A Colonização do Brasil



Os estudos sobre o descobrimento e posse do Brasil, indicam muita organização da parte dos portugueses, interesses comerciais da metrópole colocados acima dos interesses dos que já residiam na terra descoberta e dos próprios colonos posteriormente, a preocupação em justificar a exploração da colônia e a colocar por motivos racionais em posição de inferioridade em relação à metrópole.

Os portugueses mostraram extrema organização em todos os detalhes, há menção e muitos relatórios dirigidos para a metrópole, iniciando com a carta de Peru Vaz de Caminha, que é considerada o registro de nascimento do Brasil, nela relata tudo o que foi visto e ainda indica a existência de outros relatórios sobre a viagem, já que Caminha, não detinha, segundo ele mesmo diz, conhecimento para escrever sobre detalhes técnicos da viagem. Há organização também, no que diz respeito às questões comerciais, onde se preocupam em fazer diversos sensos, fazendo uma prestação de contas, mostrando item por item o que se exporta a Portugal e o que se importa para o Brasil, bem como os inúmeros valores e analisou se está sendo vantajoso o suficiente para Portugal, isso é claro no livro Cultura e Opulência do Brasil de José Antonil, na última parte do mesmo.

Há grande demonstração de preocupação em defender um comércio favorável aos portugueses, inicialmente fazendo comércio de troca com os índios e posteriormente quando começaram a ver a posse da terra ameaçada pelas outras nações européias, com a colonização de exploração, onde a metrópole fornecia escravos e produtos industrializados em troca de produtos baratos que essa mesma metrópole poderia reverter em grandes lucros comerciais com outros povos europeus.

É importante perceber que existia um esforço em colocar culturalmente uma graduação de valores que só interessava a igreja católica e a Portugal, principalmente quando se tratava dos índios, Era muito visível a "preocupação" da metrópole com a não utilização do índio como mão de obra, já que a metrópole tinha como uma das suas fontes de renda o fornecimento de negros para o Brasil colônia. Esse mesmo interesse era compartilhado pela igreja católica, que mostrando grande preocupação com o salvamento dos indígenas, se empenhou fortemente na sua catequização, logo o índio catequizado, teria uma alma, diferente dos africanos, que não a tinham. Então, os índios não poderiam ser escravizados e todos lucrariam com isso, menos os colonos e os negros, é claro.

Dessa forma, tínhamos a seguinte escala de valores: o português residente em Portugal valia mais que o residente no Brasil, o português residente no Brasil valia mais que o nascido no Brasil, o descendente de Portugal valia mais que o índio e por sua vez, o índio valia mais que o negro, que não vali quase nada além do que se pagava por ele.

A catequese dos índios precisou de muito esforço, primeiramente para a sua aculturação e depois para ensinar a eles princípios católicos. Até mesmo, foi feito um teatro, criado pelo padre José de Anchieta com esse objetivo, de catequizar os índios. Nesse teatro, Anchieta usa elementos indígenas, como máscaras, instrumentos primitivos, para persuadir o índio a aceitar o catolicismo. O padre Anchieta se destacou por ter aprendido o tupi, para ter maior penetração entre os índios, até mesmo o Auto de São Lourenço, que foi o teatro criado por ele, foi escrito em sua maior parte em tupi.Tudo para facilitar o entendimento dos índios.

Os descobridores negavam a existência de uma religião, entre os nativos, de culto e de valores importantes para eles. Por uma pura questão de paradigma, os portugueses não conseguiam enxergar nos rituais indígenas, a religiosidade, pois esta, era expressa de maneira diferente do que eles estavam acostumados. Os portugueses, só conseguiam perceber que, os nativos tinham medo do trovão e tinham medo de demônios, bem como também achavam grotescas as cerimônias fúnebres, ou culto aos mortos,onde se mostrava mais fortemente a religiosidade indígena, pois durante essas cerimônias, o corpo do morto era canibalizado pela tribo, assim, os europeus acharam mais fácil taxar como demoníaca essa prática. Preferiram pensar desse modo, do que enxergar seu verdadeiro significado e acharam mais conveniente negar a existência de uma religião indígena a assumir a existência de crenças religiosas entre nativos não civilizados. Daí, os jesuítas passaram a substituir as cerimônias tupi-guaranis por uma liturgia coral e pinturesca que se desdobrava em procissões e vias-sacras nos adros dos templos, além de um fervoroso devocionário, de cunho popular onde a legiões de anjos e almas do Paraíso podiam ser invocadas para acorrer às necessidades do fiel, mantendo-se sempre a intermediação hierarquizada da Igreja.

Durante seu esforço de salvamento dos índios e suas valorosas almas, o Padre José De Anchieta precisou usar figuras de linguagem e inventar algumas palavras para definir pontos chaves da religião católica que eram existentes para os povos pré-colombianos. Por exemplo, temos que, a palavra anjo, foi apresentada aos nativos como karaibebê, onde karaí significa, homem branco e bebê, serve para dizer que o karaí é alado, logo, temos um homem branco voador, que traz salvação para os índios. Com essas investidas, fica evidente o esforço de colocar o homem branco civilizado como um ser superior ao amarelo desprovido de educação.

Para a coroa portuguesa, a questão do Brasil, foi apenas um investimento comercial, desde o envio da esquadra de Cabral à colonização e a independência, tudo pode ser visto com olhos de mercador e é possível perceber que todas as ações foram tomadas com cuidado, se pensando no investimento a ser feito e no retorno esperado.

Referências Bibliográficas:

BOSI, Alfredo. Dialética da Colonização. Ed. Companhia das letras, 2000.

ANTONIL, André João. Cultura e Opulência do Brasil. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1967.

OLIVIERI, Antônio Carlos; VILLA, Marco Antônio.Cronistas do Descobrimento. São Paulo. Ed. Ática, 2000.


Autor: Keyse Muniz Silva Carvalho


Artigos Relacionados


Literatura Informativa

Resenha Do Filme Brava Gente Brasileira

Quinhentismo

História Cultural Do Brasil

O Trabalho ForÇado Na AmazÔnia Colonial

Descobrindo A Língua Português-brasileira

O Projeto Pombalino Para A AmazÔnia E A "doutrina Do Índio-cidadÃo