Produtos da Humildade de Deus



Produtos da Humildade de Deus

(Produtos do Milagre da Encarnação)

Compreender porque e como Deus possui humildade infinita é uma tarefa tão difícil quanto nutri-la em nós, historicamente viciados à presunção e à egolatria.

Temos horror a baratas, como Lewis também tinha. Porém o que vamos fazer agora quando virmos uma? Vamos pisar nela? Esta é uma pergunta que este texto pode responder.

Há muitos anos estamos sendo educados, por nosso Senhor Jesus Cristo, a ver a sua sagrada humildade. Fomos instruídos desde a Bíblia ("Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração") até às irrefutáveis lições da realidade bem iluminada pela lógica dedutiva. C.S. Lewis também ajudou a ver isso, sobretudo no capítulo VIII de seu livro "Mere Christianity". Porém, foram as lições da realidade que nos abriram os olhos. É disso que trataremos aqui.

Dentre as lições da Realidade, fazemos o seguinte apanhado:

Todos dizem que o reino mineral é inferior ao vegetal e ao animal. Que as pedras não têm valor. Mas Deus disse "EU SOU Pedra, e ai de quem esta pedra cair em cima".

Todos dizem que o reino vegetal é inferior ao animal (talvez até por isso nem respeitem as árvores, preferindo ser vegetarianos a comer carne). Mas Deus disse: "Eu sou a Videira, e sem mim nada podeis fazer" (entenda-se: "sem as árvores, nada podemos fazer").

Todos dizem que o reino animal é inferior ao humano (por isso quem mata animais não é criminoso, apenas "caçador"). Mas Deus disse: "EU SOU um verdadeiro animal" [Lewis, "O Cavalo e o Menino", Livro 3 das Crônicas de Nárnia]. Ele é o Leão de Judá.

Todos dizem que ser humano é ser inferior, ainda mais por ser o homem a vergonha de todo o universo. Mas Deus fez-se homem e habitou entre nós, como um pobre nascido em Nazaré. Todos dizem que um autêntico Deus nasceria em berço de ouro. Ele nasceu numa caverna fétida de urina de vaca... (*).

Todos dizem que um autêntico deus-super-herói jamais morreria, e muito menos na vergonha da nudez e na maldição, levando até cusparada no rosto. Mas Deus morreu, e morreu numa cruz amaldiçoada, nu e levando cusparadas...

Todos dizem que um Deus autêntico jamais rebaixar-se-ia para lavar pés imundos de homens sujos. Mas Ele os lavou, muito antes dos homens tomarem banho...

Todos dizem que Deus é o Infinito, incapaz de ser em nada contido. Lewis disse que "aqueles que procuram o tamanho de Deus juntando galáxia sobre galáxia, jamais chegarão a conhecê-LO, porque Ele de fato se encontra no menor botão da menor florzinha do campo".

Todos dizem que um Deus autêntico jamais se conformaria em transmutar-se dentro de um pedaço de pão. E Ele se fez pão em nossa mesa diária; e o milagre eucarístico significa, na verdade, que Ele é tão humilde que se deixa mastigar por nós, cumprindo a profecia de Isaías que diz "Ele foi moído pelas nossas transgressões e triturado pelos nossos pecados" [O verbo "moer" vem dos dentes molares, que fazem esta tarefa em nossa boca. Como fomos nós mesmos que O levamos à cruz e O matamos, importa LEMBRAR este fato, mastigando-O dentro de nós, seguindo a instrução que diz "em memória de mim", pois lembrar que O matamos, e que por isso somos assassinos, é a maior alavanca para a humildade].

Todos dizem que Ele abomina as estátuas porque elas não têm vida e jamais O poderiam representar. Mas a matemática prova que a distância entre o Infinito e o finito será sempre infinitamente inalcançável; logo, se Cristo se fez finito, Ele inexoravelmente aproximou-se muito mais de nós finitos do que de Seu Infinito Pai. Sem levar em conta que Ele mesmo criou a matéria e disse que era uma Pedra, Ele é a perfeita estátua de Deus (ou uma foto perfeita), e existe então mais distância entre Ele e o Pai do que entre Ele e o ser humano e entre este e uma estátua, a qual acaba sendo algo mais próxima de Jesus do que Jesus do Pai.

Todos dizem que Ele jamais ressuscitaria seres inferiores porque o Céu é um lugar para superiores... Por isso somos obrigados a concluir que Ele ressuscitará até os animais, e a mesma lógica diz que quanto menor e mais maltratado for o animal, mais honra receberá na ressurreição.

Uma frase de Lewis deu o start para tudo o que podíamos pensar neste assunto. Ele disse: "Criar um organismo que é também um espírito; criar esse terrível oxímoro, um 'animal espiritual'. Pegar um pobre primata, uma fera com terminações nervosas em todo o corpo, uma criatura provida de um estômago que quer ser cheio, um animal capaz de reproduzir-se, que deseja seu par, e dizer: 'Agora vamos com isso: vire um deus'!". Ora; além de expor a sua indisfarçável crença na evolução das espécies (quebrando o paradigma cristão e ganhando muitas antipatias na cristandade, inclusive a de seu amigo Chesterton), ornada numa palavra celestial belíssima ("Conduzi todas as naturezas à perfeição"), Lewis nos vê como meros animais  macacos**  forçados a galgarem um posto que a espécie jamais alcançaria por si mesma, e assim ocuparem um lugar que acendeu a inveja e a ira dos anjos rebeldes, que jamais teriam aceito um Céu habitado por uma 'gentalha' que nem nós. Então, seguindo o argumento proposto, se glorificar macacos como deuses enfureceu satã e sua corja, o que não dizer do ódio aferventado nos demônios quando souberam que até ratos e sapos receberão cetros?

