Tempo Docente: Viver é Fundamental



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Somos filhos de uma época que incutiu em nossas cabeças a controvertida idéia de que tempo é dinheiro. Disso nasceu uma supervalorização do tempo a ponto de sentirmo-nos escravos do relógio, o pequeno tirano que mantém ascendência sobre nossos sentimentos, pensamentos, gestos e ações.

Entretanto, devemos manter uma relação de liberdade com o tempo. De que adianta lidarmos atabalhoadamente e de modo que ele nos cause vulnerabilidades e doenças? Liberdade aqui significa qualidade existencial. É em face dessa finalidade maior que vale a pena pensarmos em uma organização saudável de nossas ações.

Penso mais estritamente na condição do profissional da educação superior. Para esse docente, muitas são as tarefas, grandiosa é a responsabilidade, parco, porém, o retorno que recebe. Se o sujeito não tomar cuidado, logo estará exaurido e não conseguirá realizar bem as suas atribuições.

A primeira coisa a fazer é perceber que não há uma fórmula mágica que fará o professor universitário dominar inteiramente a arte de bem gerir o próprio tempo e o dos outros. Isso é bom e é ruim. É ruim porque, de repente, a gente se dá conta de que não tem ao que ou a quem recorrer. E é bom porque, não havendo uma receita pronta a seguir para bem conduzir-se na docência da educação superior, o jeito é criar o próprio estilo de trabalho.

Assim, antes de ser uma questão de método e técnica, o cuidado com o tempo é problema de atitude. Nesse sentido, uma postura consciente diante das tarefas a realizar é um passo fundamental. Aqui, o importante é nunca, jamais, em nenhuma hipótese, perpetrar a autoviolência. Auto-respeito é elementar. É o básico para sermos senhores do tempo de que dispomos.

Sim, porque tempo é vida. Cuidar do tempo é cuidar de si mesmo. É cuidar do próprio processo de viver 365 por ano, 30 dias por mês, sete dias na semana e 24 horas por dia. Aí não vale a postura da vítima: "O tempo me sufoca", sem se dar conta de que ninguém é sufocado sem o próprio consentimento. Vale muito menos o comportamento do auto-algoz: "Deixe comigo! Já estou acostumado a fazer tudo ao mesmo tempo agora". Afora essas imaturidades, vale a sensatez adequada de saber o que, como, quando, porque e para quê, de preferência tendo clareza quanto ao com quem e para quem.

Se possível, mantendo o entendimento de que o que conta é o presente. Diz certo ensinamento que o ontem é um cheque compensado, o amanhã é uma nota promissória e que só hoje é dinheiro na mão. Isso parecer ser verdade, pois ninguém nunca acordou ontem ou amanhã, mas sempre no hoje que lhe pede para viver e colher o dia.

Pensar no tempo nessa perspectiva de autovalorização e de potencialização do presente pode impulsionar nossa liberdade perante a cronologia do existir, bem como sobre as coisas que nos cercam e sobre as atividades que temos de desenvolver. Nesse sentido, é preciso saber identificar as tarefas que:

1. São urgentes e importantes, aquelas inevitáveis e que devem ser feitas imediatamente. Elas normalmente referem-se a pessoas, crises, problemas e a prazos definidos. São os incêndios e não podem ser deixados para depois. Às vezes, elaborar e corrigir uma prova são tarefas que podem ser consideradas um incêndio a ser apagado expeditamente com o fogo de nossa ação.

2. Não são urgentes e são importantes. Trata-se de atividades de alto valor, sentido e significado qualitativo para nós. Nesse caso, o melhor é se preparar, planejar, definir rumos, conceber estratégias e ações e começar a executá-las. Só é preciso cuidar, porém, para que o importante não se torne urgente. Fazer uma tese ou dissertação, por exemplo, se encaixa aí.

3. São urgentes e não são importantes. São coisas como interrupções, urgências externas, ligações telefônicas não programadas, reuniões de última hora, relatórios para ontem, parte das correspondências físicas e virtuais. Trata-se de emboscadas, das quais você tem de sair o mais rápido possível. Aqui, capacidade de avaliar o sentido dessa urgência em face de importâncias reais é um procedimento que não pode ser menosprezado.

4. Não são nem urgentes nem importantes. Aqui, se for o caso, o melhor é deixar de lado. São as tarefas dispensáveis e como tais devem ser tratadas. Por que gastar tempo com coisas que não me acrescentarão mais vida, mais prazer, mais alegria e mais satisfação?

Na verdade, cada pessoa sabe de suas urgências e importâncias. Articulando-as, a pessoa chega às suas prioridades, mas sabendo, sempre, que a prioridade número um é a vivência da própria vida. Em nome desse valor é que é preciso saber dizer sim.

Talvez essas dicas contribuam para a causa da vivência docente de qualidade, mesmo em meio a aulas, reuniões, projetos, diários e assemelhados. O que é preciso entender é o seguinte: nós é que somos donos de nossas ações; não são as ações que são donas de nós.

Por fim, ainda vale o conselho oriental: "Se tem solução, para que preocupação? Se solução não há, para que se preocupar?"

E boa sorte, colegas professores!


Autor: Wilson Correia


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