EM UM DIA QUALQUER, A FELICIDADE!



EM UM DIA QUALQUER, A FELICIDADE

Trabalho com tirador de leite em um curral na fazenda do senhor Antenor, homem muito rico, rude e quase inacessível. Moro em um pequeno quarto ao lado do curral, ambiente acanhado, mas limpo. Quando fui contratado recebi a informação: "Seu lugar de dormir é aqui, a comida é trazida pela empregada, não quero ninguém estranho rondando a casa grande. Tenho uma filha moça e minha família deve ser preservada".
Acostumei à nova vida e ao trabalho duro e se não era totalmente feliz, pelo menos me considerava útil. A solidão não me fazia medo, apesar de me causar um grande mal. Passei meses sem conhecer a filha do patrão. A distância que existia entre nós, a cada dia mais se alongava. Sem levantar os olhos, algumas vezes a observei de longe. Aparentava ser mais velha que eu, nem bonita nem feia; apenas uma mulher.
Alguns meses depois senti a casa se agitando. Não sabia o que era, talvez uma grande festa. Preparativos, um chegar de carros que não tinha fim. Depois de alguns dias descobri que seria o casamento da filha Dolores. Finalmente o casamento! Claro que, como conhecedor de meu lugar de empregado, relevei a falta de um convite. Afinal eu era um "João ninguém". Fiquei no meu canto ouvindo o radinho de pilha, sem me preocupar com o mundo. No cair da noite voltaram carros e pessoas, muitas pessoas. Não entendi bem o que se passava; gente falando alto na casa, um ambiente que não era o de final de festa.
-É um canalha que merece um tiro ? Ouvi lá de longe alguém dizer com raiva. No dia seguinte ouvi rumores e tomei conhecimento do ocorrido. O noivo não compareceu para se casar. Desapareceu sem dar explicações. Lágrimas, revolta, uma indignação sem precedentes.
A vida voltou quase a normalidade alguns meses depois. O ambiente de angústia foi se dissipando. Um dia, atento ao meu ofício rotineiro, não percebi que uma pessoa chegava no curral, com passos leves. Era Dolores. Por alguns instantes me observou, perguntou meu nome, olhou-me demoradamente e se foi. Lembrei-me naquele momento das sábias palavras de meu velho pai:
- Meu filho, muitas vezes a felicidade está tão perto de nós que não percebemos sua presença!

Autor: Miguel Lima


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