Educação Familiar: Aspectos do desenvolvimento infantil frente a globalização



Silvio Carlos da Fonseca Maria1

RESUMO

A relevância em situar o papel da família frente ao da escola traz contribuições as quais salientam a formação integral, plena de cada sujeito, sendo assim, as mesmas compreenderão as formas de relação e comportamento de alguns indivíduos na sociedade e, contribuirá com futuras pesquisas acadêmicas.

Palavras-chave: Educação não-formal. Globalização.

INTRODUÇÃO

Atualmente, neste milênio percebemos que a pesquisa científica tem adquirido força e eficácia no campo acadêmico, no entanto, elaborar um projeto de pesquisa observamos ser com fins á detenção ou ampliação das carências sociais instaladas nos diversos setores.

Entretanto, o intuito de pesquisar é elaborar diagnósticos das necessidades, motivar e avaliar as ações populares segundo Barros & Lehfeld (2009). Portanto, a problemática a ser diagnosticada, elencamos a educação familiar como instituição primária a qual todo indivíduo deveria passar e aspectos do desenvolvimento da criança frente a novas mudanças ocasionadas pela globalização.

Quando abordamos o tema educação, tendo em vista a família como precursora da formação da personalidade e aquisição de valores fundamentais para sociabilizar-se, nos induz a refletir o que é educação, a que se destina e, qual é o papel e contribuição da família neste sentido contribuindo num desenvolvimento adequado e de qualidade para criança.

Amiúde percebemos em nossa sociedade brasileira uma inversão de papéis os quais a escola "faz o papel da família", sendo assim, se a escola tende a substituir a educação que compete a família, qual o papel da família neste sentido?

Para compreendermos a terminologia "educação", Libâneo (apud ARANHA, 1996, p. 51) reporta que "[...] educar (em latim, educare) é conduzir de um estado a outro, é modificar numa certa direção o que é suscetível de educação".

Os diversos e aparentes conflitos entre escola e família podem ser analisados no âmbito educacional cujo cada qual possui papéis e funções diferentes. Para isso, Campos (1985, p. 7) relata que "É através da família que se perpetua a sociedade e ainda não se encontrou um grupo que possa substituí-la eficientemente no seu papel educativo".

À família cabe uma determinada educação aquela que acreditamos dar subsídios para a convivência em grupo, ou seja, elementos fundamentais para a sobrevivência. Tiba (1986) auxilia esta discussão enfatizando o início do processo de socialização através do desenvolvimento humano: a puberdade. Kanner (s.d apud TIBA, 1986) descreve três períodos de socialização na puberdade.

O primeiro refere-se a socialização elementar que compete a primeira infância, pois desde bebê a criança aprende a controlar e satisfazer suas necessidades fisiológicas: defecação e micção. A segunda compreende ao aprendizado das normas e comportamento familiar. Tiba (1986) salienta que neste período a criança absorve os valores fundamentais da família como crendices, costumes, comportamentos e etc. E, por fim, o terceiro e último período é caracterizado pelas formas de relação comunitária, ou seja, a criança deixa de ser o centro do universo e passa a entender um pouco o sentido da convivência em grupo segundo Tiba (1986).

Então, podemos perceber que o vínculo e a aquisição de valores ainda quando crianças, contribui no despertar educacional adequado, ou seja, uma educação familiar completa. É na infância ainda, por meio do forte acalanto mate-paternal que a inteligência emocional se desenvolve. Goleman (1996, p. 190) descreve:

Pesquisas mostram que o pai e a mãe costumam fazer de tudo para atrair a atenção do bebê nessa fase inicial de troca de informações emocionais. Por exemplo, costumam usar uma linguagem que pode ser chamada de "maternês" (embora o pai também possa usá-la com toda a influência). Caracteriza-se essa linguagem por tons agudos e cadência lenta com abundância de repetições e expressões faciais exageradas. Embora possa parecer cômica e exagerada, os pais têm uma boa razão para usá-las; ela funciona!

Sendo assim, acreditamos que a criança em desenvolvimento tende a gozar de toda a atenção e acalanto dos pais como forma de segurança e formação para a vida. Amiúde nos desapercebe que as formas de relação dentro das famílias não são padronizadas, ou estimadas em níveis de condutas por condição social, mas para discutirmos a influência da família no desenvolvimento da criança é necessário, antes conceituarmos a terminologia família.

