Professor indignado



PROFESSOR INDIGNADO

 

                Segundo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira (2001: 384) indignação é: sentimento de cólera despertado por ação indigna. (FERREIRA, 2001: 384) O conceito apresentado no dicionário mais consultado no território Brasileiro é pertinente ao assunto que quero tratar neste texto. O texto que apresento aos meus leitores nada mais é do que um desabafo. Um grito desesperado de um profissional que está vendo o seu ambiente de trabalho sendo destruído por forças maléficas. Indignado é a palavra que achei para escrever este meu desabafo.

                Todo o Estado de São Paulo sabe que por conta da Resolução SE 8, de 22 de janeiro de 2010 os professores da rede publica estadual de ensino foram convocados para uma avaliação que a princípio seria de caráter eliminatório, mas que por fim, segundo o próprio Governo Estadual se tornou apenas classificatório. A justificativa desta avaliação não era outra, senão a preocupação do Governo do Estado em oferecer um melhor ensino nos colégios públicos estaduais. Mas como toda a tese tem a sua prática, vou me ater apenas no que está acontecendo atualmente...

                Após a citada avaliação o rosto do quadro de professores da rede pública de ensino no Estado de São Paulo modificou-se. Percebemos que professores de muito tempo de sala de aula não conseguiram atribuir aula, já que não conseguiram ou fazer a citada avaliação ou não conseguiram pontuação suficiente para participar da atribuição. Foram antecedidos por professores mais novos, recém formados, iniciantes na carreira, ou por alunos da área.

                Os professores foram classificados por categoria. Sendo assim, encontramos atualmente duas grandes categorias de OFAS. A primeira é a categoria F e a segunda é a categoria L.

 O que chama a atenção é que a categoria F, caso não conseguisse a pontuação necessária para participar da atribuição de aula, iria para as escolas e ganhariam apenas por 12 aulas e exerceriam uma outra função que não fosse ministrar conteúdos em sala. De fato, isto aconteceu, encontramos professores que hoje ganham por 12 aulas, não podem entrar na sala para ministrar conteúdos,  no entanto, a única função que estão exercendo nestes colégios é o fazer o horário das 12 aulas. O que mais chama a atenção é que muitos desses professores fazem o horário de suas aulas em escolas que faltam professores nas suas respectivas áreas de formação. Conclusão: os alunos estão ficando sem aula e o Estado está pagando professores que não estão exercendo a sua função principal, dar aula. O mais triste nesta conclusão é quando muitos desses professores chegam a afirmar nua e cruamente que está sendo mais gostoso não passar na prova de classificação para a atribuição e ganhar facilmente por 12 horas aula, do que sofrer em estudar, e enfrentar o aluno em sala de aula para ganhar pela carga completa.

Já a categoria L, composta de professores recém contratados pelo Governo do Estado, chegariam a atribuir aula, caso passassem no processo avaliativo. Em alguns casos desta citada categoria, caso não conseguissem chegar à pontuação estipulada, mas que chegaram a uma pontuação (X), muito próxima da pontuação estipulada, poderia unir o seu tempo de aula no Estado com a pontuação tirada na citada avaliação. É o que contempla o artigo 5 da resolução também citada. O curioso de tudo isto, é que na hora da atribuição o estudante que também é classificado como categoria L e que ainda não terminou o curso, antecede o formado de categoria L. Isto acontece já que o formado não passou na citada avaliação criada pelo Governo do Estado. Sendo assim, podemos concluir que não basta estudar o curso universitário inteiro, produzir um Trabalho e Conclusão de Curso e realizar todas as provas e trabalhos que a faculdade exige. É necessário passar no processo avaliativo criado pelo Estado. O que não há maldade nenhuma quando nos deparamos com algumas situações limites.

O professor é graduado e pós-graduado. Trabalha em colégios de nome e muitas fezes em faculdade. Gosta de lecionar no colégio público, já que também foi fruto do colégio público. Uma forma de retribuir à própria vida o que conseguiu com o estudo, foi  todos os anos, atribuir aula também no colégio público, mesmo que sejam poucas aulas. Hoje isto não é mais possível, já que se este professor não passar no processo avaliativo criado pelo Governo do Estado, ele será antecedido por um estudante que ainda não terminou o seu curso de Graduação. Sendo assim, concluímos que os alunos que freqüentam as escolas estaduais perderam a chance de ter em sua sala um professor neste nível acadêmico, já que este mesmo professor está sendo substituído por um estudante.

Por fim, não poderia deixar de comentar sobre o conteúdo da avaliação que serviu de processo de seleção para a atribuição de aula neste ano e 2010. Um questionário mesclado de perguntas de cunho pedagógico e específico. Não haveria maldade nenhuma numa avaliação desta, se a bibliografia não tivesse sido publicada em tempo muito próximo da data da avaliação. Pior, questionário onde se faz a pergunta e o candidato deveria assinalar a resposta. Mas que resposta? Aquela no qual você deverá adivinhar... Já que o Governo do Estado não vai aceitar outra resposta, senão aquela no qual ele quer ouvir. Desta vez, não darei a minha conclusão... quero que meus leitores concluam por si.

 

Prof. Silvano Tenório Felix

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Autor: Silvano Tenorio Felix


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