Senso Crítico e Senso Comum: Uma proposta de conciliação de pedagogos, professores e pais em busca do ensino de qualidade.



INTRODUÇÃO
A princípio, os educadores sempre buscam uma alternativa para o trabalho em sala de aula com temas bastante relevantes como o tratamento didático do lúdico nos conteúdos, por exemplo. Porém, em sua maioria, percebemos, enquanto pesquisadores da Educação Escolar, que uns preferem utilizar jogos educativos como forma de aliviar o peso de ter que escutar os alunos dizerem que a aula é ou está enfadonha. Sendo assim, os educadores sequer percebem que estão colocando uma prática pouco fundamentada em questão na sala de aula.
Quando perguntamos aos docentes de séries finais do Ensino Fundamental sobre o "com base em quê...", ou, até mesmo o "com qual objetivo...", geralmente respondem com algo vago ou impreciso, seja porque são tidos como mascates do ensino (em virtude de sua desvalorização salarial), seja porque recebem muito preparo estratégico ou metodológico (na forma de atividades manuais, artificiais e/ou pouco reflexivas) em detrimento do epistemológico .
Segundo Alex Gutenberg, colunista da Revista Profissão Mestre, a epistemologia refere-se à forma de ensinar e aprender um determinado conceito. Portanto, para que o professor ensine um determinado conteúdo conceitual , é necessário que ele o domine em todas as suas facetas, produzindo e estimulando os alunos a produzirem conhecimentos.
Essa forma de que se trata, não diz respeito somente à metodologia de ensino, mas também a métodos científicos próprios da matéria lecionada.
A própria epistemologia indicará caminhos a que o professor deverá seguir, seja no campo pedagógico ou no específico da área de ensino. Assim, ao escolher uma ou outra metodologia de ensino, deixa evidente ou obscurece o caráter científico de alguns conteúdos de ensino.
Quero, aqui, retratar a confiança que deve existir entre o profissional da Educação e sua clientela, procurando melhores oportunidades de refletir com mais clareza sobre o seu trabalho e, realmente aproveitar o que os alunos trazem para a escola em termos de conhecimentos prévios. Decorre desse processo de diálogo que o aluno, principalmente o adolescente, já representa o mundo de forma reflexiva, como nos mostra Piaget em seus estudos sobre o desenvolvimento humano.
Diante de tantas dúvidas a que os professores estão sujeitos a enfrentar nessa época mais de incertezas que de certezas, ficamos com as perguntas:
- Será possível um diálogo entre leigos (pessoas que não conhecem a Educação como fenômeno a ser estudado cientificamente) e pedagogos em busca da qualidade?
- Existe realmente uma qualidade ou essa está sendo mascarada através de métodos e técnicas pedagógicas e didáticas na atualidade?
- É possível uma colaboração dos leigos aos professores e pedagogos na construção de uma escola igualitária?

I - LIMITES DE FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO ENTRE OS SUJEITOS DO PROCESSO

Hoje, as diferentes mídias deixam bem claro o papel do professor em sala de aula e na escola, mesmo que esse papel já esteja em cheque em face da necessidade de transformação que a sociedade exige em termo de formação específica disponibilizando informação aos leigos. Porém por mais que essa disponibilização de informação esteja presente, nos parece que algumas comunidades preferem professores no modelo que se tinha há pouco tempo atrás. O que fica "em subentendido" a idéia de autonomia do professor no tratamento didático junto às crianças é a concomitância de responsabilidades dos pais em relação aos professores na tarefa educativa. Educativa porque, nos dias atuais, a informação é apenas um dos componentes do processo de ensino-aprendizagem e os Parâmetros Curriculares Nacionais deixam esse pressuposto bem evidente, embora o papel de educador escolar esteja sendo debatido, em face da mais crescente sociedade pedagógica que assola a vivência dos educandos.
Hoje, são discutidas as formas dos conteúdos (procedimentos, conceitos e atitudes), a importância de se educar com valores em contraposição a contravalores. A educação em valores é representada, sobretudo, pelos temas transversais Meio Ambiente, Ética, Orientação Sexual, Saúde, Pluralidade Cultural, e Trabalho e Consumo. Isto quer dizer que não se propugna por uma educação que transmita somente o conceitual e, ainda, de forma deturpada como se fazia e ainda se faz muito nas salas de aula e escolas brasileiras.
O homossexualismo, tido, várias vezes, como um contravalor no passado, passa a representar pauta de discussões no Ensino Fundamental, a fim de direcionar o aluno para uma dimensão formativa de respeito à sexualidade do outro, entre outras referências .
Se os educadores, no sentido mais lato do termo, não conseguem fazer uma ponte de compreensão entre os papéis de professor e de aluno, é justamente em virtude da grande variedade de formas de ensinar que surgiram ao longo do tempo.
Essas formas são evidentes, principalmente, no que concerne às expectativas que a sociedade imprime à escola. Vem mudando a cada dia mais a postura que o professor deve apresentar em termos de compromisso, principalmente, quando este se dispõe a apresentar de forma clara e concisa seu projeto de trabalho.
O professor é, nesse século, um pesquisador de sua própria prática e das práticas sociais, a fim de detectar algo preciso; não para a didatização de um costume ou cultura, mas transpor para o ambiente escolar toda a gama de vivências que o aluno apresenta, tornando o aprendizado mais significativo . Porém, quando se trata disso, os pais ou pessoas da comunidade em geral não conseguem conceber estatuto científico naquilo que o mestre visa para seus alunos, apenas o valoriza por estar desenvolvendo um trabalho diferencial do costumeiro.
Não só querendo comparar os educadores (pais, professores e comunidade) no âmbito da formação e da informação, mas também demonstrar que o professor ainda é peça chave no processo de ensinar e aprender na escola, cito Libâneo em seu livro Democratização da Escola Pública, onde ressalta que não é qualquer um que pode ser professor. O professor, assim, carrega em si uma gama de conhecimentos e modos de ação próprios de um pesquisador em ação, fazendo fluir saberes pedagógicos no trato com os alunos.


II - A VULGARIZAÇÃO DO FAZER DOCENTE

O professor, como profissional da Educação escolar, é na maioria das vezes interpretado de forma errônea, em virtude do diretivismo ou não-diretivismo de sua prática docente; ou, até mesmo da fusão dessas duas.
É possível que algum dia haja um consenso entre pessoas da comunidade e professores, tanto no que diz respeito à ação quanto à profissionalização docente e pedagógica, quanto ao respeito que um deve ter ao outro na variância de seus papéis. Porém, quando um pai ou uma mãe concorre com os professores em termos, principalmente, de educabilidade dos pequeninos, os últimos na maioria das vezes alegam profissionalidade e trato correto junto às crianças.
O professor, sabendo da necessidade de conjugar conhecimento prévio a conhecimento empírico, família com escola, deve por si só deixar bem claro aos pais que esse princípio é delegável a todos os educadores, no sentido mais lato do termo, o de favorecer à criança os meios para que construa valores verdadeiros em sua vida e, não é o professor nem a equipe escolar que vai tirar o direito de voz aos pais. Entretanto, clarear a idéia de que o mestre é que vai sistematizar esses conteúdos (os atitudinais), de acordo com a sua formação e/ou vivência no magistério, junto aos alunos para que saibam o que estão realmente sabendo ou fazendo .


III ? QUALIDADE E QUALIFICAÇÃO: DUAS FACES DE UMA MESMA MOEDA


Instituindo o que chamamos de axioma ou verdade axiomática, o papel do professor perpassa toda a sua formação; incluindo tanto suas representações enquanto aluno, quanto enquanto mestre. Nisso, viemos largamente repensando a formação inicial e de qualidade como um dos tripés na qualidade do ensino. Ou seja, é a qualificação docente guiando a qualidade na escola básica. Os outros tripés são tidos como imprescindíveis na qualificação não só do professor, como também do ato educativo como um todo: A escola, o professor e o aluno.
Nesse pensamento, a escola não é formada só de corpos docente, técnico e administrativo, mas também da família, que passa fornecer sua parcela de contribuição no ensino, educação e instrução dos alunos.
Libâneo explicita em seu livro Didática os conceitos de educação, ensino e instrução. Formando a idéia de que um não age bem sem que esteja em sintonia com o outro.
A educação é entendida no sentido mais lato do termo, como o processo de fazer sair do sujeito toda a gama de possibilidades que deverá expor na sociedade, como a boa conduta por exemplo.
O ensino é tido como o conjunto das forças mobilizadoras de capacidades que o indivíduo deverá praticar para ter uma qualidade de vida aderida com base na cidadania. É a transmissão/assimilação ativa de conceitos que lhes garantirão um saber ser, um saber fazer, um saber aprender e um saber conviver.
Quanto à instrução, podemos tê-la como o ensino descompromissado com os valores a as atitudes que o indivíduo deve pôr em evidência no campo comunitário. Isto quer dizer que, pelo fato de um indivíduo ser bem informado, não quer dizer que empreenderá ações diretas na vida em sociedade. É o ensino desvinculado de questões cruciais na sociedade, como a Saúde e o Meio Ambiente, por exemplo.
Há quem diga que qualidade na educação é algo impossível de ser medido, outros que é bastante relativa a qualidade que se tem na escola pública para aquela da rede privada ou particular. Na verdade, a educação escolar de qualidade é aquela em que os resultados não são medidos apenas perante provas e avaliações periódicas, como também perante a satisfação que os educandos têm em serem orientados por um mestre, por exemplo.
Nessa empreitada, qualificação e qualidade andam juntas, inseparavelmente delimitando os eixos de formação e desenvolvimento da carreira docente, cientificando formas de cidadania presentes no ambiente escolar, dotando o professor de relativa autonomia para desenvolver seus cursos, etc.
O professor, mesmo sendo dono dessa relativa autonomia, percebe-se como membro de um conjunto maior de agentes educacionais, porém, fica tolhido no que tange ao desenvolvimento de seus projetos de ensino quando estes perpassam por toda uma prática de vigilância supervisora em sala de aula ou na escola.
Certo diretor de escola sempre dizia que professor é um bicho noturno, contrastando com o que uma professora dissera, professor é bicho "madruga-turno", afirmando ter que acordar de madrugada para se deslocar até o trabalho (a escola). A vigilância supervisora é também um papel delegável ao gestor educacional, na medida em que observa a prática de ensino dos professores em exercício na escola. Este último, em instância de gestão participativa, deve não só apontar as falhas do processo, mas encaminhar professores e alunos a uma avaliação, propriamente dita, de como chegar a construir saberes válidos e duradouros na prática de ensino.


IV ? CONCLUSÃO: UM PROCESSO NUNCA À CONCLUSÃO, MAS AO DEBATE DURADOURO


Entre os membros da sociedade e os profissionais docentes e não-docentes de escolas públicas não deve existir atrito, mas deve coexistir uma harmonia que os levem a protagonizar o processo, sem, contudo, dicotomizar o trabalho pedagógico realizado pela escola. Professor é professor, com formação inicial e/ ou continuada, pais são pais, responsáveis pelo provimento de meios para que seus filhos sejam seres íntegros, não podendo delegar essas responsabilidades somente à escola.


REFERÊNCIAS:


LIBÂNEO, José Carlos. Democratização da Escola Pública. ? São Paulo: Cortez editora, 1998.

_____. (Coleção Magistério). ? São Paulo: Cortez, 1998.


_____. Organização e gestão da escola: teoria e prática. 5. ed. ? Goiânia : Alternativa, 2004.


_____. Pedagogia e pedagogos, para quê? 9. ed. ? São Paulo: Cortez, 2007.


MEIRIEU, Philippe; trad. Fátima Murad. Porto Alegre: Artmed, 2005.

MELLO, Guiomar Namo de. Magistério de 1º Grau: da competência técnica à competência política. São Paulo: Cortez, 1998.


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Introdução aos Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a 4ª série). BRASIL - SEF/MEC, 1997.


PIMENTA, Selma Garrido. Pedagogia e pedagogos: caminhos e perspectivas. ? São Paulo: Cortez, 2002.


QUEIROZ, Tânia Dias (org.). Dicionário Prático de Pedagogia. 1. ed. ? São Paulo: Rideel, 2003.


ZABALA, Antoni (org.); trad. Ernani Rosa. Como Trabalhar os Conteúdos Procedimentais em Aula. ? Porto Alegre: Artmed, 1999.
















Autor: Grigorio Duarte Neto


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