Para Espinola (1954 p. 27), "[...] em acepção ampla, a família compreende as pessoas unidas pelo casamento, as provenientes dessa união, as que descendem de um tronco ancestral comum e as vinculadas por adoção".

Porém, a saber, pessoas de mesmo sexo comungam legitimamente uma união, entretanto, não iremos discorrer quais, quem e como as pessoas constituem uma família, mas enfatizar a importância da mesma na formação da criança. A educação familiar é constituída por elementos básicos e fundamentais como: instigar o relacionamento com o meio. Vygotsky (1987 apud KOHL, 1990), enfatiza, a interação sujeito-mundo como uma interação sócio-histórica. Mas está relação que o sujeito (criança) estabelece, não é simplesmente direta, mas mediada "[..] em termos genéricos é o processo de intervenção de um elemento intermediário numa relação: a relação deixa, então, de ser direta e passa a ser mediada por este elemento" (VYGOTSKY, 1987 apud KÖHL, 1990, p. 26).

Em outras palavras é a família que faz o papel de mediadora também na relação que a criança estabelece com o mundo, pois é comum os pais incutir nas crianças conceitos morais de certo/errado e etc. A criança, quanto mais pequena está no cerne da exploração, então, é evidente a curiosidade da criança por diversos objetos e ações oriundas de si mesma. A família para mediar a relação criança-mundo intervem em determinadas ações praticadas pela criança.

Por exemplo, a criança que aprende a engatinhar, logo explorará todos os cantos da casa e possivelmente encontrará várias tomadas de energia. Os pais para não permitirem que a criança leve choque, a alertará acerca deste perigo. Isto, porém, é uma ação mediada por um elemento intermediário. A família, assim como a escola, tem o papel de mediar a relação da criança com o mundo.

Para Piaget (1954 apud BALDWIN, 1973, p. 297), a relação que a criança estabelece com o mundo não é apenas a concatenação de experiências em sua vida, mas ao contrário "[...] acredita que a criança é ativa, que constantemente adquire novas ações e as organiza em agrupamentos operacionais".

A criança, no entanto, capta, adquire novas experiências, como no exemplo da tomada de energia. Ela organiza esta experiência a fim de operacionalizá-la mais tarde. Por isso, o relacionamento afetivo da família com a criança soma-se na qualidade dos estímulos.

Portanto, o papel da família vai além de mediar a relação criança-mundo. Ela dará condições para que a criança se desenvolva num ambiente rico em experiência e saudável. Saudável no zelar por uma adequada alimentação, higiene e tudo que contribua no desenvolvimento físico e mental da mesma.

Segundo o verbete, desenvolvimento significa: crescimento, progresso; ampliação; aumentar, crescer e progredir (RIOS, l999, p. 216). É tudo aquilo que cresce e progride, que amplia e aumenta. Nós seres humanos crescemos externamente (quando não possuímos nenhuma doença do crescimento), como o ganho de peso e altura, e internamente com a ampliação das capacidades psicológicas.

Rappaport (1981), descreve o desenvolvimento como um ganho visível e físico. Desenvolver-se, então, é ganho, evolucionar e ao mesmo tempo uma perda. Perda essa que podemos caracterizá-la como mudança. Então, conforme crescemos adquirimos novas capacidades físicas e psicológicas. O ser humano, ao nascer, cresce e, para crescer, é necessário uma alimentação saudável para que os órgãos se desenvolvam, músculos se fortaleçam e etc. Quando, ainda éramos bebês, tínhamos comportamentos reflexos, como por exemplo o tônico cervical, de marcha, moro, magnético, preensão, entre outros segundo Flehmig (1987). Estes reflexos possibilitaram nossa adaptação ao meio ambiente e ainda possibilitará muitas outras crianças recém nascidas.

Conforme crescemos, ou melhor, dizendo, evolucionamos, perdemos estes reflexos, por isso, desenvolver-se é ganhar e perder, pois, a mudança que ocorre é ganho de habilidades, mas, quando ouvimos falar em desenvolvimento a idéia é de somente maturação do biológico, porém, "[...] o homem é mais que isso. Ainda que nos anos iniciais sejam marcados por ganhos mais visíveis como maior peso, altura e coordenação, aumento do vocabulário, muitas perdas e involuções marcam igualmente algum progresso" (RAPPAPORT, 1981, p. 25).

Somos seres biológicos, mas também psicológicos. A idéia de enfatizar o desenvolvimento biológico está ancorada na Teoria Inatista/Maturacionista, cujo desenvolvimento ocorre por etapas e precisa de tempo e ritmo. A maturação biológica nesta teoria é marcada pelo inatismo, ou seja, o indivíduo nasce com as pré-disposições para o desenvolvimento. A carga genética segue uma seqüência mutável, a qual o desenvolvimento está nas pré-disposições conforme Baldwin (1973). A criança nasce pré-disposta para exercer algumas capacidades como o ato de se adaptar ao meio ambiente sem estímulos oferecidos pelo mesmo.

Em contraponto, a Teoria Empirista/Ambientalista descreve o desenvolvimento como um fator extrínseco do sujeito, é o ambiente, o meio, que propicia o desenvolvimento do indivíduo. Segundo Locke (1690 apud BALDWIN, 1973, p. 29), "[...] a mente do bebê é uma tábula rasa que ganha registro conforme as experiências do bebê".

A criança experimenta o meio a sua volta e com isso, suas experiências são como registros, desenhos na mente deixando o ambiente exercer total influência e dependência sobre si, sendo ele o responsável pelo seu desenvolvimento.

E para a Teoria Cognitivista/Interacionista, a criança se desenvolve interagindo com o meio ambiente, explorando suas formas, cheiros, sons, imagens e gustações. A relação da criança com o ambiente que a cerca, suas experiências com este é o que fortalecerá seu desenvolvimento físico e emocional contribuindo no desenvolvimento da autonomia, pois é quando a criança está "livre" para explorar que ocorre a confiança em si e em seus atos.

Sendo assim, parece-nos que o ambiente familiar tem que oferecer o máximo de recursos para a criança se desenvolver e conseqüentemente ser bem instruída, ou seja, educada. Campos (1985, p. 7) salienta "Se os pais são elementos essenciais no crescimento e na socialização da criança, a família será fundamental para o futuro dos filhos e poderá atuar tanto de forma positiva como negativa". E ainda

[...] a família é capaz de formar indivíduos seguros, criativos, responsáveis

e cônscios do papel a ser desempenhado por eles na sociedade, ou, ao contrário, indivíduos perturbados, carentes, seja física ou emocionalmente, passivos, irresponsáveis quanto a assumir uma função na sociedade ou impossibilitados de dar uma contribuição ao grupo do qual fazem parte, por não terem podido desenvolver as potencialidades recebidas ao nascer. (CAMPOS, 1985, p. 7).

Portanto, notamos que a família exerce um papel indispensável na formação da criança e este papel é intransferível, pois "Os pais criam os seus filhos para torná-los adultos [...] Isso significa que a educação não deve estar separada da vida nem é preparação para a vida, mas é a vida mesma" (ARANHA, 1996, p. 52).

As experiências que a família oferece a seus filhos parecem ser únicas sem formas de réplicas ou plágios, no entanto, as dá escola por vezes não individualizão tanto como o faz a educação infantil nas brincadeiras e momentos de cantigas "[...] é uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente" (BRASIL, 1998a, p. 45).

A escola possui um papel sistematizado o qual "[...] a criança é arrancada do seu pequeno meio físico familiar__ um ou dois quilômetros quadrados de área, se tanto__ e atirada dentro do mundo inteiro, até aos limites do sistema solar" (DEWEY, 1950, apud ARANHA, 1996, p. 172).

Agora, a educação que a família oferece, antes da idade escolar obrigatória é uma educação não sistematizada, informal, ou seja, um auxílio para a sobrevivência " O homem não possui aparelhamento instintivo como o dos animais, e por isso precisa ser socializado para sobreviver, o que é feito mediante a educação recebida das pessoas que o circundam [...]" (ARANHA, 1996. p. 56). Por este aspecto o convívio humano está arraigado de valores e experiências familiares contribuindo ou não no avanço da sociedade ou em suas relações no dia-a-dia, sendo assim, as relações intermediadas pela família são mutáveis no tempo, sujeita a mudanças de acordo com as relações estabelecidas segundo Aranha (1996).

Neste âmbito, somos ininterruptamente influenciados pela globalização, a qual trouxe-nos qualificações, parâmetros e tecnologia para educação no seio familiar e algumas angustias e frustrações para execução no cotidiano dos mesmos.

Segundo Tancredi () globalização "[...] e o desenvolvimento da tecnologia, por sua vez, trouxeram alterações no mundo do trabalho, reforçando a necessidade de competir neste mercado." Ou seja, globalização entendemos ser uma ação global, a qual quase todos os países se juntaram numa espécie de força-tarefa com fins de expansão econômica.

Esta ação trouxe-nos alguns benefícios como o avanço tecnológico e o acesso rápido a informação e ao conhecimento. No entanto, ambos se utilizam, por exemplo, de uma ferramneta mundialmente conhecida: Internet.

A rapidez que este instrumento proporciona ao usuários é fantástica, mas há certas implicações no âmbito familiar. Notamos que alguns usuários "moram" na frente do computador e como conseqüência, a família acaba sendo deixada de lado em alguns casos.

As brincadeiras de roda e entre outras parecem ter caído no esquecimento das crianças. A "moda" são os celulares cada vez mais potentes e cheios de aparatos, os emissores de som MP3 que agora tem até o MP10 e muitos outros estímulos que acabam incidindo no desenvolvimento da criança, pois ela já não sai da frente do computador (aqueles alguns que possuem a máquina), parecem não brincar mais de pega-pega ou pique-esconde.

Isso, observamos que pode trazer sérias conseqüências ao desenvolvimento da criança e a sua sociabilização. Entretanto, a globalização "tirou a mãe da família". Vimos historicamente que a constituição das creches são oriundas das necessidades que as mães-operária possuíam de trabalhar.

Foram evoluções, desenvolvimento sociais atualmente colhemos alguns frutos como: comportamento e problemas de aprendizagem. Cracel (...) corrobora enfatizando que "Na atualidade encontram-se famílias com sua fronteiras mal definidas e mal articuladas, por vezes rígidas demais, frouxas ou até mesmo inexistente".

Realmente notamos isso. A família parece não saber se situar, saber qual é sua função e um dos fatores contribuintes a isto é a globalização " Para podermos compreender, o que acontece com a família atualmente, é necessário vê-la por um prisma voltado para a individualidade, globalização e a competitividade, onde a troca de contato é escasso" (CRACEL, ..... p. 01).

Infelizmente é um histórico triste. A família delega muitas vezes a escola ou a outras instituições a sua responsabilidade e vice-versa. Portanto, educar sem formalidade, sistematização e com princípios da formação da personalidade sob valores que nortearão o fundamento e constituição das normas e regimentos em sociedade circundado das relações que corroborarão na sobrevivência do sujeito é função da família e não da escola, pois é ela que observamos e acreditamos ter condições e capacidade para desempenhar tal papel.

Acreditamos que cabe a instrução, orientação familiar fornecer elementos como: atenção, carinho, correção, qualidade de vida e etc., afins de evitar incidentes e transtornos futuros ou mesmo o choque entre as gerações.

Portanto, pudemos compreender que a família é elemento rico-fundamental na vida da criança o qual pode oferecer a mesma experiências, as quais, corroborarão na sua formação psicossocial.

FAMILY EDUCACION: ASPECTS OF CHILD DEVELOPMENT FACE GLOBALIZATION

ABSTRACT

The relevance is the role of family in front of the school brings contributions which highlight the full training, full of each subject, so they understand the forms of relationship and behavior of some individuals in society and contribute to future academic research . Keywords: Non-formal education. Globalization.

REFERÊNCIAS

ARANHA, M. L. de A. Filosofia da educação. 2.ed. São Paulo: Moderna, 1996.

BRASIL, Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil/ Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental.__ Brasília: MEC/SEF. v. 3, 1998.

BRÊTAS, J. R. Da S. Cuidados com o desenvolvimento psicomotor e emocional da criança do nascimento a três anos de idade. São Paulo: Iátria, 2006.

CAMPOS, M. C. S de S.Educação: agentes formais e informais. São Paulo: E.P.U, 1985.

GARCIA, E. M. S. Direito de família: princípio da dignidade da pessoa humana. São Paulo: Editora de Direito, 2003.

GOLEMAN, D. Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos: como aplicar os conceitos revolucionários da inteligência emocional para uma nova compreensão da relação entre pais e filhos. São Paulo: Objetiva, 1996.

KALOUSTIAN, S. M. (org.) Família brasileira: a fase de tudo. São Paulo: Cortez; Brasilia, DF: Unicef, 1994.

OLIVEIRA, M. K. Vygotsky aprendizado e desenvolvimento: um processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1990.

TIBA, I. Puberdade e adolescência: desenvolvimento biopsicossocial. São Paulo: Ágora, 1986.

1Pedagogo autor do artigo "A Influência do meio ambiente no deenvolvimento de crianças de zero a três anos em situação de risco social". http//www.webartigosos.com


Autor: Silvio Maria


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