A construção da identidade docente



A construção da identidade profissional docente pode ser definida como uma identidade social particular que provém do trabalho no conjunto social, do estilo de vida do sujeito e do local das profissões. Dentre as profissões historicamente destinadas ao gênero feminino, a função de professor envolve um direcionamento histórico, uma memória e justificativas que evocam diferenças biológicas para dizer que é natural que a mulher opte por essa profissão. A quantidade de mulheres que escolhiam a profissão do magistério era bem maior que a dos homens que optavam pela docência. Na legitimação da docência como profissão eminentemente feminina, as instituições da sociedade tiveram papel importante; principalmente a família, a escola e a igreja, que muitas vezes limitavam a escolha da mulher, impondo forçosamente a opção pela carreira docente. Por isso, torna-se necessário a compreensão da grande feminização da profissão docente e como este processo influenciou na construção da profissionalidade e identidade desta categoria.

Investigar, registrar e analisar trajetórias de vida de professores é de grande  importância para aquele que deseja conhecer, do ponto de vista do imaginário social, as representações de papéis e as atribuições de sentido à escola. Segundo Ecléia Bosi, uma investigação que parta da memória tem o poder de registrar a voz e, através dela, a vida e o pensamento de seres. 

Entendemos que narrar a própria história de vida é rever experiências passadas, com a possibilidade de retomá-las; torna-se possível, assim, desvelar o processo de recriação dessa memória, compreendendo-a como memória individual, entretanto profundamente marcada pela memória coletiva. Na reconstrução das experiências passadas os sujeitos adquirem vozes e a história encontra nessas vozes e no espaço das relações cotidianas, os meios para a sua redefinição. Assim, de acordo com Halbwachs, preservar a memória é fundamental para a compreensão da identidade de um determinado grupo, pois:

A memória do indivíduo depende do seu relacionamento com a família, com a classe social, com a escola, com a Igreja, com a profissão; enfim, com os grupos de convívio e os grupos de referência peculiares a esse indivíduo

 

 

Com isso, percebem-se os docentes enquanto sujeitos que compõem um desses grupos e, consequentemente, preservam a memória e contribuem para a consciência da identidade desses.

Segundo Bosi: "A memória é sim um trabalho sobre o tempo vivido, conotado pela cultura e pelo indivíduo". Assim, o processo de reconstituição da memória individual permite ao narrador, reinterpretações de si próprio, de processos e práticas de ensino, promovendo, desta forma, a recuperação de sua experiência através de uma história de vida.


BIBLIOGRAFIABOSI, Ecléa. Memória e Sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Cia das Letras, 1994, p. 37

 

 HALBWACHS, Maurice - A Memória Coletiva, [traduzido do original francês La Mémoire Collective - Presses Universitaires de France, Paris, França, 1968] Edições Vértices, Editora Revista dos Tribunais LTDA. São Paulo, 1990.p.137

 

HALL, Stuart.Quem precisa da identidade? In: SILVA, Tomaz Tadeu da (Org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000. pp. 103-133.

 

 


Autor: Lúcia Silva


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