Resenha de ''A CAIXA'' ? Filme de Richard Kelly, 2009



Em A Caixa, Richard Kelly utiliza bem os efeitos especiais relembrando ficções científicas dos anos cinqüenta como O Dia em que a Terra parou, seja por sua forma de tratar as imagens ou pela essência do enredo, voltada para a avaliação dos valores da humanidade. Como havia feito em Donnie Darko, Kelly mais uma vez promove uma crítica as famílias de classe média Americanas que imbuídas do espírito do cidadão de bem são capazes de cometer verdadeiros crimes. Kelly optou por escolher Cameron Diaz para fazer a matriarca Lewis e James Marsden para fazer o pai desta família que receberá Frank Langella como Sr Steward. Diaz, cujas atuações não costumam se destacar por qualidade, mantém o velho ritmo e ajudada pelo dinâmico James Marsden consegue dar conta do roteiro. Quem realmente se destaca é Langella, cuja voz grave e misteriosa assume postura versátil capaz de incorporar este ficcional Sr Steward dando legitimidade, dentre outras coisas, a sua aparência grotesca no filme.

Este é um filme que nos propõe uma série de questionamentos morais, promovendo uma auto-avaliação na qual o ser humano coloca em xeque sua reação diante de situações quotidianas e adversas que somadas formam o convívio social. Logo no início do filme, entramos na rotina da família Lewis, formada pelo filho Walther, pai Arthur e mãe Norma (ambos trabalhadores e relativamente bem sucedidos) cuja maior aflição gira em torno de problemas financeiros. Não que algum deles tivesse uma doença incurável ou que estivesse sujeito a agressões ou até mesmo a fome: seus problemas eram não ter dinheiro suficiente para sustentar seu dispendioso sonho americano que se resume à prática de continuar consumindo (além dos ideais de liberdade e dos direitos do cidadão civil e etc.) O que importa realmente, nesta roda viva econômica é a manutenção do poder de compra, pois, como já diria Gramsci, o capitalismo precisa de indivíduos para reproduzi-lo que o fazem trabalhando para ganhar e gastar, como os Lewis.

No decorrer da história entra em cena Sr Steward, vivido pelo irretocável Frank Langella, que apresenta a grande chance de resolução dos problemas financeiros da família. A caixa que ele entrega à mãe contém a possibilidade de enriquecimento que só será real caso um botão seja acionado matando uma pessoa desconhecida, por motivos igualmente desconhecidos. Este dilema assombra os membros da família (pai e mãe) que no início desconfiam da oferta, mas depois são levados a acreditar nela pelas muitas evidências que vão se revelando na trama. Até Sartre é evocado em uma das aulas de filosofia de Norma para tentar resolver esta dúvida: O inferno são os outros. O inferno não deixa de ser como os outros nos vêem e neste sentido há a reflexão: apertando o botão mataria alguém que poderia ser decente? Que não deve nada à sociedade? Poderia ser eu! Só que nem toda a razão reflexiva sartreana conteve os desejos de uma vida repleta de confortos patrocinados pelo dinheiro: e o botão é acionado. A partir disso, recebem a sonhada fortuna e com ela o inferno de que tanto falava Sartre. Suas vidas mudam muito e para pior, pois nem sonham, mas, são meros coadjuvantes em uma espécie de teste por amostragem do fator altruísmo humano. Teste este conduzido por ninguém menos que o misterioso Sr Steward, que vai deixando para trás sua postura de vilão e vai assumindo a figura de Anjo Exterminador que veio a terra para avaliar a postura humana e impor as penas resultantes de seus atos ou omissões.

As cenas, ao longo do filme, vão deixando de retratar a vida pacata no subúrbio americano e passam a adquirir um ritmo frenético de perseguição e conspirações, sendo que a fotografia que antes do botão ser apertado era mais viva passa, sutilmente, a ter um colorido mais sombrio privilegiando os tons de vermelho e cinza. Em alguns momentos a direção ensaia um suspense à Hitchcock aumentando a dramaticidade da eficiente trilha sonora e das expressões de medo de alguns personagens. Porém, o resultado alcançado não é a paura tipicamente provocada pelo mestre do suspense e sim uma imensa curiosidade no sentido de desvendar, dentre outras coisas, qual a verdadeira origem da caixa, de seu misterioso entregador e quais as conseqüências que trarão para aquela família.


Autor: Lara (Cinéfilara) Rodrigues Pereira


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