Transeminal, Abóbora Transcendental e Distraído-bem-ocupado



(Todos os poemas adiante fazem parte do caderno só na psicologia do amanhecer, descarregados entre agosto e outubro de 2008).

Transeminal

Quando tem filhos,a gente aperta nos braços,acarinha seus cabelos, suas costase entende sua carne,o que estamos fazendodesde os primeiros eretos.O sexo é mais velho que o ovo.

Ser pai(ou, talvez mais ainda, mãe)justifica sua existênciacomo parceiro no transporte.Uma espécie de gondoleiromais graduado.Enche a vida simplesde momentos raros.

Como um grande amor,uma grande conquista,a realização,o autocontentamento...Tudo que sirva e evitenossos piores momentosde egoísmo em flor,de tirania da própria maravilhaa escorrer sem uso para o ralo.

Quando se tem filho,com as mãos espalmadasapertando suas costelas,se entende melhoro significado de termoscomo passagem,participação.Somos a doce e imemorialagonia da carne,a força que procura vidaatravés da carne,elétrons complexos transmissoresda vontade de existir.Cheiro de cabeça,borboletaoitenta-e-oitopousada no dedo.

05.10.08

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Abóbora transcendental

A vida estica seus tentáculosapavoradacom a perenidade seca e irrevogávelda morte.

O homem transitório inventouo seu Deus de cada um,um subproduto da morte imparcial,que não acreditano homemsolitário coletivo.

Numa poça qualquer,a aparente imperfeita harmonianão se importase um abismofor uma fenda abissal.Criamos dificuldadese perdoamos a injustiça divina.

Aminoácidos e universoscuriosostransformam, camuflam ou bloqueiammassa imaterial.A clandestina emissora do inconscientede almas subtraídasdispara desembestadas dietascontra os membros da academia canastra.

Durante o indubitável tempo que vemos,o Deus que forfantasia a fraca tiraniae transfigura as dificuldadesno interior de cada um.

Indulgência ilimitada,enxurrada de costume.Ninguém pára de comer gostosono meio da agonia práticado tempo que passa,nem compõe música-de-corno.

Viver distraído é viver bem-ocupado.Melhorar sua filosofia,manter o jardim bem cuidadoe o puçá de lado.Significadoé borboleta pousada no dedo,sangue incandescente.

Tanto faz,mera criatura que pensa tanto,mas prefiro o azul,a vida apaixonada pela borboletaantes que o poema acabeconforme previamente convencionado.

Deus, escravo-sentinela,o pai que o filho escolheu,galã de novela mexicana,não sabe quantoo que a gente quer fazeré sua pura insolência essencial.

O sexo,maravilha do egoísmo em flor,é mais velho que a tirania do ovo.A doce participação do homem,a passagem pela carnedas forças propulsoras da vida,agonia arriada pela borboleta.

05.10.08.

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Distraído-bem-ocupado

Há muito Deus merece ser libertadodo jugo de nossa pirraça,para fluir solto pela Via Lácteaalforriado.É público e notório:fantasiando ou não,somos culpadospela nossa glóriae condenados a viver em vão.Deus tem nada com isso.

Deve haver uma obra,um o-que-fazer,uma Deusa para amar,sei lá,deve ter uma rave para ele irem Órion.

Temos que aprender a resistirem vez de orar,fazer o possívelpara não estigmatizaro medo.

Cometer todas as alegrias,refletir sobre todaa hipocrisia,sofrer cada desencontroe cada injustiça,curtir cada ruga,assimilar todo sorriso.Participar na passagemde braços abertosde frente para a ventania,aceitar a transcendênciaaté que a turgescência vençae o caqui exploda.

Abrir os céuspara que Deus possa procurarseu universo prometido.Deixar o cara procurara procura dele.E procurar, por aqui,transmitir, aproveitare incandescera vontade de viver.

10.10.08


Autor: Roberto Jr Esteves Siqueira


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