Sistematização teórica dos destinos do conceito de angústia na trajetória do pensamento de Freud



Como se origina a angústia?

O presente artigo apresenta uma proposta de sistematização teórica dos destinos do conceito de angústia1 na trajetória do pensamento de Freud, buscando-se expor cronologicamente a construção desta idéia. Apesar de diversos autores apresentarem inúmeras publicações sobre o tema, terei como referência apenas as reflexões de Freud.
Tratarei aqui do arcabouço teórico mínimo que considerei indispensável para abordar a prática da psicanálise, feita através de alguns recortes na obra de Freud que visassem atingir o objetivo proposto. De antemão afirmo que não é fácil, porém, estabelecer um diminuto quando este discorre de fazer um "recorte" na teoria psicanalítica, na medida em que é formada por uma trama de conceitos entrelaçados, em que um sempre remete ao outro.
Em sua clínica, onde a fala do paciente constituía a matriz do seu conhecimento, Freud deparou-se com a queixa permanente da angústia (independente do quadro clínico), da qual todos se lamentavam e narravam como sendo seu maior sofrimento (FREUD, 1917/1996:393).
Este tema é esboçado numa série de manuscritos enviados por Freud a Fliess, entre 1892 e 1895, podendo ser sintetizado inicialmente pelo seguinte trecho presente no Rascunho E, intitulado Como se origina a angústia? (FREUD, 1894b/1996) - "Tudo o que sei a respeito é o seguinte: logo se tornou claro que a angústia de meus pacientes neuróticos tinha muito a ver com a sexualidade". (FREUD, 1894b/1996:235).
Interpelado por sua hesitação, Freud seguiu atrás de respostas, apostando na descoberta de soluções, e buscando apreender o que na angústia se encontra em jogo, (até mesmo na relação analítica) sem restringir, em momento algum de sua obra, um sentido universal a esse afeto.
A experiência da angústia não conduz para o motivo de seu despontamento. Ao contrário, o que acomete o sujeito se apresenta em tal intensidade que o arrebata a um sofrimento paralisante, ou, insinuado em seu discurso, como um "mal-estar", sem razão aparente, se tornando incompreensível.
No mundo em que o sujeito está inserido hoje, numa atmosfera de mal-estar social expresso por este "mal-estar" físico, impactado por diversas formas de violência e sofrimento, a angústia se presentifica em seu corpo. Neste sentido, é buscado um bem-estar imediato: drogas farmacológicas, consumo de drogas ilícitas, terapias com promessa de felicidade, algo que sirva para impossibilitar o sujeito de questionar suas diferentes expressões de "mal-estar".
Através das leituras, constatei que Freud concedeu ao afeto da angústia um lugar cada vez mais importante para a compreensão dos processos psíquicos, sendo o único capaz de anunciar a chegada de um perigo pulsional, de uma situação traumática que deixaria o eu sem recursos.
Autor: Cristiano De Oliveira Moreira


Artigos Relacionados


Mestrado E Doutorado Em PsicanÁlise Na EducaÇÃo E SaÚde Freud AlÉm Da Alma

Contribuição Da Psicanálise Freudiana Na Educação

Soneto 2

Neurose Obsessiva: Um Caso Clínico

Para Tcc Teoria Da Transferencia Psicanalitica

Sobre O Discurso Na PsicanÁlise

Os Conceitos De Atividades E As Regras De AbstinÊncia: Uma VisÃo Da PsicanÁlise