POLICIAL MILITAR: PROFISSIONAL QUE TRABALHA SOB GRANDE PRESSÃO EMOCIONAL



Eduardo Veronese da Silva

Inicialmente, se faz necessário registrar que existem outras categorias profissionais, que exercem diariamente suas funções trabalhistas sob grande pressão e carga emocional. Entre elas, pode-se citar: os profissionais da segurança pública estadual (polícia civil, militar, rodoviária federal etc.) e federal (marinha, exército e aeronáutica); os médicos, os motoristas dos transportes coletivos e de cargas; os professores, entre outros.
Entretanto, objetiva o artigo dar ênfase a atividade exercida por uma das categorias de profissionais da segurança pública estadual - o policial militar. Estima-se que o serviço prestado pelo policial militar se apresente de forma singular e distinta em relação às diversas atividades existentes. Em tese, isto ocorre pelo fato de se depararem diuturnamente frente a frente com a marginalidade (o delinqüente ou o infrator da lei), correndo grande risco de morte, ou na hipótese de tirar a vida de alguém, para cumprir com sua missão.
Desde o momento em que sai de sua casa para assumir o serviço na unidade militar, até o seu retorno após o cumprimento da jornada de serviço, este profissional não pode "vacilar", ou seja, descuidar-se um segundo sequer, pois, poderá colocar em risco a sua própria vida.
Para ilustrar o perigo constante enfrentado por esses profissionais, citam-se dois casos trágicos ocorridos no Espírito Santo. O primeiro ocorreu faz muito tempo, envolvendo a pessoa do soldado Enoque Bezerra Luna. Ele tinha acabado de sair do plantão de 24 horas e estava a caminho do ponto de ônibus. Sem que percebesse, estava ocorrendo o roubo de uma joalheria, no centro de Vitória/ES. Os meliantes, ao avistarem o militar fardado, efetuaram vários disparos de arma de fogo em sua direção, não havendo tempo para esboçar nenhuma reação de defesa. Foi morto de forma inesperada.
A segunda ocorrência, vitimou o soldado Romildo Militão (se não estou enganado com o nome) que estava saindo de serviço. O militar embarcou em um ônibus coletivo no município de Cariacica, alguns pontos adiante, entraram uns elementos e anunciaram que se tratava de um roubo. O instinto militar do soldado foi de intervir na tentativa de evitar o crime. Antes mesmo que impusesse sua arma, foi alvejado por vários disparos de arma de fogo.
Portanto, de serviço ou de folga, o policial militar pode, a qualquer momento, precisar entra em ação para tentar evitar o cometimento de um delito. Nesta hora, passa a desempenhar sua atividade laboral. Atividade esta, totalmente revestida de grande pressão e carga emocional, denominada pelos especialistas no assunto de estresse.
A palavra estresse pode ser entendida como uma pressão, tensão ou insistência. Nesse aspecto, estar estressado quer dizer: "estar sob forte pressão" ou "estar sob a ação de estímulo insistente e/ou constante". Denomina-se de estressor qualquer estímulo capaz de provocar o aparecimento de um conjunto de respostas orgânicas, mentais, psíquicas ou comportamentais relacionadas com mudanças fisiológicas, que acabam resultando em hiperfunção da glândula suprarenal e do sistema nervoso autônomo simpático .
A princípio, essa resposta tem como objetivo adaptar o indivíduo à nova situação apresentada e gerada pelo estímulo estressor. O conjunto destas respostas, assumindo um período de tempo considerável é chamado de estresse. O estresse é essencialmente um grau de desgaste no corpo e na mente, que pode atingir níveis degenerativos.
O estresse produz modificações na estrutura e na composição química do corpo, e, quando isso ocorre, entra em ação o mecanismo de defesa do organismo contra o estimulo estressor. O endocrinologista canadense - Hans Selye, denomina esta reação de Síndrome Geral de Adaptação (SGA). Para ele, ela se desenvolve em três fases: a de alarme, a de resistência e a fase de exaustão constante. Nesse sentido, se o profissional (de qualquer categoria) estiver diante de ação estressante intensa e prolongada, poderá ter maior predisposição ao desenvolvimento de doenças psicossomáticas .
O estresse também tem sido associado a sensações de cansaço, desconforto, ansiedade, fracasso, insegurança e medo. Tem aumentado consideravelmente o número de pessoas que se dizem estressadas. O stress quase sempre é visualizado como algo negativo que ocasiona prejuízo ao desempenho funcional do trabalhador.
Segundo os especialistas, o estresse é um processo psicológico e a compreensão dos elementos estressantes é afetada por variáveis cognitivas. Para eles, não é a situação em si, nem a resposta da pessoa que define o stress, mas a percepção do indivíduo sobre a situação.
Portanto, atenção especial tem sido dada ao chamado estressor ocupacional, ou seja, tensões e problemas advindos do exercício prolongado de uma atividade profissional e do ambiente de trabalho. Ademais, várias são as profissões que, com o prolongar do tempo e por sua própria característica, revelam-se favoráveis ao surgimento do estresse.
Como dito inicialmente, chama-se a atenção para a atividade desenvolvida pelos policiais militares (civis etc.), que possuem a incumbência de zelar pela preservação da ordem pública e a segurança da sociedade. Conforme transcrito no art. 144, inciso V, § 5º, da Constituição Federal:

Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
[...]
V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.
[...]
§ 5º - às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

Por estarem diuturnamente diante de situações adversas e combaterem diretamente a criminalidade urbana, colocam em risco a sua vida em beneficio da vida de outrem. Diante desta circunstância e, também, da excessiva jornada de trabalho, estão propensos a serem afetados por esse grande mal.
O estresse ocupacional revela-se de natureza perceptiva, resultado da incapacidade de lidar com as fontes de pressão em decorrência do ambiente de trabalho. Inclusive, podendo provocar conseqüências na sua saúde física e mental, comprometendo a vida profissional, familiar e social.
O policial militar, como mediador de conflitos sociais, precisa ter, necessariamente, equilíbrio emocional e psicológico para atuar de forma imparcial e dentro da legalidade no atendimento de seu maior público ? a sociedade. E, não ser mais um na lista de vitimas que precisa de ajuda.
As autoridades governamentais e políticas do País precisam dispensar maior atenção a estes profissionais e na melhoria de condições favoráveis no seu ambiente de trabalho. Quem sabe, agindo assim, traga como conseqüência um maior comprometimento e compromisso no desempenho desta árdua missão Constitucional.



Eduardo VERONESE da Silva
Subtenente da PMES
Bacharel em Direito ? FABAVI/ES
Licenciatura em Educação Física ? UFES.
Instrutor do Programa Educacional de Resistência às Drogas ? PROERD.
Email: [email protected]

Autor: Eduardo Veronese Da Silva


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