Análise do Livro Vida e Morte do Bandeirante



Universidade Estadual Vale do Acaraú ? UVA
Centro de Ciências Humanas ? CCH
Curso de História ? 5 período
Disciplina: Historiografia Brasileira
Professor: Dr. Carlos Augusto

Aluna : Milvane Regina Eustáquia Gomes

Vida e Morte do Bandeirante
Alcântara Machado


Sobral / CE
2010

IINTRODUÇÃO

Este artigo tem por objetivo analisar os procedimentos utilizados pelo autor Alcântara Machado ao escrever sua obra: Vida e Morte do Bandeirante. Utilizou-se de fontes documentais até então inéditas, os inventários, como documentação serial de forma a subsidiar o aprofundamento dos estudos da vida cotidiana em família.
Os inventários são bastante utilizados como fontes de pesquisas para o conhecimento do passado histórico. No entanto, aqui no Brasil, apenas após a publicação dessa obra que ele recebe mais destaque no campo historiográfico, nas últimas décadas essa documentação incorporou novos procedimentos, com a abertura de arquivos públicos e pela generalização da informática, e a redescoberta da morte como tema da Nova História.
Poderemos visualizar na escrita do livro que havia uma complexidade dos antigos inventários composto por diferentes itens da sociedade, especialmente os aspectos religiosos, a vida familiar, a vida material, sugerindo procedimentos para a coleta e a síntese dos dados.


















UM POUCO SOBRE O AUTOR

José de Alcântara Machado e Oliveira nasceu na cidade de Piracicaba, em 19 de outubro de 1875. Pertencia a uma das famílias mais tradicionais da província, "paulistas de 400 anos", como dizia com orgulho.
Alcântara Machado foi um intelectual destacado em sua época: historiador, jurista e professor, escreveu vários livros de direito. Como político, chegou a senador. Graças a sua obra-prima Vida e Morte do Bandeirante (cuja última edição, de 1980), elegeu-se para a Academia Brasileira de Letras, em 1931. Empossado em 1933, ocupou a cadeira nº 37 até sua morte, na sua cidade natal. em abril de 1941.
Vida e Morte do Bandeirante é umas das principais obras da historiografia brasileira. Ela foi elaborada através fontes históricas(1), pesquisadas através dos inventários afim de retratar a cidade de São Paulo no inicio de sua colonização.
Através da leitura desses documentos, Alcântara Machado nos revela a outra face da capitania paulista. Faz descrições minuciosas e remonta toda uma rotina vivida pelos desbravadores daquela região.
Podemos observar em sua obra, como a vida era de maneira geral, era simples, rústica, sem aquele suporto glamour retratado em vários livros didáticos. A realidade abordada, apesar de muito descritiva é uma forma de se escrever a história ao longo da nossa evolução.
Os inventários brasileiros modernos visavam à preparação do funeral e à salvação da alma principalmente. No século XVI, a sua estrutura atingiu sua máxima complexidade. Surgiu, então, uma série de confrarias especializadas no cerimonial da morte e na salvação da alma. Por aqui não era diferente, os paulistanos se preocupavam em descrever seus bens, e seus sentimentos.
Talvez a razão pela qual o autor fez sua abordagem historiográfica recebeu todo o seu sentimento de observação da vida daquele período, ele tenta "redescobrir o Brasil' em sua páginas, haja visto que até aquele momento muitas produções recebiam carga altamente positivista(2) que influenciavam a escrita de toda uma geração de escritores, onde enalteciam uma pequena parcela da sociedade tida como salvadora.

(1)Fontes históricas: O estudo do passado não pode ser feito diretamente, mas de forma mediada através dos vestígios da atividade humana, a que é dado o nome genérico de fontes históricas.(Biblioteca Virtual ? acesso 06/04/2010.

(2) Positivismo: Em linhas gerais, ele propõe à existência humana valores completamente humanos, escrita linear e cronológica, não valorização dos pequenos fatos
Estudar o cotidiano de um povo é a maneira mais prática de se abordar a construção de sua própria identidade. Antes da historiografia no Brasil torna-se livre para pesquisar e produzir suas obras, o que tiamos eram textos produzidos para Europeus lerem, desvalorizando a vida dos nativos muitas vezes peças na história sem nenhuma importância, dentro da perspectiva eurocêntrica. Para eles não havia história dos "simples" homens e com isso surge a constante desvalorização dos pequenos. Pobre daqueles que por pensarem ser muito grande, não conseguem visualizar os verdadeiros fatos, que começam de baixo, entre as classes menos nobres e que fazem toda a diferença.
A formação do intelecto brasileiro, apesar de muito tarde, referente ao resto dos pólos de estudo, trouxe algo positivo na medida onde se produzia bastante, a cada obra, surgia novidades na maneira de pesquisar e de se utilizar novas fontes de trabalho. Nesse sentido, Alcântara Machado ma qualidade de grande interprete brasileiro pode de fato nos mostrar a realidade da jovem cidade paulista que se constituía, baseada na vida rural e não urbana, na realidade das moradias, sua constituição física e sentimental. Também é importante ressaltar a frágil exploração do ambiente urbano, muitas vezes observado como um local abandonado.
? o pequeno impacto desta obra, que contam entre os mais belos da historiografia brasileira, talvez se deva ao fato das análises generalizantes dominarem nossa ciências humanas até os 80. (?) as novas gerações de historiadores começaram a se deter sobre o particular, sobre o detalhe, procurando mostrar o significado de fenomenos apararentente sem importância. (3) ( Laura de Mello e Souza, texto introdutório do Livro Interpretes do Brasil, Vol I ? Vida e Morte do Bandeirante de Alcântara Machado / Silvana Santiago, RJ: Nova Aguilar, 2000 pp. 1191)

A obra em questão dá enfase ao cotidiano, de homens menos abastados em um ambiente coletivo interligado ao meio. Sua rotina aponta aos laços simples profundamente integrado ao processo histórico no momento da criação do povoado, o apego aos valores patriarcais, na busca pela compreensão da história paulista, integrada ao momento da composição estrutural brasileira.

(3) ( Laura de Mello e Souza, texto introdutório do Livro Interpretes do Brasil, Vol I ? Vida e Morte do Bandeirante de Alcântara Machado / Silvana Santiago, RJ: Nova Aguilar, 2000 pp. 1191)
linhagistas: refere-se ao estudo da família, da elite que supostamente compôs o povoado paulista.






A incerteza na nova terra, leva os fazendeiros a se resguardarem, conforme aponta os documentos analisados, eles não deslumbram com o luxo, nem mesmo com a fortuna da pequena elite, querem trabalhar a terra, nada de heroísmo em meio a mitos, sim, trabalhar para se alimentar e se proteger os agentes do tempo, tais como chuvas, noites frias etc.
O valor material descrita na obra, nos confirma a pequenez do homem simples paulistano. Muito diferente dos estudos, feitos por linhagistas(4) da elite. A estruturação social está bem distante da formação econômica, quando apresenta o frágil conjunto de bens possuídos pela aristocracia, quase não se descreve utensílios essenciais a uma vida modesta como talhes, pratos, cadeiras, etc.
Conforme a sociedade pré-capitalista revela suas transformações econômica a vida social vai recebendo mais aparatos que vão distanciando as pessoas da vida rústica. É através dos inventários (5) que a questão material é revelada, sua estrutura é fundamental para compreender o movimento da evolução, o valor atribuído as peças, o costume de trabalhar na terra conforme as necessidades, fazem dos produtos produzidos uma moeda de troca e até mesmo para a quitação de dividas.
Perceber a importância dos aspectos materiais na vida cotidiana, faz do autor um precursor ao abordar os problemas históricos pouco descritos anteriormente. Ele faz seus atributos como pesquisador de maneira a inovar toda uma geração de escritos históricos, conforme:
? a relação do historiador com o passado fundamenta-se na compreensão do outro nas muitas formas de linguagens e representações da alteridade. Compreender o passado, a sociedade e as culturas por meio de um aparelhamento teórico inter/disciplinar confere ao ofício uma identidade científica. (6)



(5) inventários: é a forma processual em que os bens do falecido passam para o seus sucessores
(6) Texto Geraldo Mártires Coelho / Ano 04 n 48 Setembro/2009 p 98
(7) Idem ao 3 porém página 1246.







Através desse momento vivido no Brasil na década de 80, o historiador se encontra e define a cientificidade dela. A historia deixa de se ocupar com fatos prontos e abrange várias estruturas sociais. Fazendo um dialogo com o livro Vida e Morte do Bandeirante, essas estruturas aparecem nítidas, em especial no capítulo " A Baixela", onde descreve-se a forma de se alimentar e os utensílios que acompanha as refeições, nada de glamoroso ou até mesmo higiênico, comiam-se com as mãos, não se preocupavam com a beleza ao se alimentar, e sim o ato propriamente dito. Uma estrutura frágil, porém bem descrita nas páginas do livro, a riqueza de detalhes faz com que possamos visualizar um determinado encontro familiar, junto a mesa, observe:
? o príncipe perfeito, reinante em Portugal sob o nome de D. João II, comia vorazmente sem talher, trincando com as mãos ou partindo com os dedos... (7)


CARATER ENSAÍSTICO DE INTERPRETAR O BRASIL

Grandes escritores brasileiros adotam o caráter ensaístico na busca de interpretar a história da formação do Brasil. Devido a poucas fontes de pesquisa permite a junção da Literatura e História, na combinação das experiências populares a partir do estilo literário auxiliando os memorialistas contarem amis um pedacinho da nossa história.
José de Alcântara Machado, paulista de coração, atribuiu a pesquisa dos inventários a sua busca por explicar a história da formação paulista observada nas suas leituras, tentou ele próprio desmistificar a visão dos heróis e partiu para a defesa de aspectos étnicos e culturais.
Após a leitura dos capítulos iniciais da obra, podemos observar a discussão feita em cima do homem, as origens, sua formação de caráter e práticas de viver em meio a uma terra inóspita e cheia de choques de sentimentos, vontades de prosperar na luta entre terra e homem.
Quando Vida e Morte do Bandeirante foi publicado, a história da escrita paulistana era o oposto da obra, não tratava de assuntos simples, mas valorizando da hereditariedade das grandes famílias paulistanas.
O rigor metodológico, a objetividade do escritor não faz referências com a preocupação de se analisar os personagens históricos, não se colocam questões cientificas e busca construir sua obra resgatando o memorialismo local.

O QUE O AUTOR NOS APRESENTA COM ESSA OBRA.

Essa obra foi dividida em 15 capítulos, dos quais ele faz toda uma preparação sistemática e detalhada na tentativa de nos auxiliar na compreensão e melhor assimilação do tema tratado por ele.
O QUE DIZEM OS INVENTÁRIOS:
Esse capítulo inicial faz uma explicação de como procedeu sua pesquisa através dos documentos fornecidos pela arquivo público paulista. Sua pesquisa histórica a cerca da cidade de São Paulo nos séculos que iniciam a colonição daquela região. Através desses documentos oficiais, ele remonta a história paulista, porém não é só essa documentação que compoe a história paulista. Existem outras formas de se cpmpor fatores essenciais a historiografia, conforme:

"Reduzir o estudo do passado a biografia dos homens elustres e a narrativa dos feitos retumbantes seria absurdo tão desmedido como cirscunscrever a geografia ao estudo das montanhas". (MACHADO, p.1209)
o que o autor propoe é uma visão critica ao modelo positivista de se fazer história, predominante na literatura histórica durante os primeiros anos do século XX.
Segue explicando a cerca dos inventários coloniais dotados de sentimentos pessoais e com forte vínculo com o ato de se escrever aos seus decedentes, os detalhes eram tão precisos que facilitou o endendimento, esses documentos eram como uma especie de diários vivo com vontades explicitas que deveriam serem feitas após a morte do autor do inventário.
AS FORTUNAS COLONIAIS:
Por volta de 1590, os senhores de engenho do nordeste ocupavam espaços onde a instabilidade era notória entre os nativos e os desbravadores, mesmo em confronto, viviam a lei da nobreza e em extremo conforto,
por outro lado São Paulo oferecia muitas vantagens para ocupação do terrítorio. Os senhores paulistas comecaram, sem grandes fortunas e heranças abastadas, somente ao trabalho seria surgido sua fortuna. Quem por aquela região, eram variadas as suas raizes.


? a imensa maioria, são homens do campo, mercadores de recursos limitados, artificeis aventureiros de toda as castas seduzidos pelas promessas de um novo continente. (MACHADO, 1216)

A terra possui uma paixão muita eminente para aqueles que a possuem e desejam repassar a seus herdeiros. Atraves dos seus sucessores os inventários analisados era clara essa afirmação. No inicio não havia-se muito dinheiro, mas a vontade de cultivar a terra e construir riqueza era muito grande.
Até em meados de 1590, muito dos inventários não passavam de braças de terras e escravos. Jã por volta de 1642, começa-se observar a evolução dos socumentos, já sendo citada casas nas roças, animais e bens na sede do povoado.
? mas, em rigor, não há motivo para expanto. Que vale a terra sem gente que a povoe e aproveite? O que falta aos paulistas não é chão, aí está, baldio e imenso, a espera de quem o fecunde.faltam-se, sim, a ferramenta, o vestuário, tudo quanto a colonia não produzir ainda e tem de vir, através de obstáculos sem conta, da metropole distante. (p 1221)
Essa dependência faz com que a vida seja muito difícil e com pouca qualidade de vida. Quem não tinha terra ficava difícil obtê-la, o que se observava tardiamente e o fenômeno da propriedade feudal.
O POVOAMENTO
Por volta do século XVI, o povoamento paulistano é bem modesto e entra-se situado em meio a ruas e casas, sem organização numérica ou nomeclatural. Qualquer negociação de compra e venda era feita em praça pública e com referências feitas através da vizinhança ou algum prédio público ou religioso. Essas referências procedem até os anos de 1780. sem muitas modificações conforme cita documentação daquele período.
Na questão da moradia, começa-se com pequenos choupanas e vão sendo modificadas ao longo dos séculos. Na medida que os paulistas vão produzindo suas materias primas, as casas vão recebendo telhas, tijolos, portas e janelas. E a valorização dos terrenos vão ganhando mais força.
O SÍTIO DA ROÇA
A vida urbana não era exatamente um meio utilizado nos séculos iniciais da colonização. Viver em meio rural era de fato um modo bem mais aconchegante.
Esse meio de vida era simples e rudimentar, acidade não oferecia as ferramentas ideiais para a produção de consumo e comércio naquele período. As casas nos povoados eram uma espécie de casas de temporadas, que eram tidas como ponte de encontro ou por necessidade comerciais. Também destaca-se nos inventários as festas religiosas, tradicionais e que traziam grande público a pequena cidade em formação.
O MOBILIÁRIO
a descrição dos lares, a intimidade paulistana, foi elaborada pelo autr de maneira rica de detalhes. O local a ser descrito e uma casa urbana da aristocracia da colônia. Muito diferente dos retratos feitos em obras de época, é composta de um rico mibiliário, cheio de detalhes e apreços, na verdade o que se observa é uma casa grande composta de partes vazias, apenas com objetos úteis a vida diária.
Com as inivações das produções e o inicio do ciclo da mineração, os móveis vão ganhando requinte. Observe: "pouco a pouco, o estanho plebeu vai sendo suplandado pelo faiança na mesa da gente de prol" (p.1238). A parte decorativa recebem quedros religiosos, e utenspilios de prata, muitos anos depois por volta de 1700 começa a chegar os espelhos.
Talvez o fato de grande demora da ostentação das casas urbanas deva-se ao fato de quase nunca ter pessoas por lá. O luxo é relativo, depende do poder de compra e a vontade dos proprietários.
A BAIXELA
Popularmente os utensílios domésticos possuem carates simples e feitos de matéria prima barata. Os menos abastados possuem pratos, copos, talheres de estanho, metal resistente e de valor pequeno.
Os remediados finaceiramente tinha louça indiana e feita de barro branco, configura-se entre os donos do capital, verdadeiro tesouros em vasinhame. A prata era uma jóia de fácil aceitação e tranpoerte, no caso de uma partida repentina.

Autor: Milvane Gomes


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