constituição real, da Pastoral da Educação, de modo que as potencialidades a ela inerentes possam contribuir para a otimização das relações dialógicas de recíproca entre Família, Escola e Igreja com vistas à efetivação cabal da difícil missão de educar. Além disso, buscar-se-á promover maior inserção e significação da pastoral mencionada na comunidade eclesial.

Sob essa configuração, enlevou-se uma série de demandas recorrentes e emergentes de nosso tempo, de nossa sociedade que precisavam ser estudadas, debatidas, assumidas e solucionadas, em especial na educação de jovens e adolescentes em situação de risco (envolvidos com entorpecentes, álcool e principalmente promiscuidade). Sentimos que a Família, a escola e a Igreja (aqui delimitamos à igreja Católica),estão em dívida com a comunidade no que se refere ao efetivo cumprimento de sua missão.

Nessa conjuntura, observa-se um latente alheamento por parte das famílias frente a problemática da educação, o que levou-nos a uma situação de inquietude, pois enquanto componentes desse processo, seja na docência, na convivência familiar ou na evangelização, assistimos de perto a depreciação do compromisso com o nosso tempo, com o nosso futuro e com o real conceito de educar:

A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salvá-la da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum.

(ARENDT, 1997, p. 274)

O distanciamento e a superficialidade inerentes nas relações entre o fazer educativo e as demandas sociais e espirituais têm sido o objeto de discussão de muitas teorias destinadas ao campo teológico e pedagógico, as quais elencam uma gama de inquietações em relação ao comprometimento das principais instâncias educativas com o mundo, bem como com as crianças, jovens e adolescentes que buscam incansavelmente, uma constituição identitária plausível e coerente com o contexto em que estão inseridos.

Seria ingênuo de nossa parte tecer tais comentários sem pesquisarmos as possíveis causas dessa escassez de reciprocidade entre tais instituições. Causas essas que podem ter seu gérmen aflorado na postura historicamente engendrada de cada uma dessas entidades. E com o propósito de visualizar uma resposta verossímil, para, a posteriori, apontar um caminho conducente à mudança, fez-se urgente pesquisar e refletir dialeticamente no entorno das seguintes questões:

  • Qual o conceito de Família, Escola e Igreja construído no decurso da história?

  • Como essas três instituições, que tem em comum a missão de educar, podem se ajudar mutuamente?

  • Quais as potencialidades da Pastoral da Educação?

  • A Pastoral da Educação poderia colaborar nesse processo de reciprocidade entre Família, Escola e Igreja na missão de educar? De que maneira?

  • Existem experiências da Pastoral de Educação que conseguiram viabilizar ações nessa perspectiva?

  • Como o pároco tem articulado a constituição do grupo da Pastoral da Educação e a plena efetividade das ações concernentes a essa pastoral?

  • Qual postura os envolvidos diretos com a Pastoral da Educação devem assumir frente ao desafio de colaborar com o ideário proposto?

  • Qual o valor da DSI em todo esse processo?

Foram essas as interrogativas que delinearam o lastro de nosso desígnio, cujos resultados poderão contribuir, de maneira acertada, para o reverter dessa situação que só prorroga o desenvolvimento da pessoa humana - em todas as acepções da palavra.

É patente que, atualmente, tem-se notado a abertura de algumas janelas promotoras de conversão desse quadro, mas só janelas não bastam, é preciso abrir portas, construir pontes para que o apregoar da mudança seja completo.

Encontramo-nos, assim, insatisfeitas. E foi nessa condição de insatisfação crítica que intensificou-se o nosso pulsar neste mister:

Como um insatisfeito com um mundo de injustiças que está aí, ao qual o discurso 'pragmático' sugere que eu simplesmente me adapte, devo, é óbvio, hoje, tanto quanto devi ontem estar desperto para as relações entre tática e estratégia. Uma coisa é chamar a atenção dos militantes que continuam brigando por um mundo menos feio de necessidade de que suas táticas não contradigam sua estratégia [...] seu sonho [...] de que suas táticas se realizam na história, por isso mudam, e outra é simplesmente dizer que não há por que sonhar.

(FREIRE, 1992:91)

É preciso relatar que esse trabalho consiste em um convite, um chamamento, a outros trabalhos de condiscípulos concatenados com o desígnio e debates aqui engendrados.

Eis o nosso compromisso: fazer valer o ideário aqui redigido desde o pulsar até o efetivar de atitudes.

2.RECIPROCIDADE ENTRE FAMÍLIA, ESCOLA E IGREJA

NA MISSÃO DE EDUCAR:UM DESAFIO À PASTORAL DA EDUCAÇÃO

O conhecimento e todas as alternativas culturais de sua recriação só fazem sentido quando representam alguma forma de trabalho dialógico e destinado a compartir crescendos de compreensão da vida e da felicidade na vida.

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Autor: Neurisangela Mauricio Dos Santos Miranda


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