Eis aí o que vislumbramos da humildade de Deus, que é, justamente por ser 'o humilde tema da humildade infinita', freqüentemente esquecida ou menosprezada pelas teologias. O pior é que nem o próprio Deus, por ordem também de sua humildade perfeita que jamais deseja "aparecer", nem o próprio satanás (que sabe o impulso de fé e conhecimento que a humildade de Deus nos daria), fariam qualquer coisa para nos dar essa informação, e certamente o mundo iria se acabar e ninguém saberia disso, exceto talvez após o Juízo Final. Aqui se vê mais uma vez o papel missionário decisivo de CS Lewis, despertando um saber que nem sequer caberia a Deus exibir para nós. Na verdade acontecia o contrário, i.e, sempre fazíamos com a humildade de Deus toda a injustiça que o nosso pecado suscita, acreditando até que Ele adora ser louvado, sobretudo quando O louvamos com a pompa de enormes 'orquestras de santos", esquecendo de que ele gosta mesmo é do louvor desafinado de uma criança pobre que canta empurrando seus carrinhos de lata.

A regra é: sempre que pensarmos em Deus ou na participação dEle em algum evento de causa ou efeito, devemos lembrar que será na parte mais insignificante, na menor, na menos vistosa, na mais desprotegida, na mais sofrida e até na mais enojada por nós que Ele de fato interferirá, e mesmo assim o fará sem deixar qualquer pista. Este é o nosso Deus, o Nazareno, o Leão, o Cordeiro e a Pedra, que certamente nos manda usar esses nomes com letra minúscula (***).

Finalmente, para enxergar tudo isso, i.e, este "nada" em que nosso Deus se apresenta, é preciso acima de tudo ter uma parte ou uma grande parte da humildade dEle, além daquela que diz "importa que eu diminua e Ele cresça". Mas Ele adorou esta frase não porque queria aparecer, mas porque ela era parte da construção da humildade de João Batista, ou uma prova audível dela. Por tudo isso, então perguntemos: Será que somos crentes o suficiente para crer nesta humildade de Deus? E somos irmãos o suficiente para crer neste Céu cheio de "gentinha esquisita"?...

Prof. João Valente de Miranda ([email protected]).

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A SEGUIR, AS NOTAS DO TEXTO (ASTERISCOS):

(*) = É crucial lembrar-se que Ele não apenas fez-se carne, mas só ficou feliz por não ter sido a carne mais perfeita. Nas palavras dEle mesmo, "perfeito" era João Batista, "o melhor dentre os nascidos de mulher" (para Ele, e para sua extrema humildade, havia alguém melhor que Ele na terra, e isto não foi algo 'feito' por Ele, mas foi uma 'aleatoriedade' que o alegrou bastante). Todos os que mencionam esta frase, se esquecem que Jesus também era nascido de mulher, e que ao contrário de João, não "segurou" alguns desejos de sua carne, como o comer e o beber muito (vinho). Claro que para a visão mais pastoral de Sua Missão, comer e beber à vontade era mais estrategicamente vantajoso, e a rigor nada disso é pecado (Rm 14,14). Porém o fato de poder dizer para os seus discípulos: "a santidade que meu Pai quer de vocês não é acessível só para quem é Deus, como eu, mas também é acessível a simples homens, como por exemplo, João Batista", era talvez o maior trunfo alavancador de seu ministério, e Graças a Deus que os escritores canônicos registraram este fato, o qual a humildade infinita jamais nos faria saber. Se João não fosse "tão perfeito" como era, os exemplos de santidade do Evangelho esbarrariam na velha desculpa esfarrapada: "Mas QUEM conseguiu ser como Ele?" (Mt 10,25). Entretanto agora, de posse dessa informação e seguindo a mesma linha de raciocínio de nosso argumento, se Ele se alegrou pela "superioridade" de João, quão triste não ficaria se em seu Paraíso celestial ficassem de fora criaturinhas tão perfeitas como os colibris, sob cujas asas o próprio Senhor Criador vem se aninhar?...

(**) = A crença de Lewis sobre a evolução das espécies e de nosso parentesco com os macacos não deriva só dos estudos que fez do Darwinismo. Deriva, principalmente, na verdade, das suas pesquisas acerca do Yeti e do Sasquatch, adquirida de leituras sobre as crenças dos Sherpas do Himalaia e dos testemunhos de contato com um macaco enorme e inteligente em regiões selvagens do Globo. Certamente Lewis tinha a sua própria "teoria" para explicar o intrincado quebra-cabeças da Evolução após a sua descoberta do Big-foot (a EAT possui em seus arquivos material que deixa a chamada "História dos Primatas" ainda muito mais confusa do que a que Lewis teorizava  como o texto de Marco Antônio Petit, que mostra os estranhos intervalos providenciais entre uma espécie e outra de hominídeos, bem como a sua trans-disciplinaridade com a Vimanosoifia e com a Amasofia. É muito provável que haja coisas neste assunto que a Ciência mantém trancadas a sete chaves, inexplicavelmente, por ordens superiores.

(***) = Todos os argumentos aqui expostos acerca da humildade de Deus seriam inúteis e incorretos se não estivessem fundamentados na noção de que o maior de todos os milagres, segundo Lewis, é a Encarnação do Verbo, na qual Deus se imiscuiu de tal modo na sua própria Criação e de tal forma na Natureza (abrangendo desde o microcosmo subatômico até a mais descomunal das galáxias) que seus indisfarçáveis sinais puderam ficar virtualmente indetectáveis, exceto por quem os buscar com os olhos da fé  Mt 7,7.


Autor: João Valente


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