A Conquista da Consciência & a Consciência da Conquista



Os proclamos de uma revolução social invocam muitos conceitos em torno dos quais devem se debruçar o maior número de atores, compreendendo emissários de todos os setores.

Mas a conquista da consciência por determinado grupo societário não é um fim em si mesmo a considerar que o dito grupo social, para fazer valer tal patrimônio, deverá ter a plena consciência desta conquista para personificar o envidamento nos esforços político-sociais que possam justificar tal conquista.

O compromisso histórico de determinado grupo social, marca a trajetória no decurso dos fenômenos sociais que se apresentam incidental e acidentalmente a partir do reconhecimento do outro.

O Brasil é estigmatizado pelo ranço do copismo oportunista que preenche as taças dos eventos acontecidos ou construídos pelas forças oligárquicas, antes mesmo do Brasil-colônia.

Octávio SOUZA (1994) afirma que a história brasileira é marcada por constantes tentativas de demarcação dos nossos traços identificatórios, sendo que podemos acompanhar, ao longo da vida intelectual nacional, a constituição de uma tradição, marcada pela emergência constante de movimentos voltados à busca da identidade nacional.

A primeira grande confusão se dá em torno da noção de patrimônio nacional e patrimonialismo.

As práticas sociais são desde muito inquinadas do vício do favor, entre protegidos e protetores, guardando a falsa impressão de segurança.

A confusão entre o público e privado tem suas raízes na decadência do império romano subjugados pelos germânicos invasores.

Na península ibérica agasalhou-se na construção do Estado Português para perpetuar a prática do patrimonialismo, onde o rei, senhor da terra e seus limites, barganhava a logística de água e alimentos em troca da segurança contra os mulçumanos e bárbaros do norte (germânicos).O Brasil é um país marcado pelas promessas não cumpridas, levando o povo a desacreditar nas futuras ilações e olhar com desconfiança e ceticismo aqueles que mascateiam a oportunidade de "ser a sua voz lá dentro do poder".

Por outro lado, arraiga-se no seio do brasileiro a prática nefana do "toma lá dá cá" como forma compensatória da alienação dos valores nunca alcançados.

Consolidou-se na página brasileira a máxima da suportabilidade marginal, daquele que "finge que ensina e o educando finge que aprende" resultando na falsa manutenção da paz escolar. Este expediente gerou outra prática ainda mais nefasta, que é a rotinização do modelo. O funcionalismo educacional e social transformou os brasileiros em nada, objetos sem consciência e vontades viciadas, rebuscando apenas as questões envolvendo valores na escala mais baixa da pirâmide social, dando criação à máxima do "trabalhar para viver e viver para trabalhar". Desmarcaram-se do espírito social os princípios basilares para o desenvolvimento de uma Nação.

Abdicou o povo em nome do Estado todos os sonhos possíveis a um ser socialmente civilizado, tais como os anseios de uma moradia melhor alimentação, saúde e escolarização.

O que no Brasil deveria ser considerado um direito, é transformado em dádiva por conta dos expedientes ibéricos experimentados desde o Brasilcolônia. A burocracia, que deveria ser elemento de acesso do administrado ao Estado, foi transformada em instrumento de entrave das mínimas reivindicações humanas, criando a figura do "carimbo" e do "cartório", sendo este último o bunker das velhas práticas coloniais em pleno século XXI, consagrando a prática de se"vender a dificuldade para colher a facilidade".

BOBBIO (1986) repaginado por Mériti de Souza (1999) apregoava que as teorias da razão de Estado originavam dois fenômenos diversos, porém complementares. O primeiro diz respeito ao "poder oculto ou que se oculta", que compreende pó tema do segredo de Estado e, o segundo, diz respeito ao poder que "oculta" e compreende o tema da mentira lícita e útil.

Os escolanovistas sustentavam que aprender é uma atividade de descoberta. A aprendizagem é uma construção subjetiva do conhecimento.

Assim o reiterado volume de informações incutidas nos educandos não é a garantia do efetivo aprendizado e muito menos da importância consciencial do que aqueles símbolos e fatos representam. É necessário que o preceptor também acredite nas informações transladadas. Sem o crédito consciencial, tudo não passará de um amontoado de anotações que ao final do período apenas servirá para apoiar uma mesa ou uma cadeira manca, até que a primeira enchente o desfaça.

Assim é a Educação no Brasil, os educandos são doutrinados a RESPONDER, quando o escorreito seria, como é, PERGUNTAR. Pois este último sempre passa a impressão de fragilidade cognitiva. Já RESPONDER reflete aos menos avisados a demonstração de força, poder de enfrentamento, coragem (de que?).

Desta maneira no Brasil, não se estuda: vivemos à procurar RESPOSTAS, ao invés de QUESTIONAR!

A sacralização da Instituição EDUCAÇÃO transformou-a em objeto de maniqueísmo dos poderosos, revelando o distanciamento entre o poder criativo erupido da atividade de ensino-aprendizagem para formulas "perfeitas" elaboradas por figuras institucionais erigidas como prepostas do Estado, quando na verdade este mesmo Estado é apenas um repassador de doutrinas alienígenas que visam anular o conflito nascido do conhecimento, tornando sem sabor a negociação, a colaboração e a conscientização de proteção do próprio território escolar.

Identificar e classificar os fins do trabalho docente é providencia necessária para a construção de uma filosofia da educação que importe aos educandos a construção da consciência do saber.

É pacífico que a Escola compõe um cenário de conflitos, traçando a violência simbólica de Pierre Bourdieu, com um quadro burocrático rígido sem desperdiçar sua essência anárquica, donde se origina o autêntico conhecimento.

Portanto os atores que compõem o quadro da educação no puro exercício diário em nada apresentam de harmônicos entre si. Os educandos se opõem aos pais que querem vê-los na Escola, (por vezes muito mais para verem-se livres, do que para aprenderem para a vida).

Encarcerado na "Cela de Aulas", o educando inicia a segunda de muitas batalhas do dia, primeiramente com o Docente e em ato contínuo contra as condições rotineiramente precárias da logística escolar (salas inadequadas, cadeiras ergonomicamente irregulares, livros ultrapassados), e eventualmente é submetido ao bullying por outros pares.

O Docente diariamente encara simultaneamente duas frentes de conflitos: Os pais despachantes e os outros profissionais da educação, cognominados por Claus Off de "oprimidos", que revoltados procuram a qualquer custo demarcar seus territórios à custa dos trabalho do Professor, seja na coordenação à serviço do sistema, como na supervisão em visibilidade a sanha burocrática de Max Weber.

Os pais despejam no Docente toda idiossincrasia social, desejando acreditar que a independência ou dependência financeira e profissional é mais importante que a formação da cidadania de seus filhos. Acham-se competentes para dirigir grandes empresas com milhares de empregados, mas fazem pouco da educação de seus filhos. Desacreditam da experiência familiar como ponto forte na formação do caráter dos filhos, base estruturante da própria família.

Os "outros" profissionais da Educação buscam por todos os meios e formas o engessamento do trabalho docente sob a ótica da dinamização e otimização da massa escolar.

O artesanato intelectual é visto como algo fora de moda, longe dos trilhos da modernidade educacional.

É puro sofisma acreditar que o livro gestado nas linhas de produção, ao modo tayloriano, construirá o saber de uma nação.

A atividade hegemônica imprimida através do utilitarismo educacional constitui certamente um exército de treinados, mas nunca de cidadãos.

A docência não pode ser relegada a uma atividade periférica, sob pena de transformarmos o Estado-nacional brasileiro num grande curral.

Assim Maurice Tardif e Claude Lessard, (2005) indagam:

Qual é o lugar da docência e qual o significado do trabalho dos professores em relação a esses postulados e ao ethos que eles impõem? Fundamentalmente, o ensino é visto como uma ocupação secundária ou periférica em relação ao trabalho material e produtivo. A docência e seus agentes ficam nisso subordinados à esfera da produção, porque sua missão primeira é preparar os filhos dos trabalhadores para o mercado de trabalho. O tempo de aprender não tem valor por si mesmo; é simplesmente uma preparação para a "verdadeira vida", ou seja, o trabalho produtivo, ao passo que, comparativamente a escolarização é dispendiosa, improdutiva ou, quando muito, reprodutiva. Pag.17.

Na verdade, o trabalho docente constitui um das chaves para a compreensão das transformações atuais das sociedades do trabalho (TARDIF, 2005).

O conhecimento adquirido através das experiências escolares é produto de construção abstrata, imaterial que contribuirá inexoravelmente para a efetiva invenção de riquezas materiais.

O trabalho produtor de bens materiais apresenta queda livre em todas as sociedades desenvolvidas, deixando para os países periféricos a produção seriada (maquiladores) via linhas de montagem.

A complexidade da sociedade atual deu oportunidades à fragmentação da atividade educacional, de modo a torná-la universal e administrável.

Sob este signo, o sistemasegmentou a atividade docente em profissões secundárias (apoio escolar), intermediárias (supervisão e coordenação), possibilitando um estratégico distanciamento do Professor, levando à fragilização da relação laboral. No interior da própria classe docente, nasceu outra: a do professor sobrante e dos horistas, transformados em verdadeiros prostitutos da atividade professoral.

O declínio da produção intelectual foi ofuscado pelos malabarismos estatísticos do volume alcançado junto à massa estudantil somados ao natural acomodamento ignóbil destes mesmos estudantes.

A melhoria da condição humana a ser alcançada pela educação foi substituída pela ilusão do consumo barato de produtos construídos com mão de obra semi-escrava ou presidiários nos países periféricos.

Todo discurso acima descarna um processo patrocinado pelo neoliberalismo, que é a mercadorização da educação, quando são imprimidas forças para que escolas e universidades se voltem para necessidades estreitas do mercado, seja pela indústria como para o comércio.

A mercantilização do sistema educacional vem em socorro da demanda proporcionada pelo aumento da massa oriunda do ensino médio, filhos de uma formação utilitarista, padronizada e precarizada pela ausência de vontade política do governante.

Convenhamos formar consciências e determinar suas conquistas aos educandos é um trabalho hercúleo para docentes panglossianos, sendo necessária a intervenção do poder central na construção de políticas públicas capazes de soerguer a escolarização de qualidade, tudo isso sob a contribuição da sociedade civil organizada. Países com a Irlanda e a Corea do Sul são exemplos positivos desta reação proativa ao ensino de qualidade.

Por outro lado, são cenários a serem construídos em pelo menos uma geração de educandos. Qualquer firula imediatista será mero devaneio decorrente da politicagem patrimonialista que habita as hostes do poder.

Ora, a escolarização repousa basicamente sobre interações cotidianas entre os professores e os alunos. Sem essas interações, a escola não é nada mais que uma imensa concha vazia. Mas essas interações não acontecem de qualquer forma: ao contrário, elas formam raízes e se estruturam no âmbito do processo de trabalho escolar e, principalmente, do trabalho dos professores sobre e com os alunos (TARDIF, 2005, pag.23).

O alijamento da atividade docente como peça fundamental da estruturação do ensino é um grande equívoco do capitalismo, considerando que o aumento do poder aquisitivo da população trabalhadora e consumismo estão na razão direta de sua escolarização.

Os argumentos acima podem parecer cair por terra, em face do acelerado crescimento populacional (principalmente nos países periféricos), que compensaria a queda da qualidade de compra. No entanto, a tendência dos produtos é se perenizar e se sofisticar cada vez mais. Alguns respondem as máquinas fazem; Mas quem construirá as maquinas?


Autor: Sebastião Fernandes Sardinha


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