Contribuições da prática pedagogica para disciplina escolar



RESUMO:
Atualmente a indisciplina tem sido a causa mais apontada pelos profissionais de educação, como um dos fatores causadores do fracasso escolar. Há muitas discussões em torno das causas e culpados por esta indisciplina. Decidimos então pesquisar as contribuições da prática pedagógica e do relacionamento entre professor e alunos que podem influenciar positiva ou negativamente para disciplina escolar. A questão da indisciplina deve ser levada bem à sério pois, nos encontramos num contexto nacional, onde essa indisciplina evoluiu para violência escolar. Nossa inquietação é no sentido de refletir as relações interpessoais dentro da escola e até que ponto isso reforça ou não o problema. Objetivamos também propor ações que possam minimizar o problema através de uma didática adequada, relacionamentos interpessoais que traduzam: segurança, respeito e compromisso por parte dos atores que compõem o cenário escolar.
Palavras chaves: Indisciplina. Professor. Prática pedagógica

ABSTRACT:
Currently, indiscipline has been identified by the most professional education, as one of the causative factors of school failure. There are many discussions around the causes and culprits of this indiscipline. So we decided to find the contributions of teaching and the relationship between teacher and students who can influence positively or negatively to school discipline. The question of indiscipline should be taken seriously and therefore we are in a national context, where school violence has evolved into indiscipline. Our concern is to reflect the interpersonal relationships within the school and how that enhances or not the problem. Also aim to propose actions to mitigate the problem through a didactic approach, interpersonal relationships that result: safety, respect and commitment from the actors that comprise the school setting.
Keywords: Indiscipline. Teacher, Pedagogical practice


1.INTRODUÇÃO


A indisciplina na escola e em sala de aula tem preocupado muito os professores nos dias atuais, pois ela interfere negativamente no processo de ensino e aprendizagem. Porém, a mesma é também influenciada pelo tipo de relação pedagógica estabelecida entre professores e alunos e até mesmo pela natureza das atividades (desinteressantes) realizadas em sala.
O medo da indisciplina e da violência é normal, mas deve servir de alerta para o professor. A turma que reage violentamente não deve estar se sentindo valorizada e precisa de espaço para expressar-se. O tumulto serve para chamar a atenção. A indisciplina tem sido intensamente vivenciada nas escolas, apresentando-se como uma fonte de estresse nas relações interpessoais, particularmente quando associada a situações de conflito em sala de aula. Mas, além de constituir um "problema", a indisciplina tem algo a dizer sobre o ambiente escolar e sobre a própria necessidade de avanço pedagógico e institucional. Trata-se de uma questão, portanto, a ser debatida e investigada amplamente.
Para se educar crianças e jovens, não existe receita. Entretanto, é importante levar em consideração os sentimentos e emoções que são próprios de cada pessoa, e correspondem ao grau de desenvolvimento individual e ao meio em que cada um foi criado e ao ambiente em que vive. Parte do trabalho para a realização das relações efetivas em sala de aula consiste em aceitar essa realidade sem juízos limitantes, frustrações, irritação, medos, ressentimentos, culpa, etc. A relação professor/aluno deve, e pode ser uma relação de colaboração e apoio mútuo para o desenvolvimento de cada um. Precisa basear-se no respeito, dignidade, integridade, abertura e amor.
Houve um aumento significativo de casos de indisciplina no ambiente escolar, buscamos através deste trabalho fazer com que o professor reflita sobre sua metodologia e prática de ensino.
A sociedade está em plena transformação, mudanças de valores estão acontecendo, os indivíduos recebem influências diretas e indiretas dos meios de comunicação da massa e essas mudanças interferem no nosso dia-a-dia, seja na nossa família ou nas escolas.
Neste contexto, há famílias que exigem da escola a educação dos próprios filhos, enquanto eles, os verdadeiros responsáveis sociais, se omitem, não cumprem seu papel e acabam desqualificando a escola e, principalmente, o professor. Cabe ao professor além do papel de transmitir conhecimento, humanizar o seu ensino e inserir no caráter do seu aluno condutas de cidadania, ética e valores morais.
Assim, para que o professor consiga atingir seus objetivos na ação educacional é preciso focar sua prática em um bom relacionamento com os alunos. Nesse âmbito, encontra-se um variado número de sujeitos, circunstâncias, espaço e tempos. As relações familiares, sociais e a instituição escolar, estão estreitamente relacionadas aos resultados finais de avanços no processo de aprendizagem, sendo este o primordial objetivo do professor.
Propomos uma análise pedagógica da disciplina e da indisciplina na sala, visando a solução do problema, consciente de que o mesmo vem da responsabilidade de cada um no compromisso com a superação. O campo teórico da disciplina escolar também se constitui de elementos que são fundamentais em várias atividades da escola e que, além disso, não lhes são exclusivas, uma vez que dizem respeito igualmente a outras instituições e até mesmo às interações sociais cotidianas. Desta forma, passam por respeito, liberdade, responsabilidade, ética, desenvolvimento moral, atitude, socialização, cooperação, consenso, negociação, controle, obediência e pelo próprio conceito de educação e pelos processos de educação humana.
O procedimento metodológico utilizado para construção deste artigo contemplam técnicas de abordagem exploratória, bibliográfica no sentido de focar a prática do professor como condição sine qua non para manter a disciplina na sala de aula. Entrelaçamos nossa fundamentação teórica à luz dos autores: ALARCÃO (2004), FREIRE (1996), ANTUNES (2002), VASCONCELLOS (1997), entre outras leituras.
2. OLHARES SOBRE A INDISCIPLINA

Segundo VASCONCELLOS (1997), "A indisciplina, na escola, é um fato que transcorre na sociedade e no seu sistema de ensino, ela é tão antiga quanto a própria escola". Na ânsia de solucionar os problemas de indisciplina escolar o foco das atenções tem se voltado enfaticamente para a figura do professor, por ser este um profissional considerado como responsável pela natureza e qualidade do processo educativo na sala de aula e na escola. "O diálogo, o respeito, o companheirismo e a comunicação verdadeira são essenciais para o desenvolvimento, assim como o limite e a disciplina" (FREIRE, 2000).
No novo contexto social a escola precisa enxergar o aluno como sujeito na construção do conhecimento, lançando desafios que proporcione oportunidades para refletir as informações e construir o conhecimento através do pensamento e compreensão que continuam sendo os fatores para o desenvolvimento intelectual, social e institucional.

"O professor não é o único transmissor do saber e tem de aceitar situar-se nas suas novas circunstancias que, por sinal são bem mais exigentes... O seu papel impõe-lhe exigências acrescidas. Ele tem de aprender a gerir e a relacionar informações para as transformar no seu conhecimento e no seu saber."( ALARCÃO, 2004).

O professor deve estar consciente da importância da livre expressão de sentimentos e emoções na formação da personalidade de seu aluno. Deveria estar capacitado, por sua formação profissional e, sobretudo, por sua própria situação psíquica, a reconhecer possíveis dificuldades de exteriorização de sentimentos das crianças e jovens que chegam à sala de aula, vindas de diferentes ambientes, muitas vezes marginalizados, inclusive. É necessário tenha uma boa abertura comunicativa, capacidade de escuta e de empatia para poder esclarecer suas próprias reações às mensagens que recebe dos alunos.
De acordo com ANTUNES (2002), muitas vezes a indisciplina que irrita o professor é reflexo de outras pequenas indisciplinas que são toleradas no dia-a-dia, como atraso de quinze minutos, problemas nas relações interpessoais, conversas despropositadas em detrimento do início da aula.
É preciso permitir a si mesmo valorizar suas próprias emoções. Não há nada de errado em irritar-se, ressentir-se, frustrar-se com situações ocorridas em classe e na vida em geral (CELANO, 1999). A expressão de sentimentos não tem por que se manifestar de forma explosiva. O importante é reconhecer que existem e é natural que existam, e agir para solucionar os conflitos que estão na base dessas emoções. Para isso o professor deve estar consciente de sua própria maneira de ser, agir e relacionar-se, assim como do meio e espaço familiar de onde ele próprio provém. Assim, reconhecer, aceitar e valorizar os próprios sentimentos e emoções é parte do trabalho de amadurecimento pessoal do professor, permitindo também, fazer o mesmo com seus alunos.
Devemos compreender que as novas propostas, novas alternativas curriculares, as novas soluções para velhos problemas não podem ser simplesmente implantadas, mas devem ser coletivamente construídas. Precisamos ter uma base, precisamos de diretrizes, é necessário estudar teorias, mas não há como esperar soluções redentoras rápidas: o trabalho escolar é fruto da ação coletiva crítica e criativa. Supor, ao contrário, que há uma única melhor saída pode até fazer com que as novas formulações sejam repetidas ao nível do discurso.
Outro fator relevante está no ambiente da escola que para VASCONCELLOS (1995), deve ser verdadeiramente humano, no sentido de constituir um espaço democrático onde se cultiva o diálogo e a afetividade humana, em que se pratica a observação e garantia dos direitos humanos (constitucionais). Este clima caloroso deve refletir um conhecimento e preocupação quanto aos estudantes enquanto pessoas, tendo em vista suas condições concretas, individualidades e singularidades. Na prática, se desejamos que a educação escolar represente mudança, segundo FREIRE (1996), deve-se cultivar uma postura ? sobretudo entre os professores ? de interesse e compromisso pelas metas, realizações e problemas dos estudantes, bem como de apoio às suas atividades curriculares e extracurriculares.
É necessário, portanto, que os professores desenvolvam e conquistem maior autonomia para lidar com a indisciplina de sala de aula. Isto não significa deixá-los a sós com a indisciplina de sala de aula, mas fomentar um trabalho em parceria, baseado em responsabilidades claramente definidas e no auxílio estratégico em situações de intervenção da equipe de apoio pedagógico.

3-FORMAÇÃO DO DOCENTE: TEORIA E PRÁTICA


De que forma a indisciplina pode ser provocada pelo professor? São variados os comportamentos que podem conduzir os alunos ao desinteresse e consequentemente à indisciplina:
- a estigmatização e a rotulagem dos alunos;
- falta de preparação para lidarem com as situações de conflito;
- falta de capacidade para motivarem os alunos, através de métodos e técnicas adequadas;
- desprezo pelas dificuldades dos alunos deixando-os com suas dúvidas;
- o autoritarismo arbitrário;
O curso de formação não oferece subsídios, para lidar com a realidade escolar. A ingenuidade de pensar que a turma é homogênea, que os alunos são todos oriundos de uma família perfeita e que a escola tem estrutura e recursos ideais se constituem num obstáculos na hora do enfrentamento com a realidade. Os professores desestimulados e sentido-se impotentes diante das dificuldades não planejam bem suas aulas e oferecem aos alunos uma didática desprovida de atrativos, recursos e dinâmicas.

Segundo Celso Favoretto, professor de Educação da USP, os professores acabam assumindo o discurso infundado de que a escola não tem mais valor e isto o dificulta em ver a instituição como responsável pela seleção e formalização do conhecimento e o professor sente-se à parte do processo. É um ciclo vicioso que cada vez mais está distanciando a escola de sua missão original.
A LDB no artigo 61 orienta sobre a formação do docente e trata de pontos fundamentais para que o profissional da educação esteja apto para assumir sua função.


"Art. 61- A formação dos profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos de diferentes níveis e modalidades de ensino às características de cada fase do desenvolvimento do educando, terá como fundamentos:
I-associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço;
II- aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituição de nsino e outras atividades." LDB (1996)


O curso de formação de acordo com a LDB deve preparar o docente para adequar o ensino para cada fase de desenvolvimento, isto o ajudará a propor atividades que chamem atenção dos alunos evitando que se dispersem tumultuando a aula. No inciso I faz menção ao estreitamento entre teoria e prática, o currículo deve possibilitar essa associação para que o profissional inicie sua carreira com os pés no chão, conscientes de sua tarefa e das dificuldades que por ventura enfrentarão e de que maneira poderão enfrentá-las.

A formação do professor ocorre antes e depois do exercício da profissão. O conhecimento teórico adquirido no curso de formação vai materializar-se na prática educativa. Paulo Freire introduzindo sobre os saberes necessários à docência diz: "É preciso, sobretudo, e aí já vai um destes saberes indispensáveis, que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também na produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua produção ou sua construção."FREIRE (1996)
A formação do docente deve proporcionar ao formando uma leitura crítica do ato de ensinar, enquanto educando, o futuro professor não pode ser tratado como mero receptor de informações, mas aprender a pensar. Já exercendo a profissão a recomendação do autor é que "(...) na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática." (FREIRE, 1996).


O professor numa concepção de educação humanista para minimizar a indisciplina através de um bom relacionamento com os alunos adotando algumas posturas:
? Dialogar com os alunos sobre as situações de indisciplina que surgirem em sala de aula e que sejam um impedimento para a construção do conhecimento conduzindo-os a reconhecer os pontos negativos que suas ações podem produzir para si próprio e para os colegas;
? Despertar e valorizar as potencialidades dos seus alunos para que estes percebam que está sendo reconhecidos e identificados pelas virtudes que possuem;
? Ficar atentos para combater atitudes de gozação, desrespeito, de rotulação assim que estas se iniciam, pois estas muitas vezes são aturadas na sala de aula em nome do humor traduzem uma forma de violência.
? Construir coletivamente as normas para uma convivência harmoniosa ressaltando a responsabilidade de cada um para efetivação desta proposta;
? Evitar a vinculação de notas e prêmios à disciplina escolar, sabendo que historicamente isto estava vinculado ao poder autoritário e a exclusão. Desta forma não estaremos formando cidadãos conscientes de seus deveres

A prática pedagógica deve estar baseada numa proposta que atenda as necessidades dos alunos, que prevê conteúdos significativos e aplicações de metodologias que proporcionem a participação dos alunos, agucem sua curiosidade, que os desafiem a pensar.
Nos reportamos então aos Quatro Pilares da Educação segundo DELORS (1996) cabe hoje aos professores estimularem através de uma de uma didática dinâmica e emancipatória seu aluno a "aprender a ser", "aprender a conhecer", "aprender a fazer" e "aprender a viver juntos". Daremos ênfase aqui a o último pilar citado. Aprender a "viver juntos". Que esforços a escola tem feito para alcançar uma convivência harmoniosa? A ética está presente nas atitudes dos profissionais de educação? Só no discurso ou na prática? Este tema transversal tem tido vez nas aulas? Ou conteúdos programáticos tem sido privilegiado em detrimento de valores humanos necessários para a reflexão do que vem a ser convivência social? Estes questionamentos deve fazer parte da reflexão da prática pedagógica.

O professor deve ser sempre um pesquisador e estimular seus alunos a pesquisarem. É de fundamental importância que ele tenha convicção e segurança do que está propondo ao aluno, ter objetivos claros e saber o que pretende alcançar com as aulas ministradas. Algumas atitudes pedagógicas que contribuem para a disciplina escolar.
? Planejar as aulas com a visão focada nas necessidades reais dos alunos.
? Valorizar os conhecimentos prévios dos alunos e associar os novos conhecimentos a estes, facilitando a aprendizagem através das relações significativas entre conteúdos novos e saberes dos alunos, sempre contextualizando-os.
? Ao entrar na sala ser objetivo não deixando que a turma se disperse, as atividades da aula devem ser bem dispostas para otimizar o tempo pedagógico.
? Ser claro e coerente situando o aluno não o deixando à margem dos conteúdos oportunizando momentos para tirar as dúvidas durante as aulas.
? Dispor de diferentes estratégias de ensino, jogos didáticos e técnicas para oferecer mais dinâmicas às aulas e melhores oportunidades de aprendizagem.
? Autoavaliar-se sempre, através da ação reflexão ação, podemos nos aperfeiçoar para alcançar os objetivos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

A questão da indisciplina pode decorrer de vários fatores dentre eles: O aluno desinteressado e envolvido com a tecnologia a que tem acesso fora da escola; a família que não cumpre seu papel; a sociedade desorganizada e injusta; professores que não exercem a autonomia e autoridade necessária para conduzir a classe; escolas desprovidas de estrutura e recursos que atraiam o alunado. Enfim diante disto tudo podemos a firmar que os desafios são inegáveis, mas se queremos ter sucesso na nossa missão de educadores precisamos contornar os obstáculos, transpor as barreiras e criar situações que favoreçam o trabalho pedagógico e a aprendizagem dos alunos.
Um dos papéis da escola é contribuir para o aluno-cidadão, a formação de um sujeito que tenha ciência de seus direitos e obrigações sociais que incluem a sujeição às normas legais e regimentais. Para tanto não podemos esperar pela ajuda externa, da família e da sociedade, pois isto pode acabar em frustrações. Faz-se necessário estabelecer uma relação que propicie harmonia e ao mesmo tempo impor limites.
Dinamizar as aulas através de atividades que estimulem os alunos à pesquisarem, lerem, construírem hipóteses, relacionarem em os conhecimentos escolares à vida. Organizar um planejamento que contemplem as necessidades reais do aluno, é um passo para manter a sala em disciplina.

Autor: Luciana Calazans


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