Uma viagem sem volta



Estava quase amanhecendo quando percebi que ele estava ali, bem do meu lado. Um misto de admiração, paixão e excitação passou por meu corpo. Até aquele exato momento eu ainda não sabia se as cenas que estavam em minha mente, e produziam ondas de calor em meu corpo eram verdadeiras ou não. Tive medo de me mexer e acordá-lo. Um anjo, um fogo ardente misturado ao calafrio, ao arrepio do toque na pele. Seu cheiro forte, amadeirado, misturado com o meu ? doce e perfeita mistura ? pensei. Respirei de leve, mas me mexi. Ele se virou, se aconchegou em meu pescoço, me abraçando suavemente. Aquela sensação de carinho, de proteção. Agora tinha certeza, eu não estava sonhando. Lembrei-me de respirar de novo.( Ai, droga. Preciso ir ao banheiro). Tentei remover delicadamente o braço dele de cima da minha cintura. Tarde demais. Eu o acordei...
- Desculpa! Não queria te acordar.
- Que horas são?
- Deve estar amanhecendo.
- O que? Sério? Tenho que ir.
E ele se levantou correndo, vestindo a calça e procurando a camisa pelo chão. Até me esqueci de ir ao banheiro. Que raiva. Gostaria que ele ficasse mais tempo ali. Gostaria de tê-lo só pra mim, daquele jeitinho, para sempre.
- Você sabe que te amo, não sabe?
-Sei. (mas eu duvidava por dentro)
- É sério. Você é tudo para mim! Sábado que vem eu volto...
Até quando eu iria me fazer de idiota? Até quando suportaria a ideia de manter "duas vidas?".
-Isso não é justo! Argumentei em vão.
-Ele me beijou a testa, fingiu não ter ouvido nada e saiu.
Burra! Disse para mim mesma. Na verdade você é a vilã. Ele já estava compromissado quando você apareceu, você é quem deve sair do jogo. .. Deveria, mas não sabia se conseguiria...
Esperar até sábado? Passar a semana toda pensando na possibilidade de ele fazer com ela as mesmas coisas que fizemos juntos? Jamais. Amanhã eu tomaria a decisão final. Mas aquilo não podia continuar. O problema é que já era manhã e eu ainda não tinha um plano.
...Telefone tocou...
- Tá, eu vou.
- nove?
-Sim, pode esperar!
-Eu também.
Estranho ele ter ligado no meio da semana e ainda marcando um encontro....
Ele chegou ao local combinado com trinta minutos de atraso. Só faltava eu comer as unhas do pé... (Calma, controle-se. Seja paciente com ele)
- Olá, Diana. Vou ser breve. Não posso me demorar aqui.Tenho que voltar logo, ninguém pode me ver com você.
- Você é uma pessoa maravilhosa, mas...
Aquilo era o fim. O fim do nosso relacionamento, da nossa história de amor, dos nossos planos de ficarmos juntos, família, casa na praia. Fui tentando controlar minhas emoções enquanto ele falava. Filmes passados, lugares aconchegantes por onde passamos, presentes trocados. Afinal, era o fim de uma vida (a três) de dois anos e meio. O que eu ia fazer? Deixar que ele fosse assim? Fingir que meus sentimentos eram somente "carnais"?
Não tive reação. Corei, chorei. Acenei com a cabeça um acordo que era desleal com meu coração. Ele estava certo. Eu sabia que aquilo não ia acabar bem. Eles tinham nascido um para o outro, e eu era a intrusa. O vírus que se alastrava levando a desunião.
-Você foi a melhor coisa que me aconteceu. Obrigada por ter feito parte da história da minha vida!
Só consegui falar isso porque já havia ensaiado várias vezes antes. Me virei, entrei no carro e saí acelerando, nem olhei para trás.
A estrada parecia se fechar em minha frente, ficando cada vez mais estreita. Meia volta e, a paisagem passava cada vez mais rápido. Pisquei... pisquei de novo e, quando me toquei, percebi que havia batido o carro contra alguma coisa. Meu Deus. O que fiz comigo? Quem sou eu? O que fiz com minha vida?
Agora entendi o que mamãe queria dizer com "Um segundo de bobeira pode acabar com anos de trabalho árduo". Queria sair do carro, não consegui. Havia muitas pessoas ao redor. Barulho. Sirene. Vozes... Vozes bem longe. Menos barulho. Cadê a sir...
...Luzes fortes no rosto, não conseguia enchegar, me levantei de novo e me vi... na cama? Maca? Onde?
Um Choque!!!! Voltei rapidamente ao corpo e dormi. Sonhei que havia morrido e Deus me deu uma segunda chance. Entendi!
Hoje, trinta de março de dois mil e cinco. Exatamente cinco anos após aquele acidente estou aqui. Naquela mesma cama, no mesmo quarto onde tudo começou. A diferença é que ele não está em nenhum lugar que eu possa ver ou sentir. Mais uma vez eu estraguei tudo. Ele me deixou e está em um lugar melhor, ele deve estar bem ao lado de Deus, cercado de anjos e santos e amigos espirituais... e eu aqui, presa a uma cama, tetraplégica, arrependida, e sozinha. Esperando agora MINHA morte chegar...

Autor: Camila Giazzi